Lisboa é uma das cidades
europeias menos empenhada na melhoria da qualidade do ar
Zurique, Copenhaga e Viena ocupam o pódio do ranking divulgado ontem em
Bruxelas. Pior do que Lisboa só o Luxemburgo
Apesar das medidas tomada pela
câmara, Lisboa está longe de satisfazer as normas europeias
Marisa Soares /
31-1-2015 / PÚBLICO
Lisboa surge em
penúltimo lugar no ranking das cidades europeias mais empenhadas em melhorar a
qualidade do ar, divulgado nesta terça-feira em Bruxelas. Apesar dos esforços
para diminuir a poluição atmosférica, como a criação da Zona de Emissões Reduzidas
(ZER), a capital portuguesa ainda está aquém do exigido pela legislação
europeia no que toca à promoção do transporte público e à renovação da frota
municipal
A lista,
elaborada pelas organizações não-governamentais Amigos da Terra/Alemanha (BUND)
e Secretariado Europeu para o Ambiente (EEB), resulta da avaliação de
desempenho de 23 cidades, de 16 países europeus, ao longo dos últimos cinco
anos. O ranking Sootfree Cities, cuja primeira edição foi lançada em 2011,
considera nove categorias de critérios relacionados com os transportes, como a
promoção de modos suaves (pedonais ou cicláveis), a gestão do tráfego urbano, a
renovação das frotas públicas ou as tarifas sobre o estacionamento.
Lisboa integra
esta lista pela primeira vez e vai directa para a 22.ª posição (pior só mesmo o
Luxemburgo), com valores de poluição acima dos permitidos pela União Europeia
(UE), “apesar da tendência para diminuição”, notam os autores do ranking em
comunicado. A criação da ZER, que proíbe a circulação de veículos anteriores a
1996 e a 2000 (consoante os eixos) no centro da cidade, pecou inicialmente por
ter “critérios muito brandos e praticamente sem aplicação”, consideram as
organizações europeias, assinalando porém uma evolução positiva na terceira
fase, em vigor desde 15 de Janeiro deste ano, que reforça e alarga as
restrições.
A gestão do
estacionamento melhorou com o aumento das tarifas entre 2010 e 2012 e a Câmara
de Lisboa tem tomado algumas medidas para promover a bicicleta e os transportes
públicos, mas faltam iniciativas mais “ambiciosas” como a renovação da frota
municipal, com a aquisição de veículos mais “limpos”.
A posição de
Lisboa neste ranking não surpreende a Quercus, uma vez que a cidade apresenta
“elevados níveis de poluição há vários anos”. Mas para Mafalda Sousa, do Grupo
de Energia e Alterações Climáticas da associação ambientalista, “mais do que a
falta de qualidade do ar, há um problema de mobilidade na cidade”, onde existe
ainda uma “grande dependência do automóvel” individual. Mafalda Sousa critica a
falta de fiscalização no cumprimento da ZER e a “falta de expressão” das
medidas municipais para promover a mobilidade sustentável. Além disso, os
ambientalistas lamentam a falta de informação sobre a qualidade do ar na
cidade, uma falha também apontada pelos autores da lista.
Já este mês a
Quercus interpôs uma acção no Tribunal Administrativo de Lisboa, devido ao
incumprimento da legislação não só em Lisboa mas também no Porto. Em causa está
o atraso na execução dos corredores VAO+BUS+E, para a circulação de veículos
com desempenho mais ecológico, nos principais acessos a Lisboa e Porto,
previstos nos planos de melhoria da qualidade do ar daquelas cidades.
Zurique, na
Suíça, surge em primeiro lugar na tabela por ter atingido valores que ultrapassam
os exigidos pela legislação europeia. “O mais interessante é que a política de
qualidade do ar é parte de um esforço de planeamento urbano alargado e
coerente”, destacam as organizações. A cidade tem boas notas na promoção do
transporte público e na redução dos níveis de poluição emitida pelos
transportes: por exemplo, a frota municipal tem obrigatoriamente que ser
equipada com filtros de partículas poluentes.
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