“Uma nova centralidade” e em
“equilíbrio” para Carnide
Arquitecto Falcão de Campos dá a
conhecer a sua proposta para terreno junto à 2.ª Circular e à Estrada da Luz. Quanto
às muitas críticas dos moradores de Telheiras, garante que serão ponderadas
Inês Boaventura
/2-3-2015 / PÚBLICO
O autor do
projecto apresentado pela Estamo para o terreno junto ao Lar Maria Droste, em
Carnide, sublinha que com a proposta em discussão pretendeu criar “uma nova
centralidade”, sem comprometer o desejável “equilíbrio” entre quem vive hoje na
zona e os futuros habitantes. “Houve uma quase obsessão de não obstaculizar o
vizinho”, garante João Pedro Falcão de Campos.
O chamado
Loteamento Maria Droste, em discussão pública até 27 de Março, desenvolve-se
num terreno expectante junto à 2.ª Circular e à Estrada da Luz. O projecto,
apresentado pela imobiliária de capitais públicos à Câmara de Lisboa, foi já
objecto de duas sessões de apresentação, e tem sido criticado por moradores de
Telheiras e por autarcas locais ( http://www.publico.pt/local/ noticia/camara-disponivel-para-travar-urbanizacao-em-carnide-atravesde-permuta-de-terrenos-1686843).
A proposta,
assinada pelo arquitecto Falcão de Campos, prevê a construção de 12 lotes, “um
ou dois” dos quais destinados a serviços e os restantes a habitação. No interior
do conjunto nascerá uma praça de uso público, sendo os pisos térreos de todos
os lotes destinados a espaços comerciais.
No terreno, além
dos edifícios que albergarão um total de 264 habitações, e não 160, como consta
da memória descritiva disponível para consulta no site da câmara ( http://
www.publico.pt/local/noticia/parque-urbano-e-160-habitacoes-projectados-para-terreno-expectante-em
carnide-1682817),
surgirá também um parque urbano. A área que está previsto que a Estamo ceda
para esse efeito ronda os 32 mil m2, mas o vereador do Urbanismo já veio dizer
que o novo espaço verde terá cerca de cinco hectares, dado que se estenderá
para terrenos camarários.
“Acredito muito
na cidade, nas virtudes da cidade como local de cidadania, como local de
partilha”, começa por explicar Falcão de Campos, numa apresentação do projecto
ao PÚBLICO. Neste terreno em Telheiras, o arquitecto acredita que é possível
criar “uma nova centralidade”, reunindo num só espaço as diferentes “funções”
que compõem uma cidade, como habitação, serviços e comércio.
O arquitecto
considera que “o núcleo original de Telheiras, de Vieira de Almeida, tem uma
qualidade excepcional”, mas acrescenta que depois disso a zona “foi-se
desqualificando”. A partir daí, diz, “foi quinta a quinta, lote a lote”, o que
resultou em “vias mal dimensionadas” e situações em que “o impasse reina”.
Contra essa falta
de visão de “conjunto”, e em defesa de “uma cidade aberta, porosa, do diálogo”,
Falcão de Campos explica que procurou “um equilíbrio” entre os actuais e os
futuros habitantes da zona. Algo que, segundo diz, está desde logo patente na
altura dos edifícios, que não vai além dos sete pisos, quando a média na
envolvente é de dez.
“Houve uma quase
obsessão de não obstaculizar o vizinho”, garante, defendendo que tal é visível
no facto de os novos edifícios serem “altamente arborizados” nas duas frentes e
de terem um afastamento dos restantes “muito maior” do que o comum em
Telheiras. A isso Falcão de Campos acrescenta a própria posição dos prédios,
não “em paralelo” com os já existentes, mas em forma curvilínea, que
estabelecesse uma “dança” com a envolvente.
Também destaca a
importância de todos os pisos térreos se destinarem a espaços comerciais, que
surgirão “de nível, sem pódio”. A sua ambição é que os habitantes de Telheiras,
zona que “peca” pela falta de comércio, deixem de pegar no carro para se
dirigir a centros comerciais, passando a encontrar no interior do bairro “o
pequeno ginásio, a limpeza a seco, a mercearia, o apoio de bicicletas, o
co-work”, entre
outros. Em relação ao parque urbano, explica que se pretende criar “um parque
local”, que permita “descomprimir um bocadinho os residentes” face à “alta
densidade” de construção de Telheiras. E a resposta do arquitecto para a
preocupação demonstrada por moradores pelo ruído nesse espaço verde, dada a
proximidade à 2.ª Circular, é trabalhar a terra junto a essa via, para que se
forme “um grande talude arborizado”.
Falcão de Campos
frisa que as críticas feitas pelos participantes nas sessões de apresentação e
na discussão pública, nomeadamente as relativas à questão do tráfego, serão
ponderadas. “Nada é imutável. Naquilo que pudermos melhorar, devemos melhorar”.
Quanto à recusa pura e simples de moradores em aceitar construções junto ao Lar
Maria Droste, mostra-se crítico: “Parece-me pouco legítimo e pouco
democrático”.
A página da
Câmara de Lisboa na Internet disponibiliza peças escritas e desenhadas deste
projecto para consulta e é possível preencher um formulário com sugestões, no
âmbito da discussão pública prolongada até 27 de Março.
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