Tribunal de Contas diz que não
autorizou venda das obras de Miró e quer conhecer contrato
Se se confirmar que o contrato celebrado com a leiloeira deveria ter sido
submetido a fiscalização prévia, Parvalorem corre o risco de o ver anulado
“A regra nos actos e contratos públicos deve ser a transparência e a
publicidade”, adiantou a mesma fonte, sublinhando que “a Parvalorem é uma
entidade sujeita à jurisdição e controlo do TC incluindo a fiscalização prévia
nos termos que a lei prevê”
Cláudia Carvalho
/ 15-4-2014 / PÚBLICO
O Tribunal de
Contas (TC) não conhece até hoje o contrato celebrado entre a Parvalorem e a
Christie’s para a realização do leilão das 85 obras de Joan Miró. Questionada
pelo PÚBLICO sobre se o contrato de venda das obras passou pelo TC para efeitos
de fiscalização, fonte oficial do tribunal diz “não ter recebido qualquer
processo”, revelando que este órgão está agora a analisar e a acompanhar esta
matéria. Para o TC, “o contrato é de carácter público, tornando-se necessário
saber se se verificam os requisitos previstos na lei”. Isto é, se o contrato
devia ter sido ou não submetido a uma fiscalização prévia.
“A regra nos
actos e contratos públicos deve ser a transparência e a publicidade”, adiantou
a mesma fonte, sublinhando que “a Parvalorem é uma entidade sujeita à
jurisdição e controlo do TC incluindo a fiscalização prévia nos termos que a
lei prevê”. Até agora, pouco ou nada se sabe sobre o contrato celebrado com a
Christie’s, uma vez que tanto a leiloeira como a Parvalorem têm alegado uma
cláusula de confidencialidade que as impede de falar sobre os termos acordados
para a venda desta colecção que passou para as mãos do Estado aquando da
nacionalização do BPN.
No entanto, para
o TC este contrato “é de carácter público tornandose necessário saber se se
verificam os requisitos previstos na lei”. De acordo com a Lei de Organização e
Processo do Tribunal de Contas, a fiscalização prévia tem por fim verificar se
os actos, contratos ou outros instrumentos geradores de despesa ou
representativos de responsabilidades financeiras directas ou indirectas estão
conforme às leis em vigor e se os respectivos encargos têm cabimento em verba
orçamental própria.
Neste caso,
explica fonte oficial do Tribunal de Contas, “o TC não recebeu qualquer
processo” para esta fiscalização. Caso se venha a verificar que a Parvalorem
(sociedade
Leilão das obras
está marcado para Junho em Londres criada pelo Ministério das Finanças para
recuperar créditos do BPN e por isso proprietária das obras) o deveria ter
feito, “e não tendo sido submetido [o contrato para fiscalização prévia], o
mesmo é ineficaz e há lugar a responsabilidade financeira”, acrescenta.
“O TC está a
analisar e a acompanhar esta matéria, também na sequência de requerimentos
recebidos por parte de particulares”, acrescentou a mesma fonte, sem adiantar
mais informações.
Em resposta,
Francisco Nogueira Leite, presidente da Parvalorem, esclareceu ao PÚBLICO que a
questão de se enviar o contrato para o Tribunal de Contas nunca se pôs “porque
não se está a contrair despesa mas receita”, não se mostrando preocupado com a
possibilidade de o TC vir a tomar alguma acção.
Isto porque o TC
está a analisar o caso por desconhecer em absoluto o contrato, não sabendo de
facto o que está em causa nem de que valores se tratam. Por isso mesmo destaca
a necessidade de transparência neste caso concreto, até porque esta é uma situação
particular, uma vez que em causa está uma colecção de obras de arte, com a qual
o Estado espera arrecadar cerca de 35 milhões de euros. O Estado consegue esta
receita alienando património cultural e por isso a interpretação da lei poderá
não será tão linear quanto a leitura do presidente da Parvalorem, que garantiu
ao PÚBLICO que se o acesso ao contrato for “solicitado num processo judicial
será naturalmente apresentado”.
Nogueira Leite
voltou a lembrar que, apesar de ainda estar a decorrer um processo em tribunal
interposto pelo Ministério Público que pretende travar a venda, “não há nenhuma
decisão judicial desfavorável à realização do leilão”.
Apesar de ainda
não se conhecer o dia exacto para a venda destas obras, sabe-se já que a
leiloeira quer as obras até ao final deste mês para que as possa exibir em
diferentes cidades do mundo de forma a promover o leilão. A saída das obras
está neste momento a ser analisada pela Direcção-Geral do Património Cultural
(DGPC), que ontem não esteve disponível para responder às perguntas do PÚBLICO.
Sobre a notícia
avançada ontem pelo Diário Económico de que a Procuradoria-Geral da República
estaria a preparar uma nova acção em tribunal, Nogueira Leite disse
desconhecer, defendendo que “não há qualquer motivo legal para efeito”.
Sem comentários:
Enviar um comentário