António Vitorino ocupa cargos em
12 empresas
Por Ana Sá Lopes
publicado em 10
Mar 2015 in
(jornal ) i online
António Vitorino
tornou-se sócio da empresa Cuatrecasas quando ainda era deputado, em 2005. O
seu currículo empresarial rivaliza com o político, o que perturba o objectivo
Belém
Dias antes de
decidir demitir-se do PS por causa do episódio dos “chineses”, Alfredo Barroso
insurgiu-se contra o apoio do PS a uma possível candidatura de António Vitorino
a Belém: “É um facilitador de negócios”, escreveu no Facebook. “É o Proença de
Carvalho do PS”, afirmou ao i.
A acumulação de
António Vitorino de uma uma série de cargos de topo em várias empresas,
discriminados na página ao lado, é a sua “menos-valia” numa candidatura
presidencial. A separação entre política e negócios não foi apenas o mantra da
campanha de António José Seguro nas primárias – propositadamente afirmada para
atingir Sócrates e as suspeitas que se avolumavam à volta do ex-primeiro-ministro.
Muitos socialistas que votaram no actual secretário-geral, António Costa, não
se revêem no currículo de Vitorino para corporizar uma candidatura presidencial
apoiada pelo PS.
Neste momento,
além de sócio da sociedade de advogados Cuatrecasas (que resultou de uma fusão
com a antigo sociedade de André Gonçalves Pereira, António Vitorino é também
presidente da Assembleia-Geral da Brisa, auto-estradas de Portugal, presidente
do Conselho Fiscal da Siemens Portugal, presidente da mesa da Assembleia Geral
da Novabase SPGS, presidente da mesa da Assembleia Geral do Banco Santander
Totta, presidente da mesa da Assembleia Geral
da Finpro SPGS, entre outras. O cargo mais recente foi ocupado em Março
de 2014, na sequência da privatização dos CTT. Vitorino foi nomeado vogal não
executivo do Conselho de Administração dos CTT, para o biénio 2014/2016.
Em 2005, o facto
de António Vitorino ser deputado e sócio da empresa Cuatrecasas foi contestado
no parlamento. Como relata Gustavo Sampaio no livro “Os facilitadores”, as
“duplas funções geraram controvérsia – logo em 2005 – aquando do processo de
privatização (ou reestruturação, na medida em que a maior parte do capital da
empresa já estava na posse de privados) da Galp. No dia 14 de Setembro de 2005,
através de um comunicado, a Galp anunciou a contratação da “Sociedade Gonçalves
Pereira, Castelo Branco & Associados a que pertence o dr. António Vitorino,
para assessoria nas conversações em curso sobre a reestruturação da empresa”. Na
realidade, como explica Gustavo Sampaio, a empresa já tinha alterado o nome
para Cuatrecasas, na sequência de um processo de fusão com a empresa espanhola.
O PCP questionou
no parlamento a escolha de Vitorino pela Galp (ou seja, indirectamente, pelo
governo) para assessorar no processo de reestruturação. A comissão de Ética foi
chamada a pronunciar-se mas não condenou António Vitorino. Em Outubro de 2005,
os deputados da Comissão de Ética consideraram que “a participação de António Vitorino na
sociedade de advogados que representa a Galp é compatível com as suas funções
de deputado”. Mas se a comissão de Ética para chegar a este parecer considerou
o facto de Vitorino “não ter qualquer quota na sociedade de advogados”,
conforme o próprio declarou, na realidade a declaração de rendimentos de
Vitorino relativa ao ano de 2005 explicita “uma quota de 6% na Sociedade de
Advogados Gonçalves Pereira, Castelo Branco & Associados”.
Depois da
passagem pelo parlamento entre 2005 e 2007, António Vitorino não voltaria mais
à política activa, embora seja regularmente chamado para funções de relevo no
PS. Neste momento, é António Vitorino é um dos conselheiros de António Costa, o
secretário-geral do PS com quem tem uma relação de grande amizade e que o
gostaria de ver em Belém, conforme Costa declarou publicamente. Nas últimas
eleições europeias, o então secretário-geral do PS António José Seguro
convidou-o para mandatário da lista socialista ao Parlamento Europeu.
Em entrevista a
Anabela Mota Ribeiro, publicada no Jornal de Negócios em 2011, a jornalista
confronta o político: “O que se diz é que ‘o Vitorino quer ganhar dinheiro cá
fora’. O ex-ministro que se demitiu por não ter pago o imposto de sisa,
responde: “Em Portugal as pessoas acham que ganhar dinheiro é pecado, há ainda
uma costela judaico-cristã muito forte. Quem deu 25 anos da sua vida à causa
pública tem alguma autoridade para perguntar o que fizeram pelo país os que
atiram essa pedra”. Nova pergunta: “É uma pedra que magoa?”. Resposta: “Não. É
censura moral, it’s a fact of life, há que viver com ela”.
Na entrevista,
Vitorino assume que é um “negociador”:
“Sim. A advocacia tem muito a ver com isso, com a necessidade de
encontrar plataformas. Do ponto de vista intelectual, é bastante estimulante, é
isso que eu gosto na advocacia, é isso que eu encontro na política.”
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