Junta de Santo António quer fazer
do Parque Mayer uma “aldeia cultural”
INÊS BOAVENTURA
26/03/2015 - PÚBLICO
Com um investimento estimado de
cerca de 70 milhões de euros, a proposta apresentada por Vasco Morgado quer
concentrar no recinto junto à Av. da Liberdade os museus do Teatro e do
Brinquedo e as escolas de Música, Dança, Teatro e Cinema
Transformar o
Parque Mayer numa “aldeia cultural no coração de Lisboa” é a proposta do
presidente da Junta de Freguesia de Santo António. O autarca está a desenvolver
um projecto que prevê a concentração no local de um conjunto de equipamentos
culturais e de instituições de ensino da área artística. O objectivo é
“revitalizar” um espaço que está “em decadência” há várias décadas e “trazê-lo
de volta para as pessoas”, diz Vasco Morgado.
Esta proposta de
renovação do Parque Mayer, que tem “a história, a oferta cultural e a educação
artística” como pilares, foi apresentada esta quinta-feira à Comissão de
Cultura, Educação, Juventude e Desporto da Assembleia Municipal de Lisboa. Um
gesto que o presidente da junta de Santo António atribuiu a uma questão de “boa
educação e boa-fé”, e que o próprio admitiu que é apenas apenas o início de um
“caminho”.
A ideia do
autarca do PSD é instalar no recinto junto à Avenida da Liberdade, onde hoje em
dia só o Teatro Maria Vitória e um restaurante se mantêm de portas abertas, os
museus do Teatro (que funciona no Lumiar) e do Brinquedo (que funcionava em
Sintra mas fechou no Verão de 2014). Vasco Morgado quer também deslocalizar
para o Parque Mayer três instituições de ensino da área artística: a Escola de
Música do Conservatório Nacional, a Escola de Dança do Conservatório Nacional,
ambas instaladas no Bairro Alto, e a Escola Superior de Teatro e Cinema, da
Amadora.
“Dentro do Parque
Mayer conseguimos fazer isto tudo”, defendeu o autarca. Morgado acredita que
com esta proposta o espaço nascido na década de 1920 voltará a afirmar-se “como
uma âncora cultural”. A solução que preconiza passa ainda pela criação de
“auditórios de ensaio comuns”, de 200 lugares de estacionamento à superfície,
de lojas e de restaurantes.
“Este projecto
não choca de todo com o Plano de Pormenor [do Parque Mayer]”, sublinhou Vasco
Morgado, respondendo assim àquela que foi uma das preocupações manifestadas
pelos deputados municipais que assistiram à sua apresentação. O presidente da
junta garantiu também que a sua proposta não implica a impermeabilização de
superfícies que sejam hoje permeáveis, nem coloca em perigo o vizinho Jardim
Botânico.
Respondendo a
perguntas feitas por deputados do PS, Vasco Morgado assegurou que houve “uma
articulação” prévia com responsáveis de todas as entidades mencionadas. “Não as
punha no projecto se não tivesse falado com elas”, disse, frisando que “todas
demonstraram interesse” em instalar-se no Parque Mayer. Segundo o autarca, também
o secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, está a par das suas
intenções.
Vozes discordantes
Na reunião da
Comissão de Cultura à qual o PÚBLICO assistiu foram várias as vozes a
questionar a deslocalização para o Parque Mayer de alguns dos equipamentos
referidos por Vasco Morgado, particularmente da Escola de Música do
Conservatório Nacional e do Museu do Teatro.
Sobre o último, o
presidente da Junta de Freguesia do Lumiar (PS) lembrou que este equipamento
constitui “um eixo relevante na zona Norte da cidade, muito desprovida de
equipamentos e de oferta cultural”, manifestando-se contrário a uma
“relocalização integral” do museu. Pedro Delgado Alves quis também saber qual o
custo deste projecto e como será feita a “articulação” entre as diferentes
entidades caso venha a concretizar-se.
Preocupações
semelhantes manifestaram Miguel Teixeira (PS) e o presidente da Junta de
Freguesia de Alvalade (PS), tendo este último confessado que ficou “um
bocadinho arrepiado” com a ideia de que os equipamentos da cidade devem
concentrar-se “a Sul do Marquês de Pombal”. André Caldas também insistiu em
saber qual seria “o modelo de gestão” do novo Parque Mayer, lembrando que a
proposta em cima da mesa implicaria juntar “entidades que têm a sua estrutura,
filosofia e principalmente personalidade jurídica”.
Já a presidente
da Junta de Freguesia da Misericórdia (PS) considerou que é “muito importante”
que a Escola de Música permaneça no Bairro Alto. “Tudo o que eu não quero é que
se transforme num parque de diversões nocturno”, disse Carla Madeira,
acrescentando que pelas conversas que tem tido com “pais, alunos e professores”
a sua convicção é que eles “não querem sair dali”.
Em relação ao
investimento estimado, Vasco Morgado situou-o entre os “70 a 75 milhões de euros”,
frisando no entanto que nem todas as obras teriam que avançar ao mesmo tempo. O
autarca do PSD apontou as contrapartidas do Casino de Lisboa, fundos
comunitários e patrocínios privados como receitas possíveis para a
concretização do projecto. Quanto ao modelo de gestão defendeu a necessidade de
haver “uma direcção-geral do espaço”.
Para a presidente
da Comissão de Cultura, o que foi apresentado por Vasco Morgado “é o início de
uma ideia em movimento”, que terá ainda “um caminho de pedras” a percorrer.
“Para ter pernas para andar tem que ser muito bem conversado com a câmara”,
sublinhou Simonetta Luz Afonso (PS), que considerou o projecto em causa
“vagamente megalómano”.
A autarca, que na
década de 90 foi directora-geral do Instituto Português de Museus, deixou ainda
algumas sugestões ao presidente da junta de Santo António: que em vez de querer
levar para o Parque Mayer o Museu do Teatro pensasse antes em lá instalar um
pólo dedicado à revista à portuguesa e que em termos de educação apostasse numa
vertente mais “informal”, que é como quem diz num espaço no qual pudessem ser
formados técnicos das “artes cénicas” que hoje não encontram resposta nas
universidades.
Pelo PSD,
Magalhães Pereira considerou a ideia de Vasco Morgado “excepcional”,
sublinhando que ela permitiria “abrir o Parque Mayer à cidade” e dar-lhe vida,
tanto de dia como de noite. “É uma ideia arrojada”, afirmou por sua vez a
deputada social-democrata Rosa Maria, enquanto a deputada do PS Sandra Paulo
saudou “a perspectiva educacional” da proposta e insistiu na necessidade de se
precaver a sustentabilidade dos equipamentos culturais previstos.
Já Ana Gaspar,
dos independentes, disse ter dúvidas sobre “o avolumar muito grande de coisas”
que se propõe, incluindo “um campus universitário que não o é, museus que
seriam desalojados e o que resta da revista”. “É um concentrado para mim
estranho”, afirmou a deputada dos Cidadãos por Lisboa, que deu ainda nota da
sua oposição à ideia de “revitalizar esta zona á custa de outras”.
Finalmente,
Sobreda Antunes, do PEV, considerou que este é “um projecto deveras
interessante”, mas manifestou-se preocupado com a questão da impermeabilização
dos solos e com o efeito que poderá ter em termos de mobilidade “uma grande
concentração de usos e de pessoas” na zona da Avenida da Liberdade, já hoje
“muito com congestionada e com dificuldade de acessos”.
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