Consegue explicar-me?
Por Luís Osório
publicado em 23
Jan 2015 in
(jornal) i online
Ricardo Salgado
alegadamente ocultou um passivo da ESI num valor acumulado de 1,3 mil milhões
de euros entre 2008 e 2013. Recebeu uma prenda generosa de um amigo construtor
que, em troca de aconselhamento e bons contactos em Angola, lhe ofereceu 14
milhões de euros que, alegadamente, se esqueceu de declarar ao fisco. Desobedeceu
alegadamente ao Banco de Portugal quando foi implementada uma estratégia que
obrigava à separação das actividades financeiras do grupo das actividades não
financeiras. Durante esse período, alegadamente, aumentou milhares de milhões a
exposição do BES ao GES. Fez também um acordo com a "sua" PT,
alegadamente com Henrique Granadeiro, para garantir 900 milhões de euros de
financiamento à Rioforte. A Rioforte caiu e a PT foi um ar que lhe deu. Explodiu
a credibilidade da PT, de Zeinal Bava e de Granadeiro. Destroços de um navio à
deriva que perdeu 80 por cento do seu valor em menos de um ano. É obra.
Depois, como o i
noticiou em primeira mão, os cinco ramos da família receberam um milhão cada um
pelo negócio dos submarinos. Tudo alegadamente patrocinado por Ricardo Salgado,
que, alegadamente, esteve também envolvido no escândalo do Mensalão, um esquema
de financiamento partidário ao partido de Lula da Silva. O "Expresso"
noticiou na altura e Salgado, alegadamente, retirou toda a publicidade do BES
do grupo Impresa, o que motivou o corte de relações com Pinto Balsemão.
As notícias não
se limitaram ao que descrevo. Lembramo- -nos da Operação Furacão, um
megaprocesso de investigação de fraude fiscal. Alegadamente o homem foi falado.
E do célebre caso Monte Branco, onde alegadamente Ricardo Salgado constava da
lista de clientes da Akoya, rede suíça de fraude fiscal e branqueamento de
capitais.
Continua a
acompanhar-me? Então lembra-se do caso de venda das acções da EDP pelo BES
Vida, feita dias antes da aprovação da dispersão em bolsa da EDP Renováveis,
que, alegadamente, levantou suspeitas de abuso de informação privilegiada. Ou o
caso da recente multa (1,1 milhões de euros) em Espanha, devido a alegadas
infracções de uma norma para a prevenção de branqueamento de capitais (em 2006, a Guardia Civil já
havia feito uma rusga a uma dependência espanhola do BES).
Alegadamente,
milhares de milhões perdidos. Centenas de clientes com uma mão à frente e outra
atrás. Mais de um século de uma história de família arrastada na lama. Dinheiro
que se escondeu, ocultou, inventou. Uma fábrica de mentiras que se foram
alimentando umas às outras até criar um monstro de várias cabeças. Traições.
Alegadas corrupções, traficância de influências, homens caídos em desgraça,
empresas que perderam o seu valor, a possibilidade de um efeito dominó nas
empresas portuguesas.
A pergunta que
faço é simples e directa. Com tudo o que se sabe, apesar de todos os
alegadamentes desta vida e das outras, gostaria de saber o que leva Ricardo
Salgado a não estar preso preventivamente? Não é que o deseje, o país está
coberto de lobos sedentos de vingança e ajustes de contas, mas adoraria
entender melhor os pesos e as medidas. A Sílvia Caneco, que ajudou o país a
perceber toda a história através das páginas do i, já me explicou a razão - a
mim e aos leitores. A Margarida Vaqueiro Lopes, que tem acompanhado a comissão
parlamentar nas páginas do i, já me simplificou a história como se eu fosse uma
criança. Porém, cá para nós, não entendo. A culpa pode ser minha. E das notícias truncadas. Salgado pode estar inocente. Alegadamente.
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