Schäuble, Varoufakis e as
tontices colectivas
DIRECÇÃO
EDITORIAL 12/03/2015 / PÚBLICO
A nova dinâmica
que a vitória do Syriza injectou na União Europeia está cristalizada na relação
crescentemente difícil entre os ministros das Finanças Wolfgang Schäuble e
Yanis Varoufakis. Há sete semanas que assistimos a um braço-de-ferro que
envolve ideologia, estilo e método. E psicologia.
Do lost in Greek,
passámos ao lost in German. Na segunda-feira, Schäuble contou uma história numa
conferência de imprensa de que Varoufakis não gostou. Apareceu nas notícias em
todo o mundo a expressão “tonto ingénuo”, que Schäuble teria chamado a
Varoufakis. “Foolishly naive” em inglês. Num gesto com o seu quê de presumido,
Varoufakis criou um incidente diplomático e exigiu esta quinta-feira um pedido
formal de desculpas a Berlim. O gesto, além de presumido, foi precipitado. Não
é isso que se ouve no vídeo que a imprensa grega publicou como “prova do
insulto”. A tradução, que fizemos já depois de publicarmos a primeira notícia
sobre a controvérsia, mostra o ministro Schäuble a falar de “uma longa e intensa
conversa bilateral” com o seu homólogo grego. “Não se devem revelar conversas
privadas, mas o que vou contar não me parece ser uma inconfidência.” Nessa
conversa, conta Schäuble, Varoufakis queixou-se da forma como tem sido
retratado pelos media e disse que “os media são terríveis”. “E eu respondi”,
continuou o ministro alemão: “‘Na verdade, em matéria de comunicação, tu
projectas uma imagem que causa uma forte impressão”, “tal como na substância”. Ao
que Varoufakis terá respondido: “Errado. É uma impressão errada.” Nesse
momento, alguém na assistência se ri e é então que Schäuble usa a palavra
“tonto”. “Não se ria de uma forma tão tonta.” Há uma ligeira pausa e ouvem-se
gargalhadas. E Schäuble acrescenta, em jeito de quem termina a história: “E
então eu disse-lhe que se, de repente, ele fosse um ingénuo em matéria de
comunicação, isso seria para mim uma total novidade”. Schäuble não usou mais a
palavra “tonto”. E nunca em relação a Varoufakis. Pelo menos no “minuto da
prova”. A Grécia, a Europa e os media não deveriam perder tempo com tontices
deste calibre. A história de Schäuble é descabida numa conferência de imprensa,
a reacção de Varoufakis é de quem não tem, afinal, muito jogo de cintura e nós,
jornalistas, demorámos quatro dias a traduzir um vídeo de um minuto.
O que se vê no vídeo de Schäuble
que irritou os gregos
PÚBLICO
12/03/2015 - 22:47
PÚBLICO analisou
o vídeo de Schäuble que criou nova tensão entre Berlim e Atenas.
A imprensa grega
diz que o ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, "insultou"
o seu homólogo grego, Yanis Varoufaki, ao chamar-lhe “tonto ingénuo”.
Varoufakis exige um pedido de descupa e Schäuble diz que é um disparate
dizer-se que insultou o colega.
Mas afinal o que
se vê e ouve no vídeo do ministro das Finanças alemão, um excerto de
declarações suas durante uma conferência de impressa esta segunda-feira em
Bruxelas, após uma reunião de responsáveis da zona euro?
O PÚBLICO
analisou o vídeo. O ministro Schäuble diz que teve “uma longa e intensa
conversa bilateral” com o seu homólogo grego e acrescentou que “não se devem
revelar conversas privadas, mas o que vou contar não me parece ser uma
inconfidência”.
Nessa conversa,
Varoufakis queixou-se sobre a forma como tem sido retratado pelos media e disse
que “os media são terríveis”. “E eu respondi”, continuou Schäuble, “na verdade,
em matéria de comunicação, tu projectas a imagem que causa uma forte
impressão”, “tal como na substância”.
Ao que Varoufakis
terá respondido: “Errado. É uma impressão errada.” Na assistência da sala da
conferência de imprensa, alguém se ri e é nesse momento que Schäuble usa a
palavra “tonto”. “Não se ria de uma forma tão tonta.” Há uma ligeira pausa e
ouvem-se gargalhadas. E Schäuble acrescenta, em jeito de quem termina uma
história: “E então eu disse-lhe que se, de repente, ele fosse um ingénuo em
matéria de comunicação, isso seria para mim uma total novidade. Mas nunca se
sabe”. No "minuto da prova" do suposto insulto, Schäuble não utiliza
a palavra "tonto" para descrever o colega grego.
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