Arquitecto alerta para risco de
destruição das caves de Gaia
LUSA 26/03/2015 -
PÚBLICO
Rui Losa avisa que se este património não for preservado, o Porto perde a
classificação da Unesco.
O arquitecto e
administrador da Sociedade de Reabilitação Urbana Porto Vivo Rui Loza afirmou
esta quinta-feira que "se Gaia deixasse demolir as caves, o Porto perdia a
classificação da Unesco". Rui Loza falava na primeira Conferência Cidades
de Rio e Vinho - Memória, Património e Reabilitação, que decorre até
sexta-feira no auditório das Caves Calém, em Gaia. A "relação
indissociável" entre as caves de Gaia e o centro histórico do Porto foi o
tema da sua intervenção.
Loza, que falou
só como arquitecto, centrou a sua intervenção nos perigos que pairam sobre as
caves de vinho do Porto, "o mais preocupante" dos quais é o
"risco de abuso cultural decorrente da desvitalização da vertente
industrial das caves". "No geral, as grandes casas de Gaia já não
estão a ser necessárias para a quantidade de vinho que aqui é armazenado e
envelhecido", afirmou, dando conta de que
"há a tentação de construir uma nova cidade com vistas para o
Porto" nestes espaços vazios.
O arquitecto
referiu que "não é possível obrigar" os proprietários das caves a
guardar ali vinho do Porto se eles têm alternativas melhores, sendo por isso
necessário encontrar "novas funcionalidades" paros esses velhos
edifícios, através de uma "arquitectura adequada". Loza assinalou que
"os proprietários e os promotores não são obrigados a ter cultura
arquitetónica, papel que cabe aos os arquitetos, frisou, "mas eles são
muitas vezes atraídos para uma moda, de substituição do existente por surpresas
apelativas", alertou.
O arquitecto, que
foi também diretor do ex-CRUARB (Projecto Municipal para a Reabilitação Urbana
do Centro Histórico do Porto), é de opinião que "há muita gente a
colaborar com o processo de destruição em massa dos armazéns" de vinho do
Porto que são o ex-líbris do centro histórico de Gaia. "No nosso caso,
estamos perante armas de destruição em massa. Não é uma pequena casa que arde,
não é uma pequena cheia que vai alterar um rés-do-chão, são processos violentos
e de grande dimensão" reforçou.
Rui Loza, que
garantiu não ter uma visão imobilista, "porque todo mundo é feito de mudanças",
afirmou também que os proprietários e os promotores têm "toda a
legitimidade" quando dizem: "eu só faço se for viável". Mas
insistiu na defesa do "Porto no sentido lato", o que na sua
perspectiva inclui toda a área metropolitana e "o valor que a cidade
histórica pode apresentar".
"Olhando do
Porto para Gaia, vemos na linha do horizonte certas peças que, por ficaram
longe e a cair para o lado de lá, não nos incomodavam muito, mas agora começam
a cair para o lado de cá e vemos a invasão", assinalou.
Afirmou que o que
já está feito em Gaia é "uma pequena parte daquilo que se ameaça, com
propostas culturais que não têm nada que ver, que podiam ser feitas no deserto
do Dubai ou em qualquer outra parte do mundo".
"Isto não é
Via Nova de Gaia, isto é o abuso cultural de chegar a um sítio sem qualquer
preocupação de pensar que isto demorou 300 anos a construir e fazer de novo
demolindo. Isto é que não é possível acontecer e se isto acontecer o Porto é
património mundial e Gaia muito menos", resumiu.
Organizada pela
autarquia local, através da empresa municipal Gaiurb, a Conferência Cidades de
Rio e Vinha - Memória, Património e Reabilitação" prevê intervenções de
vários especialistas sobre as características das cidades fluviais e a sua
relação com a produção, o comércio e a cultura do vinho.
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