Tal como OVOODOCORVO opinava hoje ao fim da manhã, a posição
de Robles era absolutamente insustentável. Com efeito, Ricardo Robles foi
demitido, indirectamente, por Luís Fazenda nas suas declarações ao i. As suas
afirmações: - “tem aspectos que carecem de uma análise mais longa e cuidada"- constituíram uma mensagem e um convite indirecto.
Catarina Martins e Joana Mortágua, ao manterem um discurso
autista e de “superioridade moral” saem fortemente enfraquecidas no plano da
credibilidade política perdendo assim a “santidade intocável”nos bastidores das
questões de Carácter e Honestidade.
OVOODOCORVO
BE convoca comissão política para decidir sucessão de
Ricardo Robles
Eleito em 2017, representante do Bloco de Esquerda deixa a
vereação após a polémica em torno dos investimentos imobiliários em Lisboa.
PÚBLICO 30 de Julho de 2018, 12:08 actualizada às 14:48
O vereador estava sob críticas desde sexta-feira, data que
os seus negócios imobiliários foram conhecidos
Ricardo Robles vai deixar o cargo que ocupava na Câmara de
Lisboa. A saída do vereador eleito pelo Bloco de Esquerda nas eleições
autárquicas de 2017 foi anunciada pelo partido, num comunicado divulgado nesta
segunda-feira. O agora ex-vereador explica a decisão com uma "opção
privada" que foi "forçada por constrangimentos familiares (...)"
e que se revelou "um problema político real", aludindo assim aos
investimentos imobiliários em Lisboa.
Afirmando que considerava estar limitado na intervenção como
vereador, Robles comunicou no domingo ao partido que renunciaria ao cargo.
PÚBLICO -Foto
Durante o fim-de-semana, o prédio de Ricardo Robles em
Alfama foi vandalizado DANIEL ROCHA
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Ricardo Robles estava sob pressão desde que na sexta-feira
passada O Jornal Económico revelou que o vereador – crítico da especulação
imobiliária e dos efeitos da pressão do alojamento local sobre os preços da
habitação em Lisboa – tinha ele próprio investimentos imobiliários na capital.
Como o PÚBLICO depois revelaria, o edifício em causa tinha sido publicitado
pela imobiliária como um bom investimento para alojamento local.
O vereador, em conjunto com a irmã, comprou, em 2014, um
velho edifício de três pisos em Alfama, por 347 mil euros. Investiu cerca de
650 mil nas obras de requalificação. No final do ano passado, o edifício foi
colocado de novo à venda, agora através de uma imobiliária de luxo e com uma
avaliação de 5,7 milhões de euros. Em Abril, o imóvel foi retirado do mercado.
Ao Jornal Económico, Robles garantiu que a família mantinha a intenção de
vender o prédio, mas na sexta-feira à tarde anunciou que ia, afinal, dividir o
edifício em propriedade horizontal e não venderia as suas fracções.
Sendo uma das vozes mais críticas da especulação imobiliária
que diz assolar Lisboa, a sua continuidade no executivo municipal, onde detém
as pastas da Educação e dos Direitos Sociais, começou a ser questionada. O
Bloco de Esquerda, pela voz da sua líder, Catarina Martins, reiterou-lhe o
apoio e afirmou mesmo que Ricardo Robles estava a ser alvo de uma “campanha de
difamação”. A coordenadora do Bloco de Esquerda defendeu o vereador e afirmou
que “fez o que tinha de ser feito” e “nada fez de errado”.
Na sexta-feira, o PSD Lisboa pediu a demissão do vereador
bloquista "por manifesta falta de ética, de seriedade e de credibilidade
política para permanecer no cargo de vereador na cidade", mas numa
conferência de imprensa ao final dessa tarde, Robles garantiu que se manteria
no cargo. Esta segunda-feira recuou na decisão.
O BE e a maioria de Medina
Depois das autárquicas de Outubro passado, Ricardo Robles
assinou um acordo de governação com Fernando Medina, que permitiu ao socialista
obter a maioria absoluta na câmara lisboeta, mediante um conjunto de condições.
Uma das incógnitas sobre a demissão de Robles é se o acordo se mantém e quem
será o novo vereador do Bloco. A segunda pessoa na lista do partido é Rita
Silva, do colectivo Habita, mas o BE só deverá tomar uma decisão definitiva
esta noite, depois de reunida a comissão política.
As críticas de Luís Fazenda
A renúncia de Ricardo Robles acontece no mesmo dia em que o
fundador do Bloco de Esquerda Luís Fazenda afirmou que o partido “deve fazer
uma reflexão” sobre o assunto, “uma avaliação” e “tirar conclusões”.
Actividades imobiliárias como aquelas praticadas por Ricardo Robles “são
circunstâncias que, no Bloco de Esquerda, nós condenamos e que levam à gentrificação”,
afirmou o antigo líder parlamentar em declarações ao jornal i.
“As avaliações que faremos vão ter em conta as várias
opiniões e a forma como este processo foi entendido”, afirmou Luís Fazenda ao
jornal i. Para o ex-líder bloquista, o caso do vereador “tem aspectos que
carecem de uma análise mais longa e cuidada”.
PSD: "Renúncia retira razão a Catarina Martins"
Em declarações à Lusa, o presidente da concelhia de Lisboa
do PSD, Paulo Ribeiro, considerou que a renúncia de Robles retira razão à
coordenadora do Bloco de Esquerda, que saiu em defesa do autarca. "A sua
demissão vem naturalmente dar razão ao nosso pedido, por manifesta
insustentabilidade política que era demonstrada para que o vereador Ricardo
Robles pudesse continuar a exercer as funções de vereador na Câmara Municipal
de Lisboa"
Paulo Ribeiro apontou também que "o PSD de Lisboa
sempre colocou a questão no plano político" e acusou o até agora vereador
do BE de "inconsistência e incoerência entre aquilo que foi o seu discurso
e a sua intervenção política ao longo destes anos e aquilo que foi a sua acção
enquanto cidadão".
Dada a existência de um acordo de governação da cidade
firmado entre o PS e o BE, o presidente da concelhia do PSD considerou também
que a questão que se coloca agora é "se Fernando Medina [presidente da
Câmara de Lisboa] pretende manter o acordo". O acordo atribuiu a Ricardo
Robles os pelouros da Educação e Direitos Sociais, e Paulo Ribeiro quer saber
ainda se se manterá "a distribuição de pelouros a quem irá substituir o vereador".
"O dossiê não fica aqui fechado, porque ao longo dos
últimos dias foram-se levantando também dúvidas e questões sobre o próprio
processo de licenciamento do prédio", feito "numa altura em que o
vereador era, à data, deputado municipal", sublinhou.
PAN não comenta
André Silva, o deputado único do PAN, prefere não fazer
nenhum comentário ao caso Ricardio Robles. Mas nesta segunda-feira à tarde, à
saída da audiência com o Presidente da República, notou aos jornalistas que “há
várias formas de sanar contradições graves, ou pelo menos que causam bastante
incómodo social”. “O BE resolveu reagir desta forma [a renúncia do vereador],
ao contrário do que outros partidos normalmente fazem”, sublinhou.
Coitadinho do Bloco, que está a ser perseguido
Na primeira hora de aperto ético, o partido que fez carreira
a tentar provar que era diferente dos outros comportou-se como um partido
banal.
30 de Julho de 2018, 15:57
Para a direita portuguesa, o Natal chegou em Julho.
Desconfio que para a esquerda não-bloquista também. Foi para casos como estes
que os alemães inventaram a palavra “schadenfreude” – a alegria perversa que
sentimos com certas desgraças alheias. Nem nos sonhos mais optimistas de um
liberal lusitano se poderia prever que a sigla BE pudesse um dia confundir-se
com Burgueses Especuladores. Reparem: não foi só aquilo que Ricardo Robles fez,
nem as desculpas esfarrapadas que arranjou (a minha favorita é aquela em que
ele garante que a intenção original da irmã era vir para Lisboa viver num
apartamento de 41 metros quadrados depois de ter investido um milhão de euros a
dividir um prédio em 11 mini-fracções com 11 cozinhas e 11 casas de banho). A
negociata de Robles é, sem dúvida, espantosa, e daí o seu sucesso mediático.
Mas ainda mais divertido foi a reacção de gente como Mariana Mortágua,
Francisco Louçã ou Catarina Martins.
Que um bloquista um dia metesse à grande o pé na poça, era
apenas uma questão de tempo. Que o estado-maior do Bloco saísse em sua defesa
de forma tão desastrada, é realmente surpreendente. Ricardo Robles vai custar
muito caro ao partido por ter atrasado três dias o seu pedido de demissão.
Aquilo que o Bloco acaba de perder vale mais do que 5,7 milhões de euros – o
partido que fez carreira a tentar provar que era diferente dos outros, na
primeira hora de aperto ético comportou-se como um partido banal. Mariana
Mortágua, na SIC Notícias, parecia Cassete Carvalhas, repetindo um mantra
defensivo de modo deprimente para alguém com a sua inteligência. Francisco Louçã
referiu-se à polémica como “uma forma de entretenimento de fim de Julho”. E
Catarina Martins, à porta do acampamento do Bloco, teve a mais estapafúrdia
reacção de todas: pôs as vestes da indignação, pediu emprestada a José Sócrates
a palavra “infâmia”, e chegou até a falar numa “campanha de difamação”. Parecia
uma secretária-geral do PS. Ou do PSD. Ou do CDS. No último fim-de-semana, o
Bloco aderiu oficialmente ao PNEC – Processo de Normalização em Curso. Passou a
ser um partido como qualquer outro no campeonato das desculpas esfarrapadas.
Uma dessas desculpas interessa-me particularmente – o
argumento da conspiração: o Bloco estaria a mexer nos interesses imobiliários
instalados, e por isso alguém soprou a notícia do prédio milionário. Catarina
Martins é bem capaz de ter razão. Acho até altamente provável que a notícia
tenha sido passada por alguém da câmara que seja inimiga de Robles ou do Bloco.
Mas isso só dá razão àqueles que consideram politicamente inaceitável o seu
comportamento. É exactamente por este tipo de notícia poder ser divulgado com
facilidade, destruindo a reputação de um vereador enquanto o diabo esfrega um
olho – como veio a acontecer –, que Robles jamais poderia ter-se colocado em
semelhante posição.
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