domingo, 13 de abril de 2014

Tempo está a esgotar-se para evitar um aquecimento catastrófico do planeta

Na última década as emissões de gases com efeito de estufa aumentaram 2,2% STEFFI LOOS/REUTERS

Tempo está a esgotar-se para evitar um aquecimento catastrófico do planeta
ANA FONSECA PEREIRA 13/04/2014 – PÚBLICO

Terceiro relatório do IPCC diz que só uma aposta "maciça" nas energias renováveis pode evitar que a temperatura suba 4,8ºC até ao final do século.
O mundo ainda vai a tempo de cumprir o objectivo de limitar o aquecimento global, mas os atrasos e incumprimentos da última década tornam imperativa uma “mudança maciça” a favor das energias renováveis, adianta o terceiro relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC). Se nada for feito, até ao final do século a temperatura na Terra vai subir entre 3,7 e 4,8 graus centígrados.

“A mensagem da ciência é clara: para se evitarem interferências perigosas no sistema climático temos de mudar de abordagem”, afirmou Ottmar Edenhofer, co-presidente do grupo que redigiu o relatório sobre formas de mitigar o aquecimento global, última parte de uma série de análises pedidas ao IPCC e que servirão de base às difíceis negociações internacionais para um novo acordo de redução das emissões de gases com efeito de estufa (GEE).

A última avaliação aconteceu em 2007 e, já depois disso, os governos comprometeram-se a limitar as emissões de forma a que a temperatura na Terra não subisse mais do que dois graus centígrados por comparação à media da era pré-industrial – os cálculos actuais mostram que desde então os termómetros já subiram 0,8ºC.

Mas nem o aumento dos fenómenos extremos (secas, cheias, furacões) nem a ameaça da subida do nível das águas foi suficiente para transformar as promessas em acção. Segundo o IPCC, entre 2000 e 2010, as emissões de GEE aumentaram 2,2%, com os Estados Unidos (a maior economia mundial) e a China (o país em maior expansão) a liderarem a lista de poluidores.

“Sem uma redução das emissões até 2030, será mais difícil não ultrapassar os 2ºC e as opções serão mais reduzidas”, alerta o relatório, fruto da colaboração de mais de mil cientistas de todo o mundo, e do qual foi neste domingo divulgado um “Sumário para os Decisores”.

Para evitar uma catastrófica subida nas temperaturas, será necessário que até à metade deste século, as emissões de GEE baixem entre 40 a 70%, mantendo a descida progressiva até 2100. O que implica, dizem, triplicar ou mesmo quadruplicar o investimento nas energias de “baixo carbono” – definição em que se integram as renováveis, o nuclear e os combustíveis fósseis associados a tecnologia de captura e armazenamento de CO2, o principal gás com efeito de estufa.


“Não digo que seja uma mudança sem custos, ou que haja almoços grátis nas políticas climáticas, mas este é um almoço pelo qual vale a pena pagar”, afirmou Edenhofer, sublinhando que o mundo “tem uma janela de oportunidade de uma década, no máximo duas” para evitar um cenário catastrófico. Nos cálculos do IPCC, a aposta em energias mais limpas não põe em causa os padrões de vida conseguidas nas últimas décadas e terá um custo anual estimado de apenas 0,06% da riqueza produzida no globo.

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