Durão Barroso odeia Durão Barroso
Por Luís Osório
publicado em 28
Jan 2015 in
(jornal) i online
Numa frase,o jovem Durão Barroso, esta semana homenageado por Angela
Merkel, seria o primeiro a gritar palavras de ordem e a organizar motins contra
o Durão Barroso maduro
A chegada ao
poder de Alexis Tsipras é uma tragédia para Durão Barroso. Até ao passado
domingo era indesmentível que os revolucionários jamais poderiam alcançar o
poder numa sociedade plural e burguesa por meio do voto. Essa foi talvez uma
das razões para que centenas de rapazes e raparigas tivessem mudado com os anos
de azimute e convicções.
Jovens
revolucionários poderiam baptizar os filhos com o nome de Ernesto ou Rosa, ter
posters iconográficos da Revolução de Outubro, viajar de inter-rail ou à
boleia, ver sessões contínuas de Bergman, acompanhar os sucessores de Sartre ou
Camus, defender os direitos das minorias e acreditar em novas palavras e numa
sociedade livre e sem amos. Poderiam tudo defender na sua juventude, mas
continuarem a acreditar nisso aos 40 seria uma prova de demência, um
insuportável ridículo. Quantas vezes ouvi dizer, até por respeitável gente de
direita, que é saudável ser-se revolucionário até aos 20 e despropositado
depois? Aos 40 anos é tempo de estarem bem colocados, de vestirem bons fatos,
de ter carros e poder, de alcançar a maior quantidade de poder que lhes for
possível. Essa é a história de vários jovens revolucionários de outrora, é a
história de Durão Barroso, um dos mais relevantes maoistas do MRPP, que, com
engenho e talento, fez uma transição pragmática para o grande poder.
Barroso, se nos
dias que correm fosse jovem, estaria na linha dos que exultam com Tsipras. Teria
estado nas manifestações de Atenas e celebrado a oportunidade de mudar o mundo
e lançar a primeira pedra da construção de uma nova sociedade. Se porventura
não estivesse a vitoriar a Grécia, as razões não seriam as que imagina - seria
por achar, como bom jovem maoista, que o Syriza personifica um ideal burguês,
frágil e cobarde na essência. Contudo, nem por um instante hesitaria em
combater a troika, o imperialismo. Numa frase, o jovem Durão Barroso, esta
semana homenageado por Angela Merkel, seria o primeiro a gritar palavras de
ordem e a organizar motins contra o Durão Barroso maduro.
Tsipras fez o que
mais nenhum revolucionário de esquerda conseguiu pelo voto: alcançou o poder. A
primeira consequência só será visível dentro de umas décadas: quantos jovens
sedentos de poder, e hoje revolucionários, continuarão a acreditar por saberem
que, mesmo pensando o que pensam, terão a oportunidade de alcançar o poder? Só
o tempo nos oferecerá respostas. Mas entre Tsipras e Durão prefiro o primeiro. Prefiro
um vírus que ajude o mundo burguês, em que acredito, a ser melhor, a alguém que
é condecorado pela representante de um país que, em primeira análise, está
interessado na manutenção de um statu quo .
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