Costa trava críticas a Ferro e
sai em defesa do líder parlamentar do PS
MARGARIDA GOMES
13/03/2015 - PÚBLICO
Afastado há muito tempo da vida política, Ferro Rodrigues começa a ser
questionado à frente da bancada. "Há quem goste de sangue", comentou.
As jornadas
parlamentares do PS, que arrancaram, ontem em Gaia, começaram na defensiva com
o secretário-geral do partido, António Costa, a defender Ferro Rodrigues, que
tem sido alvo de críticas pelas apagadas prestações à frente da bancada
socialista, particularmente nos debates quinzenais com o primeiro-ministro.
Os críticos de
Ferro, que questionam o seu estilo à frente da bancada, pedem mais acção, mas
Costa tratou de estancar polémicas e esta sexta-feira, em declarações aos
jornalistas antes da sessão de abertura das jornadas, apressou-se a dizer que
“é uma honra para o PS” ter Ferro Rodrigues como líder parlamentar. “O líder
parlamentar está de boa saúde e recomenda-se", acrescentou.
Feita a defesa da
honra, o ex-líder socialista respondeu aos críticos. “Há quem goste de sangue”,
atirou, vincando que não tem uma postura de conflito. “Há muita gente que gosta
do cheiro a sangue, mas eu não tenho essa lógica de estar na vida nem na
política”, declarou. O líder parlamentar sublinhou ainda que está a cumprir a
tarefa que António Costa lhe confiou com a “mesma tranquilidade e serenidade”
com que desempenhou “nos últimos 25 anos as funções de embaixador,
secretário-geral do PS, vice-presidente da Assembleia da República e ministro”.
Antes, no final
da visita a duas instituições no concelho de Gaia, António Costa tinha zurzido no
Governo por causa do programa VEM, que se destina a apoiar o regresso de
emigrantes, e que fora aprovado quinta-feira em Conselho de Ministros. “O
programa governamental de apoio ao regresso de emigrantes não é um
programa", diz Costa, afirmando tratar-se de uma medida de quem não tem
"mesmo consciência daquilo que aconteceu neste país ao longo destes três
anos", quando está em causa uma dimensão de 300 mil pessoas que emigraram
e o governo se propõe a apoiar 40
a 50 projectos”.
As críticas aos
quatro anos de Governo ficaram por conta do líder da bancada parlamentar. “Nos
últimos quatro anos assistimos ao aumento dramático da pobreza (há hoje em
Portugal 2,7 milhões de pessoas em risco de pobreza, mais 450 mil do em 2011);
um em cada quatro portugueses está hoje em risco de pobreza”, apontou Ferro
Rodrigues, sublinhando que as situações “mais preocupantes” são com as crianças
e jovens, cujos níveis de taxa de risco real e jovens elevam-se para mais de
31%) e nos iodos (25,5%)”.
Embalado pelas
críticas, disse ainda que o modelo de austeridade "fracassou" em toda
a linha e que “a direita está em morte lenta mas segura". E não esqueceu a
carga fiscal que recaiu sobre os portugueses. "Quatro anos foram
suficientes para impor a Portugal a maior carga fiscal de sempre, que atingirá
este ano 37% do PIB (Produto Interno Bruto), segundo as contas do próprio
Governo. Mas os números não são apenas números. São pessoas".
Rejeitando ter
“uma visão maniqueísta" entre esquerda e direita, no sentido de que
"de um lado estão os bons e do outro os maus", o líder do grupo
parlamentar do PS sublinhou, contudo, que “há uma coisa que é óbvia: As
políticas ensaiadas pela direita nestes últimos quatro anos, este modelo de
estar de joelhos perante a troika (Banco Central Europeu, Fundo Monetário
Internacional e Comissão Europeia), este modelo de empobrecimento para se
chegar a uma certa competitividade, este modelo falhou".
No discurso, que
proferiu perante uma sala que tinha muitas clareiras, Ferro disse que vai pedir
explicações sobre a suporta lista de contribuintes VIP, com contribuintes
mediáticos da área política, financeira e económica, a cujo cadastro terá sido
aplicado um filtro que permite detectar quem lhe acede, noticiada esta semana
pela revista Visão. “Não fiquem ilusões porque o PS a todos os níveis, no
Parlamento e fora do Parlamento, quererá saber exactamente o que se passa com a
chamada bolsa de contribuintes de VIP”.
À noite, num
jantar em Matosinhos, que contou com o ex-socialista e agora independente,
Guilherme Pinto, António Costa, deixou uma indirecta ao primeiro-ministro, ao
afirmar que “esta maioria é tão indulgente com os erros próprios e implacável com
o direito à habitação das famílias, não hesitando em lhes retirar a casa de
morada de família”.
Numa intervenção
antes do jantar, Costa referiu que PS propôs que fossem suspensas as penhoras
por dívidas ao Estado das casas de morada de família precisamente para evitar
que a casa de morada de família fosse retirada às famílias, mas que a actual
maioria chumbou. “A casa de morada de
família não é um móvel que pode ser substituído, a casa de morada de família é
o lar onde a família pode viver”, afirmou.
Disparando sobre
a "cegueira" e "falta de sensibilidade social" do actual
Governo, o secretário-geral do PS declarou que “todos os dias ouvimos, todos os
dias nos deparamos com ofensas a esse valor fundamental que é o da dignidade da
pessoa humana”.
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