domingo, 31 de dezembro de 2017

Irão bloqueia redes sociais para controlar manifestações / VIDEO:Iranians take to the streets for a third day of protests



Irão bloqueia redes sociais para controlar manifestações

Uma das aplicações bloqueadas era utilizada para combinar horas e locais de manifestações, e também para partilhar imagens e vídeos dos protestos.

CLAUDIA CARVALHO SILVA 31 de Dezembro de 2017, 16:09

Para controlar as manifestações, o Irão anunciou que cortou temporariamente o acesso à rede social Instagram e à aplicação de conversação Telegram, uma das mais utilizadas pelos activistas e pelos iranianos. A informação foi avançada por uma fonte na televisão estatal iraniana, escreve a Reuters. As autoridades suspeitam que as redes sociais são o motor que dá força a algumas destas manifestações contra o regime, a crise económica e o desemprego no Irão.

Já no sábado, um canal da aplicação Telegram tinha sido bloqueado; as autoridades diziam que o canal estava a incitar à violência (algo que os seus administradores negaram), horas antes de o Governo bloquear por completo o acesso à aplicação. Segundo a AP, mais de metade dos 80 milhões de habitantes do Irão utilizam a aplicação, que permite destruir automaticamente mensagens após um certo período de tempo, tornando-a popular entre os activistas. É também no Telegram que têm sido partilhadas informações com locais e horas dos protestos de todo o país, assim como vídeos e imagens dos motins. Já o Instagram também tem é bastante utilizado no país; a rede social é detida pelo Facebook, que está banido no Irão desde 2009.

No sábado, alguns analistas estranhavam que ainda não tivesse sido cortado ou desacelerado o acesso à Internet, um procedimento habitual no Irão e noutros regimes repressivos.

Segundo o jornalista do Guardian Saeed Kamali Dehghan, nem todas as províncias do Irão estão já a ser afectadas pelo corte nas redes sociais. A aplicação, diz o jornalista no Twitter, continua a funcionar em alguns computadores, mas não em dispositivos que utilizem dados móveis.

Este corte nas redes sociais aumenta a dificuldade em obter imagens dos protestos, assim como informação em primeira mão, já que também as agências de notícias e outros órgãos de comunicação ocidental foram saindo do Irão ao longo dos anos. Nos confrontos deste sábado entre os estudantes iranianos e a polícia na Universidade de Teerão, as redes sociais tinham sido um dos principais veículos de informação, sendo partilhadas fotografias e vídeos dos protestos.

As autoridades disseram que dois manifestantes, possivelmente estudantes, foram mortos a tiro após o início dos protestos, que começaram na quinta-feira. O vice-governador da província de Lorestan, Habibollah Khojastehpour, responsabilizava “agentes estrangeiros” pelas duas mortes. “Não houve disparos da polícia e das forças de segurança. Encontrámos provas da presença de inimigos da revolução, grupos Takfiri e agentes estrangeiros neste confronto”, justificou.

Os manifestantes já atacaram bancos e edifícios do Governo e queimaram uma moto da polícia. O Governo iraniano referiu que os manifestantes que infrinjam a lei sofrerão um preço elevado. "Aqueles que danificarem propriedade pública, violarem a lei e a ordem e criarem agitação são responsáveis pelas suas acções e devem pagar o preço", disse o ministro do Interior Abdolreza Rahmani Fazli, citado pelos meios de comunicação estatais.


Segundo a AP, estas manifestações são as de maior relevo (e dimensão) desde a onda de contestação após as eleições presidenciais de 2009, na altura da polémica reeleição do então Presidente Mahmoud Ahmadinejad. Após dias de silêncio por parte do Governo e na sequência da instabilidade no país, a agência ISNA avançou que o Presidente, Hassan Rouhani, deverá emitir um comunicado televisivo na noite deste domingo, ainda que esta informação não tenha sido confirmada oficialmente.

Lisboa tenta travar saída de moradores do centro histórico


Não é com ‘remendos’ e ‘adesivos’ que se vai atacar e resolver o problema da Habitação de Lisboa e do papel avassalador do Alojamento Local ( que quadruplicou nos últimos três anos ) e respectivas organisações como a AIRBNB e a BOOKING que fazem o que querem em Portugal.
 "Este fenómeno do Alojamento Local extravasou completamente aquele que era o seu conceito inicial, de partilha de habitação, vindo da economia de partilha, e passou a ser uma indústria que está a ser promovida pela própria industria hoteleira e entidades imobiliárias que estão a aproveitar esta flexibilidade e facilidade que há no AL para levarem a cabo empreendimentos turísticos, fugindo completamente ao conceito de AL"
Além da já estabelecida imposição do limite máximo de ocupação de 60 dias por ano às AIRBNB e BOOKING, Amsterdam PVDA quer proíbir o aluguer de edifícios completos e apartamentos geridos por gestores Imobiliários no Alojamento Local. Apenas serão permitidos os alugueres de partes de casa, em alojamentos onde o proprietário também reside e pernoita.
A assim chamada “colaboração” da AIRBNB em Portugal com as autoridades camarárias é uma escandalosa falácia e uma manipulativa apropriação por parte da AIRBNB da gestão da Habitação.
A AIRBNB só faz aquilo que lhe impõem e em Portugal ela faz o que quer !!
OVOODOCORVO

Lisboa tenta travar saída de moradores do centro histórico
29 DE DEZEMBRO DE 2017 - 17:44

A autarquia está a preparar um concurso extraordinário destinado a famílias em situação vulnerável e de perda de habitação, para evitar que tenham de sair daquela zona. Há cem fogos disponíveis.

Rui Tukayana

A vereadora Paula Marques diz que o centro histórico da capital está sob uma "situação excecional e extraordinária" fruto das pressões do alojamento local e da especulação imobiliária e por isso, a Câmara de Lisboa vai lançar um concurso "direcionado à população que está em situação de perda comprovada de habitação", uma população "mais vulnerável em idade e em rendimentos", sublinha a vereadora da Habitação e do Desenvolvimento Local.

Paula Marques sublinha que os 100 fogos se destinam a atuais moradores do centro de Lisboa que arriscam perder a sua casa fruto da especulação imobiliária que se sente naquela zona da capital.
Assim, o município vai "pôr património municipal habitacional à disposição da população", nomeadamente "100 fogos, 50% dos quais estão já em obra, e o remanescente com empreitada lançada agora no final do ano", apontou a vereadora. Esta medida, que permitirá à autarquia "ter mais um instrumento de habitação" municipal, irá abranger as quatro freguesias do centro histórico da capital: Santa Maria Maior, São Vicente, Misericórdia e Santo António.

"O concurso será lançado com a aprovação da proposta em reunião de Câmara", adiantou Paula Marques, acrescentando que pretende levar o documento à apreciação da restante vereação na primeira reunião do ano, que deverá ocorrer na primeira semana de janeiro.

A Vereadora espera daqui a um ano não ter de voltar a anunciar medidas extraordinárias como as de hoje, mas garante que vai continuar atenta às pressões do mercado.
Poderão concorrer "pessoas que já vivam nestas quatro freguesias, que estejam em situação de perda de habitação e também em situação de rendimentos mais vulnerável", precisou a autarca, observando que serão utilizadas as "regras que já estão aprovadas" para outros concursos.

A vereadora acredita que ainda no primeiro trimestre de 2018 a primeira chave seja entregue.


Paula Marques sublinha que é necessário serem postas em prática "medidas de fundo e estruturais" quanto ao impacto do turismo na cidade, que devem ser legisladas pela Assembleia da República e trabalhadas pelo Governo. À TSF a vereadora disse esperar que essas medidas resultem, para evitar que dentro de um ano outras iniciativas extraordinárias tenham de ser postas em prática. Mesmo assim admitiu estar atenta e que se outras zonas da cidade precisarem de medidas como aquela que está a anunciar, a Câmara de Lisboa irá avançar nesse sentido.

Réveillon: Super Bock demarca-se das cartolas de Medina




Imagens do Dia / OVOODOCORVO
O "lobby" da cerveja que já domina, em muitas ocasiões, as ruas de Lisboa, e permanentemente a "noite", através das suas responsabilidades no 'botellon', ficou nervoso com a associação à polémica das cartolas, gigantescos recipientes de plástico. Múltiplo desastre de Relações Públicas para a Super Bock, para a CML e para a Egeac.
Se "o objetivo da marca era apenas o de ter material de visibilidade nas noites do evento." conseguiram-no ... mas da forma mais negativa possível e confirmadora do seu papel de poluídor sem rival.
E a CML ? Depois dos “tsunamis” de lixo e toneladas de copos de plástico nas ruas de Lisboa associados ao barulho no frenesim orgiástico  da “noite”, vem agora ‘pedagógicamente’ oferecer mais gigantescos ‘copos’ de plástico na forma de cartolas ?
OVOODOCORVO

Réveillon: Super Bock demarca-se das cartolas de Medina
Após notícias que trouxeram a público o nome da Super Bock para justificar gastos com cartolas, a marca de cervejas afirma que o seu envolvimento está ‘limitado ao papel de patrocinador’.

CARLOS DIOGO SANTOS
30/12/2017 11:31

A distribuição de cartolas na noite de passagem de ano no Terreiro do Paço não terá sido uma escolha da Super Bock, nem sequer uma contrapartida obrigatória para a atribuição do financiamento à Empresa Municipal de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural de Lisboa (EGEAC). Algumas fontes ligadas ao processo que preferiram não ser identificadas explicaram ao SOL que o objetivo da marca era apenas o de ter material de visibilidade nas noites do evento.

Após o jornal i ter revelado na última semana que a autarquia ia pagar 57 mil euros por cartolas para a noite de passagem de ano, a empresa municipal justificou que tal iniciativa se tratava de uma condição para que houvesse um financiamento de 200 mil euros da Super Bock.

Empresário que forneceu cartolas à EGEAC nega favorecimento partidário

Pedro Calhordas foi deputado municipal de Estremoz pelo PS, entre 2005 e 2011, ano em que diz ter renunciado. E acrescenta que o contacto para trabalhar com a EGEAC partiu desta empresa municipal de Lisboa. O CDS insiste que a câmara deve dar mais explicações.

LILIANA BORGES 28 de Dezembro de 2017, 15:17

O negócio entre a EGEAC (Empresa Municipal de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural de Lisboa) e a empresa Whitespace, a quem foi entregue por ajsute directo o fornecimento de 30 mil cartolas para a noite da passagem de ano programada para a Praça do Comércio, em Lisboa, está a ser criticado e questionado devido ao facto de o empresário e designer Pedro Calhordas, a quem a encomenda foi adjudicada, ser membro do PS e um antigo autarca de Estremoz. Ao PÚBLICO, o dono da Whitespace garante estar definitivamente “afastado da vida política desde 2011”, ano em que renunciou ao cargo de deputado municipal naquele município alentejano do distrito de Évora, e defende-se de suspeitas de ter havido favorecimento partidário.

O contrato ajudicado por ajuste directo, no valor de 57 mil euros, será pago por verbas provenientes de um patrocínio de 200 mil euros da marca de cerveja Super Bock, explicou ao PÚBLICO fonte do gabinete de comunicação da EGEAC, na quarta-feira. Menos de 24 horas depois, em conversa telefónica, Pedro Calhordas conta ao PÚBLICO que o contacto para este contrato de ajuste directo partiu da EGEAC, “por recomendação de alguém que conhecia o trabalho” dele. O dono da empresa comentou também as críticas que têm sido feitas ao negócio.

Calhordas diz que vive em Lisboa desde 2002, para onde se mudou em busca de mais oportunidades profissionais e admite que esta “foi a primeira vez" que foi contactado pela EGEAC. "Ligaram-me, apresentaram-me o trabalho e pediram-me um orçamento. Fiz os meus contactos junto dos meus fornecedores, para saber se o projecto era realizável num prazo apertado e apresentei o orçamento que é conhecido. Aceitaram e o resto é completamente público”, descreve, afirmando-se confuso com as dimensões que a polémica ganhou.

Por se tratar de um negócio com entidades públicas, os documentos estão no portal de contratação pública, disponibilizados a 7 de Dezembro e consultado pelo PÚBLICO. Nele se lê que o pagamento das 30 mil “cartolas plásticas brilhantes” (15 mil exemplares de cor vermelha e 15 mil exemplares de cor preta) inclui “todos os transportes, meios e recursos necessários à prestação de serviços”.

Uma pesquisa pela empresa Whitespace, cujo início de actividade foi registada em 2014, devolve como resultado um site “ainda em construção”. O que, de acordo com Pedro Calhordas, se deve ao facto de prestar serviços a agências de comunicação contratadas por outras empresas.

“Se eu colocasse os meus trabalhos no site, as marcas perceberiam que o trabalho que encomendaram às agências de comunicação foi executado por mim”, justifica. Então por que criou o site? “Por uma questão prática”, responde. “Precisava de um domínio de email e criei o site, para ter um endereço de alojamento.”

Esta não é a primeira vez que os serviços de Pedro Calhordas são questionados devido à sua ligação socialista. Em 2010, Pedro Calhordas foi confrontado por ter prestado serviços à autarquia de Estremoz, também na área do design e produção gráfica, na mesma altura em que era deputado municipal pelo PS naquele concelho. A questão foi colocada durante o mandato de Luís Filipe Pereira Mourinha – actual autarca naquela autarquia, eleito como independente mas que já tinha sido presidente da câmara eleito pelo PCP.

“Eu não sou ninguém aqui”
“A minha colaboração com a Câmara Municipal de Estremoz começou em 1999”, recorda Pedro Calhandras. “Nessa altura houve um concurso para o logótipo da Câmara Municipal de Estremoz, ao qual as pessoas concorriam com um pseudónimo. E eu ganhei. A partir daí começaram a pedir-me cartazes”, descreve, sublinhando que à data era um eleito pelo PCP quem estava na liderança do executivo. “E essa colaboração manteve-se durante os dez anos seguintes, independentemente da cor política que estava no poder”, completa.

O convite para ser deputado municipal do PS em Estremoz chegou através de um antigo professor da escola secundária. “Perguntou-me se queria fazer parte da lista municipal e eu aceitei”. Estávamos em 2005. “Já trabalhava para a autarquia há seis anos quando fui eleito deputado municipal”, afirma. À data, considerou que as críticas foram uma “arma de arremesso contra o Partido Socialista” e, do que sabe, o caso foi arquivado, segundo diz.

Apesar de ainda ser militante do PS – “embora não pague quotas desde 2013" –, garante que se afastou da vida política em 2011, ano em que diz ter renunciado ao lugar de deputado municipal. "Foi numa altura em que começou a ser mais complicado deslocar-me semanalmente a Estremoz, onde ainda tenho família e aonde ia todos os fins-de-semana e em datas de reunião de assembleia", contextualiza. A filha nasceria em Maio do ano seguinte.

“Eu sou ninguém aqui”, defende-se o dono da Whitespace e considera que se trata de "mais uma luta politica”. “Fui deputado municipal de uma câmara do interior. Nunca mais tive qualquer ligação à política. Desde 2009 que não fazia nenhum trabalho para autarquias”, garante. “Se não fiz nada para outros partidos é por uma razão muito simples: porque não me pediram. Eu também sou benfiquista e se o Sporting me pedir alguma coisa, eu faço”, exemplifica. “Funciona da mesma forma em termos partidários”, conclui.

CDS exige acesso a caderno de encargos
Entretanto, para João Gonçalves Pereira, deputado do CDS-PP, o que está em causa é "uma questão de transparência" e fala em "infantilidade" de Fernando Medina, autarca lisboeta. Em declarações ao PÚBLICO nesta quinta-feira, o deputado do CDS considerou que existem três perguntas fundamentais a que a Câmara Municipal de Lisboa deve responder. 

"Em primeiro lugar, a Câmara deve esclarecer o porquê da escolha das cartolas", considera Gonçalves Pereira. "Quando uma empresa dá um patrocínio cabe a quem o recebe decidir o que vai fazer com ele. Se isso foi uma imposição da Super Bock, por que razão não foi a marca a tratar da distribuição das cartolas directamente?", questiona.

Por outro lado, o deputado da oposição sublinha que é importante deixar claro "por que razão foi atribuída através de um contrato de ajuste directo e não através de um concurso público" e, por fim, "qual a razão da escolha da empresa - que não é mais do que um intermediário, sendo que é uma empresa de comunicação, que não produz este tipo de produtos", insiste.

João Gonçalves Pereira considera que a Câmara de Lisboa tem fugido às perguntas e defende que a autarquia deve, em nome da transparência, apresentar o caderno de encargos e tornar público o acordo com a marca patrocinadora, a Super Bock.


Texto actualizado às 18h05 com declarações de João Gonçalves Pereira

Polémica no Parlamento: Petição contra nome de Mário Soares no Aeroporto do Montijo admitida


Polémica no Parlamento: Petição contra nome de Mário Soares no Aeroporto do Montijo admitida

Redação
28 Dez 2017

Mais de 13 mil pessoas assinaram uma petição ao Parlamento, apelando à exclusão do nome do antigo Presidente da República da futura infraestrutura do Montijo ou de qualquer outra obra de grande envergadura.

A petição intitulada “Impedir o nome Mário Soares no Aeroporto do Montijo”
http://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=PT84580 foi admitida na Assembleia da República em outubro. Segundo o Expresso online, que dá conta da polémica levantada pelo pedido, devido ao facto do aeroporto ainda nem existir e à crueza da linguagem utilizada, a petição aguarda agendamento para eventual discussão em plenário.
“Estando o povo português tão ávido de ideias agregadoras da sua identidade, o nome do novo Aeroporto deveria considerar os verdadeiros heróis aeronáuticos portugueses como Gago Coutinho ou Sacadura Cabral ou os verdadeiros heróis da Revolução como o General Jaime Neves ou o Capitão Salgueiro Maia que tanto foram votados ao esquecimento”, diz o texto que foi assinado por 13.486 pessoas e entregue no Parlamento, em março último.

O documento apela ainda aos deputados para que não escolham “nenhum nome fracturante da Identidade Portuguesa devendo ficar colocada de parte o nome de Mário Soares para esse Aeroporto ou qualquer obra de Grande envergadura.”

Trump quer usar aquecimento global para aquecer a passagem de ano




Escolher o momento da passagem do Ano, para espalhar mais uma mensagem negacionista, ilustra um momento gravíssimo de alienação e ilimitada irresponsabilidade.
Trump ultrapassa tudo o que é imaginável em imagem estigmatizada e caricaturada sobre uma América que no entanto existe, com todos os perigos associados na realidade.
OVOODOCORVO

"A mais recente declaração do Presidente norte-americano não surpreende. Em Junho deste ano, Trump anunciou a saída dos EUA do Acordo do Clima de Paris, um pacto global desenhado para combater o aquecimento planetário, através da redução das emissões de gases com efeito de estufa, subscrito por 195 países do mundo."

Trump quer usar aquecimento global para aquecer a passagem de ano

Presidente norte-americano ironiza com a vaga de frio que vai passar pela Costa Leste dos EUA para lançar mais uma farpa contra o combate às alterações climáticas.

LILIANA BORGES 29 de Dezembro de 2017, 12:30 actualizado a 29 de Dezembro de 2017, 19:34

“Onde está o aquecimento global se faz frio no Inverno?” – talvez esta seja uma das perguntas mais repetidas por quem não acredita nas provas e explicações científicas sobre o aquecimento global. E foi esta a insinuação lançada pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, ao final da noite desta quinta-feira, quando reflectia sobre as baixas temperaturas que estão previstas para a noite de passagem de ano. No Twitter, o líder da Casa Branca escreveu que o país poderia usar "um pouco" do aquecimento global para combater as baixas temperaturas esperadas para a última noite do ano.

“No Leste [dos EUA], pode ser a noite de fim de ano mais fria de que há registo. Talvez pudéssemos usar um pouco do velho aquecimento global  que o nosso país, não os outros países, iria combater pagando biliões de dólares. Agasalhem-se!”, escreveu Trump no Twitter.

Falando da meteorologia, o líder norte-americano esqueceu o clima. Enquanto o primeiro diz respeito às condições atmosféricas durante um curto período de tempo, o segundo diz respeito a padrões de longo prazo.

A mensagem de Trump não será uma surpresa, tendo em conta o que assumido cepticismo sobre a influência humana nas alterações climáticas desde sempre manifestadas pelo Presidente dos EUA. Aliás, desta vez, até houve quem se antecipasse a Trump e à sua mensagem, antevendo que talvez viesse a público aproveitar a onda de frio prevista para a Costa Leste dos EUA para lançar mais uma farpa. Foi o caso do serviço de meteorologia do jornal Washington Post, denominado Capital Weather Gang (CWG) – qualquer coisa como "O Gangue da Meteorologia na Capital" –, que reúne meteorologistas e autores num blogue de grande popularidade.

Quando os meteorologistas prevêem o que diz Trump
Horas antes da mensagem de Trump, o CWG deixara uma mensagem no Twitter em que anunciava as previsões meteorológicas e, numa previsão muito acertada, alertou para o perigo das conclusões falaciosas daí retiradas.

Também através do Twitter, o Capital Weather Gang escreveu que os EUA seriam, durante a próxima semana, a região mundial mais fria e com o maior desvio de temperatura face ao normal para a época.

Depois disso, acrescentava que "o resto do mundo estará mais quente do que o normal", concluindo – de forma premonitória – que era preciso não esquecer esse facto "para que ninguém tente reinvindicar que esta bolsa de frio nos EUA contraria o aquecimento global". Algo que, apesar das evidências científicas "eles vão fazer sistemática e  irresponsavelmente".

Empresa de Trump invocou aquecimento global para construir muro
Há outra curiosidade a envolver o contexto desta mensagem em que Trump ironiza com a ideia de que a Terra está a ficar mais quente por acção da humanidade. Uma semana antes, uma empresa do actual líder dos EUA obteve autorização para construir um muro de protecção num campo de golfe que explora na Irlanda. O muro serviria para suster as investidas do mar, que ameaça aquele empreendimento turístico explorado pela família do Presidente. E, contrariando a posição céptica que Trump faz passar na mensagem de quinta-feira, o pedido de licenciamento para a construção do muro invocava a subida do mar devido ao aquecimento global como razão para licenciar a obra.

Em Fevereiro de 2014, Trump investiu neste campo de golfe aproximadamente 15 milhões de euros, conta a CNBC. O resort de golfe em Doonbeg, no Oeste da Irlanda.

As catástrofes dos incêndios
As mais recentes declarações de Trump parecem também ignorar as catástrofes ambientais que marcaram os Estados Unidos em 2017, nomeadamente os incêndios da Califórnia, descritos como uma das “maiores tragédias” que já atingiram aquele estado norte-americano. Em Outubro, vários condados deste estado foram consumidos pelas chamas, que afectaram grande parte das famosas regiões vinícolas de Napa e Sonoma.

Um dos incêndios, apelidado "Fogo Thomas", consumiu mais de 570 mil hectares, uma área superior à de toda a cidade de Nova Iorque. As chamas, que se prolongaram até Dezembro, destruíram pelo menos 8900 casas e deixaram desalojadas milhares de pessoas.

A mais recente declaração do Presidente norte-americano não surpreende. Em Junho deste ano, Trump anunciou a saída dos EUA do Acordo do Clima de Paris, um pacto global desenhado para combater o aquecimento planetário, através da redução das emissões de gases com efeito de estufa, subscrito por 195 países do mundo.

O cepticismo de Trump em relação às questões e preocupações ambientais não é recente. Já em 2012, ainda antes da sua candidatura à Casa Branca, Trump afirmava que o aquecimento global é uma “fraude inventada pelos chineses para minar a industrialização dos EUA”. Com Victor

sábado, 30 de dezembro de 2017

Uns fogem, os outros mentem


Uns fogem, os outros mentem

Não gozem connosco, senhores deputados. Há um limite para a falta de vergonha. Foram à caixa. Comeram os chocolates. Evitem ao menos esfregar as mãos sujas na nossa cara.

João Miguel Tavares
30 de Dezembro de 2017, 6:52

Os deputados portugueses aprovaram a nova lei do financiamento partidário como se fossem crianças a ir às escondidas à caixa dos chocolates, e ao serem apanhados pela comunicação social reagiram como crianças que foram às escondidas à caixa dos chocolates. Uns desculparam-se dizendo que nem sequer apreciam particularmente os chocolates que acabaram de comer (Bloco de Esquerda e PCP), os outros dizendo que aquilo que comeram parece chocolate, sabe a chocolate e cheira a chocolate, mas não é chocolate (PS e PSD). Uns fogem, os outros mentem. Os deputados portugueses não só têm manifesta dificuldade em reagir como pessoas adultas, como padecem de uma compulsão sadomasoquista que os leva a prejudicar simultaneamente o país e a eles próprios.

Não sei bem qual o comportamento mais deplorável, se o dos hipócritas, se o dos mentirosos, mas comecemos pelos hipócritas. O primeiro partido a dizer “comi mas não gostei” foi o Bloco, garantindo que apenas votou a favor da lei “pela necessidade de convergência”, embora ela “não espelhe a posição de fundo do Bloco de Esquerda sobre esta matéria”. O Bloco até alerta no seu comunicado para um problema grave, que não tem sido devidamente discutido: o facto de a devolução do IVA aos partidos agravar a “discriminação entre candidaturas partidárias e candidaturas de grupos de cidadãos eleitores a autarquias locais”. Está muito bem visto. A lei é fraca, superficial e discriminatória, logo, o Bloco votou a favor. O PCP fez o mesmo. Jerónimo de Sousa declarou que as “melhorias” agora introduzidas são “insuficientes”, e classificou a lei do financiamento partidário como – agarrem-se para não caírem – “absurda, antidemocrática e inconstitucional”. No entanto, dado a lei ter ficado, segundo os comunistas, ligeiramente menos absurda, menos antidemocrática e um pouco menos inconstitucional, o PCP achou por bem atribuir-lhe um voto favorável. Também faz sentido.

E depois dos hipócritas, os mentirosos: em vez de “comi mas não gostei”, estes optaram pelo argumento “comi mas não era chocolate”. Comunicado do grupo de trabalho clandestino, coordenado por José Silvano, do PSD: da nova lei aprovada “não resulta nenhum aumento de subvenção estatal ou quaisquer encargos públicos adicionais para com os partidos políticos”. Ana Catarina Mendes, do PS: “é totalmente falsa a ideia de que há um aumento nos cofres partidários com esta lei”, tal como é falso “qualquer propósito de beneficiar retroactivamente qualquer partido político”. Não tenho espaço para estar aqui a desmontar estas afirmações patéticas, e os jornais têm feito bem o seu trabalho de analisar, através do fact-checking, o absurdo dos argumentos. Deixo apenas uma citação da própria lei, para quem afirma não haver qualquer retroactividade: “A presente lei aplica-se aos processos novos e aos processos pendentes à data da sua entrada em vigor que se encontrem a aguardar julgamento.”


Aquilo que me interessa sublinhar, em conclusão, porque nenhum português merece ser tratado como imbecil, é isto: se a lei é tão fantástica, tão cristalina, tão impoluta, e com o único e exclusivo objectivo de dar resposta a um pedido do Tribunal Constitucional, qual é a justificação para o secretismo de todos os procedimentos e o anonimato das propostas partidárias? Não gozem connosco, senhores deputados. Há um limite para a falta de vergonha. Foram à caixa. Comeram os chocolates. Evitem ao menos esfregar as mãos sujas na nossa cara.

Câmara de Lisboa. Avenças em gabinetes do PS chegam a aumentar 80%


Câmara de Lisboa. Avenças em gabinetes do PS chegam a aumentar 80%

Rui Pedro Antunes
29/12/2017

Aumentos salariais colocam vários assessores do PS a bater no teto salarial e a ganhar quase 4 mil euros mensais. A mulher de Pedro Nuno Santos foi aumentada em 80% como assessora de Duarte Cordeiro.
Os vereadores eleitos pelo PS na lista liderada por Fernando Medina aumentaram os valores das avenças, em alguns casos em mais de 80%, a assessores dos gabinetes na Câmara Municipal de Lisboa. Muitos destes assessores atingem agora o teto salarial aprovado pela câmara: 4.615,57 euros ilíquidos mensais (3.752,50 euros, mais IVA).

Em declarações ao Observador, fonte oficial da CML garante que “o número de assessores não tem sido reforçado” e que “os tetos salariais são hoje mais baixos do que em 2009“. Mas o “bolo” é maior do que há quatro anos, em 2013: o plafond para assessores e técnicos dos vereadores passou de 18,1 milhões de euros para 19,86 milhões de euros nos quatro anos de mandato. Os aumentos registados não são, porém, meras atualizações dos tetos salariais, mas opções claras de gestão.

Os aumentos nas avenças em causa são significativos e foram atribuídos a assessores com ligações ao PS. Catarina Gamboa, ex-dirigente da JS e mulher do secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Pedro Nuno Santos, teve um aumento de mais de 2 mil euros no atual mandato e viu a sua remuneração subir para 4.615,57 euros ilíquidos mensais. O mesmo aconteceu com o filho do blogger que assinava como “Miguel Abrantes” no blogue Câmara Corporativa, que o Ministério Público acredita ter recebido verbas de José Sócrates dirigidas ao pai para defender o antigo governante socialista: António Mega Peixoto teve um aumento da avença de 2.135,39 euros para 3.468,04 euros mensais. O mesmo aconteceu com antigo vice-presidente da Federação do PS de Aveiro e ex-líder da JS/Aveiro, Pedro Vaz, que teve um aumento de 2.899,11 euros para 4.615,57 euros.

Olhando para as 34 nomeações de gabinetes de vereadores eleitos nas listas PS publicadas até agora no site Base.gov, houve 30 reconduções de membros que já estavam na autarquia no anterior mandato. Em 26 desses 30 casos houve aumentos das avenças.

Em resposta ao Observador, a câmara alega que “os valores praticados em 2017, sendo inferiores aos praticados em 2009, são ligeiramente superiores aos de 2013, devido à reposição efetuada com o fim dos cortes salariais em vigor durante o mandato do último governo”. Com a extinção da redução remuneratória, o teto salarial anual para cada assessor na autarquia cresceu de 40.825 euros para 45.030 euros por ano (55.386,9 euros anuais, tendo em conta o IVA). Não sendo obrigatório, pela lei a câmara pode pagar assim mais cinco mil euros anuais a cada assessor.

No entanto, a maioria dos aumentos não decorre do fim desta restrição, mas sim de uma opção clara de aumentar até ao teto salarial os vencimentos dos assessores que recebiam menos do que isso no anterior mandato. A câmara admite, na mesma resposta enviada ao Observador, que os “critérios de contratação para os gabinetes respondem às necessidades técnicas e de apoio específico necessário, a cada momento, para apoiar e suportar o trabalho de cada vereador”. Admite, porém, que esta escolha é feita “numa relação de confiança pessoal normal em cargos de nomeação com este perfil”. Ou seja: é por isso que têm ligações ao PS.

No gabinete de Duarte Cordeiro, só mesmo Cristina Begonha — deputada municipal do PS que suspendeu o mandato em 2016 para ir para o gabinete — manteve o que ganhava no último contrato publicitado no Base. Isto porque já recebia o limite máximo de 4.615,57 euros (3.753,50 euros mais IVA).

Susana Delicado, que presta serviços administrativos de secretariado a Duarte Cordeiro, viu o seu vencimento mais do que duplicar, passando de 1.640 euros ilíquidos (no início do anterior mandato) para os atuais 3.454,46 euros ilíquidos mensais. Estes valores, que incluem o IVA de 23%, significam um aumento de mais de 152% face ao início do anterior mandato. De acordo com a execução do contrato — publicitada no Base em outubro de 2017 –, devido ao fim das restrições Susana Delicado acabou por ganhar mais 22.827, 17 euros no anterior mandato do que estava previsto no contrato firmado no final de 2013.

Ex-dirigente da JS e mulher de Pedro Nuno Santos aumentada em 80%
Duarte Cordeiro e Pedro Nuno Santos fazem parte dos chamados “jovens turcos” do PS, sendo também amigos fora da política. Catarina Gamboa, mulher de Pedro Nuno Santos, foi camarada de Duarte Cordeiro e do próprio Pedro Nuno Santos na direção nacional da Juventude Socialista em 2004. Conhecem-se todos desde essa altura. Foi assim, com naturalidade, que Duarte Cordeiro convidou Catarina Gamboa para sua assessora na câmara de Lisboa em 2013.

Os “jovens turcos” Duarte Cordeiro (1.º da esq. para a dir.) e Pedro Nuno Santos (3º da esq. para a dir.) são amigos e conhecem-se dos tempos da JS, onde eram do grupo de Catarina Gamboa

Quando chegou à autarquia, Catarina Gamboa tinha uma avença de 2.562,49 euros por mês, abaixo do anterior limite, mas agora começa o novo contrato de quatro anos com o novo teto máximo: 4.615,57 euros mensais. É um aumento superior a 80%. A câmara vai pagar, incluindo o IVA, 222.316,84 euros para ter Catarina Gamboa no gabinete de Duarte Cordeiro durante quatro anos. O mesmo acontecerá com os assessores que agora ganham o teto máximo. Já na segunda metade do anterior mandato tinha havido um aumento a Catarina Gamboa, mas que só foi publicitado em outubro de 2017: em vez dos 124.708 euros previstos no contrato inicial, a execução do mesmo publicado no Base.gov refere que a câmara pagou mais 35.485 euros pela sua avença (num total de 160.193,17 euros), que justificou como “acerto por motivos relativos à extinção da redução remuneratória.”

Quanto à justificação do ajuste direto, é similar. No anterior mandato, Catarina Gamboa foi contratada para “serviços de assessoria técnica na área económica e financeira” e, agora, em 2017, para “assessoria na área económica, nomeadamente no que respeita à preparação e acompanhamento dos instrumentos previsionais municipais”.

Exatamente na mesma situação de Catarina Gamboa — com o mesmo aumento superior a 80% — está o assessor Luís Sá, que foi contratado para “assessorias nas áreas de coordenação e gestão integrada das matérias relativas ao pelouro, nomeadamente no que respeita a atendimento ao munícipe desenvolvida no gabinete do vereador Duarte Cordeiro”. Com uma diferença: no acerto feito a meio do anterior mandato, a câmara pagou mais 58.563 euros do que estava no contrato inicialmente publicitado no site Base.

Dirigente da JS de Aveiro e deputado municipal do PS também foram aumentados
Os restantes membros do gabinete de Duarte Cordeiro também foram aumentados, embora já tivessem tido acertos salariais ao longo do último mandato — que só foram publicitados em outubro de 2017 no término do contrato. Pedro Vaz, que foi líder da JS/Aveiro, também viu o seu vencimento bruto subir de 2.899,11 euros para 4.615,57 euros. Ou seja: um aumento de cerca de 60% face ao que foi contratualizado na sua primeira avença, em fevereiro de 2014. As funções de Pedro Vaz são de “assessoria na área da higiene urbana e reparação e manutenção mecânica, gestão de frota, implementação de novos projetos e recolha de informação desenvolvida no gabinete do vereador Duarte Cordeiro.”

Duarte Cordeiro e Pedro Nuno Santos são dois dos homens de confiança do primeiro-ministro António Costa

Quem também foi aumentado foi Hugo Gaspar, eleito deputado municipal pelos socialistas nas últimas autárquicas, mas que pediu a suspensão do mandato por um ano para poder integrar novamente o gabinete de Duarte Cordeiro. Em 2013, Hugo Gaspar tinha uma avença de 3.075 euros, que passa também para o teto máximo de 4.615,57 euros. É assessor para a área de “estruturas de proximidade, espaço público e casa dos animais de Lisboa” e teve assim um aumento de cerca de 50% face ao contrato que fez quando entrou para o gabinete em novembro de 2013.

Também assinados por Duarte Cordeiro foram os contratos de três assessores que prestam “apoio a vereadores do PS”. Eduardo Magalhães, que foi candidato pelo PS à Assembleia Municipal em 2013, também regista um aumento (a avença passa de 3.468,05 euros para 4.615,57 euros). Já Maria Santos estabelece o seu primeiro contrato com a câmara (não estava no anterior mandato), mas ganha igualmente o teto máximo. O terceiro assessor contratado para dar apoio a todos os vereadores do PS é António Mega Peixoto, também ele aumentado.

O assessor que terá recebido pagamento de amigos de Sócrates também foi aumentado
António Mega Peixoto é filho de António Costa Peixoto, que era o responsável anónimo por um blogue (“Câmara Corporativa”) conhecido por elogiar permanentemente José Sócrates e atacar de forma dura e violenta aqueles que considerava serem os adversários políticos do ex-primeiro-ministro — fossem políticos do PS ou de outros partidos, fossem jornalistas ou comentadores. Sob a capa do anonimato (e através do pseudónimo “Miguel Abrantes”), Peixoto desfazia qualquer crítica a Sócrates.

O semanário Sol e a revista Visão noticiaram, no final de 2016, os pagamentos que foram realizados a António Costa Peixoto e ao seu filho António Mega Peixoto. Entre 2012 e 2014, os dois receberam cerca de 76 mil euros da empresa RMF Consulting — Gestão e Consultadoria Estratégia — sociedade gerida por Rui Mão de Ferro, um economista que era colaborador de Carlos Santos Silva e igualmente arguido da Operação Marquês.

Foi o próprio António Costa Peixoto quem admitiu ao procurador Rosário Teixeira, durante a sua inquirição a 20 de outubro de 2016, que o contrato com a RMF tinha sido intermediado por Carlos Santos Silva através de um amigo comum já falecido. Depois do contacto com Santos Silva, Peixoto encontrou-se com Rui Mão de Ferro e foi estabelecido um contrato de assessoria técnica que lhe valeria 3.500 euros mensais. O contrato inicial foi estabelecido em 2012, a pedido expresso de Costa Peixoto, entre a RMF e o seu filho António Mega Peixoto. Após a reforma de Costa Peixoto em 2013, foi este quem passou a assumir a prestação de serviços à RMF.

Na altura em que estes factos foram noticiados, Fernando Medina e Duarte Cordeiro “seguraram” António Mega Peixoto até ao final do último mandato na autarquia. A câmara alegou, oficialmente, que desconhecia os factos. Agora, voltou a ser contratado para mais quatro anos na Câmara Municipal de Lisboa e foi igualmente aumentado. No anterior contrato, estabelecido a 9 de junho de 2015, António Mega Peixoto tinha uma avença no valor de 2.135,39 euros. Agora, em 2017, a sua avença não chega ao teto máximo, mas a autarquia pagará 3.468,04 pela sua avença, num aumento superior a 60%.

No gabinete da vereadora da Cultura, Catarina Vaz Pinto, só não foram aumentados José Bibe (que já ganhava o máximo quando assinou o contrato no final de 2016) e Maria Cristina Anacleto, que presta apoio administrativo e ganha exatamente o mesmo que no anterior contrato: 3.444,14 euros brutos. Já a assessora jurídica Alexandra Sabino tinha uma avença de 3.472 euros (estava isenta de IVA) e agora passa a 4.616,57 euros (que correspondem a 3.572,50 mais IVA). No mesmo gabinete da vereadora da Cultura, com aumentos menores — que podem ser justificados pela alteração legislativas –, estão assessores jurídicos como Filipe Pacheco, Paula Pires e Ema Alcobia. Todos ganham o máximo permitido por lei.

No gabinete do vereador Miguel Gaspar, estreante no atual mandato, também há vários aumentos, já que há elementos que transitam de outros gabinetes. Cláudia Andrade, que tinha uma avença de 3.200,58 euros no gabinete do vereador Carlos Manuel Castro no anterior mandato, passa a 3.444,15 no presente. A diferença pode ser justificada pelo fim das restrições. Já João Camolas, que foi durante anos assessor do vereador José Sá Fernandes, passa dos 4.015,95 euros mensais para os 4.615,57 euros, valores que incluem IVA.

Também Daniel Soares, que foi candidato do PS à junta de freguesia de Carnide em outubro (perdeu para a CDU), tinha uma avença de 3.444 euros no gabinete da vereadora Catarina Albergaria e passou agora para os 3.936 euros. Ganha, no entanto, menos que os seus colegas. Já Bernardo Alves mantém exatamente a mesma avença que ganhava no gabinete de João Paulo Saraiva: o teto máximo de 4.616,57 euros.

Aumentos em vários gabinetes
No gabinete do vereador João Paulo Saraiva, Isabel Cotrim foi também aumentada para o teto máximo (4.616,57 euros), quando em 2013 tinha uma avença de 2.721,57 euros (isentos de IVA) no gabinete do vereador João Afonso. No mesmo gabinete, João Reis, que é “assessor político”, ganha agora o teto máximo, quando em 2015 tinha uma avença de apenas 2.706 euros no gabinete de apoio ao vereador com os pelouros dos recursos humanos e financeiros. Já João Almeida, que faz igualmente assessoria política, teve um aumento menor: de 4.184,58 euros para 4.615,57 euros.

Entre os dez membros contratados pelo vereador José Sá Fernandes, os aumentos são quase todos justificados pela lei. António Braga, Pedro Rato, Sara Veiga, Maria Marreiro e Marise Francisco viram a avença aumentar de 4.15,95 para 4.491,96 euros. Ou seja: o teto máximo. Maria Cordeiro também irá ganhar o teto máximo, mas é estreante em gabinetes da autarquia. Inês Matias também vê a sua avença aumentada, mas em valores menores: de 3.075 euros para 3.447, 08.

No apoio administrativo a Sá Fernandes também há aumentos: Maria Ribeiro passa de uma avença de 984,00 euros para 1.230 euros. Entram também novos técnicos: Ana Domingues (1.300 euros mensais) e António Sequeira (984 euros mensais). Há também quem passe a ganhar menos: Maria Emília Canas Mendes passa de 1045 euros para 741,69 euros mensais.

A novidade do Bloco, o Lobo “mau” e Lobo Antunes
Ainda não foram publicadas todas as contratações para os gabinetes no site Base.gov. Só aí se vai perceber quem são todos os contratados e ter uma visão geral e definitiva da quantidade de aumentos aprovados. Isto apesar de a lei estabelecer limites e saber-se, à partida, que valores podem ser, no limite alcançados. Ainda assim, em resposta ao Observador, fonte oficial da Câmara Municipal de Lisboa destaca que “o presidente da câmara tem o mesmo número de assessores e funcionários de apoio que tinha em 2009, o mesmo acontecendo com os vereadores com pelouro”.

A mesma fonte oficial explica que “há uma forma diferente de contabilizar os assessores dos partidos e vereadores sem pelouro, relevando o número de eleitos de cada grupo político”, mas que “mesmo essa alteração diminuiu, e não aumentou, o número de adjuntos. As diferenças pontuais que existem, a cada mandato, têm a ver com o diferente número de vereadores com pelouro ou do número de partidos com representação na vereação”. E lembra ainda: “Em 2017, por exemplo, há mais um partido representado do que em 2013: o Bloco de Esquerda”. O acordo Robles-Medina dá ao Bloco a possibilidade de contratar mais assessores do que poderia caso não tivesse pelouro atribuído e fosse remetido à oposição.

O bloquista Ricardo Robles contratou dois assessores pelo mesmo valor, que ficam mil euros abaixo do teto máximo: Ana Filipe e Rodrigo Rivera têm avenças de 3.465,89 euros mensais (incluindo o IVA).

Para apoio dos gabinetes dos vereadores do PSD também já são conhecidos alguns dos membros que darão apoio a João Paulo Saraiva e a Teresa Leal Coelho (a representação foi reduzida a dois vereadores). A blogger Carla Quevedo — que acompanhou Teresa Leal Coelho em ações de campanha — terá uma avença de 3.321 euros ilíquidos, também abaixo do teto máximo.

A ex-jornalista e mulher do escritor António Lobo Antunes, Cristina Ferreira de Almeida (que fez campanha com o nome Cristina Lobo Antunes), que era candidata do PSD à junta de freguesia de Campo de Ourique, terá uma avença de 3.936 euros brutos mensais. O mesmo valor será pago pela autarquia a Marta Muckznick, que era mandatária para o diálogo intercultural de Teresa Leal Coelho.

Do anterior mandato salta Rodrigo Gonçalves, que era assessor de Fernando Seara. Porém, Nuno Lobo, o chefe de gabinete do antigo vereador, mantém-se como assessor dos vereadores do PSD. Nuno Lobo é próximo de Fernando Seara e é o atual presidente da Associação de Futebol de Lisboa. Em 2013, Nuno Lobo chegou a ser alvo de uma queixa do Futebol Clube do Porto na UEFA, por alegados comportamentos racistas denunciados numa nota oficial do clube que tinha como título “O Lobo mau”. O FC Porto citava declarações de Lobo no Facebook sobre o brasileiro Hulk: “Para mim foi o melhor em campo… Grande passe aquele para o segundo golo… o golo do macaco Hulk… HU HU HU HU” e “… não podíamos ter bananas no campo. Senão o incrível macaco comia-as”. Não fica claro que a referência a “macaco” era para Hulk, já que essa é também a alcunha do líder dos Super Dragões.

O que é certo é que, independentemente da polémica, Seara levou-o para a câmara precisamente nesse ano de 2013. Agora, Teresa Leal Coelho decidiu mantê-lo. Nuno Lobo teve, no entanto, uma redução salarial: passou de 3.587 euros para 3.444 euros brutos mensais. Nenhum destes membros tem exclusividade: Nuno Lobo, por exemplo, é advogado no escritório de advogados de Fernando Seara. Quem também transita do tempo de Seara é uma técnica de apoio administrativo, Ana Trigoso, que também vê a sua avença ser diminuída de 2.562 euros brutos mensais para 2.275,50 brutos mensais.

Lisboa tem exceção que permite mais 96 assessores e ‘plafond’ de 20 milhões
O Regime Jurídico das Autarquias Locais (RJAL) permite aos grandes municípios (com mais de 100 mil habitantes) ter 22 membros nos gabinetes dos vereadores e do presidente da câmara. Dada a sua dimensão, Lisboa é objeto de uma exceção que é aprovada, mandato após mandato, pelo executivo municipal. De acordo com a proposta de Fernando Medina aprovada em reunião de câmara no início deste mandato — apenas com a abstenção dos dois vereadores do PCP — os vereadores, os respetivos grupos políticos e o presidente podem contratar 96 pessoas para os gabinetes: 71 assessores e 25 funcionários de apoio administrativo. A estes 96 juntam-se os 22 já garantidos. Contas finais: 118 assessores/adjuntos.

O número pode, no entanto, aumentar, já que é permitido aos vereadores e grupos políticos contratarem mais elementos para o gabinete, com avenças mais baixas, desde que não ultrapassem os tetos estabelecidos. A proposta aprovada na Câmara Municipal de Lisboa estabelece que “é permitido o desdobramento do número de assessores ou do apoio de secretariado, desde que não sejam ultrapassados os limites remuneratórios previstos“. Esses tetos são de 45.030 euros para assessores e de 33.630 euros anuais para o pessoal administrativo.

Estes valores estabelecem, assim, uma espécie de plafond para cada vereador. No total, por ano, os vereadores e o presidente da câmara podem contratar assessores que custem à câmara municipal até 3.932.469 euros, aos quais se juntam 1.034.122,5 euros para apoio administrativo. O plafond total para contratarem os membros dos gabinetes ronda assim os 5 milhões de euros anuais (com precisão: 4.966.592,4 euros). Isto significa que, com a aprovação desta proposta, a câmara pode gastar, pelos quatro anos de mandato, só com os membros dos gabinetes dos vereadores cerca de 20 milhões de euros. A estes 20 milhões para 96 assessores/adjuntos ainda se juntam os gastos com mais 22 pessoas que podem ser contratadas ao abrigo da lei que vale para todas as autarquias com mais de 100 mil habitantes.


Correção: Pedro Vaz não é o “número dois” de Pedro Nuno Santos na Federação do PS deAveiro. Foi apenas “número dois” da Federação entre 2012 e 2014.

sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Tribunal decide início da mesquita da Mouraria


Projecto de Arquitectura que é não só afirmativo, no plano estílistico em ruptura com a envolvente, mas constitui um 'statement' de afirmação cultural e religiosa em demarcação com o contexto.
Mau projecto de Arquitectura. Não serve portanto os interesses da comunidade que pretende representar.
OVOODOCORVO

Tribunal decide início da mesquita da Mouraria
29 DE DEZEMBRO DE 2017
00:42
Céu Neves

Câmara aprovou projeto de construção em 2012, prevendo que estaria concluído neste ano. Proprietário expropriado contesta, autarca aguarda sentença

O projeto foi aprovado por unanimidade pela Câmara Municipal de Lisboa. Encontraram-se os apoios, nacionais e comunitários. A notícia foi amplamente divulgada - com prazos de conclusão em abril deste ano - e apresentada com mais uma boa medida para a integração dos imigrantes. A comunidade islâmica festejou, sobretudo os naturais do Bangladesh e do Paquistão que vivem e têm os seus negócios na Mouraria, para onde a futura mesquita está prevista. Passados cinco anos tudo continua na mesma. Soube-se entretanto que nem todos os moradores, diga-se sociedade de acolhimento, via este espaço com bons olhos. E o proprietário dos prédios, oficialmente expropriado, contestou a decisão em tribunal: um processo para anular a expropriação e outro para contestar o valor das indemnizações.

"Prometeram a mesquita mas as obras nunca mais começam, estamos à espera, já perguntei quando começam mas eles também não sabem. Ficámos muito contentes quando ouvimos dizer que a mesquita ia ser aqui construída, só que nunca mais tem início", lamenta o imã Sayekh Abu Sayed, que preside às cerimónias religiosas na atual mesquita que existe no Martim Moniz. E há um segundo espaço no local, mas ambos revelaram-se insuficientes perante a vaga de imigrantes que viajaram da península hindustânica, entre estes os muçulmanos do Paquistão e do Bangladesh.

António Barroso é o proprietário dos dois prédios que faltam desocupar, situados na Rua do Benformoso, entre os números 135 e 151-A, que confinam na Rua da Palma e onde será construída uma nova praça e edifícios para atividades culturais e uma mesquita. É um dos comerciantes da zona desde 1980. Morava em Arroios e decidiu investir no Martim Moniz, para onde se mudou e recuperou outros dois andares num prédio de três pisos para alojamento local. Comprou também o edifício do lado - rés-do-chão e 1.º andar que estão sem utilização. Tem uma loja alugada a um restaurante e outra a uma agência de viagens.

Prédios que os responsáveis da autarquia começaram por indemnizar em 531 850 euros, montante decidido pelo tribunal arbitral. Subiram para os 953 800 euros. "Esse valor inclui as indemnizações que teria de pagar aos inquilinos", argumenta António Barroso. Ainda assim, pretende o dobro. "O dinheiro que querem dar não chega para pagar o empréstimo bancário para as obras e para comprar edifícios com as mesmas condições destes." Sublinha no entanto que a sua principal pretensão é uma permuta com edifícios nas mesmas condições.

"Os prédios foram vendidos em 2006, estavam em ruínas e a Câmara Municipal de Lisboa (CML), que tinha o direito de preferência, não os quis comprar. Exigiu que as obras mantivessem a traça antiga porque estava numa zona histórica e com interesse arquitetónico, agora nada disso vale e quer deitá-los abaixo", protesta. Uma visita aos edifícios comprova os cuidados na reconstrução e nos materiais usados, como as escadas de madeira e a manutenção de azulejos. Acrescenta que está manietado quanto à rentabilidade dos edifícios porque oficialmente foi expropriado e nem consegue fazer novos contratos de arrendamento. "Mas não é a câmara que está a pagar todos os meses o empréstimo bancário", diz.

Reverter a decisão camarária tem sido o projeto de vida dos últimos anos de António Barroso e da mulher. "Tem-me dado cabo da vida, estou doente." Contratou uma advogada para recorrer à justiça, multiplica-se em contactos para sensibilizar as entidades para a sua situação. Estivemos na Rua do Benformoso há uma semana, precisamente no dia em que António Barroso teve uma reunião com o presidente da autarquia, Fernando Medina. "Correu mal. Diz que o tribunal lhes dá razão, que foi o tribunal que decidiu o valor das indemnizações, não quer negociar. O que eu quero é uma permuta para poder manter o meu projeto, para ter um rendimento quando me reformar. Se não for possível, que me indemnizem com o dinheiro suficiente para comprar na zona edifícios como este e poder recuperá-los."

A resposta que recebeu do presidente da autarquia é semelhante à enviada ao DN quando questionados sobre o início das obras da mesquita da Mouraria. "O projeto da nova praça da Mouraria foi aprovado na câmara; foi publicado em Diário da República a declaração de utilidade pública dos imóveis; o processo encontra-se a seguir os trâmites em tribunal por falta de concordância quanto ao valor da indemnização", responde a assessoria. Ou seja, à espera da decisão do Tribunal Administrativo Lisboa para as obras serem iniciadas.

O que o imã Abu Sayed não tem dúvidas de que acontecerá mais cedo ou mais tarde. "Será construída e aqui, onde vivemos e trabalhamos." Chegou a Lisboa há oito anos com a mulher e a filha , agora com 11. Aqui nasceu o filho, de 7. É proprietário de um restaurante, um café e um talho. Reconstruiu toda a sua vida na Rua do Benformoso, afinal, como António Barroso

Director do SEF arquivou auditoria que revelava indícios de corrupção


Pobre Portugal …
OVOODOCORVO
Director do SEF arquivou auditoria que revelava indícios de corrupção

A investigação inclui o o ex-director nacional adjunto do SEF, Luís Gouveia, recentemente nomeado para um cargo de oficial de ligação em Bruxelas.
 A auditoria foi ordenada por Luísa Maia Gonçalves, directora do SEF que foi demitida por Constança Urbano de Sousa
Em causa estão milhares de vistos de residência passados, especialmente em 2015, ao abrigo do artigo 88 — que, na altura, permitia, a título excepcional, conceder autorizações a estrangeiros que demonstrassem ter uma ligação laboral no nosso país há mais de um ano, e provassem ter entrado legalmente em território nacional. Alegadamente por acordo entre os responsáveis do SEF e algumas associações de imigrantes, que criticavam a excessiva burocracia e a dificuldade de muitos imigrantes, já a trabalhar em Portugal, em conseguir a prova de entrada legal, o requisito foi suspenso.

PÚBLICO 15 de Dezembro de 2017, 7:50

O novo director do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), Carlos Moreira, mandou arquivar uma auditoria interna concluída há um mês, com suspeitas de corrupção e concessão de vistos ilegais sem o requisito obrigatório de prova de entrada legal no nosso país, noticia o Diário de Notícias esta sexta-feira. O Gabinete de Inspecção do SEF, que conduziu a auditoria durante um ano, propôs sanções disciplinares a um total de seis funcionários, da base ao topo.


Entre os visados da auditoria está o ex-director nacional adjunto do SEF, Luís Gouveia. Foram ainda extraídas duas certidões criminais relativas aos indícios de corrupção de um inspector e um administrativo, que terão recebido dinheiro para conceder os vistos.

O líder parlamentar Nuno Magalhães considera "muito grave" a decisão de Carlos Moreira e espera "explicações cabais" do ministro da Administração Interna. Já o gabinete do ministro da Administração Interna Eduardo Cabrita sublinha que "tem plena confiança na Direcção Nacional do SEF no exercício das suas competências próprias, designadamente em matéria disciplinar". Ambos falam ao DN.

Luís Gouveia sublinhou que foi "ouvido" e fez a sua "defesa em sede da auditoria". "Trata-se de uma questão interna. Para mim o assunto está encerrado e arquivado", assinalou, em declarações ao mesmo jornal. Luís Gouveia foi recentemente nomeado para o cargo de oficial de ligação na Representação Permanente Portuguesa em Bruxelas, cujo vencimento é superior a 10 mil euros mensais.

O ministro da Admnistração Interna, que assinou a nomeação de Luís Gouveia, conta que "a direcção do SEF indicou, nos termos dos procedimentos estabelecidos, três currículos para selecção do novo Oficial de Ligação na REPER" e que, para o ministro, "o curriculum do dr. Luís Gouveia foi considerado o mais adequado às funções" e "do seu registo pessoal não consta qualquer sanção disciplinar". A nomeação foi assim já depois do arquivamento da auditoria.

A auditoria, ordenada pela anterior directora, Luísa Maia Gonçalves — demitida pela ex-ministra da Administração Interna —, contou com uma equipa especial de investigação e reuniu informação que encheu um total de 15 volumes que incluem provas documentais sobre as ilegalidades.

Em causa estão milhares de vistos de residência passados, especialmente em 2015, ao abrigo do artigo 88 — que, na altura, permitia, a título excepcional, conceder autorizações a estrangeiros que demonstrassem ter uma ligação laboral no nosso país há mais de um ano, e provassem ter entrado legalmente em território nacional. Alegadamente por acordo entre os responsáveis do SEF e algumas associações de imigrantes, que criticavam a excessiva burocracia e a dificuldade de muitos imigrantes, já a trabalhar em Portugal, em conseguir a prova de entrada legal, o requisito foi suspenso.


Nesse ano, os pedidos de visto, com base nesta excepção mais que duplicaram (em 2014 foram registados 5800 pedidos, no ano seguinte o número aumentou para 12.200). Quando tomou posse, no início de 2016, Luísa Maia Gonçalves foi confrontada com a avalanche de pedidos e em Março assinou um despacho a revogar todas as orientações à margem da lei, embora com uma análise caso a caso para situações humanitárias, que foram legalizadas. "O que se tornou mais difícil foi a regularização de cidadãos que vivem ilegalmente noutros países e que eram trazidos para Portugal por redes criminosas só para obterem a autorização de residência, sendo explorado por estas redes na angariação de mão-de-obra ilegal e tráfico de seres humanos em situação de quase escravatura", justificou o SEF.

Turismo obriga Café Luso, a casa de fados mais antiga de Lisboa, a reinventar-se



Fado “Gourmet”? “Evolução” ou simples perda de Autenticidade e de Identidade sobre a pressão do Turismo de massas? Quem vai representar as Marchas Populares do Futuro?
Quem vai representar o Fado e a Lisboa do Futuro? Iremos chegar ao ponto de contractar actores para representar o “Povo”?
OVOODOCORVO

Turismo obriga Café Luso, a casa de fados mais antiga de Lisboa, a reinventar-se 

POR SAMUEL ALEMÃO • 29 DEZEMBRO, 2017 •

Acabado de completar 90 anos, o Café Luso tem vindo a reinventar-se, muito por culpa do aumento do turismo e da elevação do fado a Património da Humanidade. A casa onde se escuta a canção de Lisboa, e na qual foi gravado um dos discos mais populares de Amália Rodrigues, tem, desde 2015, um elenco mais jovem e uma oferta gastronómica modernizada. A plateia confirma os sinais dos tempos: espectadores de várias partes do mundo, de todas as idades, de máquinas fotográficas e telemóveis em punho para registarem as actuações. Muitas vezes, não se consegue controlar o burburinho e pede-se silêncio para ouvir os intérpretes. Os pratos gourmet acompanham a música. Muitos vêm só para ouvir Celeste Rodrigues, irmã de Amália Rodrigues, a cantar aos 94 anos. João Pedro Ferreira Borges, sócio-gerente do Café Luso, admite que “o fenómeno massivo do turismo criou alguma pressão e dependência no negócio”. Nas redes sociais, há quem acuse o Café Luso de estar a esquecer os portugueses, sendo a principal queixa os preços praticados.

 Texto: Sofia Cristino                                  Fotografias: Hugo David

 “Muitas vezes, não percebemos o que dizem, mas emocionamo-nos sempre”, comenta Tarx Marina, de 31 anos, enquanto aplaude Cristiano de Sousa, fadista no Café Luso há 18 anos. Tarx é colombiana e está de férias em Portugal, pela segunda vez, com a mãe, Luz Marina, de 60 anos. “O ano passado, viemos aqui ouvir fado e ficamos com muita vontade de voltar. É uma forma de exprimir os sentimentos muito bonita. O fado é o coração de Portugal”, considera Luz Marina. É no cimo da Rua Norte, no interior do Bairro Alto, que encontramos a casa de fado mais antiga de Lisboa, o Café Luso. É difícil entrar. As filas são grandes e há muitas pessoas à espera para confirmar as reversas. As actuações decorrem no centro da sala, que conserva uma traça intemporal.

 Os fadistas entram de soslaio, quase sem se fazerem notar. Cumprimentam o público com o olhar, uma vénia e um sorriso. Olham a plateia nos olhos. O xaile preto, pousado nas costas da primeira intérprete da noite, desperta a curiosidade de muitos que a vêm pela primeira vez. A luz baixa. Ouvem-se os primeiros acordes na guitarra portuguesa. O contrabaixo também já está a postos para acompanhar a artista.

Os tectos abobadados e as arcadas de pedra possibilitam uma melhor qualidade do som, que só é quebrada pelos comentários da assistência. Nas antigas adegas e cavalariças do palácio setecentista Brito Freire, sussurram-se elogios em francês, inglês, japonês, sueco, grego e espanhol, o idioma predominante. Por vezes, os empregados e, mesmo, os próprios artistas, têm de pedir silêncio. Vai-se cantar o fado.

 “Hoje, estiveram calados, mas, muitas vezes, não estão. Há noites muitos especiais, com menos gente. Quando acontecem, ficamos com vontade de cantar mais. Quando se cria um certo ambiente de intimismo, acontecem noites fantásticas de fado”, explica Elsa Laboreiro, directora artística do Café Luso e fadista há 35 anos – com um interregno pelo meio – naquela casa.

 O Café Luso completou 90 anos a 27 de novembro, no mesmo dia em que se celebrou o sexto aniversário da elevação do fado a Património Imaterial da Humanidade, pela UNESCO. Por lá passaram grandes nomes do fado, como Alfredo Marceneiro, Amália Rodrigues, Berta Cardoso, Cidália Moreira, Argentina Santos, Joaquim Campos, Beatriz Conceição, Fortunato Coimbra, entre outros. Na que ficaria celebrizada por “Catedral do Fado”, por ser bastante selectiva na escolha dos artistas, Amália Rodrigues gravou um dos seus discos mais conhecidos, Alfredo Marceneiro foi nomeado “Rei do Fado” e António Rocha, com 79 anos, “Rei do Fado Menor”. Hoje, os intérpretes têm novos rostos e a plateia é composta por pessoas de todo o mundo.

 Aos sábados, as sessões de fado decorrem entre as 20h e as 2h, com intervalos de quinze minutos para os espectadores retomarem o jantar ou a conversa. Há quem venha de propósito para ouvir a música popular portuguesa ou só mesmo para ver a actuação da fadista Celeste Rodrigues, irmã de Amália Rodrigues, que continua a cantar aos 94 anos.

Quando O Corvo lá esteve, foi a primeira a cantar, pelas 22h. Interpretou três fados conhecidos, destacando-se o emblemático “É noite na Mouraria”. Foi aplaudida com “bravos”, em sotaque espanhol. Finda a sua actuação, e enquanto espera pela ceia, numa mesa redonda à saída do Café Luso, vai comentando a prestação dos colegas. “Está a cantar muito bem, não está?”, pergunta Celeste Rodrigues, enquanto trauteia a letra da música que Cristiano de Sousa interpreta. “Ali era a bilheteira, havia pessoas que vinham quase todos os dias ao fado, era muito diferente”, vai contando, enquanto aponta para a entrada do estabelecimento, onde agora está um piano.

Um casal de suecos fita a fadista, expectante, aguardando a melhor altura para a interpelar. “Desculpe incomodar, mas só queríamos mesmo agradecer pelo momento musical, foi mesmo muito bom”, elogiam. Celeste Rodrigues agradece e pergunta de onde são. Fala inglês com a mesma fluência com que fala a língua materna. “Somos suecos”, respondem. “Da Suécia? Que bom! Gosto muito, já lá fui”, diz, enquanto se posiciona para tirar uma fotografia com o casal que visita pela primeira vez Portugal. Ainda não tirou o sorriso nem a pose, quando é novamente abordada. “Foi um verdadeiro prazer ouvi-la, obrigada”, agradece uma mulher natural de Múrcia, em Espanha, que aproveita a oportunidade para perguntar o que significa o fado para Celeste Rodrigues.

 “Não se pode explicar o que é o fado, o fado sente-se. É muito misterioso, tem tudo o que há na vida, coisas muito profundas. Não há tristeza no fado, há melancolia e estados de alma. O fado requer uma força interior tão grande para ser cantado, que faz arrepiar e chorar pessoas que não percebem nada do que estamos a dizer”, define a fadista.

Muitos foram lá só para a ver, mas quando O Corvo a questiona sobre como é cantar com 94 anos, num lugar que lhe traz muitas memórias e onde continua a ser tão procurada, é modesta nas observações. “É maravilhoso. Sinto que tenho sorte por ainda ter um contrato e o público aceitar-me. Se não me aceitassem, eu não poderia cantar, o que me dava muita pena. Também ainda tenho um bocadinho de voz, o que é óptimo, porque, com a minha idade, já ninguém canta. 72 anos de fado é muito tempo. De repente, porque uma pessoa tem mais idade, tem de deixar de cantar? Não é justo”, explica, entre risos.

 Celeste Rodrigues considera que, com os anos, vai-se perdendo muita coisa, mas, acredita, “ganha-se mais do que se perde”. “Perdemos a voz, mas ganhamos outras coisas, como a emoção. Percebemos melhor a vida. A voz é bonita quando somos novas, mas não tem a mesma força interior de quando somos mais velhas. Uma miúda de 14 anos ainda não sabe o que é o amor, ainda não sofreu na vida para perceber o que as palavras querem dizer”, explica, enquanto bate palmas e enaltece mais uma interpretação. “Muito bem cantado. É tão bom cantar…desabafa-se”, diz, pensativa.

 O Café Luso nasceu na Avenida da Liberdade, nos finais da década 20 do século passado, onde esteve sediado até 1937. Ficou conhecido por acolher concursos de talentos e divulgar alguns dos melhores artistas da época. Esteve, temporariamente, instalado na Rua de Santa Marta, com o nome de A Esplanada Luso Artístico, reabrindo como uma casa de referência em 1941, em pleno coração do Bairro Alto. Às sextas-feiras à noite, praticavam-se preços especiais para se ouvir Amália Rodrigues, uma presença anunciada como “exclusiva”. Celeste Rodrigues lembra-se bem dessas noites.

 “Às vezes, as pessoas diziam: ‘não é como a irmã’. Nem tinha de ser. Nunca a imitei e ela admirava muito a minha forma de cantar. Quem nos associa não está bom da cabeça, éramos muito diferentes. A minha irmã era um caso único, daquelas coisas que aparecem uma vez na vida. Fazia o que queria da voz, tinha uma sensibilidade rara. Era sincera e autêntica”, recorda a irmã de Amália Rodrigues.

 Elsa Laboreiro também viveu os tempos áureos daquele lugar de culto do fado. Estreou-se como fadista no Café Luso aos 19 anos. Hoje, com 56, já conheceu centenas de artistas e clientes de todas as partes do mundo. “O Café Luso tem imenso peso na história do fado. É, de certeza absoluta, a casa de fados que tem mais peso. Temos clientes de países diversos que nos vêm ver quase todos os anos. Naquela altura, poucas pessoas podiam vir, era mais difícil gastar esse dinheiro. Está tudo diferente, a sociedade e a cultura, e a forma como as pessoas podem abordar e aceder à cultura”, explica.

 “Acha que a essência do fado se perdeu?”, questiona O Corvo. “A essência do fado não se perdeu, mas já não existem aquelas vozes de antigamente. Já não há uma data de artistas que foram marcantes para a história do fado. Eu tive a sorte de pertencer a uma geração em que conheci muitos deles, como a Amália Rodrigues, em 1987. E, há 14 anos, tenho tido a alegria de cantar com a sua irmã”, lembra.

 “Estamos a viver uma evolução, que é natural que se dê, mas gostava mais das coisas como eram antes. Tinham um misticismo diferente, havia uma reverência e um rigor diferente. Hoje, ainda há espetáculos interessantes, mas são menos. Temos fadistas fantásticos porque existe um núcleo de pessoas que respeitam imenso o tradicionalismo do fado e são rigorosas em manter coisas muito importantes, que não se podem perder. Mas a Amália foi uma era que ali ficou, sem dúvida”, lamenta, ainda.

 Café Luso reinventado

Em 1970, o Café Luso passou a ser gerido por uma sociedade pertencente ao pai de um dos actuais proprietários, Fernando Ferreira Borges. Em 1992, o grupo Fado and Food Group – que detém, também, as casas de fado Adega Machado e a Timpanas – passa para as mãos de João Ferreira Borges e de dois sócios-gerentes, Armando Fernandes e João Fevereiro. Nos últimos anos, e acompanhando o exponencial crescimento turístico, os proprietários do Café Luso viram-se obrigados a apostar mais na captação de turistas. Depois de um período de redefinição, o estabelecimento reabriu, em 2015, com um elenco residente rejuvenescido. João Ferreira Borges percebeu que a sobrevivência da casa de fados teria de passar, ainda, pela modernização da oferta gastronómica. A acompanhar os fados, além das refeições tradicionais, há pratos gourmet recriados a partir de outros pratos.

“O fenómeno massivo do turismo criou alguma pressão e dependência no negócio, que levou inclusive a adicionar, durante anos, a oferta de um espectáculo de folclore, reunindo assim duas ofertas do universo musical popular nacional”, explica João Ferreira Borges, justificando assim o que considera ser o abrandamento da “evolução artística”, uma vez que tal tornou o repertório mais repetitivo. Na década de 90, por decisão empresarial, tal começou a ser corrigido. “A esse estímulo não foi alheio o sangue criador das mais recentes gerações no fado”, admite o empresário. “Consciente dessas ameaças, o Café Luso recuperou assim a sua função formativa, com elencos intergeracionais, a sua atractividade artística, e nunca chegou ao ponto de se cristalizar, continuando a ser referência principal no cenário lisboeta do Fado”, considera João Ferreira Borges.

 Há, contudo, uma meta por cumprir: trazer os portugueses de volta à “Catedral do Fado”. Em depoimento escrito a O Corvo, o gerente do Café Luso garante que “os portugueses são e serão os primeiros destinatários do estabelecimento”. “São essenciais para conferir o ambiente que procuramos recuperar, preservar e fomentar no que aos escutantes respeita, para que o fado sempre ‘aconteça’. Damos a possibilidade de o frequentar com menus mais económicos, petiscos, ou apenas bebidas”, explica. E, apesar das dificuldades que as casas de fado têm vindo a passar, João Ferreira Borges assegura que nunca deixaram de receber os clientes habituais, tendo alguns sempre uma garrafa reservada.

“Temos um perfil dos clientes mais assíduos, aqueles que viveram outros momentos áureos do fado, que conviveram com vultos que se tornaram mitos do fado: Amália Rodrigues, Tony de Matos, Alfredo Marceneiro, e muitos outros, ligados a esta casa. Muitos menos que antigamente, mas ainda temos famílias portuguesas, e até estrangeiras, que nos visitam periodicamente. A elevação [a Património Imaterial da Humanidade ] do fado aumentou a curiosidade mundial sobre este género musical exclusivo e, se o Café Luso já se perfilava ‘embaixador do fado´, hoje em dia, mercê da sua história, é maior a sua autoridade em matéria do fado, e da confiança que oferece a quem procura o que se pode considerar autenticado pela sua própria história”, explica.

 Nas plataformas digitais TripAdvisor e Zomato, que dão voz às experiências dos consumidores nos mais diversos estabelecimentos de hotelarias, há, contudo, quem não concorde que o Café Luso esteja focado em reconquistar os portugueses. Existe quem se queixe dos preços praticados e do espaço estar feito apenas a pensar nos turistas.

 “Encontramos lá vinhos, vendidos no mercado a preços de 8/10€, com uma inflação de 40/50€. É exagerado! Porém, quando lá estamos sentados, olhamos em volta e percebemos. Não estava rodeado de estrangeiros, os estrangeiros era eu e a minha mulher. Nada contra, é claramente o público-alvo do restaurante, embora eles neguem isso nas várias respostas que deram por aqui, pois dizem que querem restaurar a alma do fado. Certo, mas não para os portugueses. Não há mal nisso, é um target que funciona sem dúvida”, lê-se num comentário de um cliente, Ivo Rocha, no TripAdvisor. “O barulho torna-se, por vezes, ensurdecedor, ao ponto de os próprios fadistas terem de pedir ao público respeito. A parte positiva: o restaurante tem um ambiente intimista”, refere.

Basta fazer uma breve pesquisa na internet para perceber que a opinião é unânime. No Zomato encontram-se comentários semelhantes. “Restaurante de fado essencialmente para turistas. Comida boa, mas sem ligação ao preço praticado. Apenas se percebe os preços praticados pelo sítio onde se localiza e pelo fado”, repara Rúben Espanhol. “Comida de boa qualidade e bem apresentada, mas em pouca quantidade. O custo médio indicado não corresponde à realidade. Uma refeição normal nunca ficará a menos de 120 euros para duas pessoas”, acrescenta Hugo Gaudêncio. Todos concordam, porém, com a qualidade das actuações de fado. “Recomendo uma visita para assistir a um bom espectáculo de fado numa atmosfera muito boa. Serviço de mesa aceitável”, comenta Hugo Gaudêncio.

 O fado começou por ser cantado em tabernas e cafés e, espontaneamente, nas ruas, em momentos de convívio e lazer. Falava de saudade e nostalgia, de amores e desamores, mas, sobretudo, do dia-a-dia dos lisboetas do século XIX. As casas de fado surgem mais tarde, a partir da segunda década do século XX, quando já se encontravam admiradores do género em a todas as camadas sociais. Há não muitos anos atrás, segundo a irmã de Amália Rodrigues, “as casas de fado estavam completamente cheias, haviam tertúlias e os estudantes juntavam-se para declamar poesia”. Mas tudo isso mudou. “Hoje em dia, não há a mesma disponibilidade que existia, porque os artistas estão nos teatros e os estudantes estão nas universidades. Antigamente, também era mais acessível”, explica Celeste Rodrigues.

 Hoje, muitos jovens cantores querem aprender o género musical que emociona pessoas de todas as partes do mundo. Mas Elsa Laboreiro relembra que é preciso muito mais do que “uma grande voz” para o interpretar. “Conheço muitos dos novos artistas e alguns são realmente muito bons, mas há um ponto em que eu bato o pé. Não concordo com tudo aquilo que se faz, que desvirtua o que é basilar no fado. Nem todos têm conhecimento suficiente de fado ou de fadistas e das vozes do antigamente, e alguns pensam que basta abrir a boca que já são fadistas”, observa.

 “O que a preocupa quanto pensa no futuro do fado?”, questiona O Corvo. “Preocupam-me muitas coisas, mas outras também me deixam muita esperança, por isso, eu vou pôr a minha esperança naqueles artistas em que acredito e que são muitos bons intérpretes. Espero que consigam fazer prevalecer aquilo que importa e acho que conseguem”, acredita.

 Elsa Laboreiro alerta, ainda, para o facto de existirem cada vez menos casas de fado e “muita concorrência desleal”. “Houve um aproveitamento não só da classificação do Fado a Património da Humanidade como do aumento dos turistas. Há muitos estabelecimentos a que chamam casas de fado mas não são mais do que restaurantes onde se canta fado. Corre-se o risco de desqualificar o fado com os espaços que têm surgido. É um desrespeito pelo fado o que se faz em alguns sítios”, denuncia a directora artística do Café Luso.

 João Pedro Ferreira Borges concorda que existe “uma concorrência desleal, face a quem cumpre integralmente as suas obrigações legais”. “Existem muitos fenómenos de aproveitamento, esvaziados daquilo que confere autenticidade a um ambiente de fado, que também é composto de rituais. E a maior parte desses lugares nada têm a ver com os preceitos de uma casa de fados”, explica.


 “O fado poderá estar a ser banalizado?”, questiona O Corvo. “Enquanto durar esse fenómeno de aproveitamento, sim”, considera, mas com uma ressalva. “Estará a salvo, enquanto os seus principais agentes, designadamente as casas de fado históricas, defenderem o seu conceito original que o contextualiza, o profissionaliza, o preserva, o faz evoluir”, conclui.