OPINIÃO
Habemus Costa!
ANTÓNIO SÉRGIO
ROSA DE CARVALHO 15/03/2015 - PÚBLICO
Será que
Portugal ainda existe?
Os tempos não
estão fáceis para os Políticos. António Costa, depois de uma entrada triunfal
preparada ao milímetro e à custa do seu companheiro, é agora confrontado com um
clamor crescente que lhe exige clareza, definição e posicionamento inequívoco
quanto à frescura, autenticidade e independência de ideias.
Passos Coelho,
depois do seu percurso caracterizado por um empenhamento e uma obediência muito
para além das exigências formais dos gestores do Protectorado, na “região”
europeia anteriormente formalmente conhecida como Portugal, é considerado pelos
seus próprios apoiantes como gasto e descartável.
Um sinal e uma
manifestação evidente disto mesmo constituiu um artigo de “opinião” publicado
muito recentemente no OBSERVADOR, da autoria de António Carrapatoso, presidente
do Conselho de Administração deste “jornal” online.
Este texto,
pretendo esclarecer desde já, não tem como tema a Política, mas “aquilo” a que
se chama Jornalismo.
Assim, como o
OBSERVADOR tratou desde logo, quando do seu lançamento, de definir, tratava-se
de um projecto que pretendia ser “um órgão de comunicação social genuinamente
independente, apostado em fazer um jornalismo da maior qualidade, sem outra
agenda que não seja a do interesse público”.
Muito
frequentemente ouvem-se comentários sobre a cacofonia saturante e caluniadora
em que as redes sociais se transformaram. O cidadão céptico e desesperadamente
incrédulo na possibilidade de se ver representado na classe política, invadiu
esta nova Ágora / Fórum virtual onde descarrega frustrações e exige
ostracismos.
Daí a importância
de uma comunicação social verdadeiramente independente e capaz de informar com
a tal qualidade, rigor e serviço público.
Ora, o artigo de
António Carrapatoso (“Para onde vai António Costa?”, 9-3-2015, OBSERVADOR)
confronta e provoca António Costa a definir a sua posição como futuro líder,
perante o ideal Neo-Liberal.
Implicitamente,
anuncia o fim do ciclo de Passos Coelho e pretende estimular António Costa a
definir de forma explícita qual é a sua posição sobre, aquilo que classifica
como a velha guarda republicana socialista, ou perante a nova geração
irresponsavelmente seduzida pelo aventureiro Syriza.
Por outras
palavras a pergunta directa é: Temos homem ou não temos, para o “nosso”
projecto financeiro/ económico/ social para a “região” europeia, anteriormente
formalmente conhecida como Portugal?
Ora ninguém põe
em causa o direito à existência de um projecto privado, financiado por quem
quiser, chamado Observador. Nem o direito aos seus participantes de
sistematicamente exprimirem as suas opiniões definidos por um “certo” teor
ideológico, no mesmo.
O que se pergunta
aqui é se isto se pode continuar a apelidar de “Jornalismo”?
A publicação por
António Carrapatoso de um artigo de opinião pessoal de teor político explícito,
na qualidade de presidente do Conselho de Administração, no próprio “jornal”
que “controla” é um erro inquestionável, perante os objectivos e ideais
definidos por este órgão, quando do seu lançamento.
Para clarificar,
é um erro comparável a que se fossemos confrontados, um dia, com uma artigo de
opinião aqui mesmo, no PÚBLICO, da autoria de Belmiro de Azevedo sobre aquilo
que ele poderia pretender para a vida Política desta “região” europeia
anteriormente formalmente conhecida, como Portugal, aconselhando de forma
“estimulante” este ou aquele candidato.
Muitos, que nos
mais profundos arquétipos do seu Ser, transportam o sentimento e a ideia de
Portugal, gostariam de votar nesse mesmo Portugal, através desses mesmos que o
representassem, mas não se sentem representados por ninguém da Esquerda à
Direita.
Acima de tudo
porque este sentimento já de si, frustrante, é acompanhado por outro ainda mais
angustiante:
Será que Portugal
ainda existe?
Historiador de Arquitectura
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