Carne picada vai ser mais
fiscalizada mas não proibida
Governo lança plano para formar comerciantes sobre o uso de sulfitos e
outros produtos
Cláudia
Bancaleiro e Ana Rute Silva/ 30-1-2015 / PÚBLICO
O Governo vai
criar um plano nacional para melhorar a formação dos comerciantes sobre o uso
de sulfitos e outros produtos na carne picada. Depois da reunião da Comissão de
Segurança Alimentar, a Secretaria de Estado da Alimentação sentou-se à mesa com
a Associação Nacional de Municípios e a Associação Nacional de Médicos
Veterinários dos Municípios e acordou “intensificar todo o plano de controlo
oficial”.
De acordo com
Nuno Vieira e Brito, secretário de Estado da Alimentação, este plano estará
concluído na primeira quinzena de Fevereiro e deverá “dotar o retalho de
formação e informação, através das boas práticas necessárias para esta
actividade”. Os laboratórios do Estado também terão um reforço de equipamentos
e deverão aumentar a actual capacidade de fazer análises regulares à carne que
é vendida nos talhos nacionais.
Nuno Vieira e
Brito diz que a intenção é que os médicos veterinários municipais façam
inspecções ao comércio da sua área. Admite que até agora “não havia uma
articulação de meios para este sector” em concreto, nem era dada formação
adequada. “A expectativa é dar mais formação e informação, evitando maus
procedimentos. O que nos interessa é o cumprimento da lei”, disse ao PÚBLICO.
A par da
formação, haverá mais fiscalização à carne picada que é vendida nos talhos, mas
não está prevista a proibição de venda do produto. A Comissão de Segurança
Alimentar foi convocada após um estudo da associação Deco ter revelado falhas
na higiene e conservação de carne picada à venda em 26 estabelecimentos, que na
maioria adicionavam ainda sulfitos ao produto para o tornar mais atraente.
“A carne picada
pode e deve ser consumida no momento em que é picada”, afirmou o secretário de
Estado da Alimentação e da Investigação Agro-alimentar, Nuno Vieira e Brito, no
final do encontro, repetindo um conselho que tem sido partilhado tanto pela
Deco como pela Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE). O
secretário de Estado reforçou que não está em cima da mesa a “proibição da
utilização de carne picada” pelo consumidor.
“Saímos do
encontro com a convicção de que vão ser reforçados os controlos sobre os
produtos de carne picada”, resumiu, por sua vez, ao PÚBLICO Nuno Lima Dias,
técnico da Deco e um dos responsáveis pelo estudo que chumbou 26 talhos da
Grande Lisboa e Setúbal e do Grande Porto por falta de qualidade de carne de
vaca picada vendida.
Após a reunião,
onde esteve também representado o Ministério da Economia, através do seu secretário
de Estado adjunto, a ASAE, institutos, confederações, federações, associações e
distribuidores, num total de 12 representações, o técnico da Deco disse que a
associação “reafirma todas as conclusões da sua investigação”, nomeadamente a
ilegalidade de adicionar sulfitos à carne picada. Este ponto tem sido o centro
de uma polémica que se instalou entre a Deco e a ASAE, que na última
terça-feira questionou a clareza e cientificidade da metodologia usada pela
associação de defesa do consumidor para a realização do estudo, considerando
ainda que a amostra reunida — carne de vaca picada de 26 talhos — foi
“claramente insuficiente tendo em conta o universo em causa, condicionando as
conclusões divulgadas”.
Na questão dos
sulfitos, substâncias que evitam o desenvolvimento de microrganismos e ajudam a
manter a cor original dos alimentos, a autoridade argumentou que se trata de
“aditivos alimentares aprovados como conservantes que podem ser utilizados em
variadíssimos géneros alimentícios”. A Deco insiste na
ilegalidade da utilização de sulfitos.
Cowspiracy: O documentário que anda a fazer veganos vai ser exibido em Lisboa
5/1/2015 /
OBSERVADOR
São vários os relatos pelo mundo de pessoas que viram o filme e decidiram
mudar a alimentação, não para proteger animais, mas para salvar o planeta. O
apresentador português João Manzarra é um deles.
Comer animais
pode ser mais prejudicial para o planeta do que tomar duches longos e conduzir
carros poluentes. A pegada ecológica causada pela agricultura animal, e ainda
pouco conhecida, é o tema de “Cowspiracy”, cuja estreia em Portugal acontece no
sábado, 10 de janeiro, às 11h00, no cinema do Saldanha Residence, em Lisboa. A
sessão, que inclui debate com os realizadores e mostra de gastronomia, esgotou
em poucos dias, pelo que foi adicionada uma nova data para o dia seguinte.
“O ‘Cowspiracy’
pode ser o mais importante filme feito para inspirar a salvação do planeta“. O
elogio é forte, mais ainda porque veio de Louie Psihoyos, realizador de “The
Cove” (“A Baía da Vergonha” é o título em português), documentário
norte-americano sobre a caça de golfinhos no Japão e que venceu o Óscar de
melhor documentário em 2010.
O título do filme
realizado por Kip Andersen e Keegan Kuhn é um trocadilho entre as palavras vaca
(cow) e conspiração (conspiracy), mas “Cowspiracy” tem mais a ver com factos do
que com teorias da conspiração, factos que mostram a existência de um problema
maior do que todas as vacas que habitam a terra: a pegada ecológica causada
pela criação de animais para alimentação. A partir daí, os realizadores
questionaram várias Organizações Não Governamentais (ONG) ambientalistas, como
a Greenpeace, sobre porque é que a questão não está a ter a atenção que merece.
As reações compiladas no filme surpreendem.
Os vários casos
de pessoas por todo o mundo que deixaram de comer carne, ou que renunciaram aos
produtos de origem animal, podem fazer com que “Cowspiracy” pareça mais uma
ação para proteger os direitos dos animais, mas não, não restem dúvidas: este é
um filme ambientalista. Se não sabia que 51% das emissões de gases responsáveis
pelo efeito estufa são causadas pela pecuária e atividades relacionadas (dados
do Worldwatch Institute), eis a razão por que os realizadores decidiram avançar
com as filmagens.
“Fiquei chocado
por aos 29 anos de idade estar completamente deslocado do problema principal de
insustentabilidade do planeta”, disse o apresentador João Manzarra ao
Observador. “O documentário é muito factual, trata de problemas reais e
devastadores que não são tratados nem pela maioria das ONG, e que são ignorados
pela maioria das pessoas”. Em Portugal, João Manzarra é o exemplo mais
mediático da influência de “Cowspiracy”. “Vi-o no dia 19 de novembro e fui
confrontado com toda a sua informação no voo entre Amesterdão e Lisboa”,
contou. “Quando terminou comprometi-me a não alimentar mais a criação de gado
até surgir um contraditório convincente para os problemas expostos no filme, o
que não aconteceu até hoje”.
Desde então que o
apresentador se tornou vegano, ou seja, não consume nenhum produto de origem
animal, seja carne, peixe, laticínios ou ovos. O adeus ao sushi foi difícil,
mas a derradeira prova foi a venda da sociedade na Petisqueira Matateu, que
abriu em 2013, no Estádio do Restelo. Terminou assim o confronto de
consciência. Mas começou também o julgamento público. “Jamais esperei o tamanho
do impacto que esta decisão pessoal causou. Recebi os maiores elogios e as
maiores ofensas de toda a minha vida, as pessoas têm uma ligação emocional
muito forte ou com os animais ou com o sabor deles”, disse.
O passo seguinte
foi contactar os realizadores, no sentido de transmitir que o esforço e o trabalho
colocados na realização da narrativa tinha atravessado o Atlântico até Portugal
e que tinha “mudado consciências”. Rita Silva, presidente da ONG portuguesa
ANIMAL, também já tinha mostrado interesse em exibir o filme em Portugal, por
isso os realizadores puseram os dois em contacto e assim foi possível organizar
os dois visionamentos em Lisboa.
“Enquanto
profissional da área senti que o documentário estava muito bem conseguido, é
inteligente e factual. Acho que eles são heróis”, disse ao Observador Rita
Silva, que já conhecia Kip Andersen e Keegan Kuhn. Dedicada à causa animal há
11 anos e vegana há uma década, Rita Silva acreditou sempre que “Cowspiracy”
teria uma boa adesão do público português, mas confessou que não imaginava que
“fosse tão grande”. A visibilidade que João Manzarra tem dado nas redes sociais
ajudou. “O facto de ele ter partilhado uma coisa que mexeu com ele, sem impor
nada, fez com que as pessoas ficassem muito mais ligadas a isto. É importante
que as pessoas vejam o filme pelo filme e que quaisquer mudanças que façam seja
pelas razões certas”, defendeu.
Mudanças. Depois
do visionamento, Rita Silva quer ver resultados e, para isso, organizou um
debate, no qual os realizadores do filme, Kip Andersen e Keegan Kuhn, vão
participar por videoconferência. “Que seja esclarecedor e imparcial, que se
encontrem soluções e que se explique como agir localmente” são os frutos que
João Manzarra espera que nasçam da conversa. No espaço do cinema vão estar
também algumas bancas de comida “para desmistificar o que as pessoas têm como
uma coisa complicadíssima, que é não comer animais”, adiantou.
Os bilhetes para
a primeira sessão já esgotada custavam 6,50 euros cada. Para a sessão extra de
dia 11 de janeiro, também às 11h00, custam 4 euros, valor menor que se
justifica pela ausência de debate e de degustação de produtos de origem vegetal
que vai ter lugar no dia 10. Todo o dinheiro dos bilhetes reverte a favor da
causa: 25% da receita será entregue à Animals United Moviment Films & Media
e 75% à ANIMAL.
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