Eurogrupo quer negociações
baseadas na "ambição comum" de manter o euro
MIGUEL CASTRO
MENDES (Bruxelas) e SÉRGIO ANÍBAL 26/01/2015 - PÚBLICO
Responsáveis políticos da zona euro dizem estar abertos à negociação mas
recusam ideia de perdão de dívida
Declarações
prudentes, abertura às negociações, mas nem um milímetro de cedência face à
ideia de perdão de dívida ou de incumprimento das actuais regras orçamentais
europeias. Foi assim que os ministros das Finanças do resto da Europa reagiram
no dia a seguir à confirmação da mudança de liderança na Grécia.
Da reunião do
Eurogrupo realizada nesta segunda-feira não saíram, como já se esperava,
quaisquer decisões relativamente à Grécia. Mas a vitória do Syriza e as
negociações que agora deverão começar para a finalização do actual programa grego
e de um eventual futuro acordo dominou o debate e as declarações à imprensa dos
responsáveis europeus.
O presidente do
Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, na conferência de imprensa que se seguiu ao
encontro, fez o máximo esforço para manter as declarações o mais neutrais
possível. Começou por dizer que todos os ministros das Finanças da zona euro
concordaram que se deve respeitar o resultado das eleições gregas e dar tempo
ao novo governo para formular as suas próprias posições.
Interrogado sobre
se acha que o programa do Syriza é compatível com as exigências que constam do
programa de resgate, preferiu focar-se na intenção expressa pelo Syriza de
manter a Grécia na zona euro. Dijsselbloem disse que as negociações com Atenas
terão como ponto de partida “a ambição comum” de a Grécia continuar com o euro
como divisa.
O presidente do
Eurogrupo já falou ao telefone com Yanis Varoufakis, apontado como o futuro
ministro das Finanças do governo Syriza, tendo-lhe dado os parabéns e
expressado a sua vontade de começar a trabalhar o mais cedo possível com o novo
governo grego. De seu lado, Varoufakis terá reiterado que tem como prioridades
manter a Grécia no euro, e encontrar soluções que sejam produtivas para os dois
lados. Uma das questões de ordem prática que irá estar, no curto prazo, em cima
da mesa das negociações será a da eventual necessidade de prolongar o actual
programa grego. Quando o anterior primeiro-ministro grego, Antonis Samaras,
convocou as eleições, o Eurogrupo decidiu prolongar o final do programa de
Dezembro para o fim de Fevereiro. Agora existem dúvidas se esse prazo será
suficiente para que o novo executivo chegue a acordo com as autoridades
europeias.
Dijsselbloem
declarou que ainda é cedo para se pronunciar sobre este tema. Notou contudo que
se ganhou algum tempo com a constituição rápida do governo e disse que o
Eurogrupo ainda vai esperar pelo início das negociações para ver se haverá
tempo de concluir o programa até 28 de Fevereiro.
Manter o programa
em aberto é importante porque, por exemplo, o BCE já avisou que, sem um
programa em vigor, deixará de emprestar dinheiro aos bancos gregos. Os responsáveis
europeus deixaram ainda claro que ceder às propostas do governo liderado por
Alexis Tsipras, de reestruturação de dívida e de fim da austeridade, não está
nos seus planos.
Jeroen
Dijsselbloem salientou que “fazer parte da zona euro significa que é preciso
respeitar o conjunto dos acordos feitos no passado” e revelou que um perdão de
dívida não era uma ideia bem recebida pela generalidade dos ministros das
Finanças.
Klaus Regling,
presidente do fundo de resgate europeu, interrogado sobre se a proposta do
Syriza de reestruturar dívida grega está a ser considerada pelo EFSF (que detém
actualmente 44% da dívida grega), realçou que já muito foi feito para ajudar a
Grécia, através de reduções de taxas de juro e extensão dos prazos de
maturidade, parecendo por isso excluir qualquer tipo de acordo que implique
perdas directas para o fundo de socorro europeu.
Antes disso, em
conferência de imprensa realizada em Bruxelas, o porta-voz da Comissão
Europeia, Margaritis Schinas, afirmou que a instituição “respeita a escolha
soberana e democrática do povo grego”.
“Estamos prontos
para negociar com o governo grego assim que for formado. A Grécia tem feito
progressos notáveis nos últimos anos, e continuamos prontos a ajudar a Grécia a
avançar nas reformas que faltam”, disse.
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