Andaluzia: Socialistas têm
vitória clara, Podemos uma estreia promissora
SOFIA LORENA
22/03/2015 - PÚBLICO
Primeiro teste ao anunciado fim do bipartidarismo espanhol confirma
irrupção do Podemos e do Cidadãos. Em casa, na Andaluzia, PSOE aguenta melhor o
embate do que se antecipava.
Foi uma Susana
Días muito sorridente a que apareceu bem depois da hora prevista para comentar
a sua vitória nas eleições autonómicas da Andaluzia. A socialista que chegou à
presidência do governo regional sem ter sido eleita acabou por ver compensada a
decisão de antecipar em mais de um ano as eleições, mantendo o número de
deputados, 47, e voltando a fazer do PSOE o partido mais votado na região.
Mas Días não tem
maioria absoluta e vai ter de negociar num parlamento com duas novas forças, o
Podemos e o Cidadãos, um parlamento que, nas suas palavras, “é o fiel reflexo
da pluralidade que hoje existe na sociedade”. A política de 40 anos com
aspirações à direcção nacional dos socialistas falou num “novo tempo, de diálogo,
de unidade”.
Não foi a única.
O grande derrotado da noite, Juan Manuel Moreno, do Partido Popular, também
afirmou que “os andaluzes votaram para terem um parlamento mais fragmentado,
plural, e temos todos de saber ouvir essa mensagem e ser capazes de dialogar”.
O PP passou de 50
deputados, em 2012, para 33 – as últimas autonómicas, quando os conservadores
foram o partido mais votado mas os socialistas formaram governo em aliança com
a Esquerda Unida, foram a excepção, numa região onde o PSOE governa desde que
há democracia, a única que resistiu à alternância em todo o país.
Para além de
Días, os outros dois vencedores da ida às urnas foram os dois novos partidos
que vieram baralhar o tabuleiro político espanhol, o Podemos, que nasceu do
movimento dos indignados e foi fundado há pouco mais de um ano, e o Cidadãos,
que já tem dez anos mas era até há pouco tempo um partido catalão, que
entretanto se tornou nacional através de alianças com formações locais e
regionais.
Um e outro
obtiveram mais ou menos os resultados que as sondagens lhes antecipavam: o
Podemos reuniu 15% dos votos e elege 15 deputados; o Cidadãos tem 9% e vai ter
uma bancada de nove lugares.
A derrota da
Esquerda Unida dói ainda mais do que a do PP. O partido que governou nos
últimos três anos com os socialistas passa de terceira a quinta força política
e perde sete deputados (tinha 12, passa a cinco). Para uma formação que chegou
a ter 20 lugares, em 1994, é um resultado trágico. Se o Partido Socialista
aguentou o embate do Podemos, a Esquerda Unida sofreu e bem com o aparecimento
do novo partido de esquerda.
Num ano em que os
espanhóis serão chamados a votar em eleições municipais e autonómicas antes das
legislativas, previstas para Dezembro, estas eleições tem leitura nacional. Mais
ainda quando as sondagens antecipam o fim do bipartidarismo, dão o Podemos como
partido mais votado no país, à frente do PSOE, e o Cidadãos como obtendo quase
tantos votos como o PP.
O
primeiro-ministro, o conservador Mariano Rajoy, participou em cinco actos de
campanha e acompanhou o escrutínio em Madrid rodeado pelo seu núcleo duro. O
mesmo fez o novo líder socialista, Pedro Sánchez, que participou pouco na
campanha por decisão de Susana Días, sua adversária interna que quis fazer uma
campanha pessoal e anunciou que seria apenas ela a decidir se governava em
minoria, com pactos pontuais, ou tentaria negociar uma coligação. Sánchez vai
querer que esta seja uma vitória do PSOE – e é a primeira em quatro anos –,
Días, que que herdou o governo quando José Antonio Griñan começou a ser
investigado num caso de corrupção, quer que vitória seja sua.
Novo ciclo
político
Mesmo que Días
queira tentar um acordo para governar em maioria é improvável que o consiga. Sempre
disse que não o faria com o Podemos nem com o PP. Olhando para os resultados,
resta-lhe o Cidadãos, que dificilmente quererá coligar-se ao PSOE quando
consegue grande parte dos votos à custa dos populares e tanto está em jogo até
ao fim do ano.
“Enfraquece mas
não morre o bipartidarismo, só se vislumbra o suposto novo ciclo político,
Susana Díaz resiste à irrupção de novos partidos e quebra a lógica habitual de
que quem antecipa eleições paga com perda de votos”, escreveu o principal
jornalista parlamentar do El País, Fernando Garea.
Opinião diferente
têm Podemos e Cidadãos. “O bipartidarismo morreu, todos o sabemos”, declarou
Albert Rivera, líder do Cidadãos e nova estrela da política espanhola.
“A política já
não é um monopólio de dois partidos”, declarou o secretário da organização do
Podemos, Pascual Sergio, que comentou os resultados antes da líder andaluza do
partido, Teresa Rodríguez. “Havia quem pensasse que antecipar as eleições nos
apanharia desprevenidos”, disse Sergio. Foi exactamente isso que Susana Días pensou
e, provavelmente, pensou bem. Quando se soube que haveria eleições, no fim de
Janeiro, o partido de Pablo Iglesias não tinha ainda líder na região e a
estrutura regional ainda está por erguer.
Não terá sido
ainda o terramoto que as sondagens antecipam para o país, mas os resultados dos
dois partidos emergentes são um sucesso. Para o Podemos este era um primeiro
teste especialmente difícil, no pior terreno possível, a região mais socialista
da Espanha.
“O mapa político
da Andaluzia e do país já mudou”, afirmou a líder regional, a ex-professora
Teresa Rodríguez, que em Maio foi eleita para o Parlamento Europeu. Sublinhando
que aquilo que o partido conseguiu foi feito sem recursos, com contribuições
cidadãs e trabalho voluntário, “com as nossas mãos”, Rodríguez prometeu levar
para as instituições “o senso comum da rua” e a “voz da cidadania”. “A mudança
já está em marcha.” Os próximos meses o dirão
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