Jovens emigrantes 'à força'
lançam manifesto
10 de Abril, 2014
/ LUSA in SOL online
"Esse país
também é nosso" é o nome de um manifesto lançado por jovens emigrantes
portugueses qualificados, que pretendem que "a realidade avassaladora da
emigração" seja tema de debate nas eleições europeias.
A ideia de lançar
o manifesto surgiu da vontade de jovens emigrados "à força" de
"fazerem alguma coisa" pelo seu país, numa altura em que se aproximam
as eleições europeias (25 de maio), informou hoje à agência Lusa Rodrigo
Rivera.
"Achamos que
se está a falar muito pouco da nossa situação enquanto portugueses emigrados à
força" e, por isso, considerámos "importante pautar as eleições
europeias" com esta temática, adiantou o jovem, que emigrou com a mulher
para o Brasil em Setembro.
Para Rodrigo
Rivera, é preciso discutir as razões que levam "centenas de milhares de
pessoas" a saírem por ano de Portugal.
"O último
número oficial foi 120 mil. Acho que é uma situação bastante gravosa",
lamentou o jovem com formação em Relações Internacionais.
O manifesto é
assinado por uma jovem escritora, por arquitectos, economistas, investigadores,
designers, entre outros, emigrados em vários países europeus, no Brasil e no
Camboja.
"Somos todos
jovens qualificados, nalguns casos ainda estudantes, e não encontramos nenhuma
saída profissional em Portugal que seja digna", disse Rodrigo Rivera.
Há muitos jovens
com mestrados, doutoramentos e que "não conseguem encontrar um trabalho
que pague mais de 500 ou 600 euros e, provavelmente, não é na área deles",
lamentou.
Rodrigo Rivera
contou o seu caso: "Saí de Portugal com uma formação em Relações
Internacionais, falo quatro idiomas, e não tinha nenhuma 'chance' em Portugal
de ganhar um salário com que pudesse sustentar-me dignamente".
No Brasil,
encontrou trabalho numa multinacional no espaço de um mês e ainda "teve
oportunidade de rejeitar algumas ofertas de trabalho", contou, adiantando
que a mulher, que é arquitecta, arranjou emprego numa semana.
"Em Portugal
a situação dela [da mulher] e de muitos outros jovens seria de saltar de
estágio não remunerado em estágio não remunerado", frisou
No manifesto, os
jovens afirmam que encontraram fora de Portugal "a oportunidade" que
o país lhes negou.
"Muitos de
nós pertencem à geração mais qualificada de sempre, uma formação conseguida com
muitos sacrifícios, pessoais e familiares, mas também com o investimento de
todos nos serviços públicos de educação. Um percurso que chocou contra a parede
do desemprego e da precariedade", acrescentam.
Rodrigo Rivera
adiantou que o manifesto tem "alguns dias" e já reuniu cerca de duas
dezenas de assinaturas.
O objectivo é
"chegar a muito mais gente", porque "a realidade da emigração em
Portugal é avassaladora neste momento" e "tem que haver uma reposta
política séria a esta situação".
Para estes
jovens, o PSD e PS estão a "apresentar propostas que não são dignas de
momento".
"Simplesmente
ignoram a nossa situação de portugueses emigrados contra a sua própria vontade
e ignoram também que queremos voltar para Portugal", justificam.
Rodrigo Rivera
frisou que estes jovens querem "mesmo voltar" para Portugal:
"Temos saudades do nosso país, queremos contribuir para o seu
desenvolvimento e vemo-nos obrigados a viver fora do país."
"Nós
rejeitamos completamente este modelo de desenvolvimento do país, que tem tudo
menos pés para andar", acrescentou.
Sobre a intenção
do Governo de incentivar "jovens cérebros" estrangeiros a virem
estudar para Portugal, Rodrigo Rivera disse que "é uma grande
falácia".
"Ao mesmo
tempo que dizem que querem fazer isso, estão a expulsar jovens mais do que
qualificados, formados em Portugal, e criaram um estatuto especial de estudante
estrangeiro que vai reduzir a diversidade internacional das nossas
universidades com propinas exorbitantes para estes estudantes",
considerou.
Lusa/SOL
PETIÇÃO PÚBLICA
Esse País também é
nosso::Emigramos mas não desistimos
Para: Esse País
também é nosso
Em Portugal, as
pessoas passam tempos difíceis. Todos conhecemos situações de vidas destruídas
pela crise e pelos cortes dos últimos anos. Ao contrário das promessas, o país
ficou pior depois da troika, com mais desemprego e dificuldades para quem
precisa de trabalho para viver. A União Europeia tornou-se uma fábrica de
austeridade, que só produz mais pobres, desempregados e desunião entre os
países. Esse caminho do empobrecimento, seguido de forma fiel pelo governo
português, não apresenta qualquer esperança para quem permanece em Portugal.
Longe do país,
queremos continuar a fazer parte da solução para os seus problemas.
Partimos, uns
antes, outros depois de uma crise que não foi criada por nós nem pelos nossos. Com
percursos, experiências e idades diferentes, encontrámos fora do nosso país a
oportunidade que nele nos foi negada. Desde logo, um projecto e um horizonte de
vida dignos desse nome. Muitos de nós pertencem à geração mais qualificada de
sempre, uma formação conseguida com muitos sacrifícios, pessoais e familiares,
mas também com o investimento de todos nos serviços públicos de educação. Um
percurso que chocou contra a parede do desemprego e da precariedade. Somos
também dos que partiram sem ter podido estudar, empurrados de um país incapaz
de garantir um apoio social a quem mais precisa. Hoje, todos somos emigrantes
de um país a saque.
Pedro Passos
Coelho afirmou que o desemprego pode ser “uma oportunidade”, que sair da “zona
de conforto” é uma necessidade em tempos de crise. Esta crise tem sido, de
facto, uma grande oportunidade para os bancos que se salvaram com os dinheiros
públicos, para as grandes empresas que impuseram mais cortes salariais e
precariedade, para os grupos que se aproveitaram das privatizações ao desbarato
de bens públicos. As 120 mil pessoas que anualmente partem de Portugal, muitas
sujeitas a trabalhos mal pagos e com poucas condições nos países que as
recebem, são o reverso desta medalha. Resgatá-las é a necessidade de quem
acredita numa alternativa.
A austeridade que
mata a economia é uma opção política dos governos e da troika.
As eleições
europeias do próximo dia 25 de Maio representam uma oportunidade única para
colocarmos em xeque o poder do campo austeritário. O desafio de uma insurgência
cidadã, que teve expressão nas grandes manifestações contra a troika, pode e
deve vencer a política do medo. Quem o afirma é Alexis Tsipras, candidato a
presidente da Comissão pelas esquerdas europeias (Syriza, Die Linke, Front de
Gauche, Izquierda Unida, Bloco de Esquerda): “o resultado político da
mobilização dos cidadãos frente à obscura Europa do neoliberalismo e da
austeridade joga-se, em grande parte, nas próximas eleições europeias de Maio. As
condições políticas podem e devem mudar com o voto dos cidadãos, para que
termine de uma vez por todas o austericídio”.
Podemos dar um
primeiro passo. O passo de votar, de exercer esse direito conquistado e
escolher a alternativa que se ergue contra a austeridade e o garrote da dívida.
Esse passo é o primeiro de um regresso ao país que, num dia de abril, quis ser
dono de si. Um país que é nosso e que queremos de volta. Não desistimos.
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