terça-feira, 8 de abril de 2014

Há promessas para negociar mas até no Parlamento de Kiev houve violência. VIDEO em baixo : Ukraine: Communists fight far-right in Ukraine's parliament


Há promessas para negociar mas até no Parlamento de Kiev houve violência
RITA SIZA 08/04/2014 - PÚBLICO
Oligarca de Donetsk oferece-se para mediar diálogo entre separatistas e o Governo de Kiev. Rússia está disponível para reuniões multilaterais.

Enquanto as forças ucranianas se posicionavam no terreno, em Donetsk, Lugansk e Karkhov, para recuperar o controlo dos edifícios administrativos, esquadras e outras sedes do poder ocupados por rebeldes pró-russos na região industrial do Leste do país, os deputados no Parlamento de Kiev envolviam-se em cenas de pugilato, trocando acusações por causa da crise separatista que ameaça desmembrar o país.

As escaramuças na Ucrânia são um sintoma do ambiente irrespirável no país e reflectem a raiva e frustração de Kiev com os acontecimentos em curso na cintura industrial do Leste. Em pleno debate, uma intervenção do deputado comunista Petro Simonenko sobre os activistas instrumentalizados pela Rússia foi interrompida à força por um eleito do partido nacionalista de extrema-direita Svoboda, que voou da bancada para atingir o orador no púlpito ao murro e pontapé e iniciar um combate entre as duas facções.

Simonenko comparava a postura dos manifestantes de Donetsk com a dos revolucionários da praça Maidan, que também ocuparam edifícios governamentais para forçar a demissão do Presidente Viktor Ianukovich. “Hoje vocês continuam a fazer tudo para intimidar as pessoas que têm um ponto de vista diferente do vosso”, censurou, antes de ser agredido e de a confusão se instalar no hemiciclo. Os comunistas, que durante a revolução de Kiev ficaram ao lado do partido das regiões de Ianukovich, abstiveram-se de votar um projecto de lei do Governo para criminalizar indivíduos ou organizações que promovam o separatismo (e foi aprovado com 230 votos a favor).

Com os nervos em franja e a tensão em constante escalada, a Ucrânia vive em risco permanente de desintegração. Esse é o objectivo da Rússia, acusam os dirigentes interinos do país – Presidente, primeiro-ministro, diplomatas, chefes militares – que acusam o Kremlin de estar por detrás das manobras dos separatistas. Os aliados ocidentais alinham pelo mesmo diapasão: o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, disse esta terça-feira a um painel do Senado que forças especiais russas terão sido os agentes “catalisadores do caos das últimas 24 horas”, num “esforço ilegal e ilegítimo para desestabilizar a Ucrânia” com o objectivo de “criar um pretexto para uma intervenção militar como a que se verificou na Crimeia”.

No mesmo tom, o secretário-geral da NATO, Anders Fogh Rasmussen, manifestou extrema preocupação com a presença militar russa junto à fronteira da Ucrânia, e apelou à retirada das “dezenas de milhares de soldados”, ao respeito pelos compromissos internacionais e ao início de um processo de diálogo que ponha fim à escalada. “Uma nova intervenção da Rússia [em território ucraniano] seria um erro histórico, que teria graves consequências em termos do nosso relacionamento e apenas contribuiria para um maior isolamento internacional [do Governo de Moscovo]”, referiu.

Na resposta, o ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, disse que os “agitadores” estavam a ser mobilizados pelo Governo ucraniano, que teria infiltrado militantes nacionalistas do grupo “Sector de Direita”, bem como mercenários americanos contratados à empresa Greystone, nas unidades militares destacadas para a zona da fronteira. A companhia de defesa norte-americana (antes conhecida como Blackwater) não comentou as declarações de Lavrov, mas no mês passado, quando essas alegações surgiram na imprensa russa, emitiu um comunicado garantindo não ter quaisquer activos destacados na Ucrânia.

Em Kharkov, as forças do ministério do Interior expulsaram os activistas instalados no edifício do governo regional desde segunda-feira e recuperaram o controlo da situação de segurança durante a noite. Pelo menos 70 indivíduos armados foram detidos numa acção-relâmpago, descrita pelo ministro Arsen Avakov como uma operação anti-terrorismo dramática e intensa, que terminou sem que fosse disparada “uma única bala, granada ou qualquer outra arma especial”. “A equipa do ministério do Interior protege e preserva a integridade e a independência da Ucrânia”, congratulou-se o ministro, numa mensagem no Twitter.

Mas em Lugansk e em Donetsk o Exército ucraniano ainda não conseguiu dominar os rebeldes separatistas russófilos que se mantêm barricados nos edifícios administrativos regionais – e cujo nível de apoio entre a população permanece uma incógnita. Apesar de haver um largo número de falantes russos, e uma grande dependência comercial do país vizinho, a região é etnicamente ucraniana.

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