terça-feira, 31 de julho de 2018

Residentes da Sé e do Castelo pedem medidas concretas para que eléctrico 28 não seja apenas um “entretenimento turístico”





‘Residentes da Sé e do Castelo pedem medidas concretas para que eléctrico 28 não seja apenas um “entretenimento turístico”


Recordando um post de O Voo do Corvo. Blogspot de 2 de Maio no Facebook
Imagens do Dia / OVOODOCORVO
Ah! Turistas a pagar 7.50 euros, ou seja cinco vezes mais do que os habitantes Locais ( 1.50 euros ) nos vaporetto!
Habitantes Locais a terem prioridade de embarque . O Presidente da Autarquia de Veneza explica:
Nào se trata de discriminação, trata-se de garantir a qualidade da vivência em Veneza .
Em Lisboa: Uma ideia para o 28, e tudo indica num futuro próximo para o 24 !?
OVOODOCORVO



Residentes da Sé e do Castelo pedem medidas concretas para que eléctrico 28 não seja apenas um “entretenimento turístico”
Samuel Alemão
Texto
31 Julho, 2018

Nada têm contra os turistas, garantem, mas pedem acções urgentes para que o eléctrico 28 não seja por eles tomado quase em exclusivo. Tem de haver lugar para todos, residentes e visitantes da cidade, mas em condições, para que a icónica linha continue a ser vista como um transporte público e não apenas como um “entretenimento turístico”. Um grupo de residentes da zonas da Sé, Castelo e Rua da Madalena lançou, por isso, uma petição apelando tanto à Carris, como à câmara e à assembleia municipal de Lisboa, para que tomem medidas “para um eléctrico 28 mais digno e mais fiável, servindo melhor residentes e visitantes”.

Entre elas conta-se o aumento do número das unidades em circulação, a entrada ao serviço de mini-autocarros que, de forma alternada, possam complementar a oferta dos eléctricos ou ainda o fim da possibilidade de se comprar bilhete a bordo, para que se evitem as grandes demoras causadas pelos utentes de circunstância. Tudo em nome de um serviço mais eficaz. “As condições em que o 28 está a funcionar são, bastantes vezes, muito pouco edificantes. Há pessoas que o utilizam, todos os dias, para ir trabalhar ou levar os filhos à escola e se deparam com um stress diário, porque nunca sabem com o que contar”, diz a o Corvo uma das promotoras da recolha de assinaturas, Inês Horta Pinto, para quem são evidentes as carências da oferta de transporte público naquela zona da capital.

A moradora da Rua da Madalena assegura que “é rara a vez em que não há atrasos” naquela linha, porque algum carro está a bloquear a passagem do eléctrico ou, então, nem nele se consegue entrar, devido à sobrelotação com que chega à paragem. É certo que existe o autocarro 737 – que assegura a ligação entre o Castelo e a Praça da Figueira – , mas o mesmo assume-se como uma oferta curta para a demanda dos moradores e trabalhadores daquela área. Fartos da incapacidade da Carris em dar resposta às suas queixas, os residentes redigiram um texto no qual expõem os seus problemas com o 28 e, em Março passado, enviaram-no não só à transportadora mas também à câmara e à assembleia. A Carris não terá respondido, o mesmo sucedendo com o vereador da Mobilidade, Miguel Gaspar. A Assembleia Municipal de Lisboa tê-los-á, então, aconselhado a promover uma petição recolhendo o mínimo de 250 assinaturas, para levar à discussão em plenário.

Ela aí está. “O elétrico 28 percorre um eixo para o qual não existem alternativas de transporte público. Não é apenas uma atração turística: é um meio de transporte fundamental para inúmeras pessoas que residem, trabalham e/ou frequentam o ensino ao longo desse extenso eixo”, diz o texto do abaixo-assinado. Nele se assume o que “é um privilégio poder subir e descer as colinas da cidade neste meio de transporte encantador”, para, logo de seguida, se salientar o contraste com as reais condições de utilização do mesmo, tanto por parte dos moradores como dos visitantes. “No entanto, essa experiência revela-se, na prática, desconfortável, pouco fiável, demorada e insegura, quebrando o encanto e tornando a dependência desta linha num problema diário”, critica-se, antes de serem enumerados os motivos para tal quadro.

 Entre eles, dizem os autores da petição, conta-se, antes de mais, “o enorme afluxo de turistas, que procuram esta linha em detrimento das linhas turísticas, por ser mais barata e por ser percepcionada e divulgada como mais ‘autêntica’ do que as outras”. E essa realidade tem reflexos noutros aspectos que, em conjunto, transformam a experiência de utilização daquela linha em algo penoso. São referidos não apenas o facto de a grande maioria dos turistas comprarem bilhetes a bordo – “‘entupindo’ o acesso, dificultando a entrada dos demais passageiros e tornando cada paragem muito demorada, devido aos pagamentos, perguntas e trocos” -, mas também as “as filas intermináveis que se formam nas paragens iniciais, fazendo com que o eléctrico inicie o trajecto já apinhado de passageiros”. Por último, e com o dedo mais apontado aos residentes, são denunciados os carros parados ou estacionados sobre os carris ao longo do percurso.

 A acumulação desses factores tem como consequência, queixam-se os moradores , um quadro de problemas que torna a utilização do 28 uma dor de cabeça: total infiabilidade de horários e de tempos de espera; “condições de viagem que chegam a ser degradantes” – com “passageiros apertadíssimos; idosos sem alternativa de deslocação que viajam em condições de desconforto; crianças pequenas que não conseguem lugar sentado; alcançar a porta de saída é tarefa olímpica; sair é um alívio” -; profusão de carteiristas; e ainda “stress notório causado aos motoristas”.

 Por tudo isto, são reclamadas medidas para “melhorar radicalmente a qualidade do transporte”. Entre elas conta-se o aumento do número de unidades do 28 em circulação e a abolição da possibilidade de compra de bilhetes a bordo, passando-se a oferecer, em compensação, a venda avulsa em algumas das paragens. É também pedida a adopção de “incentivos que permitam encaminhar os turistas para os eléctricos de circuito turístico”, com a redução do preço dos títulos para estes serviços especializados e até a sua integração em pacotes com outras atracções.

 Mas a lista de pedidos vai mais longe. Não só é solicitada a “implementação de um sistema de actuação rápida para as situações de carros estacionados que impeçam a passagem do eléctrico, em parceria com as polícias e a EMEL”, como se propõe a introdução de mini-autocarros que façam a o mesmo circuito que o 28, sobretudo nas horas de maior procura por residentes. “Deste modo, os residentes disporão desta opção, que lhes garante que chegam a tempo ao trabalho/escola, podendo os turistas, ou quem não esteja com pressa, optar por aguardar a chegada do eléctrico”, defende o texto da petição.

 Para assinar petição: peticaopublica.com/pview.aspx?pi=PT90166

Que tudo isto sirva para abrir definitivamente a discussão séria e determinante sobre os limites a impor urgentemente ao Alojamento Local Urbano. ( distinto do Rural ) OVOODOCORVO


Bloquista renunciou ao mandato por não se rever nas políticas de Medina
13:07 por Margarida Davim

Rita Silva era a número dois da lista à Câmara de Lisboa encabeçada por Ricardo Robles, mas não assumiu o lugar deixado pela demissão do vereador.

 Rita Silva recusou ocupar o lugar de vereadora pelo BE na Câmara de Lisboa por não se rever no acordo celebrado com Fernando Medina e considerar que as políticas deste executivo estão a agravar os problemas gerados pela especulação imobiliária.

"Não me identifico com o acordo político realizado entre o Bloco de Esquerda, o Partido Socialista e os Cidadãos por Lisboa, independentemente da bondade das medidas. Face ao percurso do governo da cidade não acredito que constitua uma forma de sanar os problemas fundamentais da política dominante, que estão a alterar de forma estrutural esta cidade, tornando-a mais desigual e excludente", escreveu a também dirigente da associação Habita na sua página de Facebook.

Rita Silva acusa "o governo de Lisboa, com vários anos de Partido Socialista" de  "ter como eixo central da sua política, processos de neoliberalização da cidade e a subordinação a grandes interesses imobiliários", contribuindo para a expulsão dos residentes.

" A perspectiva de cidade empreendedora, que se posiciona no ranking das cidades globais à custa da especulação, da gentrificação, do turismo, mas também da precariedade laboral e da expulsão, é fruto de políticas com forte adesão e participação do governo desta cidade e que trazem graves consequências sociais", nota Rita Silva, que vê a situação de Lisboa com preocupação.

"A habitação e a cidade enfrentam hoje problemas profundos, com a total subordinação ao mercado, ao valor de troca, onde dimensões fundamentais da nossa vida, do nosso habitar,  se reduzem a negócio especulativo a processos de exclusão e de desigualdade", aponta a activista, que acredita que a Câmara não só não tem resolvido os problemas como os está a agravar.

"A Câmara Municipal de Lisboa tem aderido, ao logo dos anos, ao papel de empreendedora de negócios na cidade, em detrimento do seu papel regulador e redistributivo", critica, prometendo combater os fenómenos da especulação e da gentrificação, mas como dirigente associativa e não como vereadora.

"Continuarei, com empenho, a promover no que for capaz, a construção de um movimento social - actividade que não é compatível com o cargo político em questão e que no momento actual considero prioritária - que tem de contestar as políticas desta cidade, e do país, e construir com as pessoas alternativas à normalização da habitação como um bem de investimento, um produto financeiro à mercê do mercado ou à aceitação do investimento estrangeiro especulativo ou da monocultura do turismo e da precariedade como fatalidades. Precisamos de um movimento social forte, de ruptura com as políticas que apoiam activamente a especulação imobiliária, a mercadorização da habitação e de outras dimensões da nossa vida e das nossas cidades", escreve a activista.

Contactada pela SÁBADO, Rita Silva remeteu todos os esclarecimentos para o comunicado que publicou na sua página de Facebook, recusando fazer mais comentários.

Rita Silva reiterou apenas que a Habita "é uma organização completamente independente do BE ou de qualquer outro partido" e que se bate contra a visão da "habitação como negócio".

Com a renúncia de Rita Silva, o lugar do BE na vereação é ocupado por Manuel Grilo, professor, com passado de activismo sindical ligado ao SPGL, que actualmente era assessor para os assuntos da Educação no Grupo Parlamentar do BE.

Manuel Grilo terá os pelouros da Educação e Acção Social, que estavam com Ricardo Robles. E o BE já fez saber a Fernando Medina que se mantêm os termos do acordo que garante ao autarca socialista a maioria no executivo camarário.

Manuel Grilo substitui Ricardo Robles na Câmara de Lisboa
Mónica Silvares
30 Julho 2018

Comissão Política do Bloco de Esquerda “aceitou o pedido de renúncia feito no domingo por Ricardo Robles”. Manuel Grilo é o senhor que se segue.
A Comissão Política do Bloco de Esquerda, que esteve reunida nesta noite de segunda-feira, “aceitou o pedido de renúncia feito no domingo por Ricardo Robles” e o elemento que lhe sucede é Manuel Grilo, revela a nota escrita do partido divulgada na íntegra pelo esquerda.net.

Manuel Grilo é o terceiro nome da lista. É “professor e membro do Conselho Nacional de Educação. Foi durante vários anos dirigente do Sindicato dos Professores da Grande Lisboa, membro do secretariado nacional da Fenprof e do Conselho Nacional da CGTP. Deixou de lecionar em 2016, quando passou a desempenhar funções de assessoria ao grupo parlamentar do Bloco de Esquerda na área da Educação. Tem 59 anos. Já exerceu a representação do Bloco de Esquerda na vereação no presente mandato, em substituição de Ricardo Robles”, descreve a nota do partido.

A escolha recai sobre Manuel Grilo porque Rita Silva, a número dois da lista, “manifestou a sua indisponibilidade para assumir o cargo”, explica a mesma a nota. Em causa estão “as responsabilidades dirigentes que tem num movimento social e que considera incompatíveis com o exercício do cargo de vereadora”.

Na nota publicada na íntegra, Manuel Grilo garante que “dará continuidade às responsabilidades executivas que o Bloco de Esquerda tem na Câmara Municipal de Lisboa, no quadro do acordo político celebrado entre o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista”. Um acordo que Fernando Medina já garantiu esta segunda-feira se mantém inalterado.

O edil disse que o acordo entre a câmara e o BE depois das eleições autárquicas, assegurando que este se irá manter “inalterado”. “O acordo político celebrado depois das eleições autárquicas entre o PS e o Bloco de Esquerda, alicerçado num importante conjunto de matérias programáticas e políticas para a cidade (…) mantém-se inalterado”. Nas próximas semanas, escreveu no Twitter, o PS vai solicitar uma reunião com ao Bloco, “no sentido de assegurar as condições para reforçar a prossecução do acordo estabelecido”.

Caso Robles fragiliza e divide Bloco de Esquerda


Bloquistas votaram em maioria pela permanência de Robles incluindo Luís Fazenda, que ontem mudou de opinião e pediu ao partido uma "reflexão" sobre o caso. Socialistas e comunistas ficaram (quase) em silêncio.

 Liliana Valente
LILIANA VALENTE 31 de Julho de 2018, 7:06

O caso Ricardo Robles acertou em cheio no BE, expondo às dores de crescimento um partido que se aproximou do poder e pondo a nu algumas divisões internas que andavam diluídas na acção do dia-a-dia, acreditam políticos e politólogos contactados pelo PÚBLICO. A demissão do vereador da Câmara de Lisboa foi conhecida ontem, horas depois de o dirigente do partido Luís Fazenda ter exortado o BE a fazer uma "reflexão" sobre o caso. No partido, nega-se que haja uma ligação entre os dois momentos, até porque a informação é que Robles se demitiu no domingo, antes das declarações de Fazenda, dirigente que só dois dias depois da polémica se demarcou da posição da cúpula do partido, de que faz parte.

Por estes dias o BE é um partido em ebulição, por dentro e para fora. Mas tudo terá começado por dentro. Na sexta-feira, a comissão política do BE esteve reunida com o único propósito de discutir o caso em que se viu envolvido o vereador de Lisboa e a decisão de apoiar a permanência no cargo foi votada por maioria, com dois votos contra. Luís Fazenda votou a favor. De todos os 17 membros presentes, mais Pedro Filipe Soares por videoconferência e dois convidados, entre eles Ricardo Robles, só os dois membros da "moção R", os opositores a Catarina Martins na última convenção do partido, Carlos Carujo e Samuel Cardoso, votaram contra.

Esta posição de Fazenda, que defendeu em declarações ao jornal i que o partido teria de "tirar conclusões" sobre o assunto, uma posição contrária ao que tinha defendido na sexta-feira, provocou mal-estar. Mas ninguém o assume, deixando as feridas no seio do partido, até porque expressá-las seria criticar a posição do dirigente da facção da UDP que foi fundador do partido.

Certo é que a decisão de Robles de se demitir, por considerar que a sua opção familiar se "revelou um problema político real" e "criou um enorme constrangimento" à sua "intervenção como vereador", acontece em contra-pé com o que vinham a ser as posições do BE. Logo a seguir à reunião de sexta-feira à noite, a comissão política divulgou o comunicado que foi votado e no qual a direcção defendia Robles, considerando que a "conduta do vereador em nada diminui a sua legitimidade na defesa das políticas públicas que tem proposto e continuará a propor". Nesse mesmo dia, à meia-noite, um curto texto enviado à comunicação social, respaldava a actuação de Ricardo Robles.

No dia seguinte, sábado, Catarina Martins fazia eco do que tinha sido a posição da comissão política, defendendo o vereador, dizendo que este não tinha feito "nada de errado". Posição que assumiu depois de terem surgido novos dados na imprensa nesse dia, como a notícia do PÚBLICO que dava conta de que o prédio de Robles se destinava ao alojamento local. Entre estas declarações e o comunicado de ontem de manhã, com o anúncio da renúncia, nada de novo aconteceu em público - excepto as declarações de Fazenda, o que dá força ao argumento de que terá sido esta pressão interna a precipitar a decisão de Robles.

O politólogo António Costa Pinto nota "o sinal que foi dado pela UDP", leia-se por Fazenda, neste caso. "Isto é uma acha nas naturais contradições internas, de um partido que era de protesto" e que, de algum modo "está a fazer o caminho" para o poder. O especialista acredita que este pode ser um caso fugaz, que desaparece depressa do espectro mediático, e que a demissão ajuda a que isso aconteça,. Mas outras consequências podem ainda estar para vir. Com este caso, Costa Pinto admite que os eleitores possam vislumbrar uma aproximação do BE ao modo de actuação de partidos mainstream, como o PS e o PSD, e que isso pode ter efeitos na escolha futura daquele eleitorado, que pode votar BE ou PS.

Esta é das principais polémicas a atingir o BE num território onde não navega com facilidade, as câmaras - já houve o caso José Sá Fernandes, que era um independente apoiado pelo partido; e o de Ana Cristina Ribeiro, presidente da Câmara de Salvaterra de Magos, que foi acusada de favorecimento pessoal num concurso, processo que viria a ser arquivado.

Perante este novo caso, as consequências dependem, acredita André Freire, do "modo como o BE vai gerir isto". "A demissão é uma maneira de cortar o assunto ou, pelo menos, de o reduzir à dimensão de um quadro do BE que foi contra a filosofia do partido", fazendo assim a separação das águas entre a actuação de um membro com o todo que é o partido. Este assunto, diz, "não é propriamente de espuma dos dias. É grave".

Apesar de não prever uma consequência eleitoral, para futuro, o problema, diz Costa Pinto, é de "discurso" para o BE, que tem de arranjar maneira de se diferenciar dos socialistas, sobretudo nestas matérias da habitação, e, ao mesmo tempo, de escapar às farpas do PCP. Nota o politólogo que PS e PCP devem "estar a rir-se discretamente".

A avaliar pelas reacções em público dos dois partido, terá razão. No PS, o silêncio foi ontem a palavra de ordem e, apesar de esta questão colocar o BE com alguma dificuldade, não se acredita que beneficie o PS e o Governo nas negociações com os bloquistas sobre o Orçamento.

Já o PCP não escondeu que se considera um partido diferente de todos os outros, em especial do BE. Em Belém, instado a comentar o caso, Jerónimo de Sousa não se conteve em deixar uma indirecta aos bloquistas, dizendo ter "tranquilidade imensa", porque continua a fazer política como aprendeu: "Procurar resgatar o que de mais nobre tem a política, que é servir os interesses dos trabalhadores e do povo, e não me servir a mim próprio”.

Nesta guerra de indirectas entre os dois partidos mais à esquerda, também não caiu bem ao Bloco um post no Facebook do deputado António Filipe, a reivindicar a autoria das alterações à lei sobre o direito de preferência de inquilinos na compra da habitação em que vivem, aprovada na Assembleia da República e a que faltará apenas a promulgação pelo Presidente da República, quando chegar a Belém. Catarina Martins referiu-se no sábado a esta lei, dando a entender que o timing das notícias sobre Ricardo Robles teria a ver com esta iniciativa do partido. António Filipe escreveu que o texto final do diploma foi da autoria do PCP e o BE veio lembrar que a iniciativa foi deste partido e que a proposta dos comunistas foi, aliás, mais favorável aos proprietários do que a inicialmente proposta pelos bloquistas.

Os próximos dias ditarão o que serão as consequências na imagem do partido, mas dentro do próprio BE poucos já têm dúvidas que este foi um marco que fragilizou o discurso do partido, que precisará agora de fazer um esforço redobrado para ser o que foi até aqui.

Quem não teve problema em comentar, e aplaudir, a demissão de Robles foi o líder do PSD. "Tive oportunidade de ler a argumentação dele, acho que ele esteve bem, teve uma atitude correcta, sensata, uma boa argumentação", disse Rui Rio aos jornalistas, em Cantanhede, à margem de uma visita à feira Expofacic.

"Uma atitude tanto mais difícil de tomar quanto é contra aquilo que era a vontade da própria direção do seu partido, que achava que não havia aqui nada de grave e que ele devia continuar", argumentou o líder do PSD. Rui Rio considerou também que Ricardo Robles "presta um serviço à democracia", notando que elementos de outros partidos, que não nomeou, "que às vezes têm casos semelhantes ou piores, não tomam esta atitude". "Portanto, não é por ele ser de um partido diferente que vou deixar de relevar a atitude que ele teve", frisou o presidente do PSD.



Catarina Martins tem posição em empresa de alojamento local. Mas é no interior do país

Flávio Nunes
A coordenadora do BE detém uma posição minoritária numa empresa de alojamento local gerida pelo marido e pela sogra. Explora unidades no Sabugal. Partido diz que ajuda a combater a desertificação.

Ricardo Robles esteve debaixo de fogo por causa do imóvel que comprou em Alfama e tencionava vender para alojamento local por 5,7 milhões de euros. Mas não é o único bloquista com atividade nesta área. Catarina Martins, coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), é sócia minoritária de uma empresa que se dedica ao alojamento local no interior do país.

A coordenadora do BE fundou a Logradouro Lda. com o marido há quase dez anos e foi sócia-gerente da empresa até final de 2009, altura em que assumiu funções como deputada em regime de exclusividade. Atualmente, a empresa explora quatro empreendimentos turísticos e uma unidade de alojamento local no concelho do Sabugal, distrito da Guarda.

A visão de Catarina Martins é a de que esta atividade representa “turismo em espaço rural” e pode ajudar a fixar habitantes e a combater a desertificação em regiões do interior do país, ao contrário do alojamento local massificado e desequilibrado nas grandes cidades, que acentua o fenómeno da gentrificação, explicou ao ECO fonte oficial do partido.

Em 2008, Catarina Martins e o marido, Pedro Miguel Soares Carreira, fundaram esta sociedade com “atividades comerciais na área do turismo”, no âmbito da “exploração de empreendimentos de turismo no espaço rural”. Nessa altura, cada um detinha uma quota de 50%. Em 2009, a entrada de Catarina Martins no Parlamento, como deputada em regime de exclusividade, levou a alterações na gerência da empresa.

Pedro Carreira manteve-se como gerente e entraram dois novos sócios: Ana Maria Manso Soares e José Manuel Carreira, sogros de Catarina Martins e proprietários de “grande parte” do património explorado pela Logradouro Lda. Catarina Martins e o marido mantiveram uma “participação simbólica” no negócio. Atualmente, a coordenadora do BE tem 4% da empresa.

E que património está aqui em causa? Desde logo, a Logradouro Lda. explora uma unidade de alojamento local com capacidade para quatro pessoas, com dois quartos e duas camas. A unidade, inscrita no Registo Nacional de Estabelecimentos de Alojamento Local (RNAL), é chamada de Casa da Marzagona. No Airbnb, são cobrados 120 euros por cada noite.

O imóvel está registado como alojamento local “por ser a casa dos sogros de Catarina Martins na sua aldeia de origem e onde a família se reúne todos os anos”, explicou ao ECO fonte oficial do BE. “Nos períodos em que não é usada pelos seus proprietários, a casa é disponibilizada para turismo”, acrescentou a mesma fonte.

A Logradouro Lda. explora ainda quatro estabelecimentos turísticos que se encontravam abandonados no momento em que a empresa foi fundada. Ao que o ECO apurou, a empresa conseguiu aprovar, no final de setembro de 2009, um projeto de “recuperação e reconversão de antigos palheiros para turismo rural” no âmbito do Quadro de Referência Estratégica Nacional (QREN) e recebeu um incentivo comunitário de 137,3 mil euros.

O projeto foi avaliado em 183,1 mil euros. O património foi recuperado para turismo e, em 2011, estas quatro unidades foram registadas como empreendimentos turísticos. No total, os quatro empreendimentos explorados pela Logradouro Lda. têm capacidade para 16 pessoas. Atualmente, a empresa é gerida por Pedro Carreira e pela mãe, Ana Soares.

A participação de Catarina Martins nesta empresa consta nos registos de interesses entregues ao Parlamento e também ao Tribunal Constitucional. Ora, na sequência da polémica com o imóvel de Ricardo Robles, fonte oficial do BE explica que não existe incoerência entre as propostas defendidas pelo BE para o alojamento local e o facto de Catarina Martins ter uma participação neste negócio.

Ao ECO, fonte oficial do BE referiu que “a gentrificação é um fenómeno urbano de expulsão de moradores pobres” e que, “pelo contrário, o turismo em espaço rural fixa habitantes e combate a desertificação em regiões como a do Sabugal”. “As quatro casas reabilitadas para turismo em espaço rural estavam há muito abandonadas, situação demasiado comum no interior do país”, conclui.

Carr wildfire spawns 'firenado' in California



As California burns, many fear the future of extreme fire has arrived
Experts say the state’s increasingly ferocious wildfires are not an aberration – they are the new reality

Alissa Greenberg and Jason Wilson in Redding, California
Tue 31 Jul 2018 06.00 BST

Roger Gray has lived in his suburban subdivision in a quiet California city for 30 years. On Thursday, it was struck by a jaw-dropping geophysical phenomenon.

Gray had defied orders to evacuate Redding, in the far north of the state, which was threatened by the fast-growing Carr fire outside town. He and his neighbors wanted to defend their homes. A Navy veteran, Gray worked 10 hours preparing his house and was already exhausted when he saw plumes of smoke in the distance. “Then they started to swirl together, and I’m going, ‘Oh, we’re in trouble,’” he said.

His wife evacuated without him, driving through a maelstrom of smoke and burning tree limbs. Not long after, “it was raining fire”, Gray said. He could hear exploding paint cans and ammunition in the distance; he guessed the flames were 100m tall. “Are we going to die?” his neighbor asked him.

The firenado, a huge, rotating whorl of smoke, flame and ash, was upon them.

Recent California wildfires in California are notable for their ferocity. At least six people have died, including two firefighters, in the past month in fires that continue to blaze, and 44 died as a result of last year’s wine country fires. The conflagrations have also spawned bizarre pyrotechnics, from firenados to towering pyrocumulus clouds that evoke a nuclear detonation. These events are not aberrations, say experts. They are California’s future.

As of Monday morning, the Carr fire had burned more than 98,000 acres, and containment stood at 20%, with more than 5000 structures threatened. In the evening, Cal Fire began lifting evacuation orders, allowing residents mostly on the east side of the fire to return home.

Awareness of fires “is not just because the news is covering it more”, said Michael Wehner, a senior staff scientist at the Lawrence Berkeley National Laboratory. “More acres are burning. That is almost certainly due to climate change.”

As the climate shifts, so does fire behavior. Summers are longer and drier. Sometimes the winter rains are meager for years, as in the recent five-year drought. Sometimes, like this year, they are torrential, producing explosive plant growth that, several months later, desiccates into prime accelerant. The needle is moving, but where it will stop is anybody’s guess.

 “Climate change is continuing to unfold,” said Anthony LeRoy Westerling, a professor of management of complex systems at the University of California, Merced. “The impacts from it will probably accelerate. There won’t be a new normal in our lifetimes.”

He said the Carr fire is one of “a bunch of large fires which have behaved in uncharacteristic ways” in recent years in the west.

Gabriel Lauderdale, a Redding firefighter, said the rhythm has changed even during his 10 years fighting fires. When he started, sometimes years passed without fires so big that his company was called to help outside their county. “Now, it doesn’t just happen every year, it happens multiple times every year,” he said. He hasn’t been home since 25 June because he has been helping fight fires all over the state.

Of the firenado on Roger Gray’s homey street, he said: “A lot of people have said they’ve never seen anything like this. I’ve never seen anything like this. We can’t look at this as a one time incident. We have to look at it as: what if it continues to happen?”

Lauderdale said he worried about the way these fires strain resources when they get too large, as well as lack of public awareness among city residents – like those in Redding or last year in the Wine Country city of Santa Rosa – who might not think they are at risk during wildfire season.

Most of all, though, he said he worried about firefighters getting worn down and becoming unable to do their jobs at this intensity for long periods of time, as California’s fire season grows longer. Departments are emphasizing family time and a firefighter’s mental and physical health, he said. Sometimes they bring peer counselors or therapy dogs to especially difficult fire sites.

He hesitated to link the recent firefighter deaths – four in recent weeks, including two at the Carr fire – to fatigue, since each death occurs under different circumstances. But “in 12 months, this is the fifth firefighter death on a fire I’ve been on”, he said.

The fire inspector that died earlier this week in the Carr fire, Jeremy Stokes, was Lauderdale’s friend and teacher, which has made working on the Carr fire especially painful. “There isn’t a way to rationalize it other than – he made a sacrifice for his community and the city he lived in,” Lauderdale said. “There is not easy way to wrap your head around it. I can’t let myself think about it too much. I don’t know if I’d be able to continue if I did.”

Scientists emphasize that climate change is not the only way humans are implicated in California’s astonishing fires and should not be used to “relinquish local or individual responsibility” said University of Oregon researcher Mark Carey. Increasingly people are building in risky areas, and forest managers have allowed stands to grow too dense.

The most recent victims are still shocked by what they witnessed. Gray was lucky: he was able to defend his Redding home. “We know we’re vulnerable,” said Bernadette Coe, who has lived in a nearby town since 1985. “But there’s never been a fire this close or this fierce”. 


segunda-feira, 30 de julho de 2018

Ricardo Robles vai deixar o cargo que ocupava na Câmara de Lisboa.





Tal como OVOODOCORVO opinava hoje ao fim da manhã, a posição de Robles era absolutamente insustentável. Com efeito, Ricardo Robles foi demitido, indirectamente, por Luís Fazenda nas suas declarações ao i. As suas afirmações: - “tem aspectos que carecem de uma análise mais longa e cuidada"- constituíram uma mensagem e um convite indirecto.
Catarina Martins e Joana Mortágua, ao manterem um discurso autista e de “superioridade moral” saem fortemente enfraquecidas no plano da credibilidade política perdendo assim a “santidade intocável”nos bastidores das questões de Carácter e Honestidade.
OVOODOCORVO

BE convoca comissão política para decidir sucessão de Ricardo Robles
Eleito em 2017, representante do Bloco de Esquerda deixa a vereação após a polémica em torno dos investimentos imobiliários em Lisboa.

PÚBLICO 30 de Julho de 2018, 12:08 actualizada às 14:48

O vereador estava sob críticas desde sexta-feira, data que os seus negócios imobiliários foram conhecidos

Ricardo Robles vai deixar o cargo que ocupava na Câmara de Lisboa. A saída do vereador eleito pelo Bloco de Esquerda nas eleições autárquicas de 2017 foi anunciada pelo partido, num comunicado divulgado nesta segunda-feira. O agora ex-vereador explica a decisão com uma "opção privada" que foi "forçada por constrangimentos familiares (...)" e que se revelou "um problema político real", aludindo assim aos investimentos imobiliários em Lisboa.

Afirmando que considerava estar limitado na intervenção como vereador, Robles comunicou no domingo ao partido que renunciaria ao cargo.

PÚBLICO -Foto
Durante o fim-de-semana, o prédio de Ricardo Robles em Alfama foi vandalizado DANIEL ROCHA
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Ricardo Robles estava sob pressão desde que na sexta-feira passada O Jornal Económico revelou que o vereador – crítico da especulação imobiliária e dos efeitos da pressão do alojamento local sobre os preços da habitação em Lisboa – tinha ele próprio investimentos imobiliários na capital. Como o PÚBLICO depois revelaria, o edifício em causa tinha sido publicitado pela imobiliária como um bom investimento para alojamento local.

O vereador, em conjunto com a irmã, comprou, em 2014, um velho edifício de três pisos em Alfama, por 347 mil euros. Investiu cerca de 650 mil nas obras de requalificação. No final do ano passado, o edifício foi colocado de novo à venda, agora através de uma imobiliária de luxo e com uma avaliação de 5,7 milhões de euros. Em Abril, o imóvel foi retirado do mercado. Ao Jornal Económico, Robles garantiu que a família mantinha a intenção de vender o prédio, mas na sexta-feira à tarde anunciou que ia, afinal, dividir o edifício em propriedade horizontal e não venderia as suas fracções.

Sendo uma das vozes mais críticas da especulação imobiliária que diz assolar Lisboa, a sua continuidade no executivo municipal, onde detém as pastas da Educação e dos Direitos Sociais, começou a ser questionada. O Bloco de Esquerda, pela voz da sua líder, Catarina Martins, reiterou-lhe o apoio e afirmou mesmo que Ricardo Robles estava a ser alvo de uma “campanha de difamação”. A coordenadora do Bloco de Esquerda defendeu o vereador e afirmou que “fez o que tinha de ser feito” e “nada fez de errado”.

Na sexta-feira, o PSD Lisboa pediu a demissão do vereador bloquista "por manifesta falta de ética, de seriedade e de credibilidade política para permanecer no cargo de vereador na cidade", mas numa conferência de imprensa ao final dessa tarde, Robles garantiu que se manteria no cargo. Esta segunda-feira recuou na decisão.

O BE e a maioria de Medina
Depois das autárquicas de Outubro passado, Ricardo Robles assinou um acordo de governação com Fernando Medina, que permitiu ao socialista obter a maioria absoluta na câmara lisboeta, mediante um conjunto de condições. Uma das incógnitas sobre a demissão de Robles é se o acordo se mantém e quem será o novo vereador do Bloco. A segunda pessoa na lista do partido é Rita Silva, do colectivo Habita, mas o BE só deverá tomar uma decisão definitiva esta noite, depois de reunida a comissão política.

As críticas de Luís Fazenda
A renúncia de Ricardo Robles acontece no mesmo dia em que o fundador do Bloco de Esquerda Luís Fazenda afirmou que o partido “deve fazer uma reflexão” sobre o assunto, “uma avaliação” e “tirar conclusões”. Actividades imobiliárias como aquelas praticadas por Ricardo Robles “são circunstâncias que, no Bloco de Esquerda, nós condenamos e que levam à gentrificação”, afirmou o antigo líder parlamentar em declarações ao jornal i.

“As avaliações que faremos vão ter em conta as várias opiniões e a forma como este processo foi entendido”, afirmou Luís Fazenda ao jornal i. Para o ex-líder bloquista, o caso do vereador “tem aspectos que carecem de uma análise mais longa e cuidada”.

PSD: "Renúncia retira razão a Catarina Martins"
Em declarações à Lusa, o presidente da concelhia de Lisboa do PSD, Paulo Ribeiro, considerou que a renúncia de Robles retira razão à coordenadora do Bloco de Esquerda, que saiu em defesa do autarca. "A sua demissão vem naturalmente dar razão ao nosso pedido, por manifesta insustentabilidade política que era demonstrada para que o vereador Ricardo Robles pudesse continuar a exercer as funções de vereador na Câmara Municipal de Lisboa"

Paulo Ribeiro apontou também que "o PSD de Lisboa sempre colocou a questão no plano político" e acusou o até agora vereador do BE de "inconsistência e incoerência entre aquilo que foi o seu discurso e a sua intervenção política ao longo destes anos e aquilo que foi a sua acção enquanto cidadão".

Dada a existência de um acordo de governação da cidade firmado entre o PS e o BE, o presidente da concelhia do PSD considerou também que a questão que se coloca agora é "se Fernando Medina [presidente da Câmara de Lisboa] pretende manter o acordo". O acordo atribuiu a Ricardo Robles os pelouros da Educação e Direitos Sociais, e Paulo Ribeiro quer saber ainda se se manterá "a distribuição de pelouros a quem irá substituir o vereador".

"O dossiê não fica aqui fechado, porque ao longo dos últimos dias foram-se levantando também dúvidas e questões sobre o próprio processo de licenciamento do prédio", feito "numa altura em que o vereador era, à data, deputado municipal", sublinhou.

PAN não comenta
André Silva, o deputado único do PAN, prefere não fazer nenhum comentário ao caso Ricardio Robles. Mas nesta segunda-feira à tarde, à saída da audiência com o Presidente da República, notou aos jornalistas que “há várias formas de sanar contradições graves, ou pelo menos que causam bastante incómodo social”. “O BE resolveu reagir desta forma [a renúncia do vereador], ao contrário do que outros partidos normalmente fazem”, sublinhou.

Coitadinho do Bloco, que está a ser perseguido

Na primeira hora de aperto ético, o partido que fez carreira a tentar provar que era diferente dos outros comportou-se como um partido banal.

30 de Julho de 2018, 15:57


Para a direita portuguesa, o Natal chegou em Julho. Desconfio que para a esquerda não-bloquista também. Foi para casos como estes que os alemães inventaram a palavra “schadenfreude” – a alegria perversa que sentimos com certas desgraças alheias. Nem nos sonhos mais optimistas de um liberal lusitano se poderia prever que a sigla BE pudesse um dia confundir-se com Burgueses Especuladores. Reparem: não foi só aquilo que Ricardo Robles fez, nem as desculpas esfarrapadas que arranjou (a minha favorita é aquela em que ele garante que a intenção original da irmã era vir para Lisboa viver num apartamento de 41 metros quadrados depois de ter investido um milhão de euros a dividir um prédio em 11 mini-fracções com 11 cozinhas e 11 casas de banho). A negociata de Robles é, sem dúvida, espantosa, e daí o seu sucesso mediático. Mas ainda mais divertido foi a reacção de gente como Mariana Mortágua, Francisco Louçã ou Catarina Martins.

Que um bloquista um dia metesse à grande o pé na poça, era apenas uma questão de tempo. Que o estado-maior do Bloco saísse em sua defesa de forma tão desastrada, é realmente surpreendente. Ricardo Robles vai custar muito caro ao partido por ter atrasado três dias o seu pedido de demissão. Aquilo que o Bloco acaba de perder vale mais do que 5,7 milhões de euros – o partido que fez carreira a tentar provar que era diferente dos outros, na primeira hora de aperto ético comportou-se como um partido banal. Mariana Mortágua, na SIC Notícias, parecia Cassete Carvalhas, repetindo um mantra defensivo de modo deprimente para alguém com a sua inteligência. Francisco Louçã referiu-se à polémica como “uma forma de entretenimento de fim de Julho”. E Catarina Martins, à porta do acampamento do Bloco, teve a mais estapafúrdia reacção de todas: pôs as vestes da indignação, pediu emprestada a José Sócrates a palavra “infâmia”, e chegou até a falar numa “campanha de difamação”. Parecia uma secretária-geral do PS. Ou do PSD. Ou do CDS. No último fim-de-semana, o Bloco aderiu oficialmente ao PNEC – Processo de Normalização em Curso. Passou a ser um partido como qualquer outro no campeonato das desculpas esfarrapadas.

Uma dessas desculpas interessa-me particularmente – o argumento da conspiração: o Bloco estaria a mexer nos interesses imobiliários instalados, e por isso alguém soprou a notícia do prédio milionário. Catarina Martins é bem capaz de ter razão. Acho até altamente provável que a notícia tenha sido passada por alguém da câmara que seja inimiga de Robles ou do Bloco. Mas isso só dá razão àqueles que consideram politicamente inaceitável o seu comportamento. É exactamente por este tipo de notícia poder ser divulgado com facilidade, destruindo a reputação de um vereador enquanto o diabo esfrega um olho – como veio a acontecer –, que Robles jamais poderia ter-se colocado em semelhante posição.

Ricardo Robles: As 64 horas do 'não me demito' à demissão






O bloquista Ricardo Robles apresentou a demissão esta
segunda-feira, 64 horas depois de ter dito aos jornalistas que não se ia
demitir. Recorde os principais acontecimentos que marcaram este caso.

Custo com residentes não habituais quadruplicou em três anos



Custo com residentes não habituais quadruplicou em três anos

Depois da divulgação de números contraditórios, as Finanças dão explicações sobre o valor dos benefícios fiscais dados aos residentes não habituais. O custo passou de 111 milhões de euros em 2014 para 433 milhões de euros em 2017.
Os residentes não habituais em Portugal custaram 433 milhões de euros ao Estado em 2017, um aumento de 83 milhões de euros face a 2016. Ou seja, num ano os gastos subiram 24%. Se recuarmos a 2014, a subida é mais significativa: )

Campo de Ourique, um dos bairros mais cobiçados de Lisboa, tem cada vez mais moradores estrangeiros



Campo de Ourique, um dos bairros mais cobiçados de Lisboa, tem cada vez mais moradores estrangeiros

Sofia Cristino
Texto
30 Julho, 2018

A zona está a mudar, mas a transformação não é sentida da mesma forma por todos. Há lojas a nascerem, mas também muitas a fechar logo após abrirem portas. Na freguesia com um dos valores por metro quadrado mais caros da cidade, jovens casais de classe média viram-se obrigados a sair das casas onde começaram a constituir família. No bairro eleito por estrangeiros para comprar casa, sente-se um aumento dos franceses, italianos e alguns nórdicos e já há sinais do turismo junto ao cemitério dos Prazeres. O que tem consequências. “Os mais jovens começam a assentar e a constituir família e têm de sair”, diz uma comerciante. Há quem veja, porém, com optimismo o aumento de residentes estrangeiros. “Talvez tornem a freguesia mais ecléctica e tragam novas ideias”, diz outra lojista. A freguesia, conhecida pela pacatez e espírito de comunidade. “Descobri este oásis e por isso fiquei cá”, diz uma moradora e lojista, natural de Leiria. O estacionamento e o trânsito são “a dificuldade crónica” do bairro, criticada por todos.

 “Campo de Ourique está numa fase de transição. Há muitos moradores a irem embora e essa saída vai transformar o bairro. Está tudo a mudar, há prédios a serem restaurados e lojas a abrirem. Vai acontecer alguma coisa, o que é ao certo ainda não sei”, conjectura Teresa, lojista na Retrosaria do Jardim. As mudanças são visíveis um pouco por todas as ruas, onde há pelo menos um prédio a ser remodelado ou uma loja nova. Ao percorrer o bairro, o idioma francês é predominante e mistura-se com o português quase na mesma proporção. “As pessoas que fizeram o bairro já saíram. Sempre houve franceses, mas agora há muitos mais, e italianos e chineses. Os estrangeiros vieram tornar as casas inacessíveis aos portugueses, era o bairro dos actores e agora é o bairro dos franceses. Talvez tornem a freguesia mais ecléctica e tragam novas ideias”, diz ainda, optimista.

Da porta da loja, de tecidos e roupa de bebé, vêem-se crianças com os pais a brincar no parque infantil do Jardim Teófilo Braga, mais conhecido por Jardim da Parada, no coração da freguesia. A maior parte não reside ali, está só de passagem. “É uma zona muito apetecível para se viver, mas os preços das casas são muito elevados. Viemos aqui só passear”, diz Vasco Franco, 36 anos, enquanto dá leite ao filho recém-nascido e observa os outros filhos a andarem de baloiço. Vive no Parque das Nações, mas frequenta a recém-criada freguesia de Campo de Ourique, junção das antigas freguesias de Santa Isabel e de Santo Condestável, desde criança. “A minha tia mora cá e já venho desde muito pequeno. Não sei se são as pessoas, se é o comércio local, que se mantém, ao contrário de outras partes da cidade, mas sinto-me muito bem aqui. A seguir, vamos fazer compras nestas lojas de bairro”, conta. Pelos bancos de madeira do jardim, vêem-se pessoas de mais idade, algumas filhas do bairro de Campo de Ourique, grupos de homens a jogar à sueca durante todo o dia, e um ou outro morador de meia idade a passear o cão.

Maria de Matos, 69 anos, a viver há 18 anos naquela zona, dá voltas ao jardim, enquanto brinca com a cadela. Apaixonou-se pela “tranquilidade” do bairro e comprou casa quando Campo de Ourique ainda ficava de fora dos roteiros turísticos da capital e os preços dos imóveis não estavam tão inflaccionados. “Tenho pena que o valor das casas tenha aumentado, muitos casais jovens tiveram de sair. Alguma coisa tem de mudar, porque senão só vemos idosos nas mesas”, diz, enquanto dirige o olhar para as pessoas de mais idade. Isabel Cabaço e Fernanda Oliveira, sentadas num dos bancos do espaço verde, não podiam estar mais felizes com a evolução do bairro onde vivem desde crianças. E contam-no de sorriso aberto. “Está tudo tão modificado, tão diferente…Quando me casei, a Igreja de Santo Condestável estava em obras, rodeada de andaimes. Era tudo terra, agora há passeios e está tudo tão arranjado. Havia muito pouco comércio e, agora, há muito. Não precisamos de ir à Baixa às compras, temos aqui tudo”, diz Fernanda Oliveira, 91 anos, para logo de seguida começar a relatar um leque de boas memórias.

Hoje, o adro da igreja é palco de passeios familiares, encontros de adolescentes em período de férias escolares, ou local de paragem para almoço. A quietude daquele lugar só é interrompida pelo ruído dos aviões ou por um bando de pombos a invadir o átrio desafogado. “Gosto de almoçar aqui, tem sombra e é tranquilo”, diz João Armando, 43 anos, enquanto acaba de comer a refeição acondicionada num recipiente de plástico, nas traseiras da igreja. Uma mulher, na casa dos 30 anos, brinca com o filho enquanto espera que o marido saia do emprego. Em frente, há lojas que anunciam o encerramento e outras novas que dão nas vistas pelo carácter invulgar. Na Casa a Granel, aberta desde final de 2015, por Marlene Garcia, 30 anos, e o marido, vende-se um pouco de tudo avulso, desde especiarias, cereais, arroz, massa em forma de desenhos animados, chás, fruta desidratada, entre outros artigos dispostos em caixas de madeira ou dispensadores. Só na primeira semana de abertura, Marlene adicionou vinte produtos novos à loja. “Foram os próprios moradores da freguesia que se mostraram interessados em sugerir produtores”, conta.

 Natural de Leiria, quando veio viver para Lisboa, em 2006, sentiu “uma grande impessoalidade” na forma de tratamento com quem se ia cruzando e pensou em abandonar a cidade. Uma opção que acabou por esquecer quando conheceu Campo de Ourique. “Descobri este oásis e por isso fiquei cá. É uma comunidade, gosto da essência das pessoas e criei amizade com os clientes, o que não é comum nas grandes cidades. É um bairro muito auto-sustentável”, conta, enquanto cumprimenta uma cliente com um abraço. Marlene Garcia elogia sobretudo o espírito de bairro e a segurança. “Sente-se um aumento do turismo nos últimos dois anos, mas é bom”, acrescenta.

 Ofuscado por vezes com o que é já uma marca identitária da freguesia, o Mercado de Campo de Ourique, o bairro tem uma vida muito própria, para lá dos holofotes dos prémios internacionais que vai conquistando. O mercado, como tantos outros da cidade, durante alguns anos caiu no esquecimento, mas reergueu-se com bares e restaurantes, sendo principalmente frequentado à noite. Aurora de Brito, 78 anos, tece largos elogios à requalificação do espaço onde trabalha há 66 anos. “Há uns anos, saíamos do mercado e não víamos ninguém, tínhamos medo. Agora, vê-se muita gente, é todo o dia. Há muitos turistas e, ao mesmo tempo, é uma aldeiazinha. Somos o melhor mercado de Lisboa”, afirma a vendedora de fruta. Pedro Garrido, a trabalhar num quiosque junto ao cemitério dos Prazeres, diz que nunca viu tantos turistas como agora. “Sem ser a Baixa e a zona histórica de Lisboa, deve ser a parte da cidade com mais turistas, principalmente franceses, espanhóis e italianos”, diz.

 No bairro de Campo de Ourique considerado, mais de uma vez, o “melhor para se viver” pela imprensa internacional, e onde, no último ano, têm nascido novos restaurantes e lojas gourmet, o encanto vai-se esfumando quando se percorre o bairro de uma ponta à outra. “Do jardim para cá, não é Campo de Ourique. Esta é a zona menos nobre do bairro, a mais esquecida”, diz Maria de Fátima, 45 anos, a trabalhar na Rua de Campo de Ourique há 15 anos. Faz tapetes, artigos artesanais e restauros, e já tem uma carteira de clientes grande, “no bairro onde todos se conhecem”, conta. Lamenta, contudo, a falta de investimento no comércio tradicional. “O presidente da Junta de Freguesia nunca fala connosco. Há pouco tempo, perguntaram-lhe onde existia uma loja de restauros em Campo de Ourique e ele não sabia”, conta. Júlio Caldeiro, 83 anos, há mais de cinquenta anos a vender louças e utilidades, diz que sente a freguesia “estagnada”. “Não vejo evolução nenhuma. O trânsito e o estacionamento são os maiores problemas, já perdi clientes por isso. Nessa rua, que se vê daqui, deviam deitar as casas todas a baixo. Isto já não é Campo de Ourique, só há prédios velhos e não se constrói nada, é uma vergonha. Sempre se dava movimento a este canto”, diz, referindo-se à Rua do Sol ao Rato.

 Gil Boularote, 62 anos, lojista há 25 anos em Campo de Ourique, partilha a mesma opinião. “Melhorou-se de um lado e perdeu-se a memória do passado do outro. Já desapareceu muito do comércio antigo e tascas características da zona, que não vão voltar. Está mais moderno, os prédios estão melhor e há dois anos há muitos mais turistas, mas apagou-se o passado”, lamenta o emigrante francês, que vende roupa e acessórios vintage na Rua Coelho da Rocha. Já Sílvia Laurentino, 51 anos, emigrada nos Estados Unidos, a passar férias em Portugal, olha com satisfação para a transformação do bairro, mas critica os valores dos imóveis. “Está completamente diferente, mais limpo e bonito, mas encareceu muito, é muito difícil alugar ou comprar casa”, comenta.

Sandra Gonçalves, 40 anos, moradora e proprietária do Queque de Campo de Ourique, uma pastelaria de bolos caseiros, sente-se desapoiada como comerciante. “É um bairro simpático, que sempre primou por ter um pouco de tudo, mas agora há pouca variedade de negócios, parece um refeitório, só há restaurantes e cafés. Quando vim morar para cá, chamava-se à Rua Ferreira Borges a 5ª Avenida, agora está muito diferente”, diz, criticando ainda o difícil acesso à habitação. “Esta zona sempre foi cara, nunca desvalorizou, mas agora é um absurdo. Vê-se demasiados franceses, não era suposto. As pessoas mais jovens começam a assentar e a constituir família e têm de sair, não devia ser assim”, acrescenta. Do outro lado da rua, José Martins, 66 anos, a vender roupa interior, pijamas, lençóis e toalhas há 53 anos na freguesia, vai fechar o negócio. “Chegamos a ter oito empregados, agora sou só eu. Perdi metade dos clientes e a firma vai acabar porque não há ninguém para dar seguimento. Deve ser a loja mais antiga de Campo de Ourique e é pena porque ainda há quem me diga que faz falta”, lamenta o funcionário da Modas e Confecções Deserto. “O que me vale é Campo de Ourique ser um bairro da 3ª idade, senão já tinha fechado há muito tempo”, acrescenta.

Devido à subida acelerada do preço das casas, que colocou Campo de Ourique como a freguesia com um dos metros quadrados mais caros da cidade, há muitos habitantes a abandonarem o bairro, mas também muitas lojas a abrir e a fechar, “uma rotatividade” criticada por alguns. “Os andares são colocados à venda por valores absurdos e a maioria são comprados por estrangeiros. Aqui ao lado, foi uma chinesa que comprou. Os casais jovens que vivem aqui é em casa de familiares. Há muitas pessoas idosas a viverem aqui há muitos anos”, conta Ana Galhardo, 60 anos. Há um ano, abriu uma loja de tartes doces e salgadas na Rua Ferreira Borges e não está arrependida. Mas salienta: “não é fácil uma loja aguentar-se aqui, tenho de fazer um esforço diário”.

 “Há uma grande variedade de lojas, mas não havia nenhuma que só vendesse tartes. Tentei perceber como me podia diferenciar e não ser só mais uma, porque vi muitas lojas a abrirem e a fecharem em pouco tempo. Há muita gente a querer abrir lojas aqui, mas esquece-se que as rendas são altas e já há muita oferta de alguns sectores de actividade”, acrescenta a antiga vendedora de artigos artesanais. Quem passa na rua, por vezes, pára só para cumprimentar quem está atrás do balcão. “Alguns só querem conversar, por isso é que Campo de Ourique é mesmo um bairro. Consigo fazer um atendimento personalizado”, explica Ana Galhardo.

 Elisabete Torres, 47 anos, funcionária na retrosaria Tricots Brandal, na Rua Coelho Rocha, também realça a “proximidade” dos moradores. “Este bairro tem características muito especiais. É uma clientela mais idosa, mais conservadora, que muitas vezes vem só conversar”, conta. Apesar de elogiar “a pacatez” da freguesia, lamenta a falta de apoio aos mais novos. “É um bairro que podia ser aproveitado de outra forma, poderia ter mais vida e, se não fosse tão caro, de certeza que mais jovens o procurariam. É mais sociável à noite do que de dia”, diz, referindo-se à movimentação sentida no Mercado de Campo de Ourique.

 O presidente da Junta de Freguesia de Campo de Ourique, Pedro Cegonho (PS), em depoimento escrito a O Corvo, aponta “o estacionamento e o trânsito” como “uma dificuldade crónica da freguesia”. “Estamos a acompanhar com expectativa as transformações em curso na Carris, com a introdução de novos modelos de autocarros e a integração de mais motoristas para repor níveis de serviços depreciados. Para além do reforço das faixas BUS, bem como o aumento dos estacionamentos para motociclos para incentivo ao seu uso”, diz. Cegonho avança que, no fim do mês de Julho, vai começar a ser construído um novo parque de estacionamento da EMEL, com cerca de 250 novos lugares, junto à Piscina Municipal.

 O autarca reconhece a dificuldade de encontrar casa a “preços médios”, um problema “de toda a cidade de Lisboa” que terá de ser resolvido através de “nova legislação em aprovação na Assembleia da República”. No bairro marcado por uma forte presença de franceses, o autarca diz que não consegue avançar dados da população estrangeira residente na freguesia, mas diz ter “a percepção, quer das transacções imobiliárias, quer do recenseamento eleitoral, de um aumento de cidadãos da União Europeia, como franceses, italianos e alguns nórdicos”. “Estamos curiosos em conhecer os resultados do Recenseamento previsto para 2021 para verificar as alterações demográficas, quer ao nível da população estrangeira, quer ao nível da renovação das famílias e do envelhecimento da população. Notamos a existência de mais famílias com crianças, pela procura existente nas escolas e na utilização dos parques públicos e programas infanto-juvenis da Junta de Freguesia”, informa.

 Cegonho congratula-se ainda de o bairro chamar a atenção da imprensa internacional, como da revista Monocle e dos jornais New York Times e Stuttgart Zeitung. “Campo de Ourique é uma freguesia com um forte sentimento de pertença, de bairro e laços de vizinhança. É um bairro plano, que convida a passeios a pé pelo comércio tradicional, e gastronómico, com dezenas de restaurantes de cozinha portuguesa e das magníficas pastelarias com fabrico e delícias próprias. É pontuado por diferentes garrafeiras onde se encontram verdadeiros tesouros do património vinícola português. Campo de Ourique é a verdadeira cidade dentro da cidade”, afirma. Quando confrontado com as críticas dos comerciantes que se dizem sentir esquecidos pela Junta de Freguesia, o autarca diz que “não se revê” nas mesmas. “A nossa relação com todo o comércio tradicional é excelente, dinâmica e existe ao longo de todo o ano, pontuando cerca de 200 lojistas em várias iniciativas”, conclui.

Mariana Mortágua e Adolfo Mesquita Nunes debatem a polémica em torno de ... / Fundador do Bloco quer "reflexão" no partido sobre caso Robles

Mariana Mortágua não convence ... Durante 6 meses Ricardo Robles foi nítidamente um proprietário especulador. Robles tinha a liberdade e a responsabilidade moral para recusar o preço especulador da Imobiliária e da intenção da mesma para vender o imóvel para Alojamento Local. ( um prédio dividido em apartamentos entre 20 a 40 metros quadrados!?)
Ricardo Robles não tem outra saída a não ser a demissão imediata do seu pelouro na CML.
Para todos aqueles que estão verdadeiramente preocupados com Lisboa, não alinham com lógicas partidárias e não alinham com o discurso do CDS e com a lógica Neo-Liberal, este acontecimento é verdadeiramente desastroso.

OVOODOCORVO



Fundador do Bloco quer "reflexão" no partido sobre caso Robles
Luís Fazenda admite que polémica actividade imobiliária do vereador "tem aspectos que carecem de uma análise mais longa e cuidada" e que "a situação é mais adversa" para abordar os temas da especulação e gentrificação.
Fundador do Bloco quer "reflexão" no partido sobre caso Robles
António  Larguesa António Larguesa alarguesa@negocios.pt
30 de julho de 2018 às 09:47

O fundador e dirigente do Bloco de Esquerda, Luís Fazenda, sustenta que o partido deve "fazer uma reflexão e tirar conclusões" sobre o caso de especulação imobiliária que envolve o vereador lisboeta Ricardo Robles, que se vinha notabilizando precisamente pelo combate a este tipo de práticas devido aos efeitos no mercado da habitação.

 Em declarações ao jornal i, o ex-líder parlamentar do Bloco admite que este tipo de actividades – a compra de um imóvel em Alfama por 347 mil euros para, quatro anos depois, ser colocado à venda recuperado por 5,7 milhões de euros – são "circunstâncias que, no Bloco de Esquerda, [são condenadas] e que levam à gentrificação".

 Rejeitando que o partido saia "diminuído" deste caso, Fazenda reconhece que "a situação é mais adversa" para abordar um tema que tem marcado a agenda política da vereação bloquista. Sublinha que o caso "tem aspectos que carecem de uma análise mais longa e cuidada" e reforça que "as avaliações que faremos vão ter em conta as várias opiniões e a forma como este processo foi entendido".

 As avaliações que faremos vão ter em conta as várias opiniões e a forma como este processo foi entendido.
LUÍS FAZENDA, FUNDADOR E DIRIGENTE DO BLOCO DE ESQUERDA

A reacção deste dirigente que participou na fundação do Bloco em 1999 com Francisco Louçã, Fernando Rosas e Miguel Portas, acaba por trazer um tom diferente ao debate interno sobre o caso do vereador que na sequência das últimas eleições autárquicas, realizadas em Outubro de 2017, firmou um acordo com o Executivo camarário liderado pelo socialista Fernando Medina. E que, logo na primeira reacção em conferência de imprensa, reclamou que "não há nada de reprovável na [sua] conduta".

 "Mentiras", prazos e alojamento local

 Enquanto um comunicado da comissão política frisou que "a conduta de Ricardo Robles em nada diminui a sua legitimidade na defesa das políticas públicas que tem proposto e continuará a propor", a coordenadora do partido, Catarina Martins, resolveu fazer a defesa do vereador do partido classificando as notícias sobre este caso de "mentiras", acrescentando que toda esta polémica surge porque "o que o BE está a fazer está a incomodar interesses imobiliários".

 Ao mesmo jornal, o presidente da Associação Lisbonense de Proprietários acusou Ricardo Robles de ter convertido aquele prédio no centro histórico da capital para "promover o alojamento local". "Só isso é que explica a utilização de um prédio que está dividido em apartamentos entre 20 a 40 metros quadrados", referiu Menezes Leitão, argumentando que "ninguém está a pensar em fazer um contrato de longa duração num apartamento com uma tipologia tão pequena".

Ainda relativamente a este caso, o CM noticia que o vereador do Bloco de Esquerda falhou o prazo de 60 dias para comunicar à Autoridade Tributária as obras realizadas no prédio que comprou em Alfama, junto ao Museu do Fado, para efeitos de actualização do valor patrimonial tributário (VPT), um elemento crucial ao apuramento do valor do IMI a pagar ao Estado.

( um prédio dividido em apartamentos entre 20 a 40 metros quadrados!?)
Nítidamente para Alojamento Local !!
OVOODOCORVO

Eixo do Mal Ricardo Robles 2018 07 28

domingo, 29 de julho de 2018

Beyond the crash



The Sunday essay
Beyond the crash

Politics don’t matter; market forces shape our world. So ran the dominant ethos before 2008. Adam Tooze, the author of a landmark book, says it was always an illusion

Sun 29 Jul 2018 11.00 BST Last modified on Sun 29 Jul 2018 14.17 BST

 ‘I hear people say we have to stop and debate globalisation. You might as well debate whether autumn should follow summer.” That was Tony Blair, Britain’s prime minister, in October 2005.

Two years later, in the autumn of 2007, Alan Greenspan, the former chair of the US Federal Reserve, was asked by a Swiss newspaper which candidate he was supporting in the forthcoming US presidential election. His response was striking. How he voted did not matter, Greenspan declared, because “[we] are fortunate that, thanks to globalisation, policy decisions in the US have been largely replaced by global market forces. National security aside, it hardly makes any difference who will be the next president. The world is governed by market forces.”

Theirs is a world we have lost. To understand it, you had to believe that global markets, like the seasons, were givens. You had to believe that markets had a logic by which they ruled and that the outcome of their rule was, on the whole, benign. You had also to believe, as Greenspan’s exception indicated, that although national security remained political, it was separable from economics. Otherwise, if economics and geopolitics were entangled, then presumably economics would be a matter for politicians, too.

In the 10 years since the financial crisis of 2008, all of those assumptions have been revealed as false. The idea that the economy is a realm beyond politics or the play of international power has been exposed as a self-serving illusion.

Donald Trump is the most spectacular manifestation of that disillusionment and the one that matters most. He is an outright nationalist, pushing against the trend of globalisation. He has little respect for markets unless they deliver outcomes he likes. He is not afraid to boss the bosses or moan about the Fed. And he proclaims that everything from imports of German cars to Chinese “borrowing” of US chip technology is a matter of national security.

Trump matters because the United States affects the entire system. Brexit shocked Europe, but, as Theresa May’s government is finding to its cost, the UK’s effort to “take back control” does not mean that everyone else falls into line.

In trade and security, the UK lacks the heft, but it has shaped our era of globalisation and may still do so via one hugely significant entity: the City of London. While Wall Street has America’s huge national economy as its hinterland, the City of London is outsized, preeminent in currencies, interest rate derivatives and global banking Its present role and importance was already taking shape by the late 1950s when it began to provide an offshore market for unregulated borrowing and lending.

Again, this was very much a political choice, shaped via the growth of someting called the Eurodollar – a dollar held in Europe and hence, importantly, outside the jurisdiction of the Federal Reserve; a political choice enabled by the British authorities and tolerated by the Americans. Hence it was by way of London that the offshore dollar banking industry was born, with profoundly destabilising long-term results.

In fact, the consequences were nothing less than world historic. On 15 August 1971, Richard Nixon suspended the gold convertibility of the dollar. (By the terms of the Bretton Woods Agreement of 1944, which had governed post-war global finances, currencies were pegged to the price of gold.) For the first time since the invention of money in the ancient world, no major currency was anchored to a metallic base. Money was openly acknowledged as a political creation.


The result, in the short term, was an explosion of instability, inflation and gyrating exchange rates. It was a feast for investment bankers, both on Wall Street and in the City of London. Opec’s oil earnings added to the surge. To avoid taxes, the money was funnelled through offshore havens, many of which were located in the former British empire, or exploited quasi-feudal entrepots such as Guernsey.

The eurodollar market was a “work-around”. By the 1980s, the push was on to achieve something more comprehensive: the wholesale liberalisation of capital movements. Regulators in London and New York, egged on by banking interests, were racing to the bottom.

By the 1990s, the City of London had ceased to be in any sense a British banking centre. After Margaret Thatcher’s Big Bang, the small merchant banks of the City were swept up by Asian, American and European competitors. The City became, as Mervyn King quipped in 2012, the Wimbledon of the world economy. The success of British competitors was rarely, if ever, the point. But that sporting analogy, with its suggestion of elegance and decorum, is flattering. The City of the boom years was more akin to the Premier League: brash, cosmopolitan, sucking in punters from around the world and showered with staggering amounts of money from questionable sources.

As much as it was global, local competitors were still in the game. The old City might have gone, but the big British commercial banks had not given up. Like their European counterparts, Deutsche Bank and Paribas, like American high street banks, such as Bank of America or Citigroup, the British giants – Barclays, RBS, HBOS – wanted a slice of the global action. It was the merger of the megabank with the financial market model – Premier League mashed with Wimbledon – that created the conditions for the comprehensive meltdown of 2008.

With the failure of Lehman, the Blair-Greenspan vision of the relationship between politics and the market collapsed. It became clear that markets did not govern themselves. Their dysfunction threatened to ruin not just them, but to bring the entire world economy to a halt. World trade collapsed at a faster rate in 2008 than in 1929. It was no longer obvious that autumn would follow summer in 2008. Far from being self-evident, the way ahead needed to be discussed very urgently. And, as Greenspan’s successors would discover, it mattered which politicians ruled, nowhere more so than in the US.

The crash changes everything
Gordon Brown might have to deal with rumblings on the backbenches, but in parliament his majority was solid. In the US, whilst the Republicans became increasingly a party of sectional interests and protest, crisis fighting would fall to the Democrats. They would have to take upon themselves the conflicts of interest and the odium that rescuing financial capitalism entailed. At the height of the crisis, encouraged by Barack Obama’s victory, Brown tried to offer a sweeping vision of global solutions for a global age. But the new team in Washington was not interested in a rerun of the Anglo-American condominium at Bretton Woods.

There was a global response to the crisis of 2008, but it came not in the form of a new Bretton Woods. Instead, the institutions of the American state were put behind the world’s banks and their offshore business in London and Europe. As central bankers will hasten to tell you, the Fed’s emergency provision of dollar liquidity was no bailout. These were fully collateralised loans. It was normal lender of last resort activity, just on a very abnormal scale. One European central banker referred to the European central banks as having become in 2008 the 13th branch of the US Federal Reserve system.

Not surprisingly, in the wake of the crisis, it was time for a rethink. Not that the basic principles of financial globalisation were questioned. (National controls on capital movements were adopted only by emerging market countries and Greece in 2015. ) But private banks are the crucial actors in global money creation and a new regulatory framework – Basel III – and tougher national rules set out to constrain their balance sheets. Large parts of the shadow banking system have been dried out. And if finance has “deglobalised”, the geography of that retreat is telling. American banks have held their own, Asia’s new banking giants have rapidly expanded. It is the British and European banks have done the contracting.

In part, this was commercial logic, but it is also a matter of political choice. After 2008, realisi ng the risks to which financial globalisation had exposed them, the Americans set new rules. While Europeans were scandalised about America’s “chlorine chickens”, in the transatlantic financial talks the Americans held their noses. Specifically, they have required European competitors such as Barclays and Deutsche Bank to provide more capital to their US operations or to leave. Faced with the choice, both preferred to downsize.

The shock to the City dealt by 2008 was severe. But the City, and those who steer it, have not lost their global ambitions or their sense of historical direction. If transatlantic finance had plateaued, the future was in the east. The “UK” bank that came through the crisis best was HSBC. Its strategy of straddling between the City of London and Hong Kong was the future.


In 2013, the City began marketing itself as the offshore centre for China. Again, this was driven in part by commercial logic, but also by political choice. The UK authorities, under David Cameron’s government, selfconsciously repeated the eurodollar strategy of their forebears. The City of London would provide China and its banks with a platform to globalise the yuan.

As a recent Bank of England report revealed, as the geography of global finance has shifted eastward, London has remained pivotal. The British banks are significantly more exposed to China than their European and American counterparts. This promises profit. But it involves a double risk.

The eurodollar world that took shape in the 1960s mapped neatly on to the outlines of Nato. It had Washington’s assent. It was, as we say nowadays, a geo-economic bloc. The same cannot be said for Britain’s China venture. London’s obsequiousness towards Beijing was not lost on Washington. As one American official remarked off the record in 2013, constant concessions were no way to confront a “rising power”.

With that phrase he burst open the final framing assumption of the passing era: the comprehensive pacification of great power relations created by the victory of the US-led alliance in the cold war. This had allowed the story of global economic growth to be thought of as neutral with regard to power politics. Already, under Obama, that was no longer the working assumption of US policy. China’s growth was increasingly viewed as a source of threat.

The strategy of the Cameron government to seek partnership with China raised the question: where in a future world order did Britain stand? In retrospect, it throws stark light on the astonishingly high-risk strategy of the Cameron administration. At the same moment that it was putting Britain’s relationship with Europe on the line, it was antagonising Washington with a strategy of co-operation with a state whose power and self-confidence is growing by the year. Beijing talks a good game over globalisation, but, especially under Xi Jinping, it views politics, grand strategy and economics as an integral whole.

It is also, however, fragile. China’s credit boom is unprecedented. The setback it suffered in 2015-2016 shook the world economy. As both the Bank of England and the IMF have warned, along with Britain’s financial exposure to China comes serious risk. If a China meltdown is the great tail risk that hangs over the world economy, then the City of London, as it was in 2008, is likely to be the first western domino in line. And that will not be a matter of fate or market logic, pure and simple. It will be the result of deliberate strategic choice.

• Adam Tooze is professor of history at Columbia University. He is the author of Wages of Destruction, which won the Wolfson and Longman History Today prize. His new book is Crashed.