Merkel acusa Barroso e troika de
serem os culpados da austeridade
Por Margarida Bon
de Sousa
publicado em 17
Maio 2013 in
(jornal) i online
Austeridade é culpa da cegueira de Bruxelas e presidente da Comissão
Europeia devia ter nomeado comissário para a Grécia
Zangam-se as
comadres, sabem--se as verdades. Afinal a austeridade sacrossanta que castiga
países como Portugal não é culpa de Merkel ou de Schäuble, os maus da fita para
mais de metade da Europa. Não. A culpa é de Bruxelas, da Comissão Europeia e do
incompetente presidente Durão Barroso. Pela segunda vez em menos de um mês, o
verniz voltou a estalar entre a Alemanha e Bruxelas, deste vez em sentido
totalmente contrário ao da posição de Berlim quando o presidente da Comissão
Europeia disse que já bastava de austeridade. Quarta-feira, num encontro
informal em Berlim com jornalistas, Wolfgang Schäuble, ministro das Finanças
alemão, afirmou que os programas de ajustamento da troika são demasiado rígidos
e com pouca flexibilidade, criticando Durão Barroso por não ter nomeado um
comissário europeu para a Grécia. Já Angela Merkel, que também participou na
reunião, defendeu que o pacote de 6 mil milhões de euros para promover o
emprego jovem na UE deveria antes ser utilizado para pagar reformas, de forma a
serem criadas vagas nos empregos já existentes.
As afirmações dos
dois dirigentes alemães surgiram no mesmo dia em que foi tornado público que o
produto interno bruto (PIB) da zona euro contraiu 0,2% nos primeiros três meses
de 2013, o que representa a sexta queda trimestral consecutiva, naquela que é a
maior e mais longa recessão desde a criação do euro. Nove destas 17 economias
recuaram enquanto o PIB no conjunto dos 27 estados-membros contraiu 0,1%.
Volte-face
Os
novos dados dão um apoio renovado a todos aqueles que defendem há muito que
mais austeridade só vai criar mais recessão, numa espiral sem fim à vista. A
própria Alemanha, a maior economia da zona euro, cresceu 0,1% em relação ao
trimestre anterior, mas decresceu 0,3% face ao mesmo período do ano passado. Já
a França, a segunda maior economia do conjunto de países que utilizam a moeda
única, também caiu 0,4% relativamente a período homólogo de 2012, ao mesmo
tempo que registou uma nova contracção de 0,2% relativamente ao último
trimestre do ano passado.
Foi certamente
este quadro que por fim levou Berlim a juntar a sua voz contra a austeridade à
de outros países como a Grécia, Espanha e Portugal, demarcando-se da Comissão
Europeia, apesar de até agora a senhora Merkel ter sido sistematicamente
apontada como a grande incentivadora dos programas impostos pela troika
(Comissão, BCE e FMI) a todos os estados-membros que necessitaram de resgates
para não entrarem em default (Portugal, Grécia, Irlanda e Chipre). A este
volte-face não será alheio o facto de a chanceler alemã, que ainda mantém um
alto índice de popularidade, ter pela frente uma terceira reeleição, pelo que a
posição agora assumida pode inserir-se na sua próxima batalha eleitoral, depois
de várias derrotas consecutivas da CDU em eleições regionais.
Durão criticado
Em Abril, o porta-voz da CDU “convidou” Durão Barroso a precisar o que quis
dizer quando afirmou numa conferência de imprensa que os limites à austeridade
eram visíveis em alguns aspectos. “Apesar de esta política estar
fundamentalmente correcta, penso que alcançou os seus limites em muitos
aspectos, porque uma política, para ser bem sucedida, não pode ser apenas bem
estruturada. Tem de ter um mínimo de apoio político e social”, disse na altura
o presidente da Comissão Europeia.
Quarta-feira, e
noutro encontro com jornalistas, Durão Barroso, acompanhado do presidente da
França, François Hollande, teve um discurso mais politicamente correcto,
optando por pôr a tónica das suas declarações na vitória da União Europeia,
por, no seu conjunto, ter finalmente atingido o valor mágico de 3% para o
défice. Um dado que nem Merkel nem Schäuble valorizaram em Berlim.
Sem comentários:
Enviar um comentário