( ... ) “A União
Europeia carece de um corpo – verdadeiramente europeu e não unicamente nacional
– de polícia que fiscalize as suas fronteiras externas terrestres, marítimas e
aéreas.”
“2. Toda a
discussão que atinge as dimensões da liberdade e da segurança anda, nestes
dias, à volta de Schengen e dos seus alegados malefícios. São muitos os
políticos oportunistas que, por toda a Europa, atribuem à inexistência de
controlos fronteiriços terrestres a responsabilidade por níveis acrescidos de
insegurança. Há até quem vá mais longe e, simplesmente, à boa maneira do UKIP,
e até do Governo inglês, faça da mera liberdade de circulação o inimigo a
abater. E não falta quem veja, sem mais, todo o mal na imigração e procure
fazer dela o bode expiatório dos problemas europeus. Muitos são também, e por
outro lado, os que, com doses variadas de idealismo, recusam toda e qualquer
alteração no sistema de Schengen, por receio fundado de um aproveitamento deste
ensejo para realizar outros desideratos (designadamente, visando enfraquecer a
União Europeia enquanto tal).
É natural que
seja necessário encontrar aqui soluções intermédias, que possam dar
operacionalidade aos controlos policiais e militares e que possam estabilizar
as expectativas e apaziguar as angústias das populações no seu quotidiano. Toda
e qualquer restrição deve ser precária e provisória, organizada e levada à
prática de maneira a que os níveis de liberdade e de não intromissão possam ser
repostos com a maior celeridade. A questão principal, porém, é justamente a do
médio prazo e das políticas estruturais.
É evidente que a
criação de uma unidade destas pressuporia a definição de uma política comum de
mobilidade, de migração, de asilo e de auxílio humanitário, em especial em face
de países terceiros. E também que seria necessário conciliar, nestes corpos
policiais, os níveis adequados de “europeização” com uma presença nacional que
assegurasse a preservação dos interesses vitais de cada Estado. É absolutamente
necessário melhorar os controlos nos limites territoriais externos da União, é
imprescindível aumentar os padrões humanitários de tratamento dos milhares de
pessoas que ilegalmente afluem à Europa e isso só é possível com uma guarda
europeia. Eis uma solução de médio prazo que pode muito bem ser o embrião de
uma futura defesa europeia, combinando capacidades policiais e militares e
ocupando as dimensões marítima, terrestre e aérea do território Schengen. Nem
sempre mais segurança significa menos liberdade.”
PAULO RANGEL 20/01/2015
/ PÚBLICO / “Por uma guarda fronteiriça europeia”
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