sexta-feira, 27 de julho de 2018

Vereador bloquista pôs à venda imóvel em Alfama com valorização de 4,7 milhões





Vereador bloquista pôs à venda imóvel em Alfama com valorização de 4,7 milhões

Ricardo Robles comprou com a irmã um prédio degradado em Junho de 2014 , com cinco contratos de arrendamento activos. Entre aquisição e obras, gastou cerca de um milhão de euros. O prédio foi colocado à venda por 5,7 milhões — e o vereador diz que "não há contradição" com a sua luta contra a especulação imobiliária

PÚBLICO 27 de Julho de 2018, 11:35

Um velho edifício de três pisos numa rua de Alfama, em Lisboa, foi comprado em Março de 2017 por 347 mil euros. Tinham, então, cinco contratos de arrendamento activos: um escritório, uma habitação e três lojas. O proprietário investiu 650 mil em projectos, licenças e respectivas obras de requalificação, e o edifício foi colocado, de novo, à venda, agora através de uma imobiliária de luxo e com uma avaliação de 5,7 milhões de euros. Nada nesta transacção seria notícia, não fora o caso de um dos proprietários em causa ser o vereador do Bloco de Esquerda da câmara de Lisboa, Ricardo Robles, e que tem acusado o executivo que integra de ser um “promotor da especulação imobiliária”.

A notícia foi avançada esta sexta-feira pelo semanário O Jornal Económico, e já confirmada pelo próprio vereador nas redes sociais, onde se tem empenhado em tornar público todos os esclarecimentos que prestou aos jornalistas acerca desta historia e onde argumenta que a sua conduta como co-proprietário do edifício (comprado a meias com a irmã) “em nada diminui a legitimidade das [suas] propostas para parar os despejos, construir mais habitação pública e garantir o direito à cidade”.

Ricardo Robles e a irmã compraram à Segurança Social um edifício de três pisos, situado na Rua do Terreiro do Trigo, muito perto do Museu do Fado. É o próprio vereador quem esclarece que entre aquisição, projectos, licenças e obra, o investimento ascendeu a um milhão de euros, financiado pela família do vereador e através de um empréstimo bancário contraído junto da CGD. “Como co-proprietário, aceitei que, por razões familiares, o prédio fosse colocado à venda. A venda do prédio foi entregue no final do ano de 2017 à imobiliária, que o avaliou em 5,7 milhões de euros. O prédio não foi vendido e foi retirado do mercado, embora mantenhamos a intenção de venda a breve trecho”, diz Ricardo Robles

O vereador bloquista recusa a acusação de ter despejado inquilinos, e diz tê-los contactado para comunicar a intenção de manutenção dos respectivos contratos. Entre pagamentos de indemnizações e contratos para celebração de novas rendas, ainda está a ser discutida em tribunal a situação de um dos inquilinos, que recusou uma actualização de renda de 270 para 400 euros, e pede uma indemnização de 120 mil euros pelas benfeitorias realizadas. Robles justifica-se dizendo que o valor proposto de 400 euros “está abaixo do que a lei Cristas permitiria fazer e dos preços de mercado para um estabelecimento de restauração em Lisboa e em particular naquela zona”.

Questionado pelo Económico acerca da contradição que existirá entre o seu comportamento enquanto investidor e proprietário e as acções públicas contra os despejos que tem vindo a protagonizar, Robles insiste que não há qualquer contradição. “O programa eleitoral que apresentei à CML é claro na defesa do direito à habitação e de oposição aos despejos. O [único] casal que vive neste imóvel nunca viu o seu direito à habitação posto em causa. Pelo contrário, viu a sua situação regularizada com um novo contrato, cujo valor de renda, prazo e restantes termos acordou previamente. (…) A necessidade de realizar obras profundas de reabilitação do prédio, inclusivamente no interior das fracções, implicou a libertação temporária dos espaços, que foi acordada com os inquilinos”, terminou.


 PSD Lisboa pede demissão de Ricardo Robles após polémica com negócio imobiliário em Alfama
Rita Atalaia

Paulo Ribeiro, presidente da concelhia de Lisboa do PSD, exige a saída de Robles da Câmara de Lisboa. Isto depois de ter sido avançado que deverá realizar uma mais-valia de 4,7 milhões com um prédio.
O PSD Lisboa exige a demissão do vereador do Bloco de Esquerda na Câmara de Lisboa. Um pedido que é feito depois de o Jornal Económico ter avançado que Ricardo Robles, um dos maiores críticos da especulação imobiliária na capital, prepara-se para realizar uma mais-valia de 4,7 milhões de euros com um prédio em Alfama.

“O PSD Lisboa exige a demissão do vereador Ricardo Robles ​por manifesta falta de ética, de seriedade e de credibilidade política para permanecer no cargo de vereador na cidade de Lisboa“, lê-se num documento assinado por Paulo Ribeiro, presidente da concelhia de Lisboa do PSD.

“Queremos ainda registar que este caso vem mostrar que os discursos e as posições do Bloco de Esquerda são uma chocante fraude política que manipula os eleitores e se proclama publicamente contra a ‘especulação imobiliária’, quando um dos seus principais eleitos faz negócios milionários à sua custa”, refere ainda o PSD.

"O PSD Lisboa exige a demissão do vereador Ricardo Robles ​por manifesta falta de ética, de seriedade e de credibilidade política para permanecer no cargo de vereador na cidade de Lisboa.”

A exigência do partido liderado por Rui Rio é feita depois de o Jornal Económico ter avançado que Robles, juntamente com a irmã, terá adquirido em 2014, um velho edifício de três pisos à Segurança Social. O imóvel, situado na Rua do Terreiro do Trigo, em Alfama, perto do Museu do Fado, teve um custo de 347 mil euros.

Depois da compra os dois irmãos terão investido 650 mil euros em obras, tendo chegado a acordo com a maioria dos inquilinos para rescindir os contratos de arrendamento. Já no final de 2017, com o edifício totalmente reabilitado, e com mais um andar, colocaram-no à venda numa imobiliária especializada em imóveis de luxo, com uma avaliação de 5,7 milhões de euros, podendo vir a obter uma mais valia potencial de 4,7 milhões de euros.

No Twitter, Robles veio dar mais justificações: “Absolutamente ninguém foi despejado: a única família que lá vivia, lá continua, agora com casa recuperada e contrato em seu nome, por 8 anos e renda de 170€. Todos os direitos protegidos”.


Ricardo Robles
@ricardorobleslx
 · 11h
 Comprei um imóvel com a minha irmã, em 2014, como parte de um negócio de família. Absolutamente ninguém foi despejado: a única família que lá vivia, lá continua, agora com casa recuperada e contrato em seu nome, por 8 anos e renda de 170€. Todos os direitos protegidos.


Ricardo Robles
@ricardorobleslx
A decisão de venda, ainda não concretizada, obedece a constrangimentos familiares que não dependem apenas da minha vontade. Todas as minhas obrigações legais, fiscais e de transparência foram cumpridas.

02:40 - 27 de jul de 2018
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No tweet seguinte, diz que foi transparente: “A decisão de venda, ainda não concretizada, obedece a constrangimentos familiares que não dependem apenas da minha vontade. Todas as minhas obrigações legais, fiscais e de transparência foram cumpridas“. Da parte do Bloco de Esquerda, o silêncio mantém-se.

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