Alojamento local em Lisboa disparou
mais de 3000% desde 2010
Capital tem 20% dos estabelecimentos
do país, num modelo que não dá sinais de abrandamento.
CAMILO SOLDADO 24 de Julho de 2018, 7:57
No início da década, havia 259 estabelecimentos de
alojamento local em Lisboa. Sete anos depois, o número passa para 9833. O mesmo
é dizer que, entre 2010 e 2017, o alojamento local da capital disparou mais de
3000% e representa perto de um quinto do total nacional.
A curva ascendente do número de estabelecimentos de
alojamento local lisboetas torna-se mais proeminente a partir de 2014 e não há
indícios de que vá abrandar. Só nos primeiros dois meses de 2018, foram
registados mais 734 novos estabelecimentos.
Em teoria, o crescimento exponencial destes estabelecimentos
até poderia afectar a saúde da indústria hoteleira. Mas tal não se verifica,
notam os investigadores, que salientam que o número de dormidas nos hotéis
lisboetas passou de seis milhões em 2010 para 11 milhões em 2016, enquanto o
número de camas disponíveis também cresceu de 35 mil para 50 mil no mesmo
intervalo.
Os dados fazem parte de um estudo sobre o impacto económico
do alojamento local em Lisboa apresentado no congresso da Associação Portuguesa
de Desenvolvimento Regional, no início de Julho. O trabalho da autoria dos
professores catedráticos da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e
da universidade norte-americana de Rutgers, Pedro Ramos e Michael Lahr, e do
investigador da Universidade de Aveiro, João Pedro Ferreira, recolhe
indicadores económicos e dados do Registo Nacional de Alojamento Local para
estimar o efeito em três cenários.
O estudo conclui que, se o número de alojamentos locais em
Lisboa continuar a aumentar, a cidade “pode potencialmente sofrer um êxodo de
suburbanização a uma escala semelhante à experienciada em muitos cidades
americanas e em algumas europeias”. E, embora os investigadores entendam que do
aumento das deslocações pendulares provocado pela gentrificação não resultem
“grandes perdas económicas” para Lisboa, a sua área metropolitana, ou para o
país, “pode prejudicar Portugal a nível social e ambiental”.
No primeiro cenário, em que não é pesada a “suburbanização
causada pela gentrificação turística”, a actividade do alojamento local na
capital cria 36 mil postos de trabalho a nível nacional e faz subir o PIB do
país em 0,6%. Se reduzirmos a análise ao município de Lisboa, o impacto no PIB
é de 1,8% e tem um peso de 3% no emprego. Mas apenas metade 52% do aumento do
PIB fica retido em Lisboa, sendo o restante valor se distribui pela área
metropolitana e pelo resto do país em percentagens similares. Dos 36 mil
empregos criados, 46% fica na cidade.
Os cenários dois e três equacionam a transferência de
moradores do centro de Lisboa para a periferia. No segundo panorama, a expulsão
dos moradores para os subúrbios reduz os ganhos do PIB do turismo em Lisboa em
17% e os ganhos em postos de trabalho em 13%, embora os efeitos na área
metropolitana sejam maiores. Já o impacto no resto do país é mais penalizador
devido aos custos das deslocações pendulares que os moradores da periferia
terão de efectuar para o centro da cidade.
No terceiro cenário, em que apenas é tida em conta
transferência de pensionistas do centro para outros concelhos, a cidade perde
18% no PIB e 16% no emprego em relação ao primeiro cenário. Isto acontece uma
vez que os pensionistas não teriam de se deslocar a Lisboa e passar lá o dia.
Sem comentários:
Enviar um comentário