terça-feira, 29 de abril de 2014

Extrema-direita: Farage, Le Pen e Wilders em rota para vencer eleições europeias


Extrema-direita: Farage, Le Pen e Wilders em rota para vencer eleições europeias
ANA FONSECA PEREIRA 28/04/2014 – PÚBLICO

Sondagens indicam que um novo grupo parlamentar, liderado pela Frente Nacional e pelo Partido da Liberdade holandês, pode surgir no Parlamento Europeu.

A quatro semanas das eleições europeias, as sondagens mostram que o terramoto que se anuncia há meses está perto de se concretizar: no Reino Unido, em França e na Holanda, as projecções colocam na frente das intenções de voto os partidos xenófobos e populistas, que, imunes a polémicas, parecem ter encontrado a fórmula certa para tirar o melhor partido do descontentamento dos eleitores.

Uma sondagem publicada no domingo pelo jornal Sunday Times atribuiu ao Partido da Independência do Reino Unido (UKIP) 31% das preferências, três pontos acima dos trabalhistas, com os conservadores reduzidos a 19% a um inédito terceiro lugar em votações nacionais. Um cenário já admitido por analistas, mas que só agora ganha força nas sondagens: o estudo do instituto YouGov é apenas o segundo em 16 realizados neste ano a prever a vitória do partido de Nigel Farage e o primeiro a atribuir-lhe mais do que dois pontos de vantagem sobre o Labour.

O UKIP, que faz da saída da União Europeia a razão da sua existência, cresce à custa dos tories, da quase aniquilação do Partido Nacional Britânico (dos 6% que em 2009 lhe valeram a eleição de um eurodeputado, o BNP obtém agora menos de 1%), e Farage admite que o seu alvo são agora os eleitores trabalhistas das cidades operárias do Norte, receosos de que o aumento da imigração reduza os salários no país.

Uma subida que não é travada pelos escândalos ou a má imprensa – sucedem-se os militantes do partido desautorizados por causa de afirmações racistas e o próprio Farage foi visado numa investigação do Times por causa de despesas abusivas que apresentou enquanto eurodeputado. “É muito preocupante ver que eles desenvolveram uma imunidade em relação à verdade”, disse ao jornal Guardian o antigo ministro trabalhista Peter Hain, para quem a verdadeira arma do UKIP não é o eurocepticismo, mas a ideia de que são um partido anti-sistema e que lhes permite canalizar o voto de quem sente os efeitos da crise europeia e não se revê já nos partidos tradicionais.

Cenário idêntico, a mesma tendência verifica-se em França, onde duas sondagens divulgadas no final da semana passada atribuem à Frente Nacional 24% das intenções de voto, dois pontos acima da UMP (direita) e a quatro dos socialistas. “O nosso objectivo é ficar na frente a nível nacional”, insiste Marine Le Pen, que depois dos bons resultados nas municipais espera transformar as eleições de 25 de Maio no trampolim definitivo para a primeira fila da política francesa.

E as boas notícias para Le Pen não se esgotam em França. As previsões da Pollwatch2014, que analisa a tendência das sondagens nos 28 países da UE, indicam que a aliança que a Frente Nacional firmou com o Partido da Liberdade (PVV) do holandês Geert Wilders (que parece ter ultrapassado o escândalo que provocou ao defender “menos marroquinos em Haia” e que lidera de novo as intenções de voto) pode dar origem a um novo grupo no Parlamento Europeu.

Para formar um novo bloco parlamentar são precisos pelo menos 25 eurodeputados de sete Estados-membros – a última projecção da Pollwatch2014 indica que a aliança entre a FN e o PVV, a que se juntaram entretanto o Partido da Liberdade austríaco, a Liga Norte italiana, o Vlaams Belang da Bélgica e dois pequenos partidos de extrema-direita da Suécia e da Eslovénia poderão eleger 38 deputados, o que lhes garantiria ajudas de dois milhões de euros por ano.


De fora deste bloco ficam os partidos neonazis da Aurora Dourada (Grécia) e Jobik (Hungria) e também o UKIP que, pela segunda vez, recusou o convite que lhe foi endereçado por Le Pen. O partido de Farage explica que, apesar do discurso mais moderado da filha de Jean-Marie Le Pen, a FN tem “no seu ADN o preconceito, e em particular anti-semitismo” que diz repudiar.

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