O tom polémico e
o trabalho “Jornalístico” de José Rodrigues Santos sobre as Eleições Gregas
A seguir à
primeira parte do texto de Raquel Varela ( que foi excluído aqui/ ver link em
baixo ) , onde como participadora na RTP, presta uma ligeira “vassalagem” à
existência do “contraditório” na RTP, segue-se o “fulcro” da questão ... que o
OVOODOCORVO publica ...
( ... ) “Feito
este sincero introito, não posso deixar de dizer que tenho acompanhado as
reportagens de José Rodrigues dos Santos na Grécia e acho que merecíamos, num
caso central como as eleições, gregas, mais e melhor. Ontem - deve ainda estar
online - a reportagem era sobre "uns malandros de uns gregos que têm
muitas piscinas, não pagam impostos, ganham de salário mínimo 750 euros e
querem que a Europa pague a conta". Eu estava num jantar de amigos onde
havia, entre os presentes, pelo menos um jornalista, uma especialista em fundos
de pensões e bancos e um economista, entre outras pessoas que acompanham com
atenção e cuidado a política na Europa. E parámos estarrecidos para assistir à
reportagem, que foi o tema de conversa da hora seguinte.
Imagino que na
Grécia há muitos malandros. Tenho visitado o país todos os anos desde 2008 em
conferências sobre a situação social da Europa e dos gregos e, não sendo eu nem
de perto nem de longe uma especialista na matéria, achei que JRS caiu numa
caricatura desnecessária. Alguns dados: quem menos paga impostos na Grécia são...os
armadores gregos e os Bancos, aliás, salvos pela Europa porque a exposição da
banca francesa e alemã à dívida grega era brutal. Quanto? 90%, valor exacto,
dos 250 mil milhões de euros de empréstimos da Europa à Grécia foram para pagar
aos bancos alemães e franceses e 10% para... a própria Banca grega. O "
creative accounting" depois de 1999 - a aldrabice das contas públicas
gregas -, foi feita com a assistência técnica da UE e da Goldman Sachs porque a
Grécia foi usada como ponte para a reconstrução do sistema financeiro dos
balcãs, depois do desmembramento da ex-Jugoslávia. Uma das últimas medidas de
arraso com as pequenas e médias empresas gregas foi a obrigatoriedade das
cooperativas de leite grego terem um prazo de validade do mesmo até 12 dias, o
que só é possível com técnicas de conservação que só têm os holandeses e
alemães, ansiosos por exportar excendentes de leite, financiados pela PAC. São
estas pequenas cooperativas que fogem também aos impostos, porque se não
fugirem desaparecem. Eu não tenho o entusiasmo apocaliptico que a maioria das
pessoas têm sobre esta coligação, desde logo porque acho impossível manter a
Grécia no Euro, manter o Euro vivo, na verdade, e acabar com a austeridade, há
uma quadratura do círculo que nem o Syriza quer enfrentar - mas onde o Syriza
governa localmente, nas ilhas jónicas e Ática, foram reduzidos os impostos para
as PMEs e pela primeira vez os bancos e grandes superficies comerciais passaram
a pagá-los.
Uma nota ainda
sobre o salário mínimo. A Grécia não tem um salário social na área da saúde
(Estado Social), ou seja, um serviço universal pago com impostos, o salário é
ligeiramente mais alto porque contempla o pagamento privado da saúde - a
manutenção da força de trabalho - que é toda paga (um parto custa 700 euros, um
rx 100 e uma cesariana 1200, por exemplo). Neste momento, aliás, há 3 milhões
de pessoas sem qualquer acesso à saúde, que está a ser prestado em forma de
serviço voluntário por médicos militantes, às centenas. Dois deles são meus
amigos, recebem-me todos os anos na sua casa, e vejo-os chegar a casa, 12 horas
depois de saírem para trabalhar, com 40% menos de salário dos que em 2008, e
beber mais um café e ir para uma clínica às 9 da noite dar consultas gratuitas.
Há muitos malandros no mundo e a boa informação fala-nos deles…mas também dos
outros. Aliás, a boa informação tem pelo menos 90% de factos e 10% de
interpretação.”
Raquel Varela
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