segunda-feira, 31 de julho de 2017

Marcelo perdido no seu vazio Marcelo, de tanto falar, parece já não ter nada para dizer. Está preso no vazio que criou.

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OPINIÃO
Marcelo perdido no seu vazio
Marcelo, de tanto falar, parece já não ter nada para dizer. Está preso no vazio que criou.
O que a entrevista ao Diário de Notícias mostra é um cenário pior. Marcelo Rebelo de Sousa, de tanto falar, já parece não ter nada para dizer. Ficou preso dentro do vazio que criou.

VÍTOR COSTA
31 de Julho de 2017, 6:30

Sempre que eu perguntava a Henrique Medina Carreira se o governo “A”, “B” ou “C” o tinha desiludido, invariavelmente, a resposta era a mesma: só se desilude quem se iludiu.

A gestão das expectativas é isso. E eu, iludido, me confesso.

A actual situação política, com o Governo a sofrer o seu mais forte abanão desde que tomou posse, criou-me a ilusão de que a entrevista de Marcelo Rebelo de Sousa ao Diário de Notícias, seria “O momento”, para ouvir o Presidente. Pura ilusão. Marcelo foi confrontado sobre temas importantes, mas preferiu nada dizer.

O Presidente falou da necessidade de reduzir o défice orçamental. Disse o óbvio. Invocou os compromissos internacionais. Mas preferiu não dar uma palavra sobre o Estado comatoso em que se encontram muitos serviços do Estado, por via das restrições e cativações orçamentais, em particular o Serviço Nacional de Saúde. E se não o fez, não foi por falta de informação. Foi um dos seus antecessores, Jorge Sampaio, que lhe deixou o alerta no último Conselho de Estado.

O comandante supremo das forças armadas falou do roubo em Tancos. Mas limitou-se a repetir o que tinha dito. É preciso esperar pela investigação em curso. Mas nada disse se aquele foi um caso isolado ou se o estado em que estão as forças armadas permite que outros roubos, com a facilidade do que foi feito em Tancos, podem ocorrer em qualquer outro estabelecimento das forças armadas. Do comandante esperar-se-iam garantias de que nunca mais o país passará por aquela vergonha.

Marcelo falou da tragédia de Pedrógão Grande. Mais uma vez repetiu-se. E para um Presidente que é sempre tão impulsivo na acção, não deixa de fazer “comichão” quando diz que “já não falta tanto tempo assim” para ter conclusões do Ministério Público e da comissão independente a funcionar no Parlamento. São só um mês e meio, dois meses.

O Presidente também fala da crise dos media. Nunca ninguém tinha ouvido tal coisa: os media são indispensáveis para a democracia. Mas soluções para os problemas? “Essa questão está nas preocupações do Governo”, assegura Marcelo. E o negócio da compra da TVI pela Altice? Aqui, o Presidente só pode estar a ironizar quando diz que não é “nada de melindroso”, afinal, as entidades reguladoras estão a acompanhar.

Um dos pontos a que não se podia fugir era o pacto para a Justiça. Pouco ou nada se fez, mas Marcelo está tranquilo. A seguir ao Verão haverá qualquer coisa. E o aumento das comissões cobradas pela CGD? É a vida, não havia alternativa. E as relações com Angola? Vão melhorar no futuro.


Já se sabe que Marcelo Rebelo de Sousa fala muito, comenta tudo, e essa actuação poderia levar a que quando tivesse algo de importante para dizer, ninguém ouvisse. A entrevista mostra um cenário pior. Marcelo, de tanto falar, parece já não ter nada para dizer. Está preso no vazio que criou.

Turismo. Si no se regula de alguna manera, va a ser (lo está siendo ya en muchos sitios) la última plaga de la humanidad


Turismo
Si no se regula de alguna manera, va a ser (lo está siendo ya en muchos sitios) la última plaga de la humanidad

JULIO LLAMAZARES
1 JUL 2017 - 00:00 CEST

Vuelvo agotado de Lisboa de pelearme con los miles de turistas que llenan de día y de noche las calles de la ciudad blanca, de moda últimamente según parece como otras ciudades del centro y del sur de Europa. Hacía tiempo que no la visitaba y, aparte de las vistas y de los monumentos históricos y de las calles con sus tranvías característicos, muchos de ellos ya solo usados por los turistas, me costó reconocerla, tanto ha cambiado en los años últimos. La famosa gentrificación, esa epidemia económica y estética que el consumismo impone allí donde llega el turismo en masa, ha convertido a Lisboa en una nueva Barcelona de la misma manera en que Barcelona es el reflejo de Roma o Praga. Fuera de los monumentos y de los barrios modernos y algunos pocos rincones, todo se ha homologado en esas ciudades, desaparecido el comercio y la hostelería tradicional, sustituido por las franquicias y por las tiendas de moda, y entregadas sus poblaciones al esquileo sin escrúpulos de los turistas, convertidos en víctimas más que en viajeros de un nuevo bandolerismo legal y aceptado por todos o por casi todos. Poderoso caballero es Don Dinero como para andarse con consideraciones éticas.
Pero el problema de la gentrificación y del exceso de turistas empieza a afectar también a esas poblaciones, que ven como sus ciudades se vuelven cada vez más caras y prácticamente invivibles, lo que las empuja hacia al extrarradio o hacia la locura, tal es el ruido y la aglomeración de gente. Estando precisamente en Lisboa leí en este periódico que para los barceloneses el turismo es ya el principal problema por encima del desempleo o la crisis, antes en primer lugar. Es decir, que lo que era una solución económica se empieza a ver ya como un problema por muchos, incluidos bastantes de los que viven de él. Pues, aunque el turismo cree puestos de trabajo, la precariedad de estos y el encarecimiento de la vida que provoca repercuten negativamente en ellos. Y lo mismo sucede con el medio ambiente, que se intenta recuperar con nuevas tasas a los turistas, que en el fondo no son más que una nueva forma de esquileo.

Uno de los grandes cambios de las últimas décadas del siglo XX y primeras del XXI es la masificación del viaje, hasta entonces privativo de las clases altas o de románticos vagabundos que se buscaban en los paisajes de otros lugares del mundo. No creo que nadie esté contra de la democratización del viaje, como nadie puede estarlo de la del conocimiento, pero, si no se regula de alguna manera, el turismo va a ser (lo está siendo ya en muchos sitios) la última plaga de la humanidad.

Heading to Venice? Don’t forget your pollution mask



Heading to Venice? Don’t forget your pollution mask
Venetians regularly protest against the huge cruise ships docking in the city, but mass tourism is not the only problem they bring – the toxic air they pump out is harmful to locals and visitors alike
 Demonstrators in boats try to block the passage of large ships to demonstrate against their impact on Venice

Axel Friedrich
Monday 31 July 2017 06.30 BST

If you’re heading to Venice on holiday this summer, don’t forget to pack your pollution mask. Worrying about toxic air might seem strange in a city with few roads and cars, but Venice’s air carries hidden risks.

Every day five or six of the world’s largest cruise ships chug into the heart of the ancient city, which hosts the Mediterranean’s largest cruise terminal. These ships advertise luxurious restaurants, vast swimming pools and exotic entertainment – but keep quiet about the hidden fumes they pump into the city’s air.

It’s one reason locals are so enraged over the impact of tourism on their famous city. Protests against cruise ships are now commonplace. In May nearly 20,000 Venetians voted in an unofficial referendum, with 99% backing a motion to keep cruise ships away.

They are right to be angry.

Ship operators claim they use low-emission fuel when they are near big cities, but measurements I have taken near the port of Venice tell a different story. The fuel they burn while at berth contains more than 100 times as much sulphur as truck diesel.

As big ships sailed down the main canal, just a stone’s throw from the shore, my team recorded up to 500 ultra-fine particles per cubic centimetre – 500 times higher than clean sea air.

These particles linger in the air long after the ships have passed, and are carried hundreds of kilometres inland by the winds. Particulate matter is linked to severe health problems such as cardiovascular and respiratory diseases, including strokes and cancer.

The World Health Organisation places diesel particles in the same carcinogenic category as smoking and asbestos.

And it’s not just particulates we should worry about. The dieselgate scandal has reminded us that diesel engines produce a range of other pollutants that damage human health, the environment and the climate, including carcinogenic soot and sulphur and nitrogen oxides.

Figures by the European commission estimate that about 50,000 people die prematurely every year in Europe because of pollution from the shipping sector. This is a scandal because there are measures available to fix the problem cost-effectively, from using cleaner fuels to installing filters and using battery technology near the coast.

But the very profitable cruise industry has proven unwilling to engage with the problem. Nearly a million Britons take a cruise holiday every year, many paying up to £1,000 each for a week-long trip around the Mediterranean. With more than 6,000 passengers packing the larger ships, that’s a decent revenue.

Despite this, major shipping lines still refuse to spend money on proper exhaust gas technology, creating a massive threat to the health, not only of citizens and guests of the ports they visit, but of citizens along the coasts and even inland.

The fumes can also endanger the passengers: the German lung doctors association recently gave a warning to passengers with pre-existing conditions not to go on the deck of a cruise vessel. Even newer ships still pump out incredible levels of pollution.

The cruise industry is failing to meet basic public standards on the environment and human health. The good news for Venetians is that the Port Authority expects 10% fewer vessels this year, which may allow residents to breathe slightly easier.

But until ships are fitted with better filters and burn cleaner fuel, I’d advise you to pack a mask for when they sail by.


• Axel Friedrich is an international shipping consultant working with German environmental group Nabu, and was formerly head of the transport department in the German federal environmental agency.

Al Gore: 'The rich have subverted all reason' / VIDEO: An Inconvenient Sequel: Truth To Power (2017) - Official Trailer - Param...



Al Gore: 'The rich have subverted all reason'
With the sequel to his blockbuster documentary An Inconvenient Truth about to be released, Al Gore tells Carole Cadwalladr how his role at the forefront of the fight against climate change consumes his life

 Al Gore
 Champion of the world: Al Gore.
Carole Cadwalladr
Sunday 30 July 2017 00.05 BST Last modified on Sunday 30 July 2017 05.17 BST

In the ballroom of a conference centre in Denver, Colorado, 972 people from 42 countries have come together to talk about climate change. It is March 2017, six weeks since Trump’s inauguration; eight weeks before Trump will announce to the world that he is withdrawing America from the Paris Climate Agreement.

These are the early dark days of the new America and yet, in the conference centre, the crowd is upbeat. They’ve all paid out of their own pockets to travel to Denver. They have taken time off work. And they are here, in the presence of their master, Al Gore. Because Al Gore is to climate change… well, what Donald Trump is to climate change denial.

It’s 10 years since the reason for this, the documentary An Inconvenient Truth, was released into cinemas. It was an improbable project on almost every level: a film about what was then practically a non-subject, starring the man best known for not winning the 2000 US election, its beating heart and the engine of its narrative drive a PowerPoint presentation.

When the filmmakers approached him, he explains to the room, “I thought they were nuts. A movie of a slideshow, delivered by Al Gore, what doesn’t scream blockbuster about it?” Except it was a blockbuster. In documentary terms, anyway. The careful accretion of facts and figures genuinely shocked people. And it’s a measure of the impact it had, and still continues to have, that Gore delivers this vignette to a rapt crowd who, over the course of three days, are learning how to be “Climate Reality Leaders”.

Large carbon polluters have spent up to $2bn spreading false doubt
It’s the reason why we are all here – his foundation, the Climate Reality Project, an initiative that grew out of the film, provides intensive training in talking about climate change, combating climate change denial – and the tone might be described as “activist upbeat”. This is a crisis that is solvable, we’re told. Trump is just another hitch, another hurdle to overcome. And it will be overcome. Only occasionally does a sliver of despair leak around the edges. You have to stay positive, a man called David Ellenberger tells the audience. Though sometimes, he admits: “There’s not enough Prozac to get through the day.”

It’s almost a relief to hear someone acknowledge this. Because before there was “FAKE NEWS!!!” and the “FAILING New York Times!” Trump was tweeting about “GLOBAL WARMING hoaxsters!” and “GLOBAL WARMING bullshit!” The war on the mainstream media may capture the headlines currently, but the war on climate change science has been in play for years. And it’s this that is one of the most fascinating aspects of Gore’s new film, An Inconvenient Sequel: Truth to Power. Because if the US had a subtitle at the moment, it might be that, too, and the struggle to overcome fake facts and false narratives funded by corporate interests and politically motivated billionaires is one that Gore has been at the frontline of for more than a decade.

The film runs through a host of facts – that 14 of the 15 hottest years on record have occurred since 2001 is just one. And the accompanying footage is biblical, terrifying: tornadoes, floods, “rain bombs”, exploding glaciers. We see roads falling into rivers and fish swimming through the streets of Miami.

Brexit, Trump, climate change, oil producers, dark money, Russian influence, it’s all connected
The nightly news, Gore says, has become “a nature hike through the Book of Revelations”. But what his work has shown and continues to show is that evidence is not enough. The film opens with clips from Fox News ridiculing global warming. In recent weeks, the New York Times has started describing the Trump administration as waging a “war on science”, a full-on assault against evidence-based science that runs in parallel with his attacks on evidence-based reporting. And Gore is in something of a unique position to understand this. What becomes clear over the course of several conversations is how entwined he believes it all is – climate change denial, the interests of big capital, “dark money”, billionaire political funders, the ascendancy of Trump and what he calls (he’s written a book on it) “the assault against reason”. They are all pieces of the same puzzle; a puzzle that Gore has been tracking for years, because it turns out that climate change denial was the canary in the coal mine.

“In order to fix the climate crisis, we need to first fix the government crisis,” he says. “Big money has so much influence now.” And he says a phrase that is as dramatic as it is multilayered: “Our democracy has been hacked.” It’s something I hear him repeat – to the audience in the ballroom, in a room backstage, a few weeks later in London, and finally on the phone earlier this month.

What do you mean by it exactly? “I mean that those with access to large amounts of money and raw power,” says Gore, “have been able to subvert all reason and fact in collective decision making. The Koch brothers are the largest funders of climate change denial. And ExxonMobil claims it has stopped, but it really hasn’t. It has given a quarter of a billion dollars in donations to climate denial groups. It’s clear they are trying to cripple our ability to respond to this existential threat.”

One of Trump’s first acts after his inauguration was to remove all mentions of climate change from federal websites. More overlooked is that one of Theresa May’s first actions on becoming prime minister – within 24 hours of taking office – was to close the Department for Energy and Climate Change; subsequently donations from oil and gas companies to the Conservative party continued to roll in. And what is increasingly apparent is that the same think tanks that operate in the States are also at work in Britain, and climate change denial operates as a bridgehead: uniting the right and providing an entry route for other tenets of Alt-Right belief. And, it’s this network of power that Gore has had to try to understand, in order to find a way to combat it.

“In Tennessee we have an expression: ‘If you see a turtle on top of a fence post, you can be pretty sure it didn’t get there by itself.’ And if you see these levels of climate denial, you can be pretty sure it didn’t just spread itself. The large carbon polluters have spent between $1bn and $2bn spreading false doubt. Do you know the book, Merchants of Doubt? It documents how the tobacco industry discredited the consensus on cigarette smoking and cancer by creating doubt, and shows how it’s linked to the climate denial movement. They hired many of the same PR firms and some of the same think tanks. And, in fact, some of those who work on climate change denial actually still dispute the links between cigarette smoking and lung cancer.”


The big change between our first conversation in Denver and our last, on the phone this month, is the news that Gore had been desperately hoping wouldn’t happen: Trump’s announcement on 1 June that he was pulling America out of the Paris Agreement. The negotiations in Paris are right at the heart of the new film, its emotional centre, and when I watch it in March, the ending still sees Gore expressing guarded optimism.

So, what happened? “I was wrong,” he says on the phone from Australia, where he’s been promoting the film. “Based on what he told me, I definitely thought there was a better than even chance he might choose to stay in. But I was wrong. I was fearful that other countries for whom it was a close call would follow his lead, but I’m thrilled the reaction has been exactly the opposite. The other 19 members of the G20 have reiterated that Paris is irreversible. And governors and mayors all over the country have been saying we are all still in and, in fact, it’s just going to make us redouble our commitments.”

Big money has so much influence now. Our democracy has been hacked
The film had to be recut, the ending changed, the gloves are now off. What changed Trump’s mind? “I think Steve Bannon and his crowd put a big push on Trump and convinced him that he needed to give this to his base supporters. He had blood in his eyes.” It’s instructive because Bannon, Trump’s chief strategist, is also the ideologue behind Trump’s assault on the media. And Bannon’s understanding of the news and information space, and efforts to manipulate it via Breitbart News and Cambridge Analytica, both funded by another key climate change denier, Robert Mercer, are at the heart of the Trump agenda.

And what becomes clear if you Google “climate change” is how effective the right has been in owning the subject. YouTube’s results are dominated by nothing but climate change denial videos. This isn’t news for Gore. He has multiple high-level links to Silicon Valley. He’s on the board of Apple and used to be an adviser for Google. “We are fully aware of the problem,” he says with what sounds like resigned understatement. Gore has had more than a decade fighting climate change denial, and in some respects, the problem has simply worsened and deepened.

“On the other hand, two-thirds of the American people are convinced that it’s an extremely serious crisis and we have to take it on,” he says. “And there is a law of physics that every action produces an equal and opposite reaction. And I do think there is a reaction to the Trump/Brexit/Alt-Right populist authoritarianism around the world. People who took liberal democracy more or less for granted are now awakening to a sense that it can only be defended by the people themselves.

And it’s in this, his belief in social progress against all odds, that he takes his lead from the civil rights movement. The cut of the film I see compares the climate change movement to the other great social movements that eventually won out: the abolition of slavery, women’s suffrage, civil rights. Something profound and disturbing is happening right now, though, he admits. “The information system is in such a chaotic transition and people are deluged with so much noise that it gives an opening for Trump and his forces to wage war against facts and reason.”

Is it, as some people describe, an information war? “Absolutely,” he says. “There’s no question about it.”

What there isn’t much of, in the film, is Al Gore, the man. In 2010, he split from Tipper, his wife of 40 years and the mother of his two grown-up daughters, and what becomes clear is just how much of his life the fight takes up. When I catch up with him next, he’s in London for a board meeting of his green-focused investment firm, Generation Investment Management, and I ask him to tell me about his recent travels.

“Two weeks ago, I had three red-eyes in five days. I’ve been in Sweden, the Netherlands, Sharjah, then let’s see, San Francisco, New York, Los Angeles. Where else?” he asks his assistant.

“Vegas,” she says. “We did CinemaCon.”

“Vegas, we did that. And then, let’s see, Nashville, on my farm.”

I assume this amount of travel is connected to the release of the film, but no. “I’ve been at this level for the past 10 years and longer.” He hesitates to use the word “mission”, he says, and then uses it. “When you feel a sense of purpose that seems to justify pouring everything you can into it, it makes it easier to get up in the morning.”

He does tell me a bit about his parents though. He describes his father, Al Gore Sr, who grew up poor then became a lawyer and a politician, as “a hero to me”. And it was at the family farm in Carthage, Tennessee, that he held the first Climate Reality training, an informal get-together of 50 people that has morphed into the event I witnessed in Denver. There’s no “type” or demographic, I shared a table with a disparate group – including a consultant for the aerospace industry, a French lawyer and an American chef. And they seemed to have almost nothing in common aside from their passion to do something about climate change. “I’m a gardener so I’m seeing what’s happening with my own eyes,” the chef, Susan Kutner, told me. “You can’t ignore it.”

In light of Trump’s fixation with fake news, it’s fascinating to see. Gore has been fighting disinformation for more than a decade. And, he’s developed his training programme counter to the prevailing ideology. The answer is not online. Social media will not save us. We will not click climate change away. The answer he’s come up with is low-tech, old-fashioned, human. He takes the time to talk to people directly, one to one, in the hope they will speak to other people – who will speak to other people.

The course is run by Gore. He is on stage almost the entire time over three intensive days. And the heart of it is still the slideshow. One of his aides tells me how he was up until 2am the night before. “He’s obsessed with his slides, he has 30,000 of them and he switches them around all the time.”

In the film, you see him perpetually hustling, calling world leaders, rounding up solar energy entrepreneurs, training activists. Hearing information from “people you know” is at the heart of his strategy. “You need people who will look you in the eye and say: ‘Look, this is what I’ve learned, this is what you need to know.’ It works. I’ve seen it work. It is working. And it’s just getting started. We’ve got 12,000 trained leaders now.”

How many people do you think it’s impacted?

“Millions. Honestly, millions. And a non- trivial percentage of them have gone on to become ministers in their countries’ governments or take leadership roles in international organisations. They’ve had an outsized impact. Christiana Figueres [the UN climate chief], who ran the Paris meeting, she was in the second training session I did in Tennessee. And, right now, people are getting really fired up.”

Al Gore shared the Nobel Prize in 2007 for his efforts in combating climate change, but in some ways it feels like he’s just getting started. The rest of the world is only now cottoning on to the enlightenment struggle that’s at the heart of it – a battle royal to defend facts and reason against people and forces for whom it’s a truth too inconvenient to allow. For Gore, the US oil companies are the ultimate culprits, but it’s only just becoming apparent that Russia has also played a role, amplifying messages around climate change as it did around the other issues at the heart of Trump’s agenda, and we segue into his visits to Russia in the early 90s, during one of which he met Putin for the first time.

What did you make of him? “I would not have thought of him as the future president of Russia. I once did a televised town hall event to the whole of Russia and Putin was the one who was in charge of making sure all the cables were connected and whatnot.”

What does he make of the investigations into Russian interference? “I think the investigation of the Trump campaign’s collusions with the Russians and the existence of financial levers of Putin over Trump is proceeding with its own rhythm beneath the news cycle, and may well strike pay dirt.” It’s also worth pointing out that when someone passed his campaign stolen information about George W Bush’s debate research, he handed it to the FBI.

And then he amazes me by pulling out a reference to an interview I conducted with Arron Banks, the Bristol businessman who funded Nigel Farage’s Leave campaign. He’s been reading up about the links between Brexit and Trump, and Banks’s and Farage’s support of Putin and Russia. “He told you: ‘Russia needs a strong man,’ didn’t he? And you hear that in the US, and I don’t think it’s fair to the Russians. I am a true believer in the superiority of representative democracy where there is a healthy ecosystem characterised by free speech and an informed citizenry. I really resist the slur against any nation that they’re incapable of governing themselves.”

Brexit, Trump, climate change, oil producers, dark money, Russian influence, a full- frontal assault on facts, evidence, journalism, science, it’s all connected. Ask Al Gore. You may want to watch Wonder Woman this summer, but to understand the new reality we’re living in, you really should watch An Inconvenient Sequel: Truth to Power. Because, terrifying as they are, in some ways the typhoons and exploding glaciers are just the start of it.


An Inconvenient Sequel: Truth to Power is in cinemas everywhere from 18 August

Em defesa da Venezuela


E nós estamos chocados com a Máventura do Professor. Sofre de Arteriosclerose empedernida em estado caquético de demência. E continua a dirigir um Departamento ou a dar aulas ?
OVOODOCORVO

OPINIÃO
Em defesa da Venezuela
Estou chocado com a parcialidade da comunicação social europeia, incluindo a portuguesa, sobre a crise da Venezuela.

BOAVENTURA SOUSA SANTOS
29 de Julho de 2017, 6:34

A Venezuela vive um dos momentos mais críticos da sua história. Acompanho crítica e solidariamente a revolução bolivariana desde o início. As conquistas sociais das últimas duas décadas são indiscutíveis. Para o provar basta consultar o relatório da ONU de 2016 sobre a evolução do índice de desenvolvimento humano. Diz o relatório: “O índice de desenvolvimento humano (IDH) da Venezuela em 2015 foi de 0.767 — o que colocou o país na categoria de elevado desenvolvimento humano —, posicionando-o em 71.º de entre 188 países e territórios. Tal classificação é partilhada com a Turquia.” De 1990 a 2015, o IDH da Venezuela aumentou de 0.634 para 0.767, um aumento de 20.9%. Entre 1990 e 2015, a esperança de vida ao nascer subiu 4,6 anos, o período médio de escolaridade aumentou 4,8 anos e os anos de escolaridade média geral aumentaram 3,8 anos. O rendimento nacional bruto (RNB) per capita aumentou cerca de 5,4% entre 1990 e 2015. De notar que estes progressos foram obtidos em democracia, apenas momentaneamente interrompida pela tentativa de golpe de Estado em 2002 protagonizada pela oposição com o apoio ativo dos EUA.

A morte prematura de Hugo Chávez em 2013 e a queda do preço do petróleo em 2014 causou um abalo profundo nos processos de transformação social então em curso. A liderança carismática de Chávez não tinha sucessor, a vitória de Nicolás Maduro nas eleições que se seguiram foi por escassa margem, o novo Presidente não estava preparado para tão complexas tarefas de governo e a oposição (internamente muito dividida) sentiu que o seu momento tinha chegado, no que foi, mais uma vez, apoiada pelos EUA, sobretudo quando em 2015 e de novo em 2017 o Presidente Obama considerou a Venezuela como uma "ameaça à segurança nacional dos EUA", uma declaração que muita gente considerou exagerada, se não mesmo ridícula, mas que, como explico adiante, tinha toda a lógica (do ponto de vista dos EUA, claro). A situação foi-se deteriorando até que, em dezembro de 2015, a oposição conquistou a maioria na Assembleia Nacional. O Tribunal Supremo suspendeu quatro deputados por alegada fraude eleitoral, a Assembleia Nacional desobedeceu, e a partir daí a confrontação institucional agravou-se e foi progressivamente alastrando para a rua, alimentada também pela grave crise económica e de abastecimentos que entretanto explodiu. Mais de cem mortos, uma situação caótica. Entretanto, o Presidente Maduro tomou a iniciativa de convocar uma Assembleia Constituinte (AC) para o dia 30 de Julho e os EUA ameaçam com mais sanções se as eleições ocorrerem. É sabido que esta iniciativa visa ultrapassar a obstrução da Assembleia Nacional dominada pela oposição.

Em 26 de maio passado assinei um manifesto elaborado por intelectuais e políticos venezuelanos de várias tendências políticas, apelando aos partidos e grupos sociais em confronto para parar a violência nas ruas e iniciar um debate que permitisse uma saída não violenta, democrática e sem ingerência dos EUA. Decidi então não voltar a pronunciar-me sobre a crise venezuelana. Por que o faço hoje? Porque estou chocado com a parcialidade da comunicação social europeia, incluindo a portuguesa, sobre a crise da Venezuela, um enviesamento que recorre a todos os meios para demonizar um governo legitimamente eleito, atiçar o incêndio social e político e legitimar uma intervenção estrangeira de consequências incalculáveis. A imprensa espanhola vai ao ponto de embarcar na pós-verdade, difundindo notícias falsas a respeito da posição do Governo português. Pronuncio-me animado pelo bom senso e equilíbrio que o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, tem revelado sobre este tema. A história recente diz-nos que as sanções económicas afetam mais os cidadãos inocentes que os governos. Basta recordar as mais de 500.000 crianças que, segundo o relatório da ONU de 1995, morreram no Iraque em resultado das sanções impostas depois da guerra do Golfo Pérsico. Lembremos também que vive na Venezuela meio milhão de portugueses ou lusodescendentes. A história recente também nos diz que nenhuma democracia sai fortalecida de uma intervenção estrangeira.
O
s desacertos de um governo democrático resolvem-se por via democrática, e ela será tanto mais consistente quanto menos interferência externa sofrer. O governo da revolução bolivariana é democraticamente legítimo e ao longo de muitas eleições nos últimos 20 anos nunca deu sinais de não respeitar os resultados destas. Perdeu várias e pode perder a próxima, e só será de criticar se não respeitar os resultados. Mas não se pode negar que o Presidente Maduro tem legitimidade constitucional para convocar a Assembleia Constituinte. Claro que os venezuelanos (incluindo muitos chavistas críticos) podem legitimamente questionar a sua oportunidade, sobretudo tendo em mente que dispõem da Constituição de 1999, promovida pelo Presidente Chávez, e têm meios democráticos para manifestar esse questionamento no próximo domingo. Mas nada disso justifica o clima insurrecional que a oposição radicalizou nas últimas semanas e que tem por objetivo, não corrigir os erros da revolução bolivariana, mas sim pôr-lhe fim e impor as receitas neoliberais (como está a acontecer no Brasil e na Argentina), com tudo o que isso significará para as maiorias pobres da Venezuela. O que deve preocupar os democratas, embora tal não preocupe os media globais que já tomaram partido pela oposição, é o modo como estão a ser selecionados os candidatos. Se, como se suspeita, os aparelhos burocráticos do partido do governo sequestrarem o impulso participativo das classes populares, o objetivo da AC de ampliar democraticamente a força política da base social de apoio à revolução terá sido frustrado.


Para compreendermos por que provavelmente não haverá saída não violenta para a crise da Venezuela temos de saber o que está em causa no plano geoestratégico global. O que está em causa são as maiores reservas de petróleo do mundo existentes na Venezuela. Para os EUA, é crucial para o seu domínio global manter o controlo das reservas de petróleo do mundo. Qualquer país, por mais democrático, que tenha este recurso estratégico e não o torne acessível às multinacionais petrolíferas, na maioria, norte-americanas, põe-se na mira de uma intervenção imperial. A ameaça à segurança nacional, de que fala o Presidente dos EUA, não está sequer apenas no acesso ao petróleo, está sobretudo no facto de o comércio mundial do petróleo ser denominado em dólares, o verdadeiro núcleo do poder dos EUA, já que nenhum outro país tem o privilégio de imprimir as notas que bem entender sem isso afetar significativamente o seu valor monetário. Foi por esta razão que o Iraque foi invadido e o Médio Oriente e a Líbia arrasados (neste último caso, com a cumplicidade ativa da França de Sarkozy). Pela mesma razão, houve ingerência, hoje documentada, na crise brasileira, pois a exploração do petróleo do pré-sal estava nas mãos dos brasileiros. Pela mesma razão, o Irão voltou a estar em perigo. Pela mesma razão, a revolução bolivariana tem de cair sem ter tido a oportunidade de corrigir democraticamente os graves erros que os seus dirigentes cometeram nos últimos anos. Sem ingerência externa, estou seguro de que a Venezuela saberia encontrar uma solução não violenta e democrática. Infelizmente, o que está no terreno é usar todos os meios para virar os pobres contra o chavismo, a base social da revolução bolivariana e os que mais beneficiaram com ela. E, concomitantemente com isso, provocar uma ruptura nas Forças Armadas e um consequente golpe militar que deponha Maduro. A política externa da Europa (se de tal se pode falar) podia ser uma força moderadora se, entretanto, não tivesse perdido a alma.

Maduro quis votar, mas o sistema respondeu que ele não existe


Ui Ui … O Professor Boaventura vai afirmar que até o Público já “fabrica” Fake News
OVOODOCORVO

Maduro quis votar, mas o sistema respondeu que ele não existe
Presidente venezuelano passou pela vergonha de ver o seu Cartão da Pátria recusado quando tentava votar, em directo na televisão, às seis da manhã.


PÚBLICO 30 de Julho de 2017, 22:03

"A pessoa não existe ou o cartão foi anulado." Foi com esta mensagem que o sistema de voto electrónico venezuelano respondeu ao Presidente, Nicolás Maduro, quando este se tentava identificar para votar, ao lado da mulher, Cilia Flores, este domingo, noticiam os jornais espanhóis El País e El Mundo.

Maduro, que tinha convocado a imprensa para assistir à sua votação ao meio-dia, quis ser o “primeiro a dar o voto para a paz, a soberania e a independência da Venezuela” e apareceu às seis da manhã na sua mesa de voto em Catia, uma zona a oeste de Caracas, contou o jornal espanhol El Mundo. Fez questão de votar diante de alguns convidados internacionais do Conselho Nacional de Eleições para observar o sufrágio. “Oxalá o mundo ponha os olhos na nossa amada Venezuela e desista da campanha imperial que tem feito”, apelou o Presidente.

Mas o que se viu pelo ecrã da televisão estatal venezuelana VTV não foi assim tão espectacular como Nicolás Maduro desejaria. O Presidente fez finca-pé em usar, para se identificar perante a mesa de voto, o seu Cartão da Pátria, um instrumento de controlo social lançado este ano através do qual se venda a comida racionada ou se registam os benefícios sociais de cada cidadão.

“Vamos verificar o meu Cartão da Pátria para que fique registado para sempre que eu vim votar no dia histórico da Constituinte, o 30 de Julho”, enfatizou, orgulhoso, citado também pelo diário espanhol El País.

Uma assistente passou o código do documento presidencial por uma espécie de smathphone, e em poucos segundos apareceu uma mensagem surpreendente no ecrã: “A pessoa não existe ou o cartão foi anulado”. O momento foi registado em directo pela televisão nacional e imediatamente alvo de chacota pela oposição, que apontou o caso como a prova de que as eleições serão uma fraude.

A imagem do ecrã do dispositivo que a assistente da mesa de voto estava a usar foi tirada do ar e Maduro disfarçou como pôde, falando com a mulher, Cilia Flores, que é também candidata à Assembleia Nacional Constituinte, continuou a sessão de fotografias perante a imprensa e depois dirigiu-se a uma pequena mesa, encoberta por uma caixa de papelão desmontada, onde votou usando o boletim, que depois depositou numa pequena urna.


“Eles querem que acreditemos que o cartão funciona para nos controlar, mas o sistema não funciona nem com Maduro. Que ninguém se intimide!”, escreveu Julio Borges, presidente do Parlamento, na rede social Twitter, ao publicar o vídeo da tentativa de Maduro votar.

Maduro clama vitória contestada pela oposição e marcada por mortes


Maduro clama vitória contestada pela oposição e marcada por mortes
Segundo a comissão eleitoral, participação chegou aos 41,5%, o que corresponde a mais de oito milhões de votos. Oposição estima que foram 12%. Pelo menos dez pessoas morreram.

PÚBLICO 31 de Julho de 2017, 6:52 actualizada às 7:09

Mais de oito milhões de venezuelanos (41,5% dos eleitores) votaram na eleição dos 545 membros da Assembleia Constituinte, segundo os dados da Comissão Nacional Eleitoral. Um valor contestado pela oposição, que estima uma participação eleitoral de 12%, num acto marcado pela violência: segundo o Ministério Público, morreram dez pessoas no domingo.

A oposição já anunciou que não reconhece este resultados e agendou novos protestos para esta segunda-feira.

"Não reconhecemos este processo fraudulento, para nós é nulo, não existe", disse o líder da oposição Henrique Capriles, pedindo aos venezuelanos que voltem hoje a sair às ruas para contestar aquilo que qualificou como "um massacre" e "uma fraude eleitoral". Capriles agendou ainda um protesto para quarta-feira, dia em que a Assembleia Constituinte toma posse.

Já Nicolás Maduro clamou vitória. "Temos Assembleia Constituinte (...) oito milhões (de votos) no meio de ameaças (...) foi a maior votação que teve a revolução bolivariana em 18 anos. O povo deu uma lição de coragem, de valentia. O que vimos foi admirável", afiirmou Maduro, perante centenas de apoiantes que se concentraram na Praça Bolívar, em Caracas.

A Comissão Nacional Eleitoral anunciou que foram registados 8.089.320 votos, o que corresponde a 41,5% dos eleitores.

Esta jornada eleitoral ficou marcada pela violência. Segundo o Ministério Público, morreram dez pessoas, incluindo dois adolescentes de 13 e 17 anos. Quatro pessoas morreram no estado de Tachira (Oeste), na fronteira com a Colômbia, durante manifestações. Três homens foram mortos no estado de Merida (Oeste), um no estado de Lara (Norte), um no estado de Zulia (Norte) e um dirigente da oposição no estado de Sucre (Norte), indicou num novo balanço o Ministério Público venezuelano, citado pela Lusa.

O período de votação deveria ter terminado às 18h locais (23h em Portugal continental), mas a comissão nacional de eleições venezuelana decidiu prolongá-lo por mais uma hora.

Segundo diferentes jornais locais, como o Noticias24, o anúncio do prolongamento da votação foi feito pela presidente daquele órgão, justificando a decisão com o facto de "haver venezuelanos a aguardar em filas, para ainda exercerem o seu direito de voto". Sandra Oblitas acrescentou que o processo eleitorial se desenrolou com "total normalidade" – um conceito no mínimo impreciso, neste caso, visto que o Governo de Caracas proibiu, dois dias antes das eleições, as manifestações da oposição, colocou mais de 300 mil efectivos policiais e militares nas ruas e, pior que tudo, há mortes a lamentar.

Ainda as urnas não tinham fechado e os EUA reiteravam a sua posição face ao acto eleitoral, agora pela voz da embaixadora norte-americana na ONU, Nikki Haley. Num tweet publicado neste domingo à noite, a embaixadora dos EUA garantiu de novo que a sua administração não reconhecerá validade aos resultados. "Estas eleições fraudulentas são mais um passo rumo à ditadura", escreveu a representante de Washington na ONU. "Não aceitaremos nenhum governo ilegítimo. O povo venezuelano e a democracia prevalecerão", acrescentou na mensage

sábado, 29 de julho de 2017

Em Mértola falta água para tudo, até mesmo para amassar o pão




Primeiros síntomas do anunciado progressivo processo de desetificação da Península Ibérica, através do Aquecimento Global/ Alterações Climáticas ?
OVOODOCORVO

Em Mértola falta água para tudo, até mesmo para amassar o pão

A total secura que atinge furos, charcas e ribeiras em grandes extensões do território alentejano coloca os criadores de gado em situação dramática, obrigados a percorrer dezenas de quilómetros à procura de água.

CARLOS DIAS (texto) e RUI GAUDÊNCIO (fotos) 29 de Julho de 2017, 7:11

Vales Mortos é o nome de uma pequena aldeia no limite do concelho de Serpa que partilha uma realidade comum há muitos séculos no interior sul alentejano: terras pobres, improdutivas, mais dadas à criação de gado, com problemas que se agudizam em anos de seca severa ou extrema. E é o ponto de partida para um itinerário por umas das regiões mais flageladas pela seca. Para onde quer que se olhe, apenas surgem grandes extensões de terra despidas de vegetação. O verde das árvores que pontuam o território, com destaque para as florestações de pinheiro manso, já no concelho de Mértola, não basta para disfarçar a secura. Só a esteva, a última barreira à desertificação do solo, pela sua robustez e capacidade de sobrevivência em solos pobres e sem água, resiste.

Quanto mais se caminha para sul mais se acentuam os sinais da seca. Em Monte Vale Pereiro, na freguesia de Corte do Pinto, Mértola, José Almeida reparava a vedação de uma herdade onde era visível uma charca ainda com água. “Só está cheia porque a água não é utilizada.” Mas onde há gado, o caso “está complicado”, sobretudo no interior do concelho de Mértola, onde o relevo do terreno não facilita a retenção da água, explica o agricultor.

Chegados a S. Miguel do Pinheiro, freguesia que faz fronteira com a região algarvia, as consequências da escassez de água acentuam-se. António Peleja, presidente da União de Freguesias de S. Miguel do Pinheiro, S. Sebastião dos Carros e S. Pedro de Solis, diz que a população já está a ser abastecida de água potável através de autotanques.

“Primeiro deparámo-nos com o problema das rupturas na rede, que só por si representavam um desperdício de água incomportável. Depois, os furos começaram a baixar e o débito que se obtinha não assegurava o abastecimento público, sobretudo em S. Miguel e S. Pedro”, resume o autarca.

Ao fim de três anos seguidos de seca, e dada a baixa pluviosidade ocorrido no Outono/Inverno, os aquíferos subterrâneos não recarregaram o suficiente para assegurar o volume de água necessário para abastecer a população das três freguesias que, no seu conjunto, somam 946 pessoas, dispersas por um território com 275 quilómetros quadrados.

Os autotanques fazem a transferência da água para o depósito que serve as povoações e entra na rede assegurando, assim, o abastecimento, explica António Peleja, que descreve a dimensão da tarefa: “Temos cerca de 40 povoações com um número de habitantes que varia entre as duas pessoas e a centena”, sublinha. Esta realidade obriga a que tenha de ser implementado um sistema de distribuição de água em tempo de escassez muito complexo e exigente em custos, meios humanos e equipamento de transporte de água.

As consequências da escassez de água não se observam apenas no abastecimento público e no abeberamento do gado. Manuela Marques Bonito tem uma panificadora em S. Miguel do Pinheiro, onde fabrica pão alentejano. “Se não temos água, não temos pão”, sintetiza. Tornou-se frequente ir às 4h da madrugada buscar água ao furo que existe próximo da sua empresa, aproveitando o recarregamento nocturno do aquífero, para amassar entre 400 a 500 pães.

A ajuda de Alqueva
Jorge Rosa, presidente da Câmara de Mértola, diz que os problemas de falta de água já persistem “há cerca de um mês”. Neste tempo, os serviços municipais foram confrontados com a possibilidade de terem de ser desactivados “entre dez a 12 furos” que abastecem diversos aglomerados populacionais sobretudo no sul do concelho. A alternativa passa por mitigar a escassez de água através do recurso a autotanques e abrindo novos furos, explica o autarca, destacando ainda um pormenor: as altas temperaturas levam a uma maior procura do já escasso líquido, sobretudo por parte de residentes temporários que surgem nesta altura, quer sejam turistas ou emigrantes que vêm de férias, que “têm hábitos de consumo que acabam por ter impacto no aumento dos gastos de água”.

Mas a solução que vai garantir o abastecimento sem sobressaltos “reside em Alqueva”, refere Jorge Rosa, que fica a aguardar pelo cumprimento da decisão já anunciada pelo Governo de reforçar os caudais na barragem do Monte da Rocha, localizada no concelho de Ourique, e a partir daqui consolidar o abastecimento a parte do concelho de Mértola. É o que está a ser feito noutro ponto da bacia do Sado, na barragem do Roxo, onde a situação já não é, neste momento, tão dramática por estar a receber água da grande albufeira alentejana.

Mas enquanto essa ajuda de Alqueva não chega, o panorama nesta barragem é desolador. A capacidade de armazenamento máximo da sua albufeira é de 103 milhões de metros cúbicos. Neste momento está nos 13 milhões, que asseguram, com água de muito má qualidade, o abastecimento público dos concelhos de Castro Verde, Ourique e Almodôvar.

Na agricultura, o problema complica-se à medida que as charcas e os pegos das ribeiras secam. Alqueva, a mãe de água que prometeu matar a sede aos alentejanos, é ainda madrasta para um extenso território, ao qual ainda não chega. Mas este é um problema que está a começar a ser debelado, uma vez que anos seguidos de seca e fraca pluviosidade fizeram aumentar as solicitações de água à grande albufeira, obrigando a levar o precioso líquido cada vez mais longe e a mais gente.

Situação-limite
Com as temperaturas acima de 40 graus, o consumo de água nos animais duplica, explica José da Luz, presidente da Associação de Agricultores do Campo Branco (AACB), que abrange os concelhos de Castro Verde, Mértola, Ourique, Almodôvar e Aljustrel. Uma vaca consome a temperaturas normais (20 a 25 graus Celsius) cerca de 50 litros de água por dia, mas quando os termómetros tocam ou superam os 40 graus “consome cerca de 100 litros”. Na área do Campo Branco apascentam 145 mil ruminantes, entre ovinos e caprinos, e 25 mil vacas reprodutoras, efectivo que “duplica com as crias”. Fornecer água a um tão elevado número de animais obrigou os agricultores a “instalar, ao longo das duas últimas décadas, charcas e a abrir furos”, salienta o dirigente associativo. Mesmo assim, quando chegam períodos de seca severa ou extrema, o recurso aos autotanques dos bombeiros voluntários revela que se chegou a uma situação-limite, como está a acontecer.

José da Luz admitiu ao PÚBLICO que a “tendência” de agravamento que se observa neste momento pode conduzir a uma situação crítica em meados de Agosto se as temperaturas permanecerem altas. Apesar de algumas charcas ainda apresentarem alguma reserva de água, o presidente da AACB adverte para as consequências que podem resultar “para a saúde e até a vida dos animais” se consumirem uma água altamente poluída. Por isso, quando as reservas de água descem até um certo nível, “não são utilizadas”, realça José da Luz. E os criadores deixam de poder contar com estas soluções que implementaram nos últimos tempos.

Mais a sul, em S. Miguel do Pinheiro, António Jerónimo Almeida, 70 anos, é um dos poucos produtores pecuários que ainda se mantém em actividade. Preocupado, assegura que a falta de água para os animais “é, neste momento, um grande problema”. Tem os seus animais, 180 bovinos e 400 ovelhas, a consumir de pontos de água que estão “praticamente secos” e “ainda faltam dois meses até ao Outono” lembra.

Recolhe água de furos e de pegos que ainda apresentam algum caudal nas ribeiras que atravessam a freguesia, “mas dentro de dias está tudo seco”, antecipa. Acresce ainda um outro problema: a água que é descarregada a partir da mina de Neves Corvo para uma das ribeiras que deveria suportar o consumo do gado “cheira mal e até deixa as pedras negras”. A sorte é que os animais “nem as patas molham naquela água”, refere o agricultor.

As dificuldades impostas pelo tempo quente e a escassez de água recorrente reduziram substancialmente a actividade pecuária nas freguesias mais a sul do concelho de Mértola. “Na minha freguesia [S. Miguel do Pinheiro] já tivemos oito mil animais. Agora não haverá dois mil.” Só três agricultores é que ainda se mantêm. “Dá muito trabalho”, argumenta Jerónimo Almeida, acrescentando que “a rapaziada nova vai toda para o Algarve trabalhar” e “os mais velhos é que ficam”.

O receio por dias piores para o sector pecuário também está no centro das preocupações de Jorge Rosa, presidente da Câmara de Mértola. E dá conta dos constrangimentos que estão a afectar os criadores de gado do seu concelho, que já estão a recorrer aos autotanques para ir buscar água onde esta ainda existe, seja “nos pegos, nas ribeiras, nas pequenas barragens e até no rio Guadiana”. Contudo, esta está longe de ser a solução adequada para os problemas que a situação de seca impõe.


Os agricultores são forçados a percorrer dezenas de quilómetros até encontrar água para os seus animais, o que é “insustentável”, refere o autarca, frisando que ainda existem algumas reservas que entretanto irão desaparecer. Mas, à medida que crescem as dificuldades, aumenta também a solidariedade entre agricultores, com aqueles que ainda têm algumas reservas a permitirem aos que nada têm que levem água.

Is this the end of the tits and tequila culture of package holidays?


Esta notícia é dedicada ao autarca de Albufeira e aos responsáveis da estratégia do Turismo no Algarva ( e, claro … não só … incluíndo Lisboa e Porto, ou mesmo, todo o País )
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Is this the end of the tits and tequila culture of package holidays?

Boozy Brits in tabloid photos, sex games going viral: a stay in Crete’s party town of Malia helped me understand why hotels want to ban binge-drinking teenagers

• Rhiannon Lucy Cosslett is a freelance writer
Friday 28 July 2017 15.03 BST

‘A week of surnburnt binge-drinking at chlamydia-ridden foam parties has become, in the last decade or two, a rite of passage for young British people keen to blow off steam after exams.’
Friday 28 July 2017 15.03 BST Last modified on Saturday 29 July 2017 05.56 BST

Could it be curtains for the “great” boozy British package holiday? In a blow for teenage holidaymakers across the nation looking for a post-exams blowout, one of the country’s favourite party destinations – Malia in Crete – is restricting access to groups of pissed-up clubbers in favour of families from better-behaved countries. Up to 95% of the town’s hotels have banned package deals for the 18 to 30 age group (really it should be 18 to 20, because anyone who has been there will tell you that by 21 you’re already too ancient for Malia’s notorious strip), and 10,000 British holidaymakers have now been turned away.

It serves us right.

A week of surnburnt binge-drinking at chlamydia-ridden foam parties (followed, next morning, by a dose of emergency contraception and an interpretation of a “full English” involving inexplicable frankfurters) has become, in the last decade or two, a rite of passage for young British people keen to blow off steam after their exams. Resorts such as Magaluf, Faliraki, Ayia Napa, Kavos and, of course, Malia have become synonymous with a certain type of party-goer.

This is nothing new – the paralytic “Brits on tour” genre of fly-on-the-wall reality TV programming has proved itself to have much mileage, its interpretations ranging from Sun, Sex and Suspicious Parents to The Inbetweeners film. Tabloids relish the photographs of scantily-clad, vomit-strewn young women that emerge each summer, and videos of the tawdry “sex games” played in bars at the behest of tour operators go viral.

This coverage often carries an unpleasantly shaming tone, not to mention an unsavoury dollop of classism. There’s historically been a snobbery around package holidays on the part of those who seem to believe that working-class people don’t deserve or aren’t fit to travel, which ignores the fact that bad behaviour in resorts such as Malia transcends class boundaries (not to mention that a large proportion of these kids are middle class). There’s also the uncomfortable fact of our reputation as holidaymakers abroad – it’s wretched, and we all know it.

I doubt that this will have been helped by Brexit … Much of Brits’ behaviour abroad is what might be termed Brexity
I doubt that this will have been helped by Brexit. Our standing on the continent is at an all-time low. Indeed, much of Brits’ behaviour abroad – the sense of entitlement, the determination to behave in ways one never would at home, the lack of respect for cultural or linguistic diversity, the pig-headed belief (even when your head is in a toilet) that you’re somehow superior to other countries – is what might be termed Brexity. This isn’t about being a puritan who feels holidaymakers should be banned from enjoying themselves; it’s about accepting that we have a certain reputation because we have a certain genre of tourists who believe themselves to be better than everyone else, and that we should be ashamed of it.

I’ve been to Malia – despite, at 26, being far too old for it – because flying into Crete is a cheap way to get to the more sedate Cyclades islands. It has a beautiful beach and coastline, and a stunning old town full of excellent restaurants with little tables under clusters of bougainvillea, where they welcome you with open arms and serve raki that their mothers made in their bathtubs. Yet turn a corner, and you’re confronted with a teeming approximation of Watford High Street on a Saturday night (even the revolving dancefloor is imported).

You might simply conclude that I’m a stuck-up old lady for preferring the traditional side of Malia, but you have to admit that a tourist industry so focused on hammered British teenagers is going to be unpleasant for the locals. Our hotel room had a sign listing the cost of everything that wasn’t nailed down in case of breakage. Imagine dealing with that on a day-to-day basis. No wonder enraged locals in the Corfu town of Kavos have set up a Facebook group documenting bad behaviour.

There’s an assumption on the part of many British people that we can simply continue to behave this way in perpetuity, and that others should count themselves lucky that we deign to spend our tourist euros in their backyard. But people do not have infinite reserves of friendship and goodwill. Greece is one of the most beautiful and welcoming countries that I have visited, not to mention the birthplace of democracy and fried cheese (the food of the gods). Seeing how British binge-drinking culture has destroyed Malia and other resorts like it would make many of us blush.


As hoteliers begin to realise that they’d rather have a nice Dutch family as guests, and tourists become increasingly aware of the appeal of flexible travel offered by budget airlines and Airbnb, you wonder how long the tits and tequila culture of the 18 to 30 holiday can last. Perhaps we’ll mourn its demise when it comes – as the end of an era – but it would do wonders for Britain’s reputation.

Costa no seu novelo


Costa no seu novelo
O mais elementar respeito pelo país e pelos que nele habitam – aqueles que votam e elegem o poder político – obrigava Governo e oposição a terem o mais básico bom-senso

SÃO JOSÉ ALMEIDA
29 de Julho de 2017, 7:39

Como é possível o país continuar a arder sem que as populações sintam a mais leve réstia de segurança? As alterações climatéricas são uma realidade vinda para ficar, mas não chegaram de repente este Verão. Elas estão anunciadas, como anunciada estava há décadas a descoordenação e a inoperância de uma política de prevenção e de combate a incêndios descurada por sucessivos governos. Também em Espanha e França há incêndios de novo tipo, milhares de habitantes retirados das zonas ameaçadas pelas chamas. Bem pode Marta Soares vociferar contra tudo e todos, mas a verdade é que os bombeiros parecem viver ainda no século XX, à imagem de toda a estrutura de Estado relacionada com o assunto. E, enquanto o país arde, como escrevia Amílcar Correia no PÚBLICO, oposição e Governo mostram desnorte e incapacidade de responder às preocupações da população.

Ninguém espera que num mês fiquem operacionais estruturas delapidadas e retalhadas ao longo de décadas ou sejam criadas outras. Mas o mais elementar respeito pelo país e pelos que nele habitam — aqueles que votam e elegem o poder político — obrigava Governo e oposição a terem o mais básico bom senso. Pelo contrário, assiste-se a tácticas politiqueiras, sem nenhuma noção de interesse público ou dimensão de serviço público. Correm à frente ou atrás das chamas de modo a não saírem chamuscados ou a incendiarem politicamente os outros.

Do lado da oposição — e neste domínio o PCP e o BE só parecem existir para impor braços-de-ferro em votações parlamentares — o CDS apenas se mostra interessado em capitalizar politicamente através da ameaça de uma moção de censura. Ninguém percebe bem para quê, num Parlamento em que a esquerda está unida para uma legislatura. A ideia que Assunção Cristas dá, cada vez que volta à ameaça, é tão confrangedora como a imagem das populações atingidas pelo fogo a combaterem as chamas com baldes de plástico. Só que no caso das vítimas de incêndio há danos e falta de meios alternativos. No CDS parece haver tão-só chico-espertismo e ausência de qualquer ideia de país. Isto, quando a líder do CDS foi ministra da Agricultura quatro anos e não reza a história que algo tenha feito para contrariar o disparate geral das políticas florestais.

Depois da gaffe de Passos Coelho sobre os alegados suicídios — algo inexplicável em alguém minimamente preparado e que só revela desespero político —, o PSD entrou num jogo táctico de exploração de casos e casinhos — seguindo a onda da histeria das redes sociais —, numa tentativa, também ela de chicos-espertos, de provocar erosão na imagem do executivo.

Quanto ao Governo, revela uma face do primeiro-ministro ocultada nos dois primeiros anos de governação. O político hábil deixou-se desequilibrar pela turba dos acontecimentos. Não tanto pela pressão da oposição, mas pela da comunicação social, a qual reaprendeu que não tem de seguir apenas a agenda ditada pelos políticos, ainda que muitas vezes siga a histeria das redes sociais e adira a um sensacionalismo nada esclarecedor, como foi o caso do Expresso no sábado, cuja manchete não correspondia à notícia no interior, ou os vários órgãos de comunicação social que noticiaram uma lista de 72 mortos sem o confirmarem.

António Costa optou por uma táctica de disseminação de responsabilidades — como bem notou António Barreto no Diário de Notícias. Num primeiro momento, cedeu ao PSD a criação de uma equipa de peritos no âmbito do Parlamento e disparou perguntas e inquéritos, para, depois, impor a "lei da rolha" aos bombeiros. E, desde o início, desvalorizou o papel de esclarecimento público do Estado e a responsabilidade política do Governo.


Mas, perante a pressão da comunicação social, Costa despistou-se. Levado pelo seu excesso de auto-suficiência, começou a precipitar-se nas respostas, como na declaração de que estava tudo esclarecido sobre os mortos de Pedrógão. E colocou-se no "olho do furacão". Nada indica estar em causa a solidez da maioria que apoia o Governo, mas pode até acontecer que o Governo arda este Verão. Se isso acontecer, dever-se-á apenas à incapacidade do primeiro-ministro de evitar tropeçar no novelo que criou.

Sair da cinza

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Sair da cinza
Inês Cardoso
Ontem às 00:01

Tinha prometido a mim mesma não voltar a escrever sobre incêndios por estes dias. E sobretudo tentar não o fazer emotivamente. Porque é fácil, quando as coisas nos tocam muito, que nos falhe a lucidez. E o jornalismo exige-a. Mas esta tarde, ao abrir o Facebook, fui surpreendida pela partilha incessante de uma publicação que fiz esta semana, a acompanhar fotografias das terras dos meus pais após a passagem das chamas.

"Nunca me esqueço de onde venho. Do meio das estevas. Do pó. O fogo arrasa a superfície. Mas não nos leva as raízes".

Ao ver Proença-a-Nova mobilizada pela reconstrução a partir de meia dúzia de palavras, tive um sentimento misto. De imediato a confiança na resiliência e na capacidade infinita de regeneração da natureza e de quem vive em comunhão com ela. Mas logo a seguir um desconforto. Porque a vida rompe sempre, sim, mas neste caso não basta o otimismo.

Embora com características e dimensões diferentes, concelhos como Pedrógão, Sertã, Proença e Mação, ligados entre si, lidam com o mesmo drama do despovoamento. Sabem que só são notícia no verão quando as chamas dominam a agenda mediática. Sabem que os políticos do poder central raramente passam por ali. E que anos e anos de promessas de desenvolvimento do interior ficaram por cumprir.

Sem capacidade para atrair grandes empresas, com agravantes como as elevadas portagens das antigas scut, apostaram nos recursos naturais como via de desenvolvimento. As praias fluviais, os passeios pedestres, as aldeias de xisto, tudo sai enfraquecido pelas cinzas. E em territórios já de si frágeis, qual será o real impacto, nas economias locais, de incêndios tão graves?

Por agora, o Governo tem tido sorte com a incapacidade da Oposição, perdida em declarações suicidas e ultimatos caricatos. Mas há de facto um antes e um depois de Pedrógão. Não apenas pela dimensão única da tragédia, como em entrevista considerou Pedro Nuno Santos, secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, mas porque a equipa de António Costa tem de demonstrar que é capaz de ir além da gestão dos compromissos à Esquerda.


Não basta fazer declarações de amor ao interior. Os incêndios têm de ser uma oportunidade para repensar muito mais do que reformas florestais. Para olhar de uma vez por todas para esse país rural envelhecido, vazio e cansado de ver anunciadas medidas sem efeitos. Sem políticas novas, acompanhadas de investimento, por mais que as populações batalhem será difícil sair das cinzas.

O horrível “aproveitamento dos mortos”

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O horrível “aproveitamento dos mortos”

A lista dos mortos de Pedrógão nunca foi uma questão de números, mas de básica transparência no acesso à informação.

João Miguel Tavares
29 de Julho de 2017, 6:52

Uma das poucas boas notícias no meio deste terrível Verão tem sido o papel que a comunicação social tem desempenhado desde a tragédia de Pedrógão. Há vários meios que têm razões para estar orgulhosos do trabalho que têm feito — o PÚBLICO é um deles —, e eu sinto-me tanto mais à-vontade para dizer isto quanto sou altamente crítico da capacidade dos jornais nacionais para desempenharem o seu papel de watchdogs e actuarem como efectivo contrapeso num país onde o Estado detém demasiado poder e os meios de comunicação se encontram, por razões económicas, profundamente fragilizados.

A comunicação social portuguesa tem muito pouco de que se orgulhar na última década, e nalguns momentos foi até vergonhosamente cúmplice daquilo que aconteceu ao país — sim, estou a falar dos anos socráticos. Felizmente, o pós-Pedrógão tem sido outra coisa. Pela sua actuação e pela sua resiliência, os jornais têm obrigado as instituições públicas a serem mais transparentes, e têm exposto as fragilidades e contradições do Governo, exigindo mais competência ao poder executivo e colocando-se do lado das vítimas e dos cidadãos que reclamam o direito a serem informados sem subterfúgios, leis da rolha ou habilidades burocráticas. A divulgação da lista dos mortos de Pedrógão por parte do Ministério Público, e a mudança de atitude por parte do Governo depois do “está tudo esclarecido” de António Costa, devem-se ao papel da comunicação social, que não se sentiu intimidada por aqueles que a acusaram de “populismo” ou de “aproveitamento político”. Como já referi várias vezes, este país é especialista em invocar os grandes princípios para fugir às mais básicas responsabilidades na prestação de contas — os anos socráticos, mais uma vez, servem como excelente demostração desta táctica rasteira.

Agora que o número de mortos evoluiu de 64 para 64+2, há quem nos venha dizer que o Governo e os seus apoiantes é que tinham razão, e que assim se demonstrou que ninguém estava a mentir, nem a esconder vítimas. Eu próprio fui acusado de ter escrito um artigo “deplorável” na terça-feira, e de ser um dos que andam a promover a utilização “sem vergonha” dos mortos para obter dividendos políticos. Não me lixem, senhores. Quem isto afirma comete mais uma vez o prodígio de não perceber coisa alguma.

O importante não é sequer o facto de o número de mortos ter efectivamente crescido, e de se ter provado o rigor da notícia do Expresso quanto à 65.ª vítima. O importante é que isto nunca foi uma questão de números, mas de básica transparência no acesso à informação. É obviamente inaceitável num país civilizado considerar o nome de quem morre numa tragédia natural como informação privilegiada ou ao abrigo do segredo de justiça. Aliás, era tão fundamental, mas tão fundamental, que a lista se mantivesse secreta, e tão crucial, mas tão crucial, manter todos os poderes minuciosamente separados neste tema, que a lista dos mortos foi divulgada pela Procuradoria-Geral da República assim que a temperatura começou a atingir níveis proibitivos ali para os lados de São Bento.


Se alguém falhou aqui — e muito — foi a política de comunicação do Governo e das instituições do Estado, que através da costumeira falta de transparência alimentaram as teorias da conspiração. Os jornais — e os partidos da oposição — fizeram o seu papel. E conseguiram, pela sua insistência, obter com provas a verdade dos factos. Se é isto o populismo, então eu quero continuar a ser populista.

O telefone tocou, era o Governo a pedir calma. "Sr. ministro, mande isso por escrito"


O telefone tocou, era o Governo a pedir calma. "Sr. ministro, mande isso por escrito"

Adalberto Campos Fernandes não esperou pela volta do correio para responder às inquietações da Assembleia Municipal de Lisboa sobre o futuro hospital de Chelas. Ao telefone, garantiu que "não haverá menos cuidados de saúde em Lisboa, mas mais". Os deputados não querem só 31 de boca.
Ministro da Saúde telefonou para a Assembleia Municipal durante o debate sobre os terrenos do novo hospital

JOÃO PEDRO PINCHA 28 de Julho de 2017, 21:48

 A menos que tenha seguido por Correio Azul, a carta pouco meiga que Helena Roseta escreveu ao ministro da Saúde ainda não tinha tido tempo de chegar à Av. João Crisóstomo quando, esta quinta-feira, Adalberto Campos Fernandes decidiu não perder tempo e telefonou directamente a Roseta para lhe transmitir “um conjunto de coisas” sobre o Hospital de Lisboa Oriental, a construir em Chelas.

Teve muita pontaria. A assembleia municipal, a que Roseta preside, votava nesse preciso momento a venda de mais um terreno municipal ao Estado para permitir a construção do dito hospital.

 “Senhores deputados, vão poder criticar-me, mas sucedeu aqui uma questão”, disse a autarca logo depois de ter sido aprovada a venda de 28 mil metros quadrados de terreno por 4,2 milhões de euros. “Enquanto estava um dos senhores deputados a falar sobre esta matéria, eu recebi uma chamada telefónica do senhor ministro da Saúde, que eu nem sabia que tinha aquele número de telefone, directa, para me dizer um conjunto de coisas”, anunciou Helena Roseta.

Adalberto Campos Fernandes terá tentado aplacar a irritação que Roseta demonstrou na missiva que lhe escreveu na terça-feira. “O que o senhor ministro me disse foi que assumia o compromisso de que nada será feito sem o acordo da assembleia municipal, que as 875 camas do novo hospital resultam do seu desenho funcional, mas que não serão encerradas camas em Lisboa e que não haverá menos cuidados de saúde em Lisboa, mas mais”, explicou.

Por partes. A presidente da assembleia municipal decidiu escrever uma carta ao ministro porque, como o PÚBLICO deu conta, a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo deu uma resposta às dúvidas dos deputados que a autarca considerou pouco satisfatória. E não se coibiu de dizer claramente a Adalberto Campos Fernandes que, por um lado, havia uma questão democrática: “A cidade não foi ouvida e certamente não aceitará ser assim subalternizada.”

Por outro lado, e perante a informação de que a abertura do hospital em Chelas vai implicar o encerramento total ou parcial de seis hospitais do centro da cidade, Roseta assumia “não se compreender como é que um hospital de 875 camas pode substituir as 1307 camas do Centro Hospitalar de Lisboa Central”.

Com o telefonema, o ministro tentou dar resposta às duas questões. A autarca pediu-lhe que as coisas não se ficassem por um 31 de boca. “E eu disse ao senhor ministro que, em primeiro lugar, estamos em final de mandato; em segundo lugar, ‘essa informação que o senhor ministro me está a dar, tem de a mandar por escrito’ e [por fim] que irá lá receber as deliberações que nós estamos a tomar”, disse Roseta. A presidente explicou ainda que não informou os deputados deste telefonema durante a votação das propostas para não “influenciar o processo decisório”.

À semelhança do que já tinham dito na terça-feira, os deputados mostraram desagrado pela forma como a assembleia municipal foi tratada pelo ministério. “Faço-lhe notar que, formalmente, o senhor ministro não se dignou responder à presidente da assembleia. A menos que ultimamente se considere um telefonema particular [como] parte de qualquer procedimento administrativo válido, agradeço-lhe a sua posição de nos informar, mas é uma conversa telefónica particular, esta assembleia não a pode sequer levar em consideração”, observou Margarida Saavedra, do PSD. “[O ministro] quis fazer boa figura, mas, ó senhora presidente, à nossa custa o senhor ministro não faz boa figura a não ser que use os mecanismos formais”, acrescentou.

Pelo MPT, também Vasco Santos criticou o ministro. “Só agora quando sentiu que este processo estava muito molhado é que houve um telefonema salgado para resolver a situação.”


A venda dos terrenos foi aprovada com os votos contra de PSD e PAN e a abstenção de CDS e MPT. Os deputados destes partidos alegaram que se devia ter usado os terrenos como “arma” para pressionar o Ministério da Saúde.