sexta-feira, 11 de abril de 2014

Jovens emigrantes 'à força' lançam manifesto


Jovens emigrantes 'à força' lançam manifesto
10 de Abril, 2014 / LUSA  in SOL online

"Esse país também é nosso" é o nome de um manifesto lançado por jovens emigrantes portugueses qualificados, que pretendem que "a realidade avassaladora da emigração" seja tema de debate nas eleições europeias.
A ideia de lançar o manifesto surgiu da vontade de jovens emigrados "à força" de "fazerem alguma coisa" pelo seu país, numa altura em que se aproximam as eleições europeias (25 de maio), informou hoje à agência Lusa Rodrigo Rivera.

"Achamos que se está a falar muito pouco da nossa situação enquanto portugueses emigrados à força" e, por isso, considerámos "importante pautar as eleições europeias" com esta temática, adiantou o jovem, que emigrou com a mulher para o Brasil em Setembro.

Para Rodrigo Rivera, é preciso discutir as razões que levam "centenas de milhares de pessoas" a saírem por ano de Portugal.

"O último número oficial foi 120 mil. Acho que é uma situação bastante gravosa", lamentou o jovem com formação em Relações Internacionais.

O manifesto é assinado por uma jovem escritora, por arquitectos, economistas, investigadores, designers, entre outros, emigrados em vários países europeus, no Brasil e no Camboja.

"Somos todos jovens qualificados, nalguns casos ainda estudantes, e não encontramos nenhuma saída profissional em Portugal que seja digna", disse Rodrigo Rivera.

Há muitos jovens com mestrados, doutoramentos e que "não conseguem encontrar um trabalho que pague mais de 500 ou 600 euros e, provavelmente, não é na área deles", lamentou.

Rodrigo Rivera contou o seu caso: "Saí de Portugal com uma formação em Relações Internacionais, falo quatro idiomas, e não tinha nenhuma 'chance' em Portugal de ganhar um salário com que pudesse sustentar-me dignamente".

No Brasil, encontrou trabalho numa multinacional no espaço de um mês e ainda "teve oportunidade de rejeitar algumas ofertas de trabalho", contou, adiantando que a mulher, que é arquitecta, arranjou emprego numa semana.

"Em Portugal a situação dela [da mulher] e de muitos outros jovens seria de saltar de estágio não remunerado em estágio não remunerado", frisou

No manifesto, os jovens afirmam que encontraram fora de Portugal "a oportunidade" que o país lhes negou.

"Muitos de nós pertencem à geração mais qualificada de sempre, uma formação conseguida com muitos sacrifícios, pessoais e familiares, mas também com o investimento de todos nos serviços públicos de educação. Um percurso que chocou contra a parede do desemprego e da precariedade", acrescentam.

Rodrigo Rivera adiantou que o manifesto tem "alguns dias" e já reuniu cerca de duas dezenas de assinaturas.

O objectivo é "chegar a muito mais gente", porque "a realidade da emigração em Portugal é avassaladora neste momento" e "tem que haver uma reposta política séria a esta situação".

Para estes jovens, o PSD e PS estão a "apresentar propostas que não são dignas de momento".

"Simplesmente ignoram a nossa situação de portugueses emigrados contra a sua própria vontade e ignoram também que queremos voltar para Portugal", justificam.

Rodrigo Rivera frisou que estes jovens querem "mesmo voltar" para Portugal: "Temos saudades do nosso país, queremos contribuir para o seu desenvolvimento e vemo-nos obrigados a viver fora do país."

"Nós rejeitamos completamente este modelo de desenvolvimento do país, que tem tudo menos pés para andar", acrescentou.

Sobre a intenção do Governo de incentivar "jovens cérebros" estrangeiros a virem estudar para Portugal, Rodrigo Rivera disse que "é uma grande falácia".

"Ao mesmo tempo que dizem que querem fazer isso, estão a expulsar jovens mais do que qualificados, formados em Portugal, e criaram um estatuto especial de estudante estrangeiro que vai reduzir a diversidade internacional das nossas universidades com propinas exorbitantes para estes estudantes", considerou.

Lusa/SOL




PETIÇÃO PÚBLICA

Esse País também é nosso::Emigramos mas não desistimos

Para: Esse País também é nosso
Em Portugal, as pessoas passam tempos difíceis. Todos conhecemos situações de vidas destruídas pela crise e pelos cortes dos últimos anos. Ao contrário das promessas, o país ficou pior depois da troika, com mais desemprego e dificuldades para quem precisa de trabalho para viver. A União Europeia tornou-se uma fábrica de austeridade, que só produz mais pobres, desempregados e desunião entre os países. Esse caminho do empobrecimento, seguido de forma fiel pelo governo português, não apresenta qualquer esperança para quem permanece em Portugal.
Longe do país, queremos continuar a fazer parte da solução para os seus problemas.

Partimos, uns antes, outros depois de uma crise que não foi criada por nós nem pelos nossos. Com percursos, experiências e idades diferentes, encontrámos fora do nosso país a oportunidade que nele nos foi negada. Desde logo, um projecto e um horizonte de vida dignos desse nome. Muitos de nós pertencem à geração mais qualificada de sempre, uma formação conseguida com muitos sacrifícios, pessoais e familiares, mas também com o investimento de todos nos serviços públicos de educação. Um percurso que chocou contra a parede do desemprego e da precariedade. Somos também dos que partiram sem ter podido estudar, empurrados de um país incapaz de garantir um apoio social a quem mais precisa. Hoje, todos somos emigrantes de um país a saque.

Pedro Passos Coelho afirmou que o desemprego pode ser “uma oportunidade”, que sair da “zona de conforto” é uma necessidade em tempos de crise. Esta crise tem sido, de facto, uma grande oportunidade para os bancos que se salvaram com os dinheiros públicos, para as grandes empresas que impuseram mais cortes salariais e precariedade, para os grupos que se aproveitaram das privatizações ao desbarato de bens públicos. As 120 mil pessoas que anualmente partem de Portugal, muitas sujeitas a trabalhos mal pagos e com poucas condições nos países que as recebem, são o reverso desta medalha. Resgatá-las é a necessidade de quem acredita numa alternativa.
A austeridade que mata a economia é uma opção política dos governos e da troika.

As eleições europeias do próximo dia 25 de Maio representam uma oportunidade única para colocarmos em xeque o poder do campo austeritário. O desafio de uma insurgência cidadã, que teve expressão nas grandes manifestações contra a troika, pode e deve vencer a política do medo. Quem o afirma é Alexis Tsipras, candidato a presidente da Comissão pelas esquerdas europeias (Syriza, Die Linke, Front de Gauche, Izquierda Unida, Bloco de Esquerda): “o resultado político da mobilização dos cidadãos frente à obscura Europa do neoliberalismo e da austeridade joga-se, em grande parte, nas próximas eleições europeias de Maio. As condições políticas podem e devem mudar com o voto dos cidadãos, para que termine de uma vez por todas o austericídio”.


Podemos dar um primeiro passo. O passo de votar, de exercer esse direito conquistado e escolher a alternativa que se ergue contra a austeridade e o garrote da dívida. Esse passo é o primeiro de um regresso ao país que, num dia de abril, quis ser dono de si. Um país que é nosso e que queremos de volta. Não desistimos.

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