Vistos Gold: Auditoria desfaz atuais procedimentos e pede alteração
profunda à lei
HELENA PEREIRA / 19/1/2015/
OBSERVADOR.
"Desorganização", "desconformidade",
"desarmonia" e "falta de definição". A auditoria do MAI
sobre os vistos Gold pede alteração profunda à lei. Ministra mandou relatório
para MP.
A auditoria aos vistos Gold, elaborada pela Inspeção-Geral da Administração
Interna, arrasa os procedimentos em vigor para a atribuição daquelas
autorizações temporárias de residência. “Desorganização”, “desconformidade”,
“desarmonia” e “falta de definição” são as palavras usadas para descrever a
forma como as autoridades públicas atuam.
O documento,
divulgado esta segunda-feira pelo Ministério da Administração Interna,
aconselha mesmo à “alteração profunda” da lei, à criação de um grupo de
acompanhamento constituído por “personalidades de reconhecido mérito” e de um
manual de procedimentos “claro e transparente” que esteja em vigor dentro de 30
dias.
O que é que a
auditoria encontrou? “Desconformidade de procedimentos quanto ao local de
receção dos pedidos”; “desarmonia na aceitação/valoração dos meios de prova
necessários”; “inexistência de regras claras quanto ao modo de tramitação do
processo e à unidade orgânica que deve proceder à instrução”; “desorganização
no modo de instrução dos processos”; “falta de definição quanto a alguns dos
problemas materiais associados como o reagrupamento familiar, aquisição de
imóveis”, “inexistência de modos internos de controlo na direção nacional do
Serviço de Estrangeiros e Fronteiras”; “controlo interno muito incipiente e
fraco”; “as dúvidas de interpretação/extensão da lei devem deixar de ser
respondidas por mote próprio”.
Segundo o
documento da Inspeção-Geral da Administração Interna, estão a ser dados vistos
Gold, por exemplo, a pessoas que adquirem imóveis “através de sociedades
unipessoais criadas para o efeito”.
De acordo com a
lei, tem direito a um visto Gold quem compre imóveis no valor mínimo de 500 mil
euros, transferira capitais para Portugal num montante igual ou superior a 1
milhão de euros ou crie, pelo menos, 10 postos de trabalho.
No ponto 18 das
conclusões, a auditoria constata ainda o seguinte: “Verificou-se, através da
leitura de algumas atas das reuniões do GA que dele eram emanadas diretivas que
excedem o objetivo para que foi criado, pronunciando-se sobre questões que se
encontram, claramente, fora do âmbito de atuação”.
Em comunicado, a
ministra Anabela Rodrigues já acatou as sugestões e mandou também a auditoria
para o Ministério Público.
“Tendo em vista a
respetiva junção aos autos de inquérito relativos ao procedimento de concessão
de autorização de residência para atividade de investimento pelo Serviço de
Estrangeiros e Fronteiras, que se encontram pendentes, o envio do presente
relatório ao Departamento Central de Investigação e Ação Penal”, diz o
comunicado.
A auditoria do
Ministério da Administração Interna foi uma das primeiras decisões do nova
ministra, Anabela Rodrigues, mal tomou posse.
Os vistos Gold
foram criados em 2012, tendo Paulo Portas, enquanto ministro dos Negócios
Estrangeiros, sido o principal impulsionador desta medida. A lei prevê que a
receita gerada por estes vistos (custam 5.000 euros) seja repartida ao meio
entre MNE e MAI, o que a auditoria também põe em causa, sugerindo que seja
revista “a revisão do valor das taxas de emissão (50% MNE/50% MAI) por não se
encontrar qualquer razão que justifique tal repartição”.
A alegada
corrupção na atribuição de vistos Gold levou no final de 2014 à detenção de 11
pessoas, entre as quais o diretor do SEF, o presidente do Instituto dos
Registos e Notariados e os secretários-gerais da Justiça e da Administração
Interna.
Ministra quer Manual de
Procedimentos para atribuição de vistos “gold”
LUSA /19/1/2015,
OBSERVADOR
A ministra da
Administração Interna determinou a elaboração de um Manual de Procedimentos em
30 dias para a atribuição de vistos "gold".
A ministra da
Administração Interna, Anabela Rodrigues, determinou ao SEF a elaboração no
prazo de 30 dias de um Manual de Procedimentos “claro, transparente e de
cumprimento obrigatório” para a atribuição de vistos gold.
A decisão de
Anabela Rodrigues surge na sequência do relatório da Inspeção-Geral da
Administração Interna (IGAI) ao procedimento de concessão de Autorização de
Residência para Atividade de Investimento — conhecido por vistos gold — do
Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF).
Seguindo as
conclusões e recomendações da IGAI, a ministra mandou ao diretor do SEF
elaborar um Manual de Procedimentos “para aplicação dos procedimentos e
tramitação de processos de autorização de residência para atividade de investimento,
reagrupamento familiar e suas renovações, com o intuito de uniformização de
procedimentos”, devendo o documento ser entregue à tutela nos próximos 30 dias.
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