União Europeia. França, Alemanha,
Espanha e Reino Unido querem acabar com Schengen
Por Francisco
Castelo Branco
publicado em 17
Jan 2015 in
(jornal) i online
A Comissão
Europeia não vai alterar a política subjacente ao Tratado de Schengen e
apresenta a decisão de utilizar as actuais ferramentas aos governos dos 28
estados-membrosda União Europeia
Os governos da
Alemanha, de França, Espanha e Reino Unido pretendem uma revisão do Tratado de
Schengen devido ao risco que representa para a Europa o regresso de milhares
jihadistas que actuam no Iraque e na Síria ao serviço de grupos terroristas
locais. A medida, que está entre os principais pontos de discussão na reunião
de ministros do Interior e da Justiça da União Europeia que se vai realizar em
Riga nos próximos dias 29 e 30 de Janeiro, merece o aplauso do coordenador
antiterrorista da União Europeia. Gilles de Kerchove afirmou às agências
internacionais que "os instrumentos de controlo nas fronteiras externas
foram concebidas na perspectiva dos estrangeiros e não dos europeus". O
responsável acrescentou que "os cidadãos que partem da Europa para a Síria
ou o Iraque são portadores de documentos de identificação europeus". Kerchove
também defende uma medida que passa pela criação de um sistema europeu que
regista os dados dos passageiros que utilizam o transporte aéreo. O sistema
conhecido pela sigla PNR (Passenger Name Record) está bloqueado desde 2011 no
Parlamento Europeu porque não houve garantias de protecção dos dados que forem
recolhidos pelas companhias aéreas durante o processo de reserva efectuado
pelos passageiros. O registo com nome, data, itinerário, morada, número de
telefone, número de cartão de crédito e bagagem seria transmitido às
autoridades. Na próxima segunda-feira os ministros dos Negócios Estrangeiros
dos países da União Europeia vão debater as questões em torno da segurança e do
terrorismo.
COMISSÃO EUROPEIA
Uma fonte oficial
da Comissão Europeia garantiu ao i que "não é necessário uma revisão do
Tratado de Schengen porque as medidas funcionam". A prioridade da Comissão
passa por utilizar da melhor forma possível os instrumentos que estão à
disposição dos estados-membros. No entanto, a fonte acrescenta que "a
Comissão está a trabalhar em conjunto com os estados para desenvolver uma
abordagem comum sobre como fazer o melhor uso das possibilidades oferecidas
pelo direito comunitário no que diz respeito ao controlo de documentos e
pessoas". Perante este cenário, a Comissão Europeia remete para os
governos a utilização das ferramentas que se encontram disponíveis.
VITÓRIA DO TERRORISMO
O eurodeputado
Carlos Coelho considera desnecessária uma revisão das regras do espaço Shengen,
que consagra a livre circulação de pessoas porque isso põe em causa um dos
maiores sucessos do projecto europeu e seria dar uma vitória aos terroristas. Em
declarações à Lusa, o social-democrata afirmou que a "precipitação pode
ser má conselheira, devendo os legisladores e decisores políticos tomar decisões
com frieza e razão, e não com base em emoções". Carlos Coelho admitiu que
as tomadas de posição podem originar um sentimento de receio que restrinja a
livre circulação de pessoas. O eurodeputado deu o exemplo de Marine Le Pen, que
pode vir a ganhar com o que se está a passar em alguns países europeus. Na sua
opinião, o rumo a seguir é identificar problemas e corrigi-los, nomeadamente ao
nível das fronteiras externas. Por fim, Carlos Coelho disse pensar "que
essa abordagem é muito mais séria do que simplesmente bradar por mudanças ou
fazer anúncios vistos, sendo isso uma tentação na qual poderão cair vários
líderes políticos cujos discursos mais musculados são motivados sobretudo por
cálculo político". A eurodeputado do Partido Socialista Ana Gomes garantiu
ao i que também discorda das medidas anunciadas pela França, pela Alemanha,
pelo Reino Unido e por Espanha. No seu entendimento, "os atentados de
Paris nada têm a ver com a liberdade de circulação, tendo referido que o acordo
de Schengen foi revisto recentemente".
O tratado que
permite a livre circulação de pessoas dentro do espaço europeu já introduziu
progressos a vários níveis. Ana Gomes destaca o facto de se permitir a
suspensão por razões de segurança, bem como a introdução de controlos de monitorização.
Em relação a outras medidas de segurança, como o Passenger Name Record, diz que
é favorável a um controlo feito a esse nível.
Tal como acontece
com o eurodeputado social-democrata Carlos Coelho, a eurodeputada socialista
entende que "não se combate o terrorismo fazendo o jogo dos
terroristas".
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