Entre Galhofa ,
Metralhadoras e Submarinos … o Povo Português perdeu a vontade de rir, e exige
a reabertura do Processo dos Submarinos ...
OVOODOCORVO
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Luís Horta e Costa explicou aos
deputados como fugiu ao fisco
CRISTINA FERREIRA
e PAULO PENA 15/01/2015 - PÚBLICO
Pareciam as palavras de um economista desalinhado, a descrever a “ocultação”
de verbas através de off-shores e a utilização da “amnistia fiscal” para
esconder os 16,5 milhões da comissão dos submarinos. Mas não eram… Eram o
testemunho de um administrador da Escom.
Em menos de cinco
meses, esta é a segunda aparição de Luís Horta e Costa numa comissão
parlamentar de inquérito. A primeira, no dia 26 de Agosto, era para falar do
negócio dos submarinos. Esta, não o sendo, acabou por revisitar o tema.
Entretanto, este ex-administrador da Escom deixou de ser arguido na
investigação judicial ao negócio da compra do Tridente e do Arpão, em 2004,
entretanto arquivada.
Com mais
liberdade para falar, Horta e Costa voltou a prescindir de advogado e - o que é
uma raridade nesta comissão de inquérito à gestão do BES e do GES - não quis
fazer nenhuma intervenção inicial.
A única coisa que
pediu foi para não o tratarem por “doutor”. Depois, marcou o tom. A primeira
deputada a questioná-lo foi Cecília Meireles, do CDS. Perguntou-lhe quantos
tinham sido os negócios militares em que a Escom participou como consultora. Resposta:
“Está a referir-se à galhofa entre os rapazes lá do conselho superior [do GES]?
Eles queriam vender metralhadoras e mais não sei o quê. Acho isso muito
engraçado.”
Os “rapazes” são
a família Espírito Santo. E a galhofa foi a forma encontrada por Horta e Costa
para responder às dúvidas dos deputados.
Sobre a venda da Escom, e o preço “insuflado” que o GES por ela pedia, Horta e
Costa considerou ser uma matéria “um bocadinho salgada”, um adjectivo escolhido,
esclareceu, “sem nenhum sarcasmo”.
Mais à frente,
para Mariana Mortágua, do BE, sobre o mesmo assunto: “Sei lá o que é que passa
pela cabeça da Sonangol para querer comprar a Escom e não fazer as perguntas
que deveria fazer. Eu não consigo perceber. É um mistério. Tem toda a razão em
pôr essa cara senhora deputada.”
Luís, que é irmão
de Miguel, o consultor da Escom que também participou na repartição de 16,5
milhões de euros, provenientes do consórcio alemão GSC, divididos entre quatro
responsáveis da empresa do GES, guardou as suas tiradas mais sonantes para
falar da forma como escondeu os proveitos do negócio dos submarinos. “Há uma
lei aprovada aqui na Assembleia da República e foi essa que a gente
aproveitou…” Essa lei, que classificou de “amnistia fiscal”, é o Regime
Excepcional de Regularização Tributária (RERT). Criado pelo primeiro governo de
José Sócrates, em 2005, este mecanismo tinha, para Horta e Costa, a virtude de
permitir “ocultar o mais possível esse tipo de transferências”.
Que transferências?
Espicaçado pelas perguntas de todos os partidos, mas sobretudo por José
Magalhães do PS, Horta e Costa prometeu entregar ao Parlamento toda a
documentação sobre as entradas de dinheiro na Escom provenientes dos alemães e
as saídas. Quem recebeu dinheiro, segundo o depoente, foi a administração da
Escom (os irmãos Horta e Costa, Pedro Neto e Helder Bataglia), uma tranche de
“16,5 milhões”, distribuídos “quase equitativamente”. O conselho superior do
GES, que ficou com 5 milhões. E o resto? “O resto foi para constituição de
fundos, advogados, banca de investimentos…”
Os deputados não
pareciam convencidos. Mais de 6 milhões para gastos desse tipo? Horta e Costa
frisou: “Nunca nenhum decisor político levou um tostão da Escom.” Porém… “se
houve corrupção, não sei…”
O que é certo é
que Ricardo Salgado se queixou, numa reunião gravada do Conselho Superior, de
andar rodeado de “aldrabões” nesta história dos submarinos. Aqui, com sarcasmo,
Horta e Costa retorquiu: “Andou rodeado de aldrabões durante nove anos…”
Mas, apesar de
toda a “desilusão” que diz sentir pelo destino do GES - “isto foi ao charco…”
-, Horta e Costa tenta relativizar as culpas de Salgado. “Há muita omissão por
parte das pessoas que lhe podiam ter feito frente. Acho muito difícil que a
culpa seja de um só.”
Comissão do BES: galhofa, venda
de metralhadoras e uma coisa um bocadinho salgada
CRISTINA FERREIRA
e PAULO PENA 15/01/2015 – PÚBLICO /16:20 (actualizado às 20:09)
Luís Horta e Costa, gestor da Escom, ouvido na comissão do BES sobre venda
de submarinos.
Luís Horta e Costa foi nesta quinta-feira ouvido na comissão parlamentar de
inquérito ao caso BES e teve algumas frases enigmáticas.
"Esses tipos
da administração da Escom [onde Horta e Costa se inclui] nunca tiveram uma
palavra a dizer sobre a avaliação da Escom." Classificou-a de insuflada.
"O que me pareceu uma coisa um bocadinho salgada", observou Luís
Horta e Costa, que prestou esclarecimentos na comissão parlamentar de inquérito
ao colapso do GES-BES.
Horta e Costa
voltou-se depois para a deputada do CDS-PP Cecília Meireles, perguntando-lhe,
após uma intervenção da parlamentar, se se estava "a referir à galhofa
entre os rapazes lá do conselho superior". "Eles queriam vender
metralhadoras e mais não sei o quê. Acho isso muito engraçado", comentou
Horta e Costa.
"Nunca fomos
chamados a pronunciar-nos [sobre a avaliação da empresa, nem sobre se] era
defensável", prosseguiu o gestor da Escom, avaliada em 2010 pelo GES em
500 milhões de euros. "[E] das únicas vezes que tivemos oportunidade de
chamar a atenção do GES [para o facto de o valor (500 milhões) estar muito
insuflado], não ligaram."
Confirmou que a
empresa só tinha passivos, de 600 milhões, e os credores eram o BES e o BESA. Horta
e Costa salientou que era o representante do GES na Escom e que o contrato de venda
da empresa à Newbrook-Sonangol tinha uma cláusula que previa que a gestão se
mantivesse. "E eu tinha dificuldade em aparecer junto de um novo
accionista a defender números sobre os quais nunca foi chamado a
pronunciar-se."
Horta e Costa
garantiu ainda: "Não estamos a sacudir água do capote.” “Achamos que pôr
prémios de controlo em cima de uma avaliação [que não foi validada pela gestão
da Escom] era difícil de sustentar.” “Era uma coisa um bocadinho salgada, e
isto não tem nada de sarcástico." Inquirido pela deputada do CDS/PP
Cecília Meireles sobre quem fez a avaliação respondeu: "Foi o BESI."
O gestor da Escom
explicou que a empresa iniciou a sua actividade, em 1993, com o objectivo
inicial de operar em África, em especial Angola, com vista à exportação de
produtos portugueses e dando apoio a empresas portuguesas que pretendiam
estabelecer-se na região. A Escom, realçou, "chegou a ter grande presença
em África, e ainda hoje emprega mais" de mil pessoas.
"O que os
accionistas decidem fazer nós não sabemos. Mas sabemos que o contrato [de venda
da Escom] foi assinado a 28 de Dezembro de 2010 com uma empresa chamada
Sonangol. E achámos que a empresa teria sido vendida e entrámos em gestão
corrente. E de 28 de Dezembro de 2010 até à implosão do nosso accionista, GES,
em Julho de 2014, estivemos na esperança de que alguma coisa acontecesse."
"Nunca nenhum
decisor político levou um tostão da Escom"
O gestor, que na
Escom representava o accionista GES (que tinha 67% da empresa), confirma que
teve "várias conversas com membros do GES". "Perguntei-lhes se a
Escom já tinha sido vendida, pois queria saber quem é que eu
representava."
E teve conversas
"com o dr. Ricardo Salgado em que ele se mostrava realmente convencido de
que a Escom tinha sido vendida".
"Para não
dar em maluco, o que me interessava era o seguinte: compram ou não
compram" a Escom, afirmou ainda.
"Nunca
nenhum decisor político levou um tostão da Escom", garantiu Luís Horta e
Costa, adiantando: "se houve corrupção, não sei… Se houve não teve nada a
ver com a Escom."
A uma questão do
PSD, sobre que funções desempenhou no início no GES, explicou: "Eu era um
faz de tudo: atender às portas, facturas, faxes, fotocopiava." O gestor
notou ainda que "o GES era todo off-shore."
"Estou um
bocadinho cansado de ouvir as pessoas dizerem que não sabiam de nada", do
se passava no GES, como se fosse "um bocado um jogo. Como o Sudoku",
disse Luís Horta e Costa, referindo-se às declarações dos vários responsáveis
do GES na CPI. "Eu na minha empresa trabalhava."
Sobre o processo
de venda da Escom revelou que no Verão de 2010 começou a ouvir falar do tema, mas
era "tudo conversa de casa de banho, até mais de corredor do que de casa
de banho". "E fomos postos no caminho de uma realidade: temos de
passar a Escom para a Rioforte pois a venda é fundamental para o aumento de
capital do BES."
Em seu entender
"o GES estava convicto" desta solução, mas assegura que a gestão da
Escom "nunca foi consultada" sobre o negócio ou sobre a avaliação da
empresa que voltou a classificar de irrealista. "Discordámos que [a
avaliação] fosse entregue ao BESI", depois "ouvi dizer que a Newbrook
pagou 85 milhões de dólares de sinal" pela Escom.
"O dr.
Ricardo Salgado pode ser o DDT, o responsável disto tudo, é o que quiser. Mas
se as pessoas que estão a volta dele, não ficarem pela omissão, e apresentarem
pontos de vista diferentes ele é capaz de ouvir. As pessoas dizem agora que não
sabiam de nada, mas não por que ele não quisesse que soubessem."
Adianta uma
explicação: como "ninguém" no GES "tomava decisões, ele
habituou-se a tomar decisões por eles". E conta: "Sempre que me dirigia
a alguém para que tomasse uma decisão, eles diziam: o melhor é ires falar com o
Ricardo Salgado". (...) Não vejo ninguém, com mais
capacidade do que ele".
Sobre o
ex-presidente do BES observa que tem "um sentimento de admiração e de
profunda desilusão: "Não sei de quem é a culpa, mas dificilmente a culpa é
só de uma pessoa." "A maneira como o GES olhava para certas
empresas" era com se fosse o único dono, defende Horta e Costa.
Recordou que
"o GES tinha um sócio minoritário, o Hélder Bataglia [presidente da Escom
e vice-presidente do BESA], mas disse duvidar "que alguma vez lhe tenham
perguntado" alguma coisa, nomeadamente, sobre a atribuição de 5 milhões de
euros ao Conselho Superior (CS) do GES, provenientes da comissão do negócio dos
submarinos.
À deputada do BE
Mariana Mortágua, Horta e Costa avançou que "ele [Ricardo Salgado] tratava
a Escom como se fosse dele, mas pergunte-lhe porque é que ele" atribuiu ao
Conselho Superior do GES cinco milhões de euros, e "ainda se queixou".
Arguido no caso dos submarinos
Horta e Costa foi
arguido no processo da venda de dois submarinos alemães ao Estado português que
deu origem também a um inquérito parlamentar que foi inconclusivo.
Os deputados
procuram agora saber detalhes sobre a venda não consumada da Escom, a empresa
do GES para os negócios que não se realizam na praça pública, à empresa
Newbrook do ex-presidente do BES Angola Álvaro Sobrinho. Sobrinho, que já
esteve nesta comissão a prestar esclarecimentos, interveio a pedido de Ricardo
Salgado, substituindo na transacção o Governo de Angola/Sonangol, e pagou um
sinal de 52 milhões de euros pela Escom (entretanto desactivada) que chegou à
ES Resources (a empresa do GES vendedora), suspeitando agora o Ministério
Público de que parte terá entretanto desaparecido.
Quando esteve a
depor na anterior comissão de inquérito à compra dos dois submarinos alemães,
em 2004, pelo Governo de Durão Barroso, Horta e Costa revelou que a Escom, que
prestou consultoria ao negócio, gastou 2,1 milhões de euros para constituir e
gerir um fundo secreto nas Bahamas. O objectivo era ocultar o destino final da
verba entregue pelo vendedor, o consórcio alemão German Submarine Consortium
(GSC). "Quisemos dificultar o acesso a essa informação e esperar por uma
oportunidade para regularizarmos os impostos com melhores condições
fiscais", admitiu Luís Horta e Costa, administrador da Escom.
"Além disso,
achámos que seria complicado que se viesse a saber que houve uma distribuição
de bónus à família Espírito Santo", acrescentou. "O momento no país
era diferente. Se fosse hoje, não faríamos isso."
Os alemães
pagaram 27 milhões à Escom, tendo esta entregue cinco milhões aos cinco membros
do conselho superior do GES (Ricardo Salgado, António Ricciardi, José Maria
Espírito Santo, Mosqueira do Amaral e Manuel Fernando Espírito Santo). Já os
três administradores da Escom (Luís Horta e Costa, Pedro Neto e Hélder
Bataglia) e um seu consultor (Miguel Horta e Costa) terão facturado 16 milhões.
Na altura, Horta e Costa, a propósito do pagamento da comissão ao CS do GES,
observou: “Suponho que Ricardo Salgado tinha preponderância nas decisões
tomadas no GES, mas não sei se era apenas ele ou Ricardo Salgado mais duas ou
mais três pessoas, isso está muito em discussão.”
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