Carlos Alexandre falou sobre as
suas finanças no Tribunal da Relação
ANA HENRIQUES
10/03/2015 – PÚBLICO
Juiz que tem mantido José
Sócrates na cadeia foi alvo de uma segunda denúncia anónima acusando-o de
violação do segredo de justiça.
Denunciado por
carta anónima por violação do segredo de justiça pela segunda vez em poucos
meses, o juiz Carlos Alexandre foi ouvido na passada sexta-feira no Tribunal da
Relação de Lisboa.
Para dissipar as
suspeitas levantadas na carta anónima endereçada às autoridades, segundo a qual
o magistrado estaria nas mãos do grupo Espírito Santo e da Cofina, empresa
proprietária do Correio da Manhã, Carlos Alexandre falou longamente das suas
finanças à procuradora do Ministério Público que o interrogou.
O magistrado
responsável pela prisão preventiva do ex-primeiro-ministro José Sócrates, e que
só deixou sair em liberdade Ricardo Salgado, do Banco Espírito Santo, depois de
este pagar uma fiança de três milhões de euros, explicou como contraiu vários
empréstimos junto de instituições bancárias, quer para pagar a vivenda que está
a construir em Mação, terra onde nasceu, quer para adquirir o carro em que se
desloca, um potente BMW.
A denúncia que
está a ser investigada fala de contrapartidas que o juiz mais conhecido do país
teria recebido e acusa-o de ter violado o segredo de justiça. A carta anónima
faz ainda alusões a um deputado seu conterrâneo que integra o círculo de amigos
de Carlos Alexandre, embora sem mencionar o seu nome. Trata-se do social-democrata
Duarte Marques.
Foi no dia em que
decretou as medidas de coacção do antigo inspector da Polícia Judiciária e
ex-dirigente do Sporting Paulo Pereira Cristóvão - que ficou em prisão
preventiva por suspeitas de ter sido o autor moral dos crimes de roubo
qualificado e de sequestro, estando ainda indiciado por associação criminosa -
que o juiz foi ouvido pela procuradora-geral adjunta do Tribunal da Relação de
Lisboa Emília Martins, à qual coube dirigir o inquérito sobre o caso.
A mesma magistrada
já o havia interrogado em Janeiro por causa da primeira denúncia anónima,
também relacionada com um almoço que teve com um jornalista da Visão. O caso
acabou por ser arquivado, uma vez que o repórter a quem Carlos Alexandre
alegadamente teria passado informação sobre o caso BES nunca escreveu sobre o
tema no período temporal a que dizia respeito a denúncia.
Desta vez, o juiz
falou durante cerca de três horas sobre a sua vida financeira no Tribunal da
Relação e garantiu uma vez mais não ter violado o segredo de justiça. Em
Janeiro havia dito que a carta anónima visava criar um ambiente de suspeição à
sua volta, com o objectivo de o afastar do processo do banco ou mesmo do
próprio Tribunal Central de Instrução Criminal.
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