Câmara mandata António Costa para
negociar com o Governo a gestão da Carris e do Metro
MARISA SOARES
15/04/2014 - PÚBLICO
Autarca quer assumir a gestão das empresas de transportes públicos durante
cinco a dez anos e ficar depois com a titularidade das mesmas.
A Câmara de Lisboa aprovou nesta terça-feira uma proposta que mandata o
presidente, António Costa, para negociar com o Governo a passagem da gestão da
Carris e do Metropolitano de Lisboa para o município.
“O município de
Lisboa reafirma a sua vontade de vir a assumir e exercer a plenitude das suas
atribuições e competências legais quanto à definição e gestão das redes de
transportes públicos da cidade, bem como de ser restituído nos seus direitos
relativos à Carris e ao Metropolitano”, lê-se na proposta, aprovada em reunião
de câmara extraordinária com os votos favoráveis do PS e dos vereadores
independentes.
Os eleitos do
CDS-PP e da CDU abstiveram-se. "A alternativa a não haver uma privatização
das empresas é mantê-las na esfera pública, porque é a melhor maneira de
garantir os direitos dos trabalhadores e dos utentes", argumentou o
vereador comunista Carlos Moura em declarações ao PÚBLICO. Embora esteja contra
a privatização, a CDU tem dúvidas quanto à viabilidade da solução defendida por
António Costa, motivo pelo qual se absteve. "A seu tempo nos
pronunciaremos sobre o que sair desta negociação", acrescentou Carlos
Moura.
O PSD, por sua
vez, votou contra e apresentou mesmo uma proposta alternativa, que foi chumbada.
"O PSD-Lisboa sempre reivindicou do Governo a possibilidade de a câmara
intervir de forma determinante nas opções das empresas de transporte da cidade
mas não de assumir a gestão das mesmas", explicou ao PÚBLICO o vereador
social-democrata António Prôa. "A câmara não tem vocação para isso",
insistiu, sublinhando que não são conhecidos os eventuais impactos financeiros
da transferência da gestão para o município.
Negociações são
"difíceis", admite Costa
Em conferência de
imprensa ao final da manhã, António Costa afirmou que o Governo “convidou a
Câmara de Lisboa para participar no processo de avaliação das alternativas”
sobre a gestão e a titularidade daquelas empresas. “No quadro deste processo,
foi identificada a oportunidade de o município de Lisboa assumir desde já a
gestão da Carris e do Metro, sem prejuízo da titularidade do capital das
empresas se manter exclusivamente no Estado”, acrescentou. O PÚBLICO e outros
jornais noticiaram no sábado que o Governo terá já manifestado abertura a este
cenário, mas a Secretaria de Estado dos Transportes não confirma esta
informação.
António Costa
quer negociar com a tutela a gestão municipal do Metro e da Carris por um
período de cinco a dez anos, após o qual defende a entrega da titularidade das
empresas ao município – no caso do Metropolitano de Lisboa, seria um regresso
da empresa à esfera municipal, uma vez que a câmara detinha 98,5% do capital
antes da nacionalização em 1975. “A vontade da câmara é que no futuro reassuma
[a titularidade] e seja restituída na íntegra dos seus direitos”, sublinhou.
“Entendemos que
neste momento devemos, sem prejuízo do futuro da titularidade, desde já
negociar a gestão”, garantindo “uma partilha adequada de encargos [entre o
Estado e o município] relativos à exploração e aos investimentos das empresas”,
declarou o autarca. António Costa disse ter já uma proposta de modelo de gestão
para apresentar à tutela, embora tenha recusado apresentá-la aos jornalistas
para "não condicionar" as negociações, que admite serem
"difíceis".
Nos termos da
proposta aprovada nesta terça-feira, a negociação a conduzir por António Costa
terá de levar a um modelo que promova "uma melhoria clara da qualidade,
fiabilidade e segurança do serviço, da cobertura da rede e a recuperação de
passageiros". Terá também de
garantir que esse modelo "não afecta o equilíbrio operacional das
empresas, nem o equilíbrio financeiro do município", e que fica excluída a
concessão a privados. A privatização é, porém, a solução prevista no memorando
de entendimento assinado com a troika no âmbito do actual programa de
ajustamento financeiro.
Para António
Costa, "não há mais-valia na alienação de capital, nem na entrega da
gestão a privados". Embora reconheça um "elevadíssimo risco" na
decisão de assumir a gestão das empresas, cujo passivo deverá ser assumido pelo
Estado, o autarca sublinha que "o município tem boas condições" para
enfrentar essa responsabilidade, uma vez que "tem as sinergias que
resultam da gestão da via pública e do estacionamento na cidade".
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