O que seria altamente recomendável
era uma definição clara e esclarecedora por parte do Vereador Sá Fernandes dos
limites entre puro Vandalismo Camuflado sustentado por vaga argumentação
pseudo-sofisticada e “Arte Urbana” …
É perfeitamente claro que a C.M.L. ... está a
"enviar" mensagens paradoxais e pedagógicamente ambiguas ... E que
tal menos "sofisticamento" e mais obra concreta na Reablitação e
Recuperação de Lisboa ?
António Sérgio Rosa de Carvalho.
"Diferenciar o graffiti de vandalismo é o principal
objectivo destas iniciativas." ... Lê- se em baixo …
Como classificam então os orgulhosos Autarcas ( António
Costa, José Sá Fernandes, Manuel Salgado ) ... a intervenção na Fontes Pereira
de Melo ...iniciativa da autoria dos mesmos ?!?
Eu SEI ... como a classifico ...
No caso especifico na Fontes Pereira de Melo, e daquele que
constituiu um magnifico exemplo de um conjunto dos finais do sec XIX,
juntamente com o Palacio Sotto Mayor e o Valmor sede do Metro ... depois do seu
esventramento ... a intervenção “grafitti”, só serviu para alimentar e reforçar
os argumentos relativizadores do Valor Patrimonial e ajudar à
desresponsabilização dos responsáveis por essa decisão, e daqueles que
pretendem concluir que “aquilo” ... "já não vale nada”.
Verdadeiro crime de Lesa-Património, esta intervenção
“emite” em termos de Pedagogia o pior “sinal”possivel ... desprestigia o pouco
que resta, nesta zona, do Património do Sec.XIX e ilustra a confusão de valores
e a incompetência, disfarçada de sofisticamento cultural, que impera nas
cabeças dos Vereadores da C.M.L. responsáveis por este atentado.
António Sérgio Rosa de Carvalho.
Don't let urban art cover up neglect of Lisbon's crumbling
heritage Officially sanctioned graffiti artists are not the answer to
revitalising a beautiful city
The graffiti initiative highlights poignantly the total
absence of an urban strategy for regenerating the city centre. Estimates
suggest there are more than 4,600 buildings empty in the central area, 50%
either abandoned awaiting demolition or approval. Dixon mentions the Crono
Project as an alternative to "abandoning Lisbon's crumbling heritage to
the developers". Everyone likes to demonise developers, but in this case
the responsibility for such a state should be laid at the door of the planning
authorities.
John Chamberlain The Guardian, Friday 4 February 2011
Article history
“José Sá Fernandes vai declarar guerra aos graffiti em
2013.” Editado por António Sérgio Rosa de Carvalho in http://cidadanialx.blogspot.com/2012/10/jose-sa-fernandes-vai-declarar-guerra.html
Indiferentes ao consentimento,
graffiters continuam a exprimir-se nas paredes de Lisboa
Eva Massy
Texto
13 Julho, 2018
https://ocorvo.pt/indiferentes-ao-consentimento-graffiters…/
À imagem de outras grandes cidades, Lisboa também vive o
fenómeno do graffiti. O espaço público está repleto das assinaturas de quem os
pinta. Prix, Hiver e Guru (nomes artísticos) falaram com O Corvo para explicar
o que os leva a moverem-se pela cidade, deixando a sua marca nas paredes e
mobiliário urbano. O vandalismo é criticado por muitos, mas assumido por quem o
faz como uma atividade que aumenta o ego e quebra a rotina. “Poluição visual?
Nem um pouco! Graffiti é a rua a falar”, exclama Gabriel Dutra que, apesar de
pintar de forma legal e não precisar de se esconder atrás de uma alcunha,
estima e respeita os que o fazem fora das regras. Mas também há quem tenha
preocupações com o pré-existente. “Os azulejos não devem ser cobertos com
graffiti, porque quando uma coisa já é bela não precisas de embelezá-la mais”,
diz um dos artistas.
Às 4h da manhã, na Avenida Almirante Reis, Prix (nome
artístico) remexe no saco das tintas à procura de uma cor que fique bem com as
que já usou. Olha rapidamente à sua volta, antes de carregar no spray. Só fala
uma vez a peça terminada, quando desce a avenida em direção ao Martim Moniz,
acompanhada pelos amigos com quem esteve a pintar. Com um ar satisfeito e as
mãos sujas de tinta, Prix diz terem escolhido este local porque, “apesar do
grande risco em ser apanhado, a peça será vista por muita gente”.
Começou a pintar as paredes da cidade porque seguiu o
movimento de outros amigos. Pensou num tag (alcunha usada no graffiti) e
integrou uma crew (grupo de graffiters). Pinta, de preferência, acompanhada. É
uma forma de ter maior controlo sobre as consequências da ilegalidade que
comete, mas também permite ter a opinião dos amigos que a acompanham. Movem-se
em grupo, uns pintam enquanto outros olham e vigiam e depois trocam,
distribuindo cargos. “Acaba por ser todo um estilo de vida” explica, “porque é
muito fácil apegares-te à adrenalina que é e passa a ocupar a tua mente”.
Notou-se no dia em que foi comprar as tintas com alguns
amigos que também fazem graffiti. A caminho da loja, alguém pergunta onde vão
pintar esta noite. Cada um fala dos spots que tem localizado, discutem a forma
de aceder ao sítio e toda a conversa gira em torno do mesmo assunto. Trocam
opiniões, elaboram planos e organizam a noite em função da prática do graffiti.
Do alto do Miradouro do Monte Agudo, Hiver e Guru (nomes
artísticos) trocam impressões sobre um “NK” pintado a branco num dos telhados
mergulhado no horizonte. Foi Hiver quem fez a peça e acedeu sozinho ao local.
Já pintou paredes de forma legal e essa vertente permitiu explorar novas
capacidades porque, como diz, “pintar sempre sob pressão não permite atingir
níveis diferentes”. Torna-se importante treinar em ambientes calmos que
permitem explorar ao máximo as suas próprias potencialidades.
Quando as cidades promovem a prática do graffiti legal
A Câmara Municipal de Lisboa (CML) disponibiliza vários
locais que promovem o graffiti e a street art, através do projeto Galeria de
Arte Urbana (GAU). No site da GAU, para além da informação sobre os sítios que
disponibilizam, lê-se que a sua estratégia é “vocacionada para a promoção da
arte urbana e, simultaneamente, para a salvaguarda do património e prevenção do
aparecimento de intervenções vandálicas”. As empresas que fiscalizam e as
empresas que limpam poderão vir a estar em contacto direto com as juntas de
freguesia e as associações de moradores, informa um artigo publicado por O
Corvo a 28 de Março deste ano. Isso permitirá que os moradores e juntas de
freguesia passem a “fazer parte do dispositivo de vigilância dos tags e
graffitis ilegais, ajudando as empresas contratadas pela Câmara Municipal de
Lisboa (CML) a fazerem o trabalho de limpeza e de fiscalização da mesma.”
Gabriel Dutra, artista urbano e tatuador, é da opinião de
que as cidades que disponibilizam mais espaços para arte urbana contribuem para
uma diminuição do vandalismo. Sentado contra a parede de um café em Campo de
Ourique que acaba de pintar a pedido dos donos, diz que o “graffiti ilegal vem
da vontade das pessoas se quererem expressar, e o primeiro contacto é com a
rua, é pintar e escrever nas paredes. Para mediar isso torna-se necessário
incentivar o graffiti de forma legal, e mostrar que a expressão artística
violenta pode ser canalizada. É bom também para o artista porque a sua mensagem
deixa de ser vista de forma tão dura e negativa”.
Pinta somente em sítios legais cedidos pela Câmara Municipal
de Lisboa ou em eventos privados, mas adora o graffiti que considera “puro”, o
ilegal. “Poluição visual? Nem um pouco! Graffiti é a rua a falar”, exclama, com
duas canetas na mão que usou para pintar a parede do café. Pintava no Rio de
Janeiro, à noite e na rua, e explica que quando a prática é legal, perde-se a
“pica”, a adrenalina e o stress que fazem o contexto do ilegal. “A cena da rua
é real…Tem que ser rápido, tem que ser bem feito, tem que fluir. Isso de fazer
uma coisa socialmente errada é uma sensação incrível”.
Hiver, por seu lado, não acredita que o graffiti legal
reduza o vandalismo: “Criar espaços para pintar dentro das regras faz com que
mais pessoas pintem legalmente, mas não faz com que menos pessoas pintem
ilegalmente. Um caso ilustradror é o das Escadinhas do Lavra, onde o graffiti
era permitido. Deixou de o ser e continua a ser pintado todas as semanas, as
pessoas que pintam lá é que são diferentes”.
Surge então a questão de saber porque preferem pintar de
forma ilegal. A isto, Hiver responde que gosta de “usar e reclamar o espaço
público” e que prefere “ver uma cidade pintada e sentir que as pessoas estão
presentes, em vez de estar rodeado de muros cinzentos”. Prix não se guia apenas
pelo pelo lado estético e visual, diz que o graffiti ilegal é todo um movimento
e que, mesmo que pare de o fazer, a prática há de permanecer. Guru vê o
graffiti como uma zona de conforto, e aponta para um “detalhe esquecido”:
“Fazer graffiti cultiva o ego. É bom passear pela cidade e ver a minha marca e
a dos meus amigos por todo o lado. Sabe bem estar numa quantidade de sítios
ainda maior do que estavas na semana passada”.
Sentimento de apropriação da cidade
O graffiti writer alimenta-se do espaço urbano. Aproveita a
arquitetura da cidade para se exprimir de uma forma que não quer saber do
consentimento. É o que explica Gonçalo Camarate, licenciado em Antropologia
pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP), na sua tese “Olhar
os muros: Uma abordagem etnográfica do Graffiti e Arte Urbana na cidade de
Lisboa”. Pintar em locais não permitidos constitui uma atitude desafiante
perante a sociedade, ao mesmo tempo que implica um desafio para quem o faz.
Prix, que segue uma formação em cenografia na ARCO, explica porque prefere
pintar na rua: “A rua é uma galeria aberta. É um cenário já montado em que tu
só acrescentas. Tem um impacto maior e mais real!”.
Esse desafio é compensado pela satisfação em ver o seu nome
espalhado pela cidade. É como se ao pintar e pousar a sua marca, o writer se
tornasse ele próprio ator e se sentisse contribuir para a construção do espaço
público. Foi o tema central da tese de Gonçalo Camarate, que acrescenta que “a
metamorfose de espetador para ator faz-se com a apropriação dos muros da
cidade”. Para tal, não hesitam em trepar fachadas de prédios, com a ajuda de
escadotes ou com a força de braços dos amigos ao fazerem “pé-de-ladrão”. Entram
em prédios abandonados, saltando muros e vedações.
Hiver e Guru já pintaram mesmo no topo de uma grua. Sempre
alinhando o risco da ação com o prazer da adrenalina e de ver o nome escrito em
sítios improváveis. Acrescenta Hiver que é “estimulante guardar uma memória
nesses sítios onde a maioria dos cidadãos nunca irão”. Assim, o olhar do writer
sobre o seu meio transforma-se. Passa o observar o que o rodeia e “começa a
perceber a viabilidade de chegar a certos locais, o que não acontece no
graffiti legal” como explica Gabriel Dutra.
É o paradoxo entre ter de ser discreto e querer obter a
maior visibilidade possível que captiva Prix. Fala do graffiti como um
“movimento oculto”, um “mistério visível” em que “ninguém sabe quem pinta,
talvez até te cruzes com pessoas do meio, já viste as peças deles sem saber que
são deles e só o descobres mais tarde por alguma coincidência”. A vontade de
querer deixar o seu nome e o sentimento de satisfação que dá superam o medo de
arriscar uma prática ilegal. Mas, como diz Prix, “graffiti não se resume a uma
lata de spray e uma parede por pintar. É também todo o contexto que envolve”.
Ao procurar locais onde pintar, afastando-se da sua zona de
conforto, descobrindo novos lugares, o graffiti writer deambula pela cidade
como um explorador urbano. Ou como um“flâneur”, nas palavras de Hiver. Explica
que a “flânerie consiste em andar pela cidade como forma de inspiração
artística”. A palavra “flâner”, que em francês significa somente passear e
observar sem grande atividade cerebral, foi retomada desta vez implicando uma
ação. Acrescenta que “o graffiti writer é um flâneur, precisa de conhecer a
cidade, e explora-a de maneira diferente”.
Quando comparam as várias cidades onde já pintaram, tanto
Hiver como Gabriel Dutra reconhecem que a experiência é diferente. Assim, a
própria cidade, o seu ambiente e a sua arquitetura influem na maneira de fazer
graffiti e no próprio estilo. Gabriel Dutra explica: “A maneira de pintares em
Lisboa, Paris, Berlim, Rio de Janeiro, é sempre diferente. Quando começas a
entender a cidade, e como as pessoas percebem a cidade, tudo muda. É cultural.
Inclusive as cores, as formas.”
Hiver, que pintou em Berlim, onde diz que “o graffiti é
feito de traços grossos, escuros, e o que interessa é ser grande” explica que
“em Lisboa, o graffiti é mais colorido, o traço mais redondo”. Com a
experiência que teve em Berlim, reparou que lá “a ideia ao pintar uma parede é
passar por cima de tudo, não interessa se estão janelas, persianas, portas”.
Sente que em Lisboa o graffiti não é tão desrespeituoso. E que as
características da cidade têm impacto no graffiti que se faz. Não só no estilo
como na maneira de o fazer e na perceção que se tem da prática. Hiver dá como
exemplo os azulejos, que considera serem peças artísticas e, portanto, “não
devem ser cobertos com graffiti, porque quando uma coisa já é bela não precisas
de embelezá-la mais”.
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