Pastelaria Mexicana em Lisboa é
monumento de interesse público
MARISA SOARES 10/04/2014
/ PÚBLICO
Proposta de classificação foi apresentada há dez anos. Secretaria de Estado
da Cultura destaca o espaço como um testemunho do modernismo em Portugal.
A pastelaria Mexicana, em Lisboa, foi reconhecida como monumento de
interesse público por despacho da secretaria de Estado da Cultura, que a
considera um testemunho da arquitectura moderna.
Publicado nesta
quinta-feira em Diário da República, o despacho destaca a “continuidade formal
entre fachada e interiores” da pastelaria situada no número 30 da Avenida
Guerra Junqueiro, freguesia do Areeiro. A classificação abrange o “património
integrado” da pastelaria, em especial o painel cerâmico Sol Mexicano, de
Querubim Lapa, a cabine telefónica interior e o “passarinhário”, uma espécie de
gaiola de vidro com aves no seu interior.
Os interiores
caracterizam-se pela “fluidez da modulação espacial e ela coerência estética que
resultam do nivelamento dos pisos, do tratamento das paredes e tectos e da
manutenção de algum mobiliário, dos elementos decorativos e do sistema de
iluminação de origem”, lê-se no despacho.
A Mexicana foi
inaugurada em 1946 e integralmente remodelada entre 1961 e 1962, segundo um
projecto do arquitecto modernista Jorge Ribeiro Ferreira Chaves. Tanto pela sua
“concepção espacial como pelos elementos decorativos integrados”, a pastelaria
constitui hoje um “notável testemunho das tendências expressionistas do
movimento da arquitectura moderna em Portugal”, considera a secretaria de
Estado da Cultura.
A pastelaria
ocupa quatro pisos de um prédio dos anos 1940, com o rés-do-chão e a primeira
cave destinados ao serviço do público. O estabelecimento prolonga-se para a rua
com uma esplanada coberta por uma pala de betão com letreiro luminoso.
Segundo uma
descrição do espaço disponível na página de Internet da Câmara de Lisboa, a
Mexicana foi ponto de encontro para vários artistas ligados ao surrealismo e ao
neo-realismo, bem como de arquitectos da geração que fixou o movimento moderno
em Portugal. A autarquia lembra que a pastelaria serviu de cenário a alguns
filmes portugueses, nomeadamente o Corte de Cabelo de Joaquim Sapinho, em 1995.
A proposta de
classificação foi apresentada em 1994 por Manuel Ferreira Chaves e Michel
Toussaint Alves Pereira. Depois de dez anos em apreciação, o despacho foi
assinado a 25 de Março pelo secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto
Xavier.
Outras
classificações
O governante
decidiu também classificar como monumento de interesse público a casa onde o
escritor Fialho de Almeida viveu durante 18 anos na vila alentejana de Cuba,
devido ao seu valor patrimonial associado à "relevante figura da
literatura portuguesa".
O escritor
mudou-se para aquela casa em 1893, depois de ter casado com uma proprietária
rural da região, e viveu lá até morrer, em 1911. O valor patrimonial da casa,
um imóvel térreo, que conserva "intactas" as características
arquitectónicas originais, "estende-se à sua associação" a Fialho de
Almeida, uma "relevante figura da literatura portuguesa", refere a
portaria. O documento assinala a importância da habitação para a identidade e a
memória colectiva nacional, sendo um "indubitável ponto de referência
histórica e simbólica da sua comunidade".
Nesta
quinta-feira também foi publicada em Diário da República a portaria da
classificação como monumento de interesse público da Quinta da Amoreira da
Torre, uma antiga herdade agrícola e de recreio situada no concelho de
Montemor-o-Novo, no distrito de Évora. A herdade - documentada desde 1321,
quando pertencia ao Cabido da Sé de Évora - é constituída por um núcleo
original quatrocentista e quinhentista, ao qual se acrescentaram novos
elementos nos séculos XVII, XVIII e XX.
O conjunto
arquitectónico mais arcaico inclui uma torre ameada, que dá o nome à
propriedade, uma capela, que foi praticamente reconstruída no século XVII, um
pombal, uma alameda de loureiros e uma cerca, elementos do início do século
XVI, e a designada Fonte da Rainha, ainda de cronologia quatrocentista,
assinalada por "um elegante templete tardo-gótico" em brecha da
Arrábida.
"Ao longo da
fachada posterior corre um largo tanque, que deita sobre os jardins,
alimentando diversos tanques de rega e recreio, que, juntamente com as áreas
verdes e pomares originais, já quase desaparecidos, contribuíam para a criação
de um espaço paradisíaco, de ressonâncias islâmicas, no meio da aridez da
planície envolvente", lê-se no despacho.
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