HELENA ROSETA E ANTÓNIO COSTA
DESENTENDEM-SE POR CAUSA DA COLINA DE SANTANA
Texto: Fernanda Ribeiro in BLOG “OCORVO”
16 Abril, 2014, http://ocorvo.pt/2014/04/16/helena-roseta-e-antonio-costa-desentendem-se-por-causa-da-colina-de-santana/
O processo relativo
à Colina de Santana voltou a ser discutido, terça-feira, na Assembleia
Municipal de Lisboa, onde gerou desentendimentos pouco usuais entre os
presidentes da Câmara Municipal e daquele órgão. Helena Roseta chegou mesmo a
intervir em defesa da sua honra, na sequência de afirmações feitas por António
Costa sobre a correspondência trocada entre o vereador Manuel Salgado e a
Estamo, a empresa estatal que detém o património dos hospitais a encerrar.
Na sessão, o
presidente da câmara saiu em defesa do vereador do urbanismo, dizendo que a
carta enviada à Estamo não estava escondida e até traduzia um pedido que ele
próprio fizera a Manuel Salgado. “Essa carta foi enviada à Estamo a meu pedido,
para não haver dúvidas de que os Pedidos de Informação Prévia estavam suspensos”,
disse Costa. Mas o autarca acabou por envolver a presidente da Assembleia
Municipal na justificação apresentada, dizendo que ela tinha conhecimento dessa
missiva, porque ele próprio lhe falara dela.
Helena Roseta não
gostou do que ouviu e mostrou o seu desagrado: “O senhor presidente invocou o
meu nome e disse que teria falado comigo sobre a carta à Estamo. Mas as coisas
não se passaram exactamente assim. O que houve foi uma conversa política entre
a presidente da Assembleia, pessoas do PS e independentes sobre essa
correspondência. E o que eu disse na altura foi que, ‘uma vez que as cartas não
constavam do processo, eu não podia ter conhecimento delas’. Isso foi o que eu
disse. O vereador Manuel Salgado é que foi para o PÚBLICO falar das cartas”,
acrescentou Roseta, visivelmente irritada e afirmando estar a intervir “em
defesa da honra”.
António Costa
ainda tentou pôr água na fervura. “Longe de mim ofender a sua honra. É que eu
não entendi que aquela fosse uma conversa privada”, argumentou. Mas nem só
nesta situação Roseta e Costa se desentenderam, na sessão de terça-feira da
assembleia. Logo a seguir, uma outra questão levou a presidente da Assembleia a
mostrar-se crítica face à atitude de António Costa.
O tema da Colina
de Santana não estava sequer previsto em qualquer proposta ou moção, mas foi
trazido a debate pelo deputado municipal Ricardo Robles, do Bloco de Esquerda,
que criticou o facto de “um processo que diz respeito à urbanização de 16 hectares do centro
da cidade” e que foi alvo de uma série de debates na Assembleia Municipal não
ser sequer referido na informação escrita que o presidente da Câmara ali
apresentou sobre a actividade recente do executivo.
“Lamentamos que
não fale neste assunto na informação escrita”, disse o deputado bloquista, para
quem o processo da Colina de Santana “não tem sido nada transparente”. Robles
criticou também a atitude do vereador Manuel Salgado e o facto de não ter sido
dado conhecimento aos deputados municipais da correspondência que trocou com a
Estamo – empresa estatal que detém o património dos hospitais da Colina de
Santana – sobre os Pedidos de Informação Prévia (PIP) apresentados à câmara.
Crítica idêntica
ao vereador do urbanismo fora já antes expressa pela presidente da Assembleia
Municipal de Lisboa, Helena Roseta, que na anterior reunião lamentara que
Manuel Salgado não tivesse comunicado aos deputados municipais o que revelou
depois ao jornal PÚBLICO sobre os PIPs. Nomeadamente que eles teriam de ser
revistos em matéria de cérceas, volumetrias e rede viária, porque, tal como
estavam, violavam a lei.
Uma outra
questão, também suscitada pelo Bloco de Esquerda e igualmente relativa a falhas
de informação, acendeu os ânimos na sessão da Assembleia Municipal de Lisboa
(AML). E fez exaltar António Costa. Tratava-se do relatório sobre obras
públicas municipais que o Tribunal Constitucional obrigou o presidente da
câmara a divulgar ao jornalista José António Cerejo, do PÚBLICO, depois deste
ter recorrido aos tribunais para conseguir ter acesso à informação.
“Quando vai
cumprir a decisão do Tribunal Constitucional?”, perguntou o deputado bloquista
Ricardo Robles ao presidente da câmara. António Costa disse ter já cumprido
essa resolução, mas a contragosto, uma vez que entendia que os documentos de
trabalho do executivo não têm de ser da esfera pública. “Só cumpri aquilo a que
fui obrigado pelo Tribunal, porque não tive alternativa. E defenderei até à
ultima que os documentos de trabalho não têm de ser públicos. Mas a minha
obrigação de divulgar o relatório é para com o jornalista José António Cerejo,
que levou o caso aos tribunais, não abrange a Assembleia Municipal”, disse
ainda o presidente da câmara, ainda que, como também informou, o documento já
tivesse sido enviado à AML.
E isto levou de
novo Helena Roseta a intervir, colocando os pontos nos ii: “A mesa regista com
agrado que a carta (à Estamo) já cá está e que o relatório também já cá está. Os
documentos são para ser apreciados por todos. E assim é que deve ser”, afirmou
peremptória.
Texto: Fernanda Ribeiro
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