Vereador bloquista pôs à venda imóvel em Alfama com
valorização de 4,7 milhões
Ricardo Robles comprou com a irmã um prédio degradado em
Junho de 2014 , com cinco contratos de arrendamento activos. Entre aquisição e
obras, gastou cerca de um milhão de euros. O prédio foi colocado à venda por
5,7 milhões — e o vereador diz que "não há contradição" com a sua
luta contra a especulação imobiliária
PÚBLICO 27 de Julho de 2018, 11:35
Um velho edifício de três pisos numa rua de Alfama, em Lisboa,
foi comprado em Março de 2017 por 347 mil euros. Tinham, então, cinco contratos
de arrendamento activos: um escritório, uma habitação e três lojas. O
proprietário investiu 650 mil em projectos, licenças e respectivas obras de
requalificação, e o edifício foi colocado, de novo, à venda, agora através de
uma imobiliária de luxo e com uma avaliação de 5,7 milhões de euros. Nada nesta
transacção seria notícia, não fora o caso de um dos proprietários em causa ser
o vereador do Bloco de Esquerda da câmara de Lisboa, Ricardo Robles, e que tem
acusado o executivo que integra de ser um “promotor da especulação
imobiliária”.
A notícia foi avançada esta sexta-feira pelo semanário O
Jornal Económico, e já confirmada pelo próprio vereador nas redes sociais, onde
se tem empenhado em tornar público todos os esclarecimentos que prestou aos
jornalistas acerca desta historia e onde argumenta que a sua conduta como
co-proprietário do edifício (comprado a meias com a irmã) “em nada diminui a
legitimidade das [suas] propostas para parar os despejos, construir mais
habitação pública e garantir o direito à cidade”.
Ricardo Robles e a irmã compraram à Segurança Social um
edifício de três pisos, situado na Rua do Terreiro do Trigo, muito perto do
Museu do Fado. É o próprio vereador quem esclarece que entre aquisição,
projectos, licenças e obra, o investimento ascendeu a um milhão de euros,
financiado pela família do vereador e através de um empréstimo bancário
contraído junto da CGD. “Como co-proprietário, aceitei que, por razões
familiares, o prédio fosse colocado à venda. A venda do prédio foi entregue no
final do ano de 2017 à imobiliária, que o avaliou em 5,7 milhões de euros. O
prédio não foi vendido e foi retirado do mercado, embora mantenhamos a intenção
de venda a breve trecho”, diz Ricardo Robles
O vereador bloquista recusa a acusação de ter despejado
inquilinos, e diz tê-los contactado para comunicar a intenção de manutenção dos
respectivos contratos. Entre pagamentos de indemnizações e contratos para
celebração de novas rendas, ainda está a ser discutida em tribunal a situação
de um dos inquilinos, que recusou uma actualização de renda de 270 para 400
euros, e pede uma indemnização de 120 mil euros pelas benfeitorias realizadas.
Robles justifica-se dizendo que o valor proposto de 400 euros “está abaixo do
que a lei Cristas permitiria fazer e dos preços de mercado para um
estabelecimento de restauração em Lisboa e em particular naquela zona”.
Questionado pelo Económico acerca da contradição que
existirá entre o seu comportamento enquanto investidor e proprietário e as
acções públicas contra os despejos que tem vindo a protagonizar, Robles insiste
que não há qualquer contradição. “O programa eleitoral que apresentei à CML é
claro na defesa do direito à habitação e de oposição aos despejos. O [único] casal
que vive neste imóvel nunca viu o seu direito à habitação posto em causa. Pelo
contrário, viu a sua situação regularizada com um novo contrato, cujo valor de
renda, prazo e restantes termos acordou previamente. (…) A necessidade de
realizar obras profundas de reabilitação do prédio, inclusivamente no interior
das fracções, implicou a libertação temporária dos espaços, que foi acordada
com os inquilinos”, terminou.
Rita Atalaia
Paulo Ribeiro, presidente da concelhia de Lisboa do PSD,
exige a saída de Robles da Câmara de Lisboa. Isto depois de ter sido avançado
que deverá realizar uma mais-valia de 4,7 milhões com um prédio.
O PSD Lisboa exige a demissão do vereador do Bloco de
Esquerda na Câmara de Lisboa. Um pedido que é feito depois de o Jornal
Económico ter avançado que Ricardo Robles, um dos maiores críticos da
especulação imobiliária na capital, prepara-se para realizar uma mais-valia de
4,7 milhões de euros com um prédio em Alfama.
“O PSD Lisboa exige a demissão do vereador Ricardo Robles
por manifesta falta de ética, de seriedade e de credibilidade política para
permanecer no cargo de vereador na cidade de Lisboa“, lê-se num documento
assinado por Paulo Ribeiro, presidente da concelhia de Lisboa do PSD.
“Queremos ainda registar que este caso vem mostrar que os
discursos e as posições do Bloco de Esquerda são uma chocante fraude política
que manipula os eleitores e se proclama publicamente contra a ‘especulação
imobiliária’, quando um dos seus principais eleitos faz negócios milionários à
sua custa”, refere ainda o PSD.
"O PSD Lisboa exige a demissão do vereador Ricardo
Robles por manifesta falta de ética, de seriedade e de credibilidade política
para permanecer no cargo de vereador na cidade de Lisboa.”
A exigência do partido liderado por Rui Rio é feita depois
de o Jornal Económico ter avançado que Robles, juntamente com a irmã, terá
adquirido em 2014, um velho edifício de três pisos à Segurança Social. O
imóvel, situado na Rua do Terreiro do Trigo, em Alfama, perto do Museu do Fado,
teve um custo de 347 mil euros.
Depois da compra os dois irmãos terão investido 650 mil
euros em obras, tendo chegado a acordo com a maioria dos inquilinos para
rescindir os contratos de arrendamento. Já no final de 2017, com o edifício
totalmente reabilitado, e com mais um andar, colocaram-no à venda numa
imobiliária especializada em imóveis de luxo, com uma avaliação de 5,7 milhões
de euros, podendo vir a obter uma mais valia potencial de 4,7 milhões de euros.
No Twitter, Robles veio dar mais justificações:
“Absolutamente ninguém foi despejado: a única família que lá vivia, lá
continua, agora com casa recuperada e contrato em seu nome, por 8 anos e renda
de 170€. Todos os direitos protegidos”.
Ricardo Robles
@ricardorobleslx
· 11h
Comprei um imóvel com
a minha irmã, em 2014, como parte de um negócio de família. Absolutamente
ninguém foi despejado: a única família que lá vivia, lá continua, agora com
casa recuperada e contrato em seu nome, por 8 anos e renda de 170€. Todos os
direitos protegidos.
Ricardo Robles
@ricardorobleslx
A decisão de venda, ainda não concretizada, obedece a
constrangimentos familiares que não dependem apenas da minha vontade. Todas as
minhas obrigações legais, fiscais e de transparência foram cumpridas.
02:40 - 27 de jul de 2018
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No tweet seguinte, diz que foi transparente: “A decisão de
venda, ainda não concretizada, obedece a constrangimentos familiares que não
dependem apenas da minha vontade. Todas as minhas obrigações legais, fiscais e
de transparência foram cumpridas“. Da parte do Bloco de Esquerda, o silêncio
mantém-se.
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