terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Lisboa está com mau aspecto. / Lisbon looks like shit. / ( “STREET ART IS NOT ART”) / Lucy Pepper

 
“José Sá Fernandes vai declarar guerra aos graffiti em 2013.” Editado por António Sérgio Rosa de Carvalho  in http://cidadanialx.blogspot.nl/2012/10/jose-sa-fernandes-vai-declarar-guerra.html

O que seria altamente recomendável era uma definição clara e esclarecedora  por parte do Vereador Sá Fernandes dos limites entre puro Vandalismo Camuflado sustentado por vaga argumentação pseudo-sofisticada e “Arte Urbana” …
É perfeitamente claro que a C.M.L. ... está a "enviar" mensagens paradoxais e pedagógicamente ambiguas ... E que tal menos "sofisticamento" e mais obra concreta na Reablitação e Recuperação de Lisboa ?
António Sérgio Rosa de Carvalho.

"Diferenciar o graffiti de vandalismo é o principal objectivo destas iniciativas." ... Lê- se em baixo …
Como classificam então os orgulhosos Autarcas ( António Costa, José Sá Fernandes, Manuel Salgado ) ... a intervenção na Fontes Pereira de Melo ...iniciativa da autoria dos mesmos ?!?
Eu SEI ... como a classifico ...
No caso especifico na Fontes Pereira de Melo, e daquele que constituiu um magnifico exemplo de um conjunto dos finais do sec XIX, juntamente com o Palacio Sotto Mayor e o Valmor sede do Metro ... depois do seu esventramento ... a intervenção “grafitti”, só serviu para alimentar e reforçar os argumentos relativizadores do Valor Patrimonial e ajudar à desresponsabilização dos responsáveis por essa decisão, e daqueles que pretendem concluir que “aquilo” ... "já não vale nada”.
Verdadeiro crime de Lesa-Património, esta intervenção “emite” em termos de Pedagogia o pior “sinal”possivel ... desprestigia o pouco que resta, nesta zona, do Património do Sec.XIX e ilustra a confusão de valores e a incompetência, disfarçada de sofisticamento cultural, que impera nas cabeças dos Vereadores da C.M.L. responsáveis por este atentado.
António Sérgio Rosa de Carvalho.

Don't let urban art cover up neglect of Lisbon's crumbling heritage Officially sanctioned graffiti artists are not the answer to revitalising a beautiful city
The graffiti initiative highlights poignantly the total absence of an urban strategy for regenerating the city centre. Estimates suggest there are more than 4,600 buildings empty in the central area, 50% either abandoned awaiting demolition or approval. Dixon mentions the Crono Project as an alternative to "abandoning Lisbon's crumbling heritage to the developers". Everyone likes to demonise developers, but in this case the responsibility for such a state should be laid at the door of the planning authorities.
John Chamberlain The Guardian, Friday 4 February 2011 Article history
Lisboa está com mau aspecto. / Lisbon looks like shit. / ( “STREET ART IS NOT ART”)
Lucy Pepper 
11/1/2015 / OBSERVADOR
Cresce como o bolor, sobe pelas paredes e pelos muros, deixando manchas pretas e feias. Esta cidade está a ser comida vivo pelos graffiti.

Cresce como o bolor, sobe pelas paredes e pelos muros, deixando manchas pretas e feias. A única coisa que o impede de chegar mais acima é a altura média dos adolescentes da espécie humana.

Esta cidade dos séculos XVI, XVII, XVIII, XIX e XX, esta jóia barroca à beira Tejo, a cintilar sob a luz de um sol singularmente brilhante, que saltita entre o céu e o oceano Atlântico, está a ser comida vivo pelos graffiti.

As fotografias que aqui podem ser vistas foram tiradas em não mais do que um quarto de hora.

Ao nível mais baixo, os graffiti são representados pelo “tagging” nojento, feito por idiotas que rabiscam os seus nomes em qualquer superfície, independentemente de quão preciosa seja essa superfície, apenas porque lhes apetece e porque podem. De mistura com os nomes, aparecem as anedotas e ditos supostamente subversivos, os insultos racistas e as declarações de amor.

Também há, por tudo quanto é sítio, aquela coisa hedionda que são os nomes escritos em letras do tamanho de uma pessoa, redondas e cheias, altamente coloridas e brilhantes, e que, tal como a música de dança dos anos 90, nunca mudam: têm o mesmo aspecto que tinham em Nova Iorque nos anos 70 e não são mais interessantes do que qualquer coisa que uma miúda desenha no estojo dos lápis. São tão entediantes e subversivas como um pano molhado caído no chão. Há ainda os graffiti hipster, estranhos e surreais, e que ou são irónicos ou tão profundos que ninguém, além dos hipsters, os podem entender.

Anarquistas e comunistas sentem-se a vontade para pintar as suas banais chamadas às armas ou aos protestos porque acham que os muros não pertencem a ninguém (os anarquistas) ou pertencem a todos igualmente, mas mais igualmente a eles próprios (os comunistas). Pergunto-me quantas conversões às suas crenças eles obtiveram desta maneira. Nos dias da censura de Estado, podia-se desculpar os escritos nas paredes. Mas, hoje, temos a internet.

A cultura dos graffiti é uma cultura de “wise-assery”, de plágio e de repetição, tudo a fingir que é rebelião… rebelião sem muita causa, além da sujeira que ninguém consegue limpar.

Agora, temos de chamar aos graffiteiros “street artists”, senão eles põem-se a chorar lágrimas de tinta permanente. Pior ainda, graffiti de todas as espécies estão a ser encorajados vivamente… por nós. Nestes últimos anos, a “street art”, ou “arte urbana”, tem sido nobilitada por umas secções do mundo das artes e, mais estúpida e irritantemente, pelas câmaras municipais. É preciso dizer que todos foram ludibriados.

A maior parte da arte urbana permitida e promovida é tão feia como qualquer “tagging”. Não tem graça, nem espírito, nem imaginação, nem talento (um “aside”: existe um artista urbano de que gosto muito, não só porque é tecnicamente brilhante, mas também porque trabalha com/dentro/e através da matéria prima dos edifícios que desfigura/reconfigura. Ele é o Vhils, e é o único).

A aceitação súbita da arte urbana por pessoas normalmente de bom senso tem legitimado e encorajado toda a espécie de “artistas” de graffiti do mundo. Banksy, a pregar aos já-convertidos com os seus “stencils”, entrou nos corações de quase toda a gente e tornou aceitável o hábito de pintar banalidades com “stencils” em toda a parte.

Já ouvi o argumento de que a arte urbana autorizada ajuda a reduzir a quantidade de graffiti de baixo-nível perpetrados pelos idiotas. Bem, saia de casa e veja se reduziu. Melhor, vá ver uma peça de arte urbana autorizada e há-de reparar que está coberta de “tagging” e de tretas: nem a “arte urbana” escapa aos graffiteiros…

Também já ouvi o argumento de que os graffiti dão voz a toda a gente, especialmente aos mais pobres. É um argumento de treta. Sabem quanto custam essas latas de tinta?

A arte urbana é a roupa nova do imperador numa lata de tinta, executada em tamanho grande numa parede ainda maior. Quem tem menos de 65 anos, geralmente não se atreve a protestar contra “a arte urbana legítima”, com medo de que os seus amigos o achem um velho chato, e relutantemente diz que o Banksy tem interesse e que as tretas pintadas naquele prédio têm os seus méritos (quando sabe que não têm). Muitos dos artistas urbanos legitimados são artistas horríveis tecnicamente e também em termos de gosto, de criatividade e de respeito pelas cidades que lhes dão tela na forma de espaço. Nobilitar a sua arte é como nobilitar as tralhas que se encontram numa feira suburbana de artesanato, tralhas como aquelas coisas de malha na forma de uma boneca, com vestido grande, para cobrir rolos de papel higiénico.


Mas espere, pensando bem, talvez fosse preferível nobilitar aquelas coisas de malha na forma de uma boneca para cobrir os rolos de papel higiénico, porque ao menos eu poderia sair a meio da noite e pôr-lhes um fósforo. Desapareciam num instante.

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