DPC: O novo dono disto tudo?
Por Luís Rosa
publicado em 19
Jan 2015 in
(jornal) i online
Entre jornais,
telefones, banca, petróleo, papel higiénico, agricultura e turismo, Proença de
Carvalho ainda consegue arranjar tempo para tratar das queixas de Sócrates
contra os media
Daniel Proença de
Carvalho começa a ganhar a aura de novo dono disto tudo. Especialista em
direito penal, arbitragem, fusões e aquisições, o seu escritório tem como
clientes algumas das principais empresas portuguesas, sendo que o próprio
advogado é presidente do conselho de administração da cimenteira Cimpor e da
Controlinveste Conteúdos (detentora do "Diário de Notícias",
"Jornal de Notícias", TSF, entre outras empresas de comunicação
social), lidera a operação de compra da Portugal Telecom (PT) por parte dos
franceses da Altice e é presidente da assembleia- -geral de 26 sociedades
comerciais como a holding da Galp Energia, o Banco Espírito Santo Investimento
ou a Renova. Tem como clientes particulares José Sócrates, Ricardo Salgado e
outros portugueses igualmente ilustres. Politicamente situa-se à direita mas
consegue ter boas relações tanto com o PSD e com o CDS como com o PS. Mais do
que um homem importante, não será exagero afirmar que Proença de Carvalho é o
advogado mais influente do país neste momento. É um facilitador de soluções
para problemas comerciais, administrativos e até criminais.
Entre jornais,
revistas, rádios, telefones, petróleo, gás, banca, papel higiénico, agricultura
e turismo, Proença de Carvalho ainda consegue arranjar tempo para tratar de
processos menores como as queixas criminais e administrativas que José Sócrates
interpõe contra a comunicação social. Nas escutas do processo Sócrates,
existirão indícios de que Proença de Carvalho terá tentado influenciar o juízo
de Carlos Magno, presidente da Entidade Reguladora para a Comunicação Social
(ERC), sobre as queixas apresentadas por Sócrates contra o jornal "Correio
da Manhã", assim como existirão indícios de que o ex- -primeiro-ministro
influenciou a escolha de jornalistas para as direcções dos títulos da
Controlinveste. O que já não é novidade.
Sabemos pelo
processo Face Oculta que José Sócrates tem uma atracção especial pelo controlo
da comunicação social que lhe é hostil. Instrumentalizou a PT para comprar a
TVI e o grupo Cofina, tentou fechar o semanário "Sol" através do seu
amigo Armando Vara e colaborou activamente na escolha das direcções dos media
detidos por grupos "amigos" enquanto foi primeiro- -ministro.
Novidade é ter um
líder de um grupo de comunicação social que ao mesmo tempo é representante de
tantos e tão diversos interesses. Isso pode colocar problemas em dois planos. O
primeiro é o jornalístico, já que ao mesmo tempo que Proença de Carvalho lidera
órgãos sociais da Galp, Cimpor, BESI, Renova ou (futuramente) da Portugal
Telecom, os "seus" jornalistas terão de escrutinar essas empresas. O
segundo prende-se com a concorrência. Ao mesmo tempo que Proença de Carvalho
tem de assegurar a viabilidade financeira da Controlinveste, também tem
influência junto de empresas que são dos principais anunciantes na comunicação
social. Numa altura em que se fala tanto de liberdade de imprensa, estas duas
questões deviam preocupar a ERC pela simples razão que é seu dever assegurar
"a independência" dos media "face aos poderes político e
económico" e promover "o regular e eficaz funcionamento do
mercado".
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