sábado, 17 de janeiro de 2015

Vem aí a bazuca. Compra de 12 mil milhões de dívida de Portugal.


O BCE deverá anunciar, na reunião desta semana, o arranque do tão polémico programa de compra de dívida soberana
Vem aí a bazuca. Compra de 12 mil milhões de dívida de Portugal
17/01/2015 | 00:10 |  Dinheiro Vivo / Por Tiago Figueiredo Silva

O Banco Central Europeu (BCE) deverá anunciar, na reunião desta semana, o arranque do tão polémico programa de compra de dívida soberana.
O Banco Central Europeu (BCE) deverá anunciar, na reunião desta semana, o arranque do tão polémico programa de compra de dívida soberana. Apesar das condições e dos termos do programa não serem ainda conhecidos, especula-se que a "bazuca" tenha um poder de fogo de 500 mil milhões de euros que será aplicado de forma proporcional à participação que cada país tem na autoridade monetária. A confirmarem-se estas duas premissas, isto significa que o BCE poderá comprar 12,4 mil milhões de euros de dívida soberana portuguesa, o equivalente a 2,48% do montante total.
As contas, feitas pelo Dinheiro Vivo, são simples de se fazer. O Banco de Portugal tem uma participação de 1,7434% no capital do BCE, mas tendo em conta que só 19 países serão ilegíveis para serem alvo das compras da autoridade monetária, o peso de Portugal aumenta para 12,56%. Isto significa que do total dos 500 mil milhões de euros, serão destinados 12,4 mil milhões só para títulos de dívida nacional. Tanto como a troika emprestou à banca portuguesa.
Apesar de elevado, o montante é dez vezes inferior aos 128 mil milhões de euros que serão aplicados em dívida soberana alemã. Ironicamente, é a Alemanha, que tanto repudia este programa de compra de títulos europeus, que mais irá beneficiar dele. Os restantes lugares do pódio dos países que serão alvo das compras da autoridade monetária são a França (101 mil milhões) e a Itália (88 mil milhões). A vizinha Espanha surge na quarta posição, com quase 63 mil milhões.
"Por um lado, é importante avaliar se a aquisição é realizada conjuntamente pelo BCE e bancos centrais nacionais, numa partilha de risco ou não. Por outro lado, saber a dimensão da intervenção, que funcionará como sinal aos mercados, investidores e agentes económicos", salienta Rui Constantino, economista chefe do Banco Santander Totta.
A medida, conhecida nos mercados como a "bazuca", terá como principal objetivo reativar a economia, com a autoridade monetária a comprar obrigações libertando os balanços dos bancos na esperança que estes injetem liquidez na economia real, através de novo crédito às empresas. Com o parecer favorável concedido pelo Tribunal Europeu ao programa de Transações Monetárias Definitivas, conhecido por OMT, Mario Draghi, presidente do BCE, ficou com a via verde para avançar com o quantitative easing.
Para convencer a Alemanha, o BCE terá de comprar dívida de todos os estados, mesmo os que foram alvo de resgates ou estiveram sob o radar dos investidores na recente crise da dívida. Neste caso, a autoridade liderada por Mario « destinará mais de 186 mil milhões para comprar títulos dos chamados países periféricos (Portugal, Irlanda, Grécia, Chipre e Itália). Mas existem muitas dúvidas para as quais se esperam respostas. Mais concretamente, falta saber se os critérios excluem dívida classificada com rating de não investimento, se os bancos nacionais participam na partilha do risco, se o programa é temporário ou permanente e, inclusive, qual o montante da "bazuca".

Para o economista chefe do Banco Santander Totta, a eficácia da medida vai depender "da disponibilidade dos bancos em vender a carteira de dívida pública, que em muitos casos foi constituída com taxas de juro muito mais elevadas do que as atuais" e para que a concessão de crédito à economia aumente "é preciso, em simultâneo, que os agentes económicos se queiram endividar e que as condições de avaliação de risco pelos bancos melhorem".

Sem comentários: