OPINIÃO
Onde está a felicidade?
VASCO PULIDO
VALENTE 26/04/2014 – PÚBLICO
A esquerda
descobriu um novo inimigo: o mercado financeiro internacional. Parece que esse
mercado manda em nós contra a vontade legítima do povo português. Não há cão
nem gato que não se venha queixar desse abuso político, sobretudo quando a
Alemanha, de certa maneira, se tornou o seu executor visível e que não se faz,
nem deixa de fazer, nada em Portugal sem o beneplácito da sra. Merkel. O que
espanta é, como de costume, a falta de memória e a ignorância história da
“inteligência” indígena, política ou outra. Claro que a troika não existia em
1891-1893 ou em 1928, quando Salazar chegou. Mas desgraçadamente existiam em
Londres “comissões de credores”, que decidiam sobre o nosso orçamento doméstico
e até se apropriavam directamente de parte da receita do Estado.
Nenhum Governo,
excepto o de Salazar, pensou em resistir, porque era claríssimo que, se não nos
dessem dinheiro, desaparecia o império colonial e o país morreria de fome. E
Salazar resistiu, porque tinha meios para fazer o país morrer de fome, com a
alma em ordem. Esta verdade já chegou a França e mesmo à obtusa cabeça do sr. Hollande.
Manuel Valls insiste agora num programa da nossa conhecida “austeridade”, que
prevê um “corte” total na despesa do Estado de 50 mil milhões de euros, que se
irão fatalmente buscar ao bolso do funcionalismo e dos pensionistas, e aos
dinheiros da administração local. Em contrapartida, Valls tenciona “aliviar” 40
mil milhões nas “quotizações” patronais, para promover o crescimento. A “austeridade” é certa, o crescimento não.
De qualquer
maneira, isto não chega à sra. Merkel. O objectivo do “tratado orçamental” está
muito claramente em impedir que as dívidas dos países da “União” se tornem
pouco a pouco a responsabilidade da Alemanha, que sacudiu a poeira dos sapatos
e se afasta quanto pode de uma “Europa” hoje, para ela, incómoda e
desnecessária. Entretanto, a esquerda portuguesa continua agarrada à ideia de
que essa moribunda “Europa”, em última análise, nos salvará, no momento em que
o sr. Seguro, alçado a primeiro-ministro, for a Berlim com uma corda ao pescoço
chorar as suas mágoas. Ou quando os devedores consigam o milagre de impor aos
credores as suas condições. Ou ainda, como quer o dr. Soares nos seus momentos
de profeta e mestre, que um distúrbio ou uma “revolução” venham livrar o país
de Passos Coelho. Nesse dia, sim, banidos do mundo,
seríamos felizes.
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