João Alberto Correia |
Obras em instalações do PSP, do
SEF, da ANPC e da GNR sob investigação
MARIANA OLIVEIRA
29/04/2014 - PÚBLICO
Procuradoria-Geral da República confirma detenção do ex-director geral de
Equipamentos do MAI e adianta que o suspeito será ouvido nesta quarta-feira no
Tribunal Central de Instrução Criminal.
A Polícia
Judiciária deteve nesta terça-feira o ex-director-geral de Infra-estruturas e
Equipamentos do Ministério da Administração Interna (MAI), João Alberto
Correia, no âmbito de uma investigação de corrupção que levou à realização de
buscas durante toda a manhã de terça-feira naquela direcção-geral afecta ao
MAI.
As buscas
alargaram-se a vários locais do país, nomeadamente em empresas de construção
civil, numa operação que envolveu algumas dezenas de inspectores da PJ.
A investigação
está a passar a pente fino os contratos assinados pelo dirigente que cessou
funções há menos de três meses. Uma busca na base de dados da contratação
pública permite concluir que João Alberto Correia recorria em abundância ao ajuste
directo, o que aconteceu 224 vezes nos três anos que esteve em funções. Nesse
período, o dirigente só realizou um concurso público, tendo feito 19 ajustes
directos de obras em instalações do MAI com valor entre os 140 mil e os 150 mil
euros, o limite máximo para os ajustes directos previsto nas regras da
contratação pública.
São exemplos
disso a ampliação da sede da Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC), em
Carnaxide, a remodelação da 2.ª Esquadra do Comando Metropolitano de Lisboa da
PSP, várias obras de adaptação dos antigos governos civis a instalações do
Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) ou da GNR. O dirigente também é
suspeito de criar empresas de arquitectura a quem adjudicaria a realização de
projectos, cometendo assim o crime de participação económica em negócio.
A
Procuradoria-Geral da República (PGR) confirmou terça-feira à tarde a detenção
do antigo dirigente da Administração Pública e adiantou que o suspeito será
ouvido nesta quarta-feira no Tribunal Central de Instrução Criminal, pelo juiz
Carlos Alexandre.
O arquitecto João
Alberto Correia, 48 anos, esteve em funções até ao início de Fevereiro, tendo
sido exonerado a seu pedido, segundo o despacho do secretário de Estado adjunto
do Ministro da Administração Interna, Fernando Alexandre, publicado a 18 de
Fevereiro em Diário da República. O dirigente da Administração Pública
transitara já do anterior Governo, liderado por José Sócrates, tendo sido
nomeado por um despacho de 4 de Março de 2011 assinado pelo próprio primeiro-ministro
e pelo então ministro da Administração Interna, Rui Pereira. Isto duas semanas
e meia antes de José Sócrates ter anunciado o seu pedido de demissão.
Dias antes da
saída de João Alberto Correia, o secretário de Estado Fernando Alexandre
assinava um despacho que reduzia de forma significativa as competências
delegadas naquele responsável. Se até 31 de Janeiro deste ano, o dirigente
estava autorizado a realizar despesas com empreitadas de obras públicas,
aquisição e locação de bens e serviços até 500 mil euros, nesse dia o limite
passou a ser de 100 mil euros.
João Alberto
Correia é doutorado em arquitectura pela Universidade de Salford, Reino Unido,
tendo sido entre 2009 e 2010 consultor para a área da construção do então
secretário de Estado Adjunto das Obras Públicas, Paulo Campos. Em 2009 foi
igualmente adjunto do secretário de Estado adjunto e da Justiça, Conde
Rodrigues.
Numa nota
divulgada a meio da tarde de terça-feira, a Procuradoria-Geral da República
(PGR) confirma a detenção de João Alberto Correia e completava que o inquérito,
que corre no Departamento Central de Investigação e Acção Penal, “tem como
objecto eventuais ilegalidades relacionadas com obras efectuadas em estruturas
da responsabilidade do Ministério da Administração Interna”. Em causa,
acrescenta o comunicado, estão suspeitas da prática de crimes de corrupção e
participação económica em negócio.
A PGR confirma
igualmente a realização das buscas na Direcção-Geral de Infra-estruturas e
Equipamentos, em Lisboa, em colaboração com a Unidade Nacional de Combate à
Corrupção e que estiveram a ser acompanhadas pelo juiz Carlos Alexandre. A
investigação decorre há largos meses, segundo fontes contactadas pelo PÚBLICO.
O MAI já reagiu a
esta operação, informando que “no âmbito de uma auditoria e processo de
inquérito à Direcção-Geral de Infra-estruturas e Equipamentos — realizado pela
Inspecção-Geral da Administração Interna — foi determinado, pelo ministro da
Administração Interna, a remessa ao Ministério Público dos factos já apurados
com eventual relevância criminal”.
Sem comentários:
Enviar um comentário