PS. A esperança chamada Juncker
Por Luís Rosa
publicado em 13
Mar 2015 / in (jornal) i online
A melhor notícia
que António Costa recebeu nas últimas semanas veio de Bruxelas. Jean Claude
Juncker bombardeou os alicerces do Tratado Orçamental ao beneficiar a França
António Costa
iniciou na quarta-feira um novo ciclo da oposição, depois de vários erros e
hesitações nas últimas semanas. Percebeu, como lhe competia, que o PS não tinha
nada a ganhar em explorar o caso da Segurança Social de Passos Coelho e
encerrou habilmente o caso. E anunciou a antecipação do seu programa de governo
para o início de Junho e a apresentação, este mês, do cenário macroeconómico do
país para os próximos quatro anos. Fá-lo pressionado pelo facto de não descolar
nas sondagens, o que não anula a validade da correcção estratégica.
Neste ambiente de
pré-campanha, voltou a prometer a reposição dos salários da função pública, das
pensões e a taxa do IVA nos 13% – sem, contudo, explicar como o vai fazer.
Apesar de algo
nervoso, a entrevista na RTP foi positiva e mostrou um líder da oposição que
quer discutir ideias em vez de casos. É a estratégia mais inteligente, porque
será assim que terá mais hipóteses de ganhar as legislativas.
A sua política de
expansão orçamental está, todavia, dependente de uma maior flexibilização das
regras do Tratado Orçamental. E é por isso que a melhor notícia para António
Costa nas últimas semanas chegou de Bruxelas: a Comissão Europeia de
Jean-Claude Juncker decidiu esta semana dar mais tempo à França para cumprir as
regras do Tratado Orçamental e baixar o seu défice para menos de 3%. Era o
primeiro teste sério (o segundo será a Itália) das novas regras orçamentais,
que obrigam a reduzir o défice para um valor inferior àquele valor e a dívida
pública para 60% – e verificou-se um chumbo grosseiro promovido pelo próprio
Juncker. A confirmar-se este tratamento de excepção para a França, outros
poderão seguir-se – nomeadamente, para Portugal.
Porém, o jogo
ainda não acabou. Além da questão da Grécia, a própria flexibilização das
regras para a França está longe de ser unânime emBruxelas. O Banco Central
Europeu opõe-se ferozmente a uma mudança de regras ou a tratamentos de excepção
(por recear, e com razão, um abalo da credibilidade da zona euro) e a Alemanha
ainda não se pronunciou publicamente. Este tratamento de excepção para a França
poderá até nem vir a ser aplicado aos países mais pequenos, como Portugal. Não
seria a primeira, e muito menos a última vez, que apenas um dos cinco países
beneficia da benevolência das instituições europeias – como já aconteceu com o
Pacto Orçamental.
Mas a verdadeira
questão é esta: conseguirá a ComissãoJuncker derrotar a política de disciplina
orçamental promovida pela Alemanha? É improvável que o faça, pela natureza
histórica da ComissãoEuropeia, que tem o seu poder limitado pelo Conselho
Europeu e pelo Parlamento e pelo facto de, com a excepção de Jacques Delors, a
Comissão ter tido líderes que se limitaram a gerir as vontades dos cinco
grandes e a submeter-se à força do eixo franco-alemão.
Será a resposta à
pergunta feita no parágrafo anterior que decidirá a viabilidade da oposição e
da política orçamental de António Costa. Depois de Alexis Tsipras ter perdido
credibilidade e espaço de manobra, a maior esperança de Costa chama-se
Jean-Claude Juncker – um conservador luxemburguês que é da mesma família
política do PSD.Assim queira Angela Merkel.
Sem comentários:
Enviar um comentário