Valorização do franco suíço atira
corretoras para a falência
UBS corta previsão de crescimento do PIB suíço, dos anteriores 1,8% para
0,5%. Euro em queda
José Manuel Rocha
/ 17-1-2015 / PÚBLICO
Os destroços do
tsunami provocado pela decisão do Banco Nacional da Suíça (BNS) de acabar com a
ligação do franco local à cotação do euro começaram ontem a ser visíveis. Três
corretoras de dimensão mundial reconheceram perdas substanciais que, nuns
casos, afectaram os rácios de capital e, noutros, obrigaram mesmo a um fecho de
portas. Em bolsa, as acções das maiores empresas do país agravavam o cenário de
perdas que vinham de quinta-feira.
O caso mais grave
será o da corretora norte-americana FXCM, que apenas no último trimestre de
2014 geriu operações cambiais num valor de 1,4 biliões (milhão de milhões) de
dólares. Só em Dezembro, pelo sistema da empresa passaram cerca de 600 mil
operações por dia.
Num comunicado, a
FXCM revela que, na sequência da decisão do BNS, muitos clientes tiveram perdas
significativas que, segundo as regras do sector, são, em última instância,
assumidas pelo intermediário. A contabilização destas perdas fez com que o
balanço patrimonial da empresa entrasse no vermelho, com um saldo negativo de
225 milhões de euros.
Mais grave é a
situação da Global Brokers, da Nova Zelândia, que vai sair do negócio depois de
a maioria dos seus clientes terem registado perdas com a decisão da autoridade
monetária suíça. “A maioria dos nossos clientes estava do lado dos prejuízos e
sofreu perdas muito maiores do que o nível de capital acumulado”, reconheceu
David Johnson, director da firma que anunciou o abandono da actividade. Os
valores depositados estão, no entanto, seguros e podem ser levantados a
qualquer momento, adiantou o responsável.
Em Londres, a
Alpari não teve alternativa senão a de pedir a insolvência, depois de uma parte
substancial dos seus clientes ter registado perdas superiores aos valores em
depósito. À Alpari não restou outra saída que não fosse a de “confirmar que
entrou em insolvência”.
A sangria pode
não se ficar por aqui. Nick Parsons, analista-chefe do Banco Nacional da
Austrália, diz que não ficaria admirado se surgissem mais vítimas. “Assistimos
a uma mudança de 180 graus na política do Banco Nacional da Suíça. As pessoas
sentem-se feridas e atraiçoadas”, afirmou à agência Reuters.
Com o franco
suíço a manter ontem o nível de paridade face ao euro que registava no fecho
dos mercados na quinta-feira, as bolsas europeias fecharam ontem com ganhos
ligeiros. Na Ásia, onde os efeitos da decisão do SNB só se fizeram sentir na
sessão de ontem, as perdas foram significativas.
A bolsa suíça
manteve um quadro de vermelho vivo, fechando a perder 6%. A banca não escapou
ao vendaval, o mesmo acontecendo com algumas firmas que gerem marcas com
alcance mundial, como é o caso da Swatch, da Nestlé e das farmacêuticas Roche e
Novartis.
O comportamento
das acções destas empresas reflecte o ambiente de pessimismo que se instalou no
país e, muito especialmente, entre os agentes económicos. Ainda na ressaca da
intervenção do banco central, a União dos Bancos Suíços cortou a previsão de
crescimento do produto interno bruto do país para o ano em curso — dos
anteriores 1,8% para 0,5%.
A Suíça, pátria
de algumas das mais conhecidas multinacionais do planeta, pode ver as suas
exportações substancialmente reduzidas agora que entrou numa era de “franco
forte”. E como a zona euro é o principal destino das vendas das suas empresas
para o estrangeiro, com a decisão do banco central os preços dos produtos
exportados ficaram cerca de 20% mais elevados.
A instabilidade
nos mercados cambiais passou também pelo euro, que ontem, pela primeira vez em
11 anos e face à possibilidade de o BCE começar a comprar dívida pública, caiu
abaixo dos 1,15 dólares.
Sem comentários:
Enviar um comentário