Árvores de cidade. Os pontos
verdes que deixam Lisboa respirar
Por Marta
Cerqueira
publicado em 26
Abr 2014 in
(jornal) i online
A capital nunca teve planeamento mas os lisboetas habituaram-se às calçadas
levantadas ou às copas junto aos prédios
Nomes como Pinus
pinea , Cupressus sempervirens ou Quercus suber, além de difíceis de ler, pouco
dizem a quem não estuda temas ligados à natureza ou ao ambiente. No entanto,
traduzindo esse latim em linguagem comum, dá origem a termos tão familiares
como pinheiro-manso, cipreste ou sobreiro. E desengane-se quem pensa que para
ver estas espécies ao vivo e a cores é obrigatória uma viagem ao campo. Estas
são algumas das 190 espécies de árvores espalhadas por toda a cidade de Lisboa.
Ana Júlia
Francisco, técnica da divisão de Jardins da Câmara Municipal de Lisboa, garante
que a aposta tem sido na biodiversidade, daí a capital ter um arvoredo tão
variado, ainda que algumas das espécies estejam pouco representadas. "Quase
se pode plantar tudo, desde que depois haja capacidade de manutenção." Com
quase 50 mil árvores plantadas na cidade - não contando com os aglomerados em
grandes jardins e parques - a escolha das espécies tem de ser criteriosa.
"O tipo de
árvore deve ser escolhido considerando sempre a envolvente", explica Ana
Júlia Francisco, lamentando que não existam regras específicas nem um
planeamento global para a cidade: "Os planos do projectista têm um grande
peso na escolha das espécies, dando-se mais importância à parte visual da
árvore na paisagem urbana." As árvores em caldeira, ou seja, aquelas que
se encontram nas vias da cidade delimitadas no local de plantação, são as que
necessitam de mais cuidado, por serem as que mais problemas podem trazer. "As
árvores em caldeira são as que causam mais conflitos por estarem perto de
estruturas da cidade, principalmente habitações", explicou a técnica da
autarquia. As árvores podem ser desadequadas pela dimensão em estado adulto,
tanto em espaço aéreo, como no tamanho das raízes.
Estes problemas
acontecem, por exemplo, com os pinheiros no cimo do Parque Eduardo VII ou perto
do Museu da Marinha, em Belém, zonas em que o asfalto se levantou por causa da
força das raízes. Já na Avenida Miguel Bombarda, o principal obstáculo vem da
copa das árvores, que em adultas ficaram muito próximas das fachadas.
Apesar de a
plantação de árvores na cidade ser do agrado da maioria dos lisboetas, há
muitas queixas de alergias sazonais. Ana Júlia Francisco garante, contudo, que
a falta de informação leva a população a culpar o arvoredo da cidade, quando a
maioria das alergias vem das plantas mais herbáceas.
Apesar dos
incómodos que possam provocar, a técnica da câmara municipal defende que
"as pessoas habituam-se rapidamente a viver com as condições
oferecidas" e, por isso, as reclamações não são tão frequentes. Não deixa,
no entanto, de haver alguns casos caricatos. "Já tivemos queixas de
pessoas que diziam fazer alergia à árvore plantada em frente à sua porta e que
por isso exigiam que fosse abatida. Se arrancássemos todas as árvores que
apresentam um pequeno problema tínhamos que arrancar imensas", contou ao
i.
Em Lisboa, as
árvores são abatidas apenas quando estão doentes ou então quando representam
riscos para pessoas ou bens. E, regra geral, são imediatamente replantadas
outras. Apenas nos casos em que se prova que estão a causar estragos prementes
- por estarem perto de habitações, quando ocupam a totalidade do passeio ou as
raízes estão a ficar sem espaço - é que não se promove a replantação.
Com um número de
árvores que tem crescido de forma constante nos últimos anos, Ana Júlia
Francisco garante que "Lisboa é uma cidade bastante arborizada",
ficando "a par de grande parte das capitais europeias".
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