O PS e as más notícias
JOSÉ FONTES 06/03/2015
- PÚBLICO
O PS tem de nos dar más notícias. Ansiamos por elas.
A credibilidade
de um líder de um partido político decorre grandemente da capacidade de
mobilização dos cidadãos em torno de um projeto comum sério e exequível. Para
que isso aconteça é necessário delinear um programa de ação que seja ao mesmo
tempo ambicioso e realista.
Nos dias atuais,
de vincada crise internacional, sempre agravada pela incerteza do percurso e
pelas dificuldades acrescidas de os Estados (a maioria) pouco dominarem as
verdadeiras sedes de poder, é apenas exigível aos partidos políticos que
estabeleçam metas credíveis e viáveis e nos indiquem, com meridiana clareza, a
forma de as alcançar. Pouco mais se pode exigir hoje a quem quer decidir
sabendo que não decide, a quem quer mandar sabendo que pode dispor de
autoridade legítima, mas de escassos poderes efetivos, que não seja falar
claro, porque as redes de poder são cada vez mais difíceis de compreender.
Clareza que deve ser sinónimo de verdade e de realismo.
Por isso,
esperamos sempre de quem nos governa (se é que governa) e de quem nos quer
governar, essa clareza que é cada vez mais requisito indispensável para a
manutenção da confiança entre eleitos e eleitores. Por isso, esperamos, há
tempo demasiado, que o Partido Socialista e a sua liderança nos comecem a dar
más notícias, ainda que em doses homeopáticas.
O eleitorado
precisa dessas más notícias.
Deve exigi-las.
Porque tem sido
exemplar no cumprimento das duríssimas medidas que têm sido implementadas por
quem afirmou e prometeu em campanha eleitoral coisa substantivamente diferente.
E porque o eleitorado sabe que não há amanhãs que cantam. E que se os houver
não são amanhã. Por isso, o exemplo francês pode guiar o Partido Socialista a
dizer agora muito precisamente a que se compromete. Dispensamos os programas
eleitorais elaborados quase sempre pelos mesmos iluminados, mas não dispensamos
a resposta a um questionário que pergunte por medidas concretas e seja assinado
com uma declaração de compromisso de honra que ateste o seu cumprimento futuro.
O PS reporá os subsídios e os níveis de vencimento de 2010/2011? Baixará o
nível insustentável da tributação? Todos, verdadeiramente todos, sabemos a
resposta a esta questão. O PS conquistará mais facilmente parte do eleitorado
indeciso se a sua liderança – agora e nos tempos mais próximos – nos responder
com a resposta que todos sabemos que é a real.
O PS tem de nos
dar más notícias.
Ansiamos por
elas.
Queremos
ouvi-las. O PS não deve ter medo de as dar. Se as não der fica prisioneiro das
ilusões que criou. E hoje viver na ilusão é algo que nem a homeopatia consegue
tratar.
Venham as más
notícias.
Professor
Universitário
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