Vasco Lourenço. "No 25 de
Abril não falhou nada. Os partidos é que falharam"
Por Luís Claro
publicado em 12
Abr 2014 – ( jornal ) i online
O capitão de Abril fala da conspiração, do 25 de Abril e dos 40 anos de
democracia. Admite ter a tentação de se candidatar a Belém
Vasco Lourenço
tinha 31 anos quando fez o 25 de Abril. Quarenta anos depois, o homem que foi
decisivo na mudança de regime dedica muito do seu tempo à Associação 25 de Abril,
mas não afasta a hipótese de vir a envolver-se directamente na política com uma
candidatura à Presidência da República.
Quarenta anos
depois do 25 de Abril, o país atravessa uma crise sem precedentes na democracia
e é inegável que as pessoas estão a sofrer com a austeridade. O que é que
falhou?
Em termos de 25
de Abril, propriamente dito, eu acho que não falhou nada. Os grandes objectivos
do 25 de Abril foram cumpridos. Conseguimos a paz, com a resolução do problema
colonial, a liberdade, a democracia e a justiça social. A aproximação entre os
mais ricos e os mais pobres começou-se a fazer. Ganhou-se imenso na educação, na
saúde, na segurança social. Ainda hoje vinha a ouvir na rádio a informação de
que tínhamos, no 25 de Abril, 1% da população com cursos superiores, e hoje
temos 15%. É uma diferença abissal. Isso foi o que o 25 de Abril permitiu...
Mas alguma coisa
falhou nestes 40 anos para estarmos nesta situação.
Falhou a
organização dos portugueses, principalmente os partidos políticos. Falharam
rotundamente. Os partidos acabaram por transformar-se em agências de emprego e
agências de conquista do poder pelo poder. Criaram um sistema em que vão das
jotas e começam a ter empregos assim que chegam aos 20 anos, bem remunerados,
muitos deles. Basta comparar os vencimentos dos assessores dos ministros com 20
e poucos anos com os de coronéis, professores universitários, médicos...
Mas o Vasco
Lourenço lutou pela democracia representativa...
Sim, sim. Lutei
pela democracia representativa como base, mas fui sempre um grande adepto de
conjugar a democracia representativa com a democracia directa. As duas têm
espaço e não se devem atropelar. Foi uma hipótese que tivemos a seguir ao 25 de
Abril e um dos grandes falhanços que nós tivemos. Mas não eram os militares que
podiam impor isso. É evidente que houve atropelos de parte a parte. Houve
exageros de muitas organizações de base, que a certa altura queriam substituir
as competências do parlamento. E os partidos políticos, temerosos de que isso
pusesse em causa o seu próprio poder e querendo o poder todo para eles - e de
facto conseguiram -, minaram as organizações de base: as comissões de
moradores, as comissões de trabalhadores... Depois, com a evolução, chegámos ao
ponto a que chegámos. Hoje ninguém acredita nos agentes políticos.
Mas dificilmente
serão os partidos a fazer essa alteração.
Não mudam, porque
têm interesses. Fala--se no arco da governação e eu falo no arco do sistema.
Todos eles estão interessados em manter o sistema porque lhes convém e por isso
é difícil dar a volta a isto. Mas na minha opinião o que falhou não foi o 25 de
Abril. O 25 de Abril continua vivo no seu fundamental, os ideais é que estão a
ser atacados, e de que maneira, pelo poder. Estamos numa situação em que os
actuais detentores do poder agem como se fossem os herdeiros de quem foi
derrotado no 25 de Abril.
O que está a
dizer é que, apesar de vivermos em democracia, os nossos governantes estão mais
próximos de Salazar e de Marcello Caetano do que dos ideais do 25 de Abril?
Claramente. Está
a haver uma prática anti-25 de Abril por parte do poder. Estes cortes são
roubos. Eles não tocam nas PPP. Não tocam nos privilégios da EDP. Aí foi um
compromisso assumido. Então e o compromisso com os cidadãos que pagaram as
reformas com o seu trabalho? Eles já foram recuperar os valores roubados com o
caso do BPN? São cerca de 8 mil milhões de euros. Noutros sítios do mundo,
mesmo antes da punição ou não punição criminal, vão recuperar os valores que
foram desviados. Aqui não. É uma questão ideológica. Há bastante tempo que eu
digo, quando alguém acusa estes governantes de serem incompetentes, que eles
não são incompetentes. Eles são competentes, sabem o que estão a fazer e têm
objectivos para alcançar.
Mas, ao contrário
do que muita gente previa e apesar de toda a austeridade, o governo resistiu e
resiste à contestação. E provavelmente vai cumprir o mandato até ao fim. Não é
um sinal de que não existe uma alternativa disposta a governar?
Sabe que antes do
25 de Abril houve um jogo entre o Sporting e o Porto e o Marcello Caetano foi
lá. O Estádio de Alvalade estava cheio e ele foi muito aplaudido, como teria
sido aplaudido no Estádio da Luz ou das Antas. Foi aplaudido. As pessoas,
aparentemente, estavam a aguentar. "Aguenta, aguenta!", como diz o
outro. Quando se deu o 25 de Abril, passados uns dias, a festa do 1.o de Maio é
a coisa mais espantosa em que eu participei. Só vivendo. A população toda saiu
para a rua a festejar a liberdade. Em todo o país, não foi só em Lisboa. O que
eu sinto é que, aparentemente, as pessoas estão a aguentar, mas estão ansiosas
de que surja qualquer coisa que altere esta situação. Têm uma esperança de que
alguém faça...
Mas essa
alternativa está dentro do regime. O PS é uma alternativa?
Eu sou amigo
deles. Sempre me identifiquei ideologicamente com o PS e já apoiei algumas
iniciativas. É o partido que ocupa o espaço com que eu me identifico. Mas a sua
prática deixou muito a desejar ao longo dos anos. Fui muito crítico do governo
de Sócrates, porque, apesar de ter feito coisas muito boas, permitiu, fomentou
e serviu-se da corrupção. A corrupção aumentou bastante.
O que é que o faz
ter essa percepção ou essa desconfiança em relação aos governos de José
Sócrates?
As PPP...
As PPP são
corrupção ou são um erro político?
Não, não. São
corrupção pura e dura, crua. É impossível que não haja ali corrupção. Estes têm
outros objectivos e estão a vender o país a pataco. A privatizar tudo. O que é
criminoso em termos de interesse nacional. E temos uma situação que eu não
percebo como é possível. Houve um tribunal alemão que julgou o processo dos
submarinos e chegou à conclusão de que houve corrupção. Nós temos o principal
responsável envolvido no processo da compra dos submarinos como
vice-primeiro--ministro do governo de Portugal e em Portugal ninguém é preso.
Como é que isto é possível? Como é que pode haver credibilidade de um poder que
actua assim? Mas eu quero acreditar, ou melhor, faço muita força para acreditar
que vai ser diferente se o PS ganhar.
E acredita?
O PS ainda não
conseguiu criar e gerar uma onda de entusiasmo. Não entusiasma ninguém.
Está a falar do
PS em geral ou de António José Seguro?
Tenho por ele
consideração e dou-me bem com ele, mas não é visto como um líder. Não
entusiasma as pessoas.
A solução é mudar
de líder e procurar outra solução para eventualmente
ser o próximo
primeiro-ministro?
Eu gostava era de
ver o António José Seguro com outro tipo de atitude. Ser capaz de criar um élan
que não está a conseguir.
Isso não se
compra na loja...
É um facto, é um
facto.
Mas já disse que
é preciso um novo 25 de Abril, uma nova revolução. O que é que isso representa?
25 de Abril houve
um em toda a história universal e não é fácil que surja outro. Mas é preciso
haver uma alteração a esta situação e o que eu defendo é que essa alteração
seja conseguida através dos métodos democráticos. A convicção que eu tenho é
que o povo aguenta, aguenta, até rebentar. E nós quando rebentamos não somos
nada meigos.
Vamos correr com
os nossos governantes à paulada?
O que eu acho é
que existe um sentimento de revolta latente.
A austeridade não
vai acabar tão cedo e há até quem ache que o prolongamento da austeridade não é
compatível com a democracia. Mas a verdade é que assumimos o compromisso de
cumprir determinadas metas e podemos ter muitos anos de austeridade.
Tem de se ser
capaz de olhar para a situação e dizer que isso não é possível. Tem que se
encontrar uma saída e os povos têm de se unir para evitar a escravização que
está a ser feita pelo capital financeiro. Estou convicto de que vai haver
fortes convulsões. A não ser que as pessoas aguentem ser carneiros e aguentem
continuar a ser escravizadas.
Voltando ao 25 de
Abril. Foi feita justiça aos militares de Abril durante estes 40 anos?
Esse problema é
complicado. Todos os militares ou não militares que se metem em revoluções
acabam por ser trucidados pela própria revolução. No caso do 25 de Abril existe
uma particularidade muito concreta. Nós lutámos por valores, não lutámos por
interesses, e fizemos uma coisa única, que foi derrotar uma ditadura, criar
rapidamente uma democracia e passar o poder para os agentes da democracia. E a
grande maioria dos militares foi prejudicada na sua própria carreira militar. A
evolução da situação fez com que muito poucos militares de Abril chegassem ao
topo da carreira. Os militares de Abril eram os melhores, os mais capazes
profissionalmente, e por isso fizeram um acto que foi a operação militar mais
bem planeada e mais bem conseguida em toda a história das Forças Armadas. Só pode
fazer isto quem tem competência militar. Eu considero que os militares de Abril
eram os melhores das Forças Armadas.
Foram
prejudicados por quem?
Pela estrutura
militar.
E pelo poder
político...
O poder político
tratou-nos mal. Palmadinhas nas costas...
Foi sempre assim.
Sempre.
Palmadinhas nas costas, florzinhas na jarra, mas com uma ou outra excepção, na
generalidade, foi sempre assim. Repare que, inclusivamente, são os próprios
partidos que querem e pedem o pacto MFA/Partidos, que faz com que se crie na
Constituição um período de transição em que há um órgão com poderes bastante
fortes, que é o Conselho de Revolução. Foi acordado que assim que houvesse a
primeira revisão da Constituição esse órgão seria extinto, mas, a partir de uma
certa altura, dava a impressão de que estávamos lá porque exigíamos lá estar.
Não era assim?
Não. Tinham de
rever a Constituição para nós sairmos e gerou-se uma onda de contestação em
determinados sectores porque nós exigíamos o cumprimento da Constituição.
Terminou o Conselho de Revolução e há muitos que dizem que nos obrigaram a
regressar aos quartéis. É a maior ofensa que nos podem fazer. Nós regressámos
porque quisemos regressar desde o início. Mas há uns idiotas que ainda hoje
dizem que fomos obrigados a regressar aos quartéis.
Mas antes disso
gostava de falar do início da contestação. A primeira reunião foi em Évora em
Setembro de 1973. Na sua cabeça já estava a ideia de fazer um golpe de Estado?
Na minha sim, na
minha sim.
Não foi por
razões corporativas?
As razões que
levam ao 25 de Abril não são corporativas. As razões corporativas foram um
instrumento que foi utilizado para mobilizar as pessoas.
Antes do 25 de
Abril dá-se o 16 de Março. Nessa altura já estava nos Açores e, quando soube do
golpe das Caldas, achou que estava tudo estragado. O 16 de Março poderia ter
posto em causa o 25 de Abril?
Eu não estava cá
no 16 de Março. Aliás, uma das razões do 16 de Março foi a minha prisão e de
mais dois capitães. E a demissão dos generais Costa Gomes e Spínola. Mas está
tudo conjugado. Eu saí daqui no dia 15 de Março, depois de ter estado preso
durante seis dias na casa de reclusão da Trafaria, mas para perceber o 16 de
Março é preciso recuar à reunião do dia 5 de Março em Cascais. Nessa reunião
participaram em força os spinolistas. E quando se discute a necessidade de um
programa político eles tentam defender que não é necessário um programa
político, porque temos um chefe e vamos atrás dele. Isso é discutido e fomos a
votos novamente. O Costa Gomes volta a ganhar em toda a linha. Eles são
derrotados, porque uma das decisões da reunião de Cascais é a aprovação de um
programa político e toma--se a decisão de que os dois chefes ali escolhidos -
Costa Gomes e Spínola, por esta ordem - só seriam convidados a assumir o poder
se aceitassem previamente o programa que nós íamos elaborar.
Mas as coisas
precipitaram-se...
Fizeram tudo em
cima do joelho, de forma mal planeada, e deu o que deu. O Otelo deixou-se
envolver mas por sorte não foi preso. Mas pôde assistir às movimentações que
foram feitas e tirou daí ilações. Foi útil. Mas dizer que foi um tubo de
ensaio... O 16 de Março podia ter estragado tudo. Acabou por não estragar e
permitiu ao Otelo retirar ilações.
Mas alertou o
poder...
O poder ficou
convencido de que nos tinha cortado a cabeça e o Marcelo aparece a dizer, na
"Conversa em Família", que está tudo calmo.
O Marcelo também
disse, a seguir ao 25 de Abril, que não encontrou quem combatesse pelo governo.
Essa ideia de que o governo caiu de podre é verdadeira?
Eu rio-me quando
ouço alguém dizer isso, porque, por um lado, dizem que o governo caiu de podre
e, por outro lado, dizem que se não houvesse o 25 de Abril seria a mesma coisa.
Como aconteceu em
Espanha, em que houve uma transição sem revolução?
Mas em Espanha só
aconteceu assim porque houve o 25 de Abril aqui. E isso hoje já é assumido
pelos espanhóis. Até parece que foi fácil, mas não foi. Houve foi uma grande
capacidade para tornar tudo fácil. O 16 de Março é a melhor prova de que o
regime não caiu de podre. Tentou--se e ele não caiu. O grande mérito que o 25
de Abril tem, em termos militares, é que o planeamento prevê a acção de forças
em todo o país e à hora H todas as forças que tinham missões saíram para
cumprir a missão. Todas as que tinham missões saíram e saíram à mesma hora sem
olhar para o lado, à espera que o vizinho do lado saísse primeiro. E por isso
dá impressão de que foi fácil, mas não foi. Só falhou uma coisa aqui em Lisboa.
Foi a prisão dos oficiais de Cavalaria 7, que, se tivesse sido feita como
estava prevista, nem sequer a cena do Terreiro do Paço se tinha dado, porque os
oficiais que lá apareceram teriam sido todos presos. Essa missão falhou e quem
a falhou foi o Jaime Neves, que tinha a missão de prender os oficiais de
Cavalaria 7.
Estava nos Açores
há mais de um mês. Como é que acompanhou o desenrolar dos acontecimentos?
Eu tinha
combinado com o Otelo que ele enviaria para a sogra do Melo Antunes um
telegrama quando nos pudesse informar do início da operação e, no dia 24 de
Abril, a sogra do Melo Antunes recebeu um telegrama que dizia: "Tia Aurora
segue EUA. 25.03.00. Um abraço primo António." Aconteceu que eu estava de
oficial de serviço nesse dia, o que me facilitou bastante a vida. Se eu não
tivesse ido para os Açores estaria no lugar do Otelo. Eu costumo dizer que com
o Otelo correu muito bem, comigo nunca se saberá se teria corrido tão bem ou
não.
Faria alguma
coisa diferente? Já disse que não teria deixado que fosse o Spínola a receber a
rendição do governo.
Eu não gosto de
falar em ses, mas a minha convicção é que seria de facto diferente. Toda a
gente me diz, os amigos, os companheiros, que não têm dúvidas de que se fosse
eu que estivesse cá o Spínola não teria sido autorizado a ir receber a rendição
do Marcelo. Ou era o Salgueiro Maia ou ia lá eu ou outro.
Foi o Marcelo que
exigiu...
O Marcelo não
tinha condições para exigir nada.
Quando se
participa num acontecimento tão importante, como é que se lida com isso o resto
da vida? Ainda por cima quando se é protagonista de um acontecimento histórico
com 20 ou 30 anos.
É complicado, é
complicado. Porque, de facto, eu perdi por completo a minha liberdade
individual, mesmo de ir aqui ou ir ali sem ser reconhecido. Eu fui o porta-
-voz do MFA a seguir ao 25 de Abril, estava diariamente na televisão e fiquei
conhecido por toda a gente. Isso condicionou- -me e obrigou-me a alguma
contenção. Depois, em termos de objectivos, liguei muito pouco aos meus
interesses pessoais. Quiseram promover-me a general e eu recusei essa hipótese.
Pedi insistentemente que não o fizessem. E continuei a lutar por valores e
continuo esta luta. Fui, depois do Conselho da Revolução, o promotor principal
da Associação 25 de Abril. Sou o sócio número 1 e tenho sido sempre o
presidente da direcção. Nunca tive concorrente, mas pago para aqui estar.
Paga...
Pago. Quando se
fazem medalhas pago as medalhas. Quando fazemos o jantar do 25 de Abril pago o
jantar. Estou aqui por amor à camisola e pago para cá estar. Realizo- -me assim
e tive a sorte de ter participado activamente no 25 de Abril. Nunca tive, não é
a tentação, porque a tentação às vezes existe, mas consegui sempre resistir a
apelos para outro tipo de actividades. Recusei desde sempre a hipótese da
candidatura a Presidente da República. Fizeram-me esse desafio em praticamente
todas as eleições até hoje.
Tem sido
desafiado a candidatar-se por outros militares de Abril?
Por parte de
militares e não só. Posso dizer que em 1980 tive de ir a Coimbra para desmontar
a organização do lançamento da minha candidatura à Presidência da República. Na
última eleição voltaram a pressionar-me para me candidatar. Tenho conseguido
sempre resistir a essa hipótese.
Não se candidata
por não ter meios para assumir uma candidatura ou por achar que não é a pessoa
certa?
Talvez me falte
um bocadinho de coragem. Eu que sou uma pessoa com coragem e penso que já o
demonstrei seja na guerra, seja fora da guerra. Falta-me qualquer coisa. É uma
situação complicada e contraditória, porque eu olho para o que lá está agora e
não tenho dúvida nenhuma de que faria melhor do que ele. Mas até agora tenho
resistido e estou apaixonado pelo 25 de Abril e pelos valores do 25 de Abril.
Mas afasta a
hipótese de se candidatar à Presidência da República ou para as próximas
eleições pode ser diferente?
O que eu digo é
que se esses apelos voltarem a surgir eu espero resistir a isso. Eu não gosto
de falar em ses. Eu nunca digo dessa água não beberei. A minha convicção, neste
momento, é que se tentarem dar-me dessa água a beber eu vou resistir e não
beberei dessa água, mas nunca digo dessa água não beberei. É uma maneira de
estar na vida. Sei lá se perco algumas defesas pessoais e me deixo envolver em
aventuras às quais tenho conseguido resistir?
Ficou
surpreendido com a resposta da presidente da Assembleia à vossa proposta para
discursarem no parlamento? Diz que o problema é vosso .
Se a presidente
da Assembleia diz que o problema é nosso está resolvido. Não vamos.
Tem um neto com
cinco anos. Já lhe falou do papel que o avô teve no 25 de Abril?
Ele ainda não tem
idade para isso. Tem cinco anos e meio. A minha filha, que é sua colega
jornalista, é que é fruto do 25 de Abril. O neto ainda não dá. Eu dediquei--lhe
aquele meu livro ("Do Interior da Revolução") quando ele tinha um ano
e pouco e espero que ele um dia venha a ler e conheça um pouco da história e do
papel do avô. Ainda não dá. Dá para curtir um pouco, porque estou a tentar
fazer com ele aquilo que não tive possibilidade de fazer com a minha filha,
porque a minha filha nasceu a 1 de Outubro de 1974. Eu costumo dizer que já
nasceu depois do 28 de Setembro.
E casou em plena
conspiração...
Em Setembro de
1973, e a minha mulher dizia-me: um dia chegas a casa e a tua filha não te
conhece. Não pude usufruir da infância dela e tento usufruir um bocadinho mais
da do meu neto. Eu costumo dizer que o dia mais feliz da minha vida foi quando
nasceu a minha filha e a seguir o meu neto. O 25 de Abril vem a seguir. Estava
em segundo lugar, mas agora ficou em terceiro.
Calculo que as
muitas reuniões que tinham às vezes pela noite dentro, e a forma como se
envolveu na preparação do 25 de Abril e mais tarde na construção da democracia,
tenham roubado muito tempo à família.
A minha família
foi muito prejudicada, em termos pessoais, pelo 25 de Abril. Eu sou um dos que
não se divorciaram e continuo felizmente com a mesma mulher. Damo-nos bem, nunca
tivemos problemas e admiro-a muito. Mas ela, por exemplo, quando fizeram o
livro "As Capitãs de Abril", recusou-se a falar. Ela diz: "Já
dei muito para o 25 de Abril." Não quer falar, não quer aparecer e eu
respeito. A minha mulher e a minha filha são as maiores críticas de muitas
declarações e de muitas posições públicas que eu tomo. Mas eu sou um homem de
paixões e continuo apaixonado pelo 25 de Abril. Espero que o meu neto tenha
orgulho no que o avô fez.
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