CRISTINA FERREIRA
e PAULO PENA 05/03/2015 - PÚBLICO
Ex-administrador financeiro da PT diz que Bava não terá tido responsabilidade
directa.
Se a audição do
ex-CFO da PT servia para saber de quem é a responsabilidade pelo investimento,
ruinoso, de 897 milhões de euros na parte não-financeira do GES, então Zeinal
Bava está a ganhar a Henrique Granadeiro.
Quando os
deputados se sentaram na sala 6 do Parlamento, onde decorrem as audições da
comissão de inquérito à gestão do BES, traziam uma expectativa muito concreta
sobre o ex-responsável financeiro da PT. Luís Pacheco de Melo deveria poder
esclarecer um dos mistérios desta história: quem decidiu, ordenou e concretizou
o investimento de 697 milhões de euros da tesouraria da PT em dívida da
Rioforte, a holding não-financeira do Grupo Espírito Santo. Em Fevereiro e
Abril, pouco antes do colapso do GES, a PT investiu um total de 897 milhões de
euros naquela empresa, que viria a pedir a “gestão controlada” em Julho, uma
pretensão negada pelas autoridades luxemburguesas - país onde a holding tinha a
sua sede - o que levou a uma declaração de insolvência.
Desse montante
investido, há 200 milhões de euros que Henrique Granadeiro assumiu, “por
inteiro” a responsabilidade. Quanto ao resto, o ex-chairman negou qualquer tipo
de interferência, apontando a responsabilidade de Zeinal Bava e de Pacheco de
Melo. Chegou a citar uma acta, de Julho de 2014, onde Pacheco de Melo assume,
ainda que de forma “cabalística”, que Bava sabia do investimento. Bava não
guardou isso na memória, como se sabe. No Parlamento, o ex-gestor afirmou que
estava “focado” no projecto da Oi, e que passava “85%” do tempo no Brasil,
nessa altura.
Esta
quinta-feira, Pacheco de Melo esclareceu, logo na primeira ronda de perguntas
do deputado Jorge Paulo Oliveira, PSD: “A decisão de investimento na Rioforte
foi de Henrique Granadeiro.” Pergunta do deputado: “Henrique Granadeiro
validou?” Resposta, seca, com um sorriso: “Sim.”
Mais detalhes:
“Ricardo Salgado apresentou-me as várias vantagens (…) Fui ao gabinete de
Henrique Granadeiro, mostrei-lhe a apresentação que me tinha sido feita. Em
Março, Granadeiro comunica-me que eu teria de ir a uma reunião com Morais Pires
(…) Eu não me opus ao investimento. Opus-me terminantemente a que tivesse o
prazo de um ano.”
É um facto, nesta
versão de Pacheco de Melo, que “Zeinal Bava sempre teve conhecimento do tipo de
aplicações que fazíamos no GES”, porém, esta aplicação em concreto não terá
sido da sua responsabilidade directa. Mesmo que o gestor recebesse, por e-mail,
os célebres “tableaux de bordo”, onde apareciam descriminados os valores
investidos, ele próprio garantiu aos deputados que não se recorda de os ter
lido.
“Na reunião no
BES com Morais Pires fui confrontado que estaria tudo acordado entre Henrique
Granadeiro, Ricardo Salgado e Zeinal Bava. E tratava-se de renovar as
aplicações de 900 milhões de euros por um ano”, referiu Pacheco de Melo, que
repetiu a sua oposição ao prazo do investimento. Porque aprovou esse
investimento, então? Porque a relação com o BES, de parceria estratégica, o
aconselhava, e o histórico era claramente positivo. Aliás, dos quase 900
milhões que foram perdidos na Rioforte, 750 tinham sido recentemente pagos pela
empresa “irmã” Espírito Santo International (ESI).
“Eu relatei o que
é que são as verdades dos factos”, expôs o ainda administrador da PT SGPS, que
já não tem o pelouro financeiro. Ou seja, que era a PT SGPS (a que Granadeiro
presidia, à época) e não a PT Portugal (liderada por Bava e em processo de
fusão com os brasileiros da Oi) que geria os fundos da empresa, neste tempo de
impasse que os deputados procuram, sem grande êxito, perceber. E isso, para
simplificar, significa que a versão que Bava apresentou aos deputados é
coincidente com a do ex-CFO. Até porque Granadeiro não parece dispor de provas
documentais para atestar a sua “convicção” de que era Bava quem superintendia à
tesouraria. Neste ponto, quase caricato, reside toda uma tragédia. A PT (seja a
SGPS, seja a Portugal, sejam ambas) perdeu 900 milhões num investimento
decidido não se sabe bem por quem (Granadeiro, Bava, Pacheco de Melo, outro
funcionário?). E isso fez com que a fusão com os brasileiros da Oi voltasse a
ser renegociada, em perda, e que a PT Portugal acabasse vendida aos franceses
da Altice, acabando com o sonho de um “grande operador lusófono” e gerando um
rombo que é quatro vezes maior do que o orçamento da secretaria de Estado da
Cultura para 2015. Granadeiro e Bava foram,
salomonicamente, afastados, em timings diferentes.
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