sexta-feira, 25 de abril de 2014

Onde está a felicidade? por VASCO PULIDO VALENTE



OPINIÃO
Onde está a felicidade?
VASCO PULIDO VALENTE 26/04/2014 – PÚBLICO

A esquerda descobriu um novo inimigo: o mercado financeiro internacional. Parece que esse mercado manda em nós contra a vontade legítima do povo português. Não há cão nem gato que não se venha queixar desse abuso político, sobretudo quando a Alemanha, de certa maneira, se tornou o seu executor visível e que não se faz, nem deixa de fazer, nada em Portugal sem o beneplácito da sra. Merkel. O que espanta é, como de costume, a falta de memória e a ignorância história da “inteligência” indígena, política ou outra. Claro que a troika não existia em 1891-1893 ou em 1928, quando Salazar chegou. Mas desgraçadamente existiam em Londres “comissões de credores”, que decidiam sobre o nosso orçamento doméstico e até se apropriavam directamente de parte da receita do Estado.

Nenhum Governo, excepto o de Salazar, pensou em resistir, porque era claríssimo que, se não nos dessem dinheiro, desaparecia o império colonial e o país morreria de fome. E Salazar resistiu, porque tinha meios para fazer o país morrer de fome, com a alma em ordem. Esta verdade já chegou a França e mesmo à obtusa cabeça do sr. Hollande. Manuel Valls insiste agora num programa da nossa conhecida “austeridade”, que prevê um “corte” total na despesa do Estado de 50 mil milhões de euros, que se irão fatalmente buscar ao bolso do funcionalismo e dos pensionistas, e aos dinheiros da administração local. Em contrapartida, Valls tenciona “aliviar” 40 mil milhões nas “quotizações” patronais, para promover o crescimento. A “austeridade” é certa, o crescimento não.


De qualquer maneira, isto não chega à sra. Merkel. O objectivo do “tratado orçamental” está muito claramente em impedir que as dívidas dos países da “União” se tornem pouco a pouco a responsabilidade da Alemanha, que sacudiu a poeira dos sapatos e se afasta quanto pode de uma “Europa” hoje, para ela, incómoda e desnecessária. Entretanto, a esquerda portuguesa continua agarrada à ideia de que essa moribunda “Europa”, em última análise, nos salvará, no momento em que o sr. Seguro, alçado a primeiro-ministro, for a Berlim com uma corda ao pescoço chorar as suas mágoas. Ou quando os devedores consigam o milagre de impor aos credores as suas condições. Ou ainda, como quer o dr. Soares nos seus momentos de profeta e mestre, que um distúrbio ou uma “revolução” venham livrar o país de Passos Coelho. Nesse dia, sim, banidos do mundo, seríamos felizes.

Sem comentários: