Nova desilusão nos ratings: Fitch
mantém Portugal no nível “lixo”
SÉRGIO ANÍBAL
27/03/2015 - PÚBLICO
Expectativa de subida da nota dada a Portugal não se confirmou porque a
Fitch está mais pessimista em relação ao potencial de crescimento da economia.
A reduzida
confiança no cumprimento das metas do défice pelo Governo e, principalmente, a
revisão em baixa do potencial de crescimento da economia fizeram a agência de
notação financeira internacional Fitch manter o rating português em BB+, isto
é, a um nível que ainda é classificado como “lixo”.
Existia a
expectativa que a Fitch se tornasse esta sexta-feira na primeira das três
maiores agências de rating internacionais a fazer regressar Portugal ao nível
“investimento”, que é conseguido a partir de um rating BBB-, saindo do nível
“lixo” em que o país caiu durante a crise da dívida soberana.
Havia alguns
motivos para optimismo. Afinal de contas, a Fitch tinha colocado há já um ano o
rating português sob uma perspectiva “positiva”, a forma que as agências têm de
anunciar que uma subida da classificação durante os próximos meses é possível.
No entanto, a
perspectiva “positiva” não se transformou desta vez numa subida de rating
efectiva. No comunicado publicado esta sexta-feira à noite, a Fitch explica
porquê.
Em primeiro
lugar, a agência diz que “os objectivos do Governo para a redução do défice
orçamental estão em risco". Não acredita que Portugal consiga confirmar
este ano o défice de 2,7% prometido pelo Executivo, nem sequer que este fique
abaixo dos 3%, colocando o país fora do procedimento por défice excessivo. A
previsão da Fitch é de um défice de 3,1%, o que é considerado mais grave porque
é o resultado de “uma pausa na consolidação do défice estrutural”, isto é, do
verdadeiro esforço do Governo para equilibrar as contas públicas.
Depois, a agência
assinala que “os progressos no reequilíbrio da economia foram mais lentos do
que o esperado quando a perspectiva foi revista para ‘positiva’ em Abril de 2014” . Apesar de reconhecer
que foram feitas reformas estruturais em áreas como o mercado laboral, a Fitch
diz que o crescimento da economia ainda vai ser muito limitado pelo elevado
nível de endividamento do sector privado e pelos baixos níveis de
competitividade.
É por isso que,
apesar de prever uma variação do PIB de 1,5% no decorrer deste ano, a agência
reduziu agora a sua estimativa para o crescimento potencial da economia
portuguesa de 1,5% para 1,25%. Uma das causas por trás deste maior pessimismo é
o facto de “o investimento se manter demasiado baixo para sustentar o stock de
capital”, um aviso que também foi feito recentemente pelo FMI no rescaldo da
sua última missão em Portugal.
Estes dois
factores — défice possivelmente acima das previsões do Governo e crescimento
potencial mais reduzido — fazem com que a Fitch esteja menos optimista em
relação à trajectória da dívida pública portuguesa, que vê apenas a começar a
reduzir-se este ano e apenas graças à redução dos depósitos acumulados
entretanto pelo Tesouro.
A evolução do
peso da dívida pública no PIB é fundamental para uma agência de rating, já que
o objectivo destas ao dar uma classificação a um Estado é o de indicar qual a
verdadeira capacidade deste para pagar a sua dívida no futuro.
A boa notícia
deste relatório da Fitch é a de que, além de manter o rating, a agência manteve
também a perspectiva “positiva”. Isto é, a promessa de uma possível subida da
nota nos próximos meses continua a estar presente.
O cumprimento da
meta do défice em 2014, a
confirmação de um acesso mais fácil e barato ao financiamento nos mercados e o
facto de “nenhum partido anti-euro ou populista ter atraído um apoio
significativo nas sondagens” são os motivos dados pela agência para continuar a
colocar a hipótese de melhoria do rating português.
Passos diz que agências esperam
pelas eleições para subir rating
LUSA 28/03/2015 /
PÚBLICO
O
primeiro-ministro defendeu que é "pouco provável" que as agências de
rating melhorem a notação de Portugal até às eleições, preferindo aguardar pelo
acto eleitoral para aferir do prosseguimento do "caminho" de
"consolidação orçamental" e "reformas estruturais".
"Não me
surpreende, diria que até às eleições que se realizarão na segunda metade do
ano, acho até muito pouco provável que alguma agência de notação financeira
melhore o rating de Portugal", afirmou Passos Coelho aos jornalistas, no
Japão onde se encontra em visita oficial, quando confrontado com manutenção da
nota BB+ ("lixo") à dívida portuguesa, pela agência Fitch.
"É natural
que queiram aguardar pela realização das eleições para saber se este caminho
que temos vindo a seguir prosseguirá ou não, em termos de consolidação
orçamental, por um lado, e de realização de reformas estruturais importantes
para a nossa economia, por outro. Isso nota-se no racional que é muitas vezes
apontado nessas notas das agências de rating", argumentou.
Questionado sobre
se os factores políticos prevaleciam sobre os económicos, respondeu:
"Julgo que os factores políticos aqui são bastante relevantes. São eles
que de alguma maneira nos indicam se a recuperação da economia portuguesa se
manterá com este perfil que adquiriu nos últimos anos ou não."
"Muitas
vezes aparecem visões diferentes que olham quer para o processo de consolidação
orçamental, quer para as reformas estruturais, de forma mais desconfiada,
renitente. As próprias agências de notação financeira, o Fundo Monetário
Internacional [FMI] vão realçando isso, dizendo que o ímpeto reformista, que
não esmoreça, que não ande para trás", argumentou.
Passos Coelho
defendeu que as agências de notação e o FMI têm preconizado que "o país
prossiga o caminho de abertura económica e que, dado o nível de dívida pública
que foi acumulado, que os governos mantenham esta vontade de ter menos défice
público, mais excedentes primários, porque isso é essencial para melhorar o
perfil de risco da dívida portuguesa".
"Apesar de o
Governo estar muito comprometido com essa agenda, ninguém pode jurar que a
seguir às eleições isso se vá manter. Mas confio muito que os fundamentos da
nossa economia venham a sustentar uma melhoria de rating, portanto, acho muito
natural que, após as eleições, haja uma melhoria que é compatível com o caminho
e os resultados que temos vindo a evidenciar", declarou.
Passos Coelho
considerou ainda que, "independentemente de quem possa vir a governar,
será a exigência dos próprios portugueses que garantirá os resultados no médio
e no longo prazo".
O
primeiro-ministro tinha afirmado na sexta-feira, perante empresários japoneses,
que o país e os portugueses tinham demonstrado "resiliência",
assinalando que os "sacrifícios" efectuados não puseram em causa a
"paz social".
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