Valls conseguiu que deputados
socialistas aceitassem o seu plano de austeridade
CLARA BARATA
29/04/2014 - PÚBLICO
Muito se especulou sobre a revolta interna no PS francês contra a
austeridade. Mas no fim, os eleitos apoiaram o primeiro-ministro.
Apesar de um
vendaval de especulações sobre uma revolta no Partido Socialista francês contra
o Governo de Manuel Valls, o Parlamento aprovou o plano de austeridade que
prevê economias de 50 mil milhões de euros no Estado até 2017, apresentado pelo
primeiro-ministro, por 265 votos a favo, 232 contra e 67 abstenções, das quais
41 de deputados socialistas.
O voto sobre o plano de “estabilidade
orçamental” tem apenas carácter consultivo, mas 30 a 40 deputados socialistas
ameaçavam abster-se, mostrando a sua revolta com uma política que consideram
demasiado à direita. Dependendo do número de deputados presentes, e de quantos
da oposição votassem contra, a passagem do plano podia ficar em causa - ou ser
tão no limite que a credibilidade do Governo ficaria em causa.
Por isso, Manuel
Valls, em dois discursos inflamados, deu um peso político fundamental a esta
votação: “O resultado condiciona a legitimidade do Governo, a sua capacidade de
governar e, sobretudo, a credibilidade de França”, avisou.
O objectivo é
compensar os cortes de 30 mil milhões de euros nos impostos relativos ao
trabalho pagos pelas empresas, a troco da criação de novos empregos, como
acordado pelo Presidente François Hollande no “pacto de responsabilidade”
assinado com os grandes patrões. E, ao mesmo tempo, equilibrar o défice (que
deveria ser de 3% em 2015, quando em 2013 foi de 4,3%), satisfazendo as
exigências de Bruxelas.
Valls sublinhou,
no entanto, que a necessidade de reduzir o défice nem deve ser encarada como
uma exigência de Bruxelas, mas como indispensável para corrigir a “deriva que
se acentuou fortemente desde 2007”
e que suga “45 mil milhões de euros todos os anos”. “A França é um grande país,
deve garantir a sua independência financeira, a sua soberania, ou seja, não
deve depender dos mercados financeiros nem deve deixar o peso da dívida sobre
as futuras gerações”, afirmou o primeiro-ministro.
Quanto à política
proposta por François Hollande para fazer crescer o emprego, que implica uma
aproximação aos interesses dos patrões — diminuindo os impostos sobre o
trabalho —, enquanto o desemprego não dá sinais de abrandar, os franceses estão
desconfiados. E cada vez mais insatisfeitos com Hollande, o Presidente mais
impopular de sempre.
Manuel Valls
apoia a estratégia sem embaraços: “Este Governo faz a escolha de apoiar as
empresas pelo emprego”, defendeu no Parlamento. “Assumo, sim, assumo as
escolhas que foram feitas, as escolhas da coerência, do crescimento, do
emprego. Assumo. Sim, assumo.”
Mas o resultado
das eleições locais de Março, em que o PS sofreu derrotas até em municípios que
tinham desde o início do século XX, deixou a ala mais à esquerda do PS em
revolta com o rumo seguido. A guerrilha interna tinha levado 11 deputados socialistas
a abster-se a 8 de Abril, quando o novo Governo se submeteu a uma moção de
confiança.
Os sinais à
esquerda dados pelo Executivo pós-eleições municipais passam por aumentos nos
apoios às famílias em risco e o não congelamento do aumento do rendimento de
solidariedade activa (semelhante ao rendimento social de inserção) este ano. Tal
como outras prestações sociais pagas pelo Estado, deveriam ser congelados até
Outubro de 2015, ao abrigo do plano de poupanças de Valls agora votado. As reformas inferiores a 1200 euros serão também poupadas.
De fora do plano
de austeridade ficam áreas prioritárias de Hollande: a educação, onde o
objectivo continua a ser a criação de 60 mil empregos até 2017, mas também a
segurança e a justiça. Em cada uma destas duas áreas, recordou Valls,
pretende-se a criação de 500 novos postos anualmente até 2017. “Não há futuro
sem segurança, sem ordem”, disse o ex-ministro do Interior, puxando dos galões
da popularidade que ganhou naquela pasta.
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