Uma história exemplar da parolice
nacional
23 ABRIL, 2014
por jmf1957 in Blog “Blasfémias”
/ http://blasfemias.net/2014/04/23/uma-historia-exemplar-da-parolice-nacional/
Estávamos em
1998, Fernando Gomes presidia à Câmara Municipal do Porto, Manuel Maria
Carrilho reinava como ministro da Cultura e Manoel de Oliveira ia fazer 90
anos. Para aquelas almas profundamente imbuídas de paixões culturais nada
melhor do que fazer erguer um monumento de betão – mas com pedigree cultural,
pois o desenho seria de Souto Moura – com o pomposo nome de “Casa do Cinema”. Escolheram
a melhor e mais refinada zona da cidade do Porto – a Foz, como não podia eixr
de ser – e lá ergueram as paredes do que seria a futura residência do cineasta
(seria ele um sem-abrigo desconhecido?) e, ao lado, as arrecadações para
guardar o seu espólio.
A obra levou uns
anos a fazer – afinal Portugal nunca deixaou de ser Portugal – e, quando ficou
pronta, a câmara não se entendeu com o cineasta. A lindas paredes ficaram ao
abandono, ninguém parece ter estado muito incomodado, os anos passaram, tudo se
foi degradando, e entretanto Manoel de Oliveira somou mais dez anos, tornou-se
centenário, nunca achou que tivesse de mudar os tarecos para um casa nova e
acabou a entender-se com a Fundação de Serralves, onde entretanto está a surgir
outra casa Manoel de Oliveira, esta da autoria de Siza Vieira (noblesse
oblige).
Chegamos assim ao
ponto de, dez anos depois, o “betão cultural” que custou mais de dois milhões
de euros – não se indignem já, foi para “investimento”, ainda para mais um
“investimento cultural” – ir agora à praça por apenas 1,5 milhões.
É o que se chama
uma história exemplar da saloice nacional, do encantamento parolo com certos
“símbolos da cultura” e da leviandade com que se gasta o dinheiro dos
contribuintes. Ao menos que corra bem o leilão.
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