BES. Os destinos dos governadores
Por Luís Rosa
publicado em 25
Mar 2015 in
(jornal) i online
A saída de Carlos
Costa do Banco de Portugal deverá acontecer nas vésperas de Ricardo Salgado e
restantes administradores do BES serem punidos com penas históricas
Horas antes de
Carlos Costa ser ouvido pela segunda vez na comissão parlamentar de inquérito
do BES, os deputados receberam uma carta do seu antecessor no Banco de Portugal.
Vítor Constâncio interrompeu o seu mandato de vice-governador do Banco Central
Europeu para jurar ao parlamento português que o “BES era sólido” no seu tempo,
que “nunca recebeu qualquer informação”, que nunca teve qualquer “contacto” ou
“reunião” nem tem “memória” de quaisquer “números” que tenham algo a ver com
problemas financeiros no Grupo Espírito Santo (GES).
Não deixa de ser
uma ironia do destino que o homem que nunca ligou à supervisão e que encarava o
regulador do sector bancário como uma espécie de gabinete de estudos e
projecções macroeconómicas tenha regressado momentaneamente de Frankfurt no
mesmo dia em que Carlos Costa tinha uma audição muito difícil no parlamento. Isto
porque sempre que falamos no caso BESé inevitável uma comparação com o
descalabro do Banco Português de Negócios (BPN) liderado por Oliveira Costa até
2009. Não tanto pela dimensão e importância sistémica do BPN, como pela
actuação do Banco de Portugal enquanto supervisor bancário. Se no caso do banco
liderado por Oliveira Costa os problemas aconteceram perante o laxismo absurdo
doBanco de Portugal, no do banco da família Espírito Santo o supervisor actuou
mas a estratégia não resultou.
O primeiro
falhanço acabou por ser a tentativa de isolar o BES dos problemas financeiros
do GES. Não só a administração de Ricardo Salgado violou sistematicamente o
ringfencing, recorrendo ao banco e aos clientes do BES para se financiar de
forma desesperada, como os problemas acabaram por se transformar em algo mais
profundo do que se imaginava anteriormente – o que levou à medida de resolução.
O segundo
falhanço, e provavelmente aquele que acabou por afectar decisivamente a imagem
do governador, acabou por ser a operação de aumento de capital social do BES em
Maio. Carlos Costa, e os responsáveis políticos que influenciou, asseguraram ao
mercado que o investimento no BES era seguro e o banco era sólido. Não só não
era, como muitos milhares de portugueses perderam o dinheiro das suas poupanças
devido a essas garantias das autoridades portuguesas. O mesmo tipo de erro foi
cometido mais recentemente com o papel comercial do GES, ao atirar a
responsabilidade pela resolução do problema para o bad bank.
É provável que
Carlos Costa saia do Banco de Portugal em Junho. Termina o mandato e Passos
Coelho já lhe terá comunicado que não continuará, recusando esperar, ao
contrário do que se pensava, por um eventual (mas pouco provável) sucesso da
venda do Novo Banco – entendendo-se por sucesso qualquer valor que permita a
devolução do dinheiro que foi emprestado pelas autoridades públicas. Tal como
não vai esperar pela conclusão dos processos de contra-ordenação abertos contra
o BES.
Apesar dos seus
falhanços, não deixa de ser uma ironia do destino que Costa, que se prepara
para aplicar penas sancionatórias históricas a Ricardo Salgado e a outros
ex-administradores do BES, saia sem honra nem glória enquanto Constâncio, homem
que nada fez nem descobriu no caso BPN, continue na sua poltrona de
vice-governador do Banco Central Europeu. Originalidades
à portuguesa.
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